terça-feira, 30 de agosto de 2011

O ABRIGO DO TEU CANSAÇO

Professor Gelcimar da Silva Pereira Nunes
INTRODUÇÃO
Chega-se a mais um fim do dia para contabilizar as ansiedades passadas e projetar a tônica da nova rotina. O regaço está preparado para acalantar um corpo cansado pela lide diária, reduzir o pensamento acelerado da antecipação da precipitação do novo amanhecer.
Somos loucos nos sonhos de que a jornada será serena e que os embates serão vencidos na previsibilidade das nossas expectativas. Também, somos crianças no entretenimento do sono, brincando com heróis e vilões, sofrendo e vencendo as batalhas da fantasia.
Contudo, envelhecemos quando nos privamos da capacidade de vivenciar a fantasia do sonho, ficando a mercê dos pesadelos da aflição dos pensamentos. São os espinhos da liberdade que nos entrega responsabilidades e conseqüências. Ficamos a mercê dos frutos das decisões certas e equivocadas, sendo castigados pelos açoites da consciência.

A IMPORTANCIA DA SENSIBILIDADE
A arte de viver a vida traz de presente o nosso próximo como parceiro imediato da nossa existência. Ele é nossa parte incompleta que faz nos ver qualidades a serem admiradas e defeitos a serem rejeitados. Parece o espelho da verdade que reflete a nossa expectativa de perfeição e contrasta com a nossa incompletude. Por isto, o anseio de perfeição é a nossa maior fantasia e a correção do próximo é nosso maior fetiche. Algumas vezes, sádicas, e masoquista quando punimos a nós mesmos com a autocomiseração.
Vivemos pelo prazer e pela curiosidade em descobrirmos a verdade sobre nós mesmos, mas cânon divino nos ensina que a verdade passa pela humanidade com o próximo, pois “Deus é Amor” – o amor que torna a Vida em morte que ressurge para dar vida a todos. Desta forma, descansamos a consciência para a culpa e para vida em paz. Essa paz que produz bem-estar até mesmo nos momentos de dificuldades, que se alimenta de esperança e produz perseverança. Desta forma, o aguerrido soldado da vida não desiste diante das adversidades, mesmo que elas se apresentem acompanhadas das manifestações dos profetas do caos. Quem se veste da certeza da vitória fica no acampamento dos alienados que fecha seus ouvidos para a dúvida e o desânimo. Assim, acredita que o tempo envelhecerá a tribulação e ela ficará impotente diante da força do amor.
Vou adormecer no deserto da alma, despido das vaidades no sentido do meu viver, sem chorar as expectativas frustradas como se fosse o mais insignificante dos seres humanos. Ficarei abrigado na caverna para ouvir a música de Deus e renovar a esperança, fazendo novo jeito de caminhar na caminhada. Assim, abrirei os olhos da alma para ver os lírios do campo: a beleza que brota ao voar nas asas do espírito.
As marcas que trago em meu corpo são testemunhas do aprendizado acumulado por meio dos erros e acertos. Os arrependimentos talhados nas tábuas do coração me redimiram de toda arrogância e me conduziram ao caminho da humildade. Por isto, até o saber acadêmico e profissional tiveram que consultar a voz da sabedoria para agir com bom senso e prudência.

É NECESSÁRIO LIBERDADE PARA VER A BELEZA
A beleza descansa os olhos e traz os detalhes das cores. Por isto, o verde nos convida para ver o útero da natureza de onde partimos uma vez. Essa natureza – a casa – que destruímos para delimitarmos o espaço do nosso poder. Aliás, a guerra começou a partir da delimitação do espaço, quando o primeiro homem se apossou de um campo, colocou a cerca e disse: ”é meu”. Ainda, a guerra no campo é motivada pela disputa da terra.
Sou livre para ver a beleza nos olhos da criança, pois no seu mundo não há disputa de poder, batalha dos egos e em cada olhar e percepção é um novo aprendizado. Que pena! O adulto montou no cavalo da razão para levar cativo todo pensamento que se levanta contra suas paixões. Assim, a batalha da argumentação e do convencimento entrou no mundo dos adultos e fez à primeira vitima: a criança. Nesse caso, a fantasia tornou-se um filme de terror, repleto de malícia, de subversão e de opressão.
A beleza que busco está na sensibilidade dos puros de coração, que habitam nas campinas de misericórdia e de paz. As palavras desses sábios anônimos são maçãs de ouros em salvas de prata que alimentam os corações sedentos de esperança e conforto. São palavras que saram os feridos da alma, pois consolam os atribulados e lhe renovam as forças. Por isto, suas palavras são músicas que acalentam aqueles que precisam descansar de suas obras e inaugurar um ciclo na existência.
A beleza que busco está na poesia da existência, mesmo que irregular no seu marco histórico, mas crescente na riqueza do aprendizado. E, nesse amadurecimento, sou como pedra lavrada nas mãos do Criador e nela escrevo a minha história.
CONCLUSÃO
Ouvir a voz do coração é mover-se de misericórdia frente às necessidades do próximo e descansar na paz que a benevolência produz. Isto não tem relação com as doações midiáticas, que traz benesses econômicas e visibilidade efêmera com a hipocrisia das sobras. A bondade é simples como uma pomba e suave como a brisa. É tão espiritual como vento e, ao mesmo tempo, persuasiva e contagiosa para mover uma multidão como um só homem. Produz solidariedade, porque prima pela igualdade na comunidade mais pobre onde pão é repartido com todos.  
REFERÊNCIAS
ALVES, Rubem, O céu numa flor silvestre: a beleza em todas as coisas. São Paulo: Versus Editora, 2008.