sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

FELICIDADE E SATISFAÇÃO

Felicidade - Ai vou eu
Professor Gelcimar da Silva Pereira Nunes
INTRODUÇÃO
Recentemente fui abordado com a seguinte pergunta: “você feliz?” A partir da resposta afirmativa, surgiu a segunda pergunta: “o que é felicidade?” Nesse momento, afloraram minhas percepções de que havia um anseio por uma resposta objetiva, purificada de qualquer pretexto de subjetividade ou de relação particular. Aliás, a realidade do sentimento é muito particular, pois a alma é invisível e seu reflexo é visto por meio de palavras ou reações do ser humano. Por isto, a caixa preta da alma humana recebe vários nomes: inconsciente, id, subconsciente, coração, como uma ideia de estar caminhando em um terreno minado.
1. O CAMINHO DA FELICIDADE
Os enigmas da existência residem nas perguntas sobre a origem do ser humano, sua identicidade, possibilidade, propósito e destino. Claro, são perguntas difíceis de serem respondidas; por isto, os mistérios da ciência não se esgotam. Surge a procura de respostas até, se possível, em outros planetas. É consenso que o método da razão e da emperia não traduzem o senso de satisfação por um conceito de felicidade.
O caminho para se chegar à definição de felicidade passa pela solução do problema da resposta sobre a identidade do ser humano. Ou seja, a identificação de um propósito para a existência, a partir da transcendência divina, leva ao entendimento do homem como um ser criado. Isto só se encontra na transcendência, na faculdade da fé e da esperança e na crença na imortalidade da alma. Assim, surge um sistema de crenças no Deus pessoal, condescendente, que se relaciona intra e pessoalmente com seus adoradores. Por consequência se constitui em princípios para a satisfação da pessoa no seu conteúdo material e imaterial. Tal crença foi inaugurada no Judaísmo e perpetuada no Cristianismo.
Podemos inferir que a lei universal da felicidade encontra-se no Sermão da Montanha. Sua profundidade moral e espiritual inspirou o líder Mahatma Karamchand Gandhi (1869 – 1948) a se expressar dessa forma: Se se perdessem todos os livros sacros da humanidade, e só se salvasse O SERMÃO DA MONTANHA, nada estaria perdido.” A definição da felicidade se encontra na virtude, valores morais e espirituais elevados, como: a humildade, a mansidão, a pureza de coração, o exemplo, o desprezo ao amor às riquezas e às primeiras posições, mostrando que o caráter é essencial enquanto que a reputação é transitória e superficial.
Vivemos em um mundo em que está em voga a cultura da emoção, sendo valorizado “o sentir-se bem”. Nessa sentido a felicidade tem uma definição imprecisa como: é uma gama de emoções ou sentimentos que vai desde o contentamento ou satisfação até a alegria intensa ou júbilo. Por isto, a busca por emoções, adrenalina e fuga da realidade vão desde os esportes radicais ao consumo de drogas. Também, as diversões são pretextos não para o entretenimento, mas para conter uma aflição de espírito: um vazio existencial.
No enredo da cultura da emoção até o amor é banalizado, sendo capitalizado como objeto descartável, tendo o significado do flerte e do ficar. Assim, o sexo é um momento de gratificação pessoal, individualista, mesquinho, ausente de qualquer sentimento de amor ou de intimidade. Aliás, namorar é o começo do acasalamento, sendo o casamento um mero contrato social, que pode ser desfeito até a primeira prova da adversidade de gêneros.
O conceito de felicidade tem conotações capitalistas na representação social imposta pelos meios de comunicação. Por isto, é divulgada uma imagem de um homem feliz, milionário em uma mansão, com bebidas, carros importados e vida dissoluta. Outra imagem plantada é que a fama traz felicidade. Porém, como explicar os conflitos de gente rica e famosa com drogas, corrupção, separações e até mesmo suicídio?
A inversão de valores implica a confusão dos conceitos de felicidade e deturpa os sonhos. O rico tem o pesadelo de não querer ficar pobre e teme pela sua segurança, pois qualquer delinqüente pode minar o seu tesouro. Mesmo assim, um dos aspectos do capitalismo é a universalização do sonho de ter, principalmente dos mais pobres, porque a riqueza se concentra nas mãos de poucos. Talvez, nas aspirações de poder e na aquisição de capital esteja a gênese da violência e de outros crimes.
2. MINHA DEFINIÇÃO DE FELICIDADE
Minha definição de felicidade está presente na paz interna que o ser humano deve buscar. Isto conduz a sensação de quietude e bem estar pessoal. Logo não é uma explosão momentânea de alegria e ausência de momentos de tristeza. Aliás, a tristeza tem uma função compadecente com o sofrimento do próximo, visando a melhoria do seu estado de espírito e auxílio em suas tribulações. Por isto, doar-se pelo próximo produz satisfação como um orvalho que desce sobre a terra e ajudar as plantas a produzirem os seus frutos. Não me refiro a uma tristeza produzida pela ansiedade e que pode levar à depressão. Minha definição concorda com o apóstolo Paulo que fala de uma tristeza que conduz ao resgate da alma e enquanto que a outra produz morte.
O meu conceito de felicidade não exclui a possibilidade do sofrimento. Por isto, relato a experiência de conhecer uma pessoa que sofreu derrame, ficou na cadeira de rodas e sensibilizava as pessoas com sua autoestima, mensagens de fé, de otimismo e explosão de alegria. Sua imobilidade do corpo não paralisou as faculdades do espírito, transmitindo vida quando seu estado de saúde significava expectativa de morte. Nesse caso, a tribulação pode ser entendida como um ensino da perseverança que produz experiência e esperança. Claro, quando se tem esperança há vida e sonhos e não há rendição, pois quem se alimenta de esperança alcança vida eterna.
A felicidade está relacionada ao sistema de crenças que orienta o estilo de vida da pessoa. Ninguém vive a parte do seu sistema de crenças, pois, de outro modo, vaga orientado por qualquer vento de doutrina, sem direção. O sistema de crenças possibilita a visibilidade do propósito da existência humana, suas potencialidades e destino. Por isto, o cristianismo não existiria se não houvesse um propósito que toca de forma tão significativa nas expectativas humanas de vida eterna. Claro, o propósito é mais importante do que a existência, porque é anterior a esta. O entendimento do propósito leva a mudança da cultura do ter pela do ser. Ou seja, a essência humana é mais importante do que as motivações mais mesquinhas do ego.
Outra questão é que a felicidade é um bem tão valioso que deve ser compartilhado. A minha felicidade deve repartida com o meu próximo, quer ser por meio de valores morais, exemplos e lições de vida. A forma mais potente de satisfação do próximo é a solidariedade, principalmente em suas aflições. A solidariedade alivia a dor e possibilita sentimento de significância ao próximo irradiando alegria. Por consequência, a solidariedade produz reconhecimento e torna o doador recompensado com mais felicidade.
Infelizmente, há a ingratidão. São pessoas que não reconhecem o bem recebido e, na primeira intempérie, difamam aquele que lhe ajudou nos momentos difíceis. O Dr. Mike Murdock define Ingratidão como “investimento em pessoas erradas”. Contudo, tal situação serve de alerta para fazer o bem a todos, sabendo que até mesmo Jesus recebeu a ingratidão de nove leprosos que foram curados.
CONCLUSÃO
Em suma felicidade é o grande desejo da humanidade, mas é um bem espiritual não se encontra na exterioridade das riquezas e do acúmulo de bens. Compete ao ser humano descobri-la na transcendência de um Deus pessoal, na renovação do entendimento, transformando-se em pessoa revestida de propósito.

REFERÊNCIAS
Recomendo a leitura do livro
CHALITA, Gabriel. Educação: a solução está no afeto. São Paulo: Editora Gente, 2001.
pt.wikipédia.org

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

O JOGO DUPLO

Professor Gelcimar da Silva Pereira Nunes
INTRODUÇÃO
Há algum tempo venho fazendo reflexões sobre o fenômeno do poder e sobre as sensações das relações humanas. Todas as reflexões nascem a partir da percepção de fatos ao redor, captadas por meio dos órgãos do sentido. As histórias são contadas por meio de textos analíticos sem a atenção aos nomes de personalidades e eventos.
Tal estratégia parte da crença que a história é uma estrutura e que os eventos não são os únicos, pois se repetem com diferentes pessoas e em diferentes contextos. Aliás, em algum ponto, o comportamento humano se harmoniza em suas qualidades e defeitos, principalmente porque o ritual do poder não é inédito, reproduzindo a dinâmica das tragédias retratadas na história.
O DUELO DAS PALAVRAS
As palavras são construções dialéticas de um jogo da verdade. A verdade reclama pela legalidade e gera disputas no campo da argumentação. Do ponto de vista da razão, impõe ao derrotado a propriedade da mentira. Há quem queira relativar, ponderando que os diferentes pontos de vista são partes integrantes de uma mesma verdade que se apresenta incompleta diante de múltiplos olhares. Por isto, a patente da verdade é disputada ao sabor dos interesses, sendo que a informação pode ser manipulada em seus ângulos e formas, como uma massa de modelar.
Ainda, há quem invoque o argumento de autoridade para inibir a contestação. São os doutores e experts que se notabilizaram em formar opinião e inspirar pessoas.  Eles reclamam o silêncio das pessoas para apresentarem suas teses e emudecem a argumentação dos súditos com sua notável oratória. A tarefa de monopolizar a platéia é um convite ao elogio da loucura, visto que não há diálogo convincente sem o propósito da divergência.
Fabricar a ilusão da democracia é maior falácia dos líderes autoritários e nessa ideologia o discurso da igualdade e da fraternidade encontra o colo dos incautos. Aliás, as palavras podem ser zonas de conforto para conter qualquer tentativa de revolta, com o argumento que a realidade é harmônica e somente os homens que são os causadores dos infortúnios. Por isto, há discursos para qualquer tipo de platéia bem como estratégias para dirimir possibilidade de percepção do contraditório.
A desculpa do mal entendido já se tornou senso comum em todos os extratos sociais, para encobrir a procedência maligna das maquinações humanas. O fato de as palavras terem diferentes conotações, conforme o contexto, possibilita que as armadilhas do engano se propagam no terreno fértil da subjetividade.
Há algum tempo, o homem era capaz de honrar suas palavras por meio do compromisso firmado com um aperto de mãos. Hoje, as palavras não resolvem mesmo que sejam afirmadas por meio de testemunhas. Porém, a prova documental não atenua o conflito antes o agrava, pois o novo foco da discussão brota na disputa de quem detém a melhor linha de interpretação do texto. O conceito de verdade passa a ser interpretativo e quem conseguir superar os adversários no poder da argumentação, julga ser quem expressa a verdade.
O conceito de ideologia dado por filósofo Pedro Demo é o mais apropriado, pois cada um quer justificar suas posições políticas. A disputa pelo poder compreende as conivências e conveniências, dando novo desenho a famigerada coerência. Vale, então, o jogo de cena em que os elogios e as críticas são quadros apresentados em diferentes contextos de uma mesma peça. Assim, a integridade passa a ser julgada a partir do pressuposto da dúvida e o homem sincero passa a ser incrédulo das reais intenções do coração das pessoas ao seu redor.
Por conseqüência, surge nova tarefa: ouvir e decodificar as palavras, pois elas são instrumentos de poder como se fossem flechas nas mãos dos astutos e armadilhas para apanhar informações privilegiadas. Também, falar tornou-se uma atividade oportunista e perigosa enquadrando pessoas na encenação da disputa do poder. Qualquer palavra mal pronunciada conduz a um julgamento do qual a pessoa poderá ser absolvida ou culpada no tribunal da inquirição. Nesse caso, fabricar álibi é um meio mais usado para consolidar as explicações. Aliás, até o silêncio dos inocentes pode ser arbitrado como omissão, covardia e indecisão. Logo, a distância dos holofotes é um mecanismo de fuga dos possíveis infortúnios.
Nisto é notável que a sabedoria tornou-se incipiente no universo da valorização da esperteza. Para tanto, surge um neologismo para atenuar a deslealdade e valorizar o jogo de interesses; ou seja, as parcerias por conveniência. Já presenciei a desfaçatez de alguém dizer não ser amigo de ninguém, pois era o profissional suficiente para ater-se na individualidade das suas atribuições. Depois, para contemporizar defendia a parceria, dizendo que ninguém nasceu para ficar sozinho. Logo, suas alegações eram hedonistas, visando apenas as satisfações do seu ego.
É possível imaginar o nível de adrenalina liberada nas preliminares dos embates de grupos antagônicos. No quadro das intencionalidades surgem as definições de altruísmo e vilania, imputadas reciprocamente. As mágoas e os ressentimentos estão bem guardados no cofre seguro do inconsciente para serem liberadas na forma de recalque. Aliás, a sinceridade é a virtude mais invocada pelas lideranças sádicas de poder que disputam seguidores como se fossem suas propriedades intelectuais. Nesse caso, exercer a ascendência sobre alguém e capitalizar apoio no momento oportuno. Tal segurança é ilusória, pois como uma palha os indecisos são alçados a qualquer vento ideológico.
A ética é um mal fadado álíbi para disciplinar comportamentos humanos embriagados pela busca da supremacia das demandas corporativistas, com a alegação de interesse coletivo. Mas, até quando se confunde os interesses individuais com os coletivos?
Assim, viver na encruzilhada de egos exacerbados é colher espinhos de ouriços, tentando evitando qualquer distração para não se ferir. Talvez, a contemplação como platéia seja uma estratégia medrosa e uma tentativa de demonstrar a pretensa neutralidade. A melhor zona de conforto é desenvolver o aprendizado das relações de poder, tentar compreendê-lo e conduzir-se prudentemente: estar pronto para ouvir e tardio para falar; examinar tudo e reter o que é proveitoso.
CONCLUSÃO
A dinâmica da história está situada nos conflitos das relações humanas, na disputa de poder, nos embates sangrentos que mudaram a geografia do mundo. Os interesses megalomaníacos dos imperadores da antiguidade ainda inspiram pessoas sedentas por um lugar ao sol, mesmo que para isto seja necessário lamber as feridas de suas vítimas.
REFERÊNCIAS
Recomendo: