
Professor Gelcimar da Silva Pereira Nunes
INTRODUÇÃO
Em outubro do ano passado, escrevi o artigo “Eu tenho esperança”. Naquele texto de natureza teológica, escrevi que, apesar das adversidades e dilemas do presente, eu tenho esperança de que a vida seca como um deserto transbordará em fonte de águas de felicidade. É essa esperança que me faz ver o futuro com o brilho nos olhos como se já participasse da realidade cujo desenho está na tábua do meu coração.
TER ESPERANÇA
Gosto de falar de esperança, pois é a virtude mais excelente que nos convida a enxergar a porta da saída dos muros que nos prendem. Ela nos faz desfrutar a paz em meio às tribulações e nos faz renascer como soldado de um exército que não se entrega e não se rende, mesmo que diante dos decretos humanos de impossibilidades e derrota.
Embora, vez por outra, a tristeza venha açoitar a alma com pensamentos de autocomiseração, convidando o desespero para a sala de estar do coração, creio que a solução se revestiu do sobrenatural para vencer os inimigos do corpo e curar as feridas da alma. Como árvore, estou plantado na crença no Redentor divino que me faz ver horizontes com as cores brilhantes da felicidade.
Recentemente comentei com amigos que foram lançadas sortes sobre a existência humana e, mais do que nunca, a nossa vida frágil está rodeada de inúmeros perigos prontos a interrompê-la a qualquer momento. Isso não me provoca ansiedade e temor quanto à sorte da minha alma. Mas não há razão para se afadigar, pois há uma admoestação do cânon divino de que no mundo teríamos aflições e de que precisariamos de bom ânimo para desfrutar da paz interior em meio à insegurança que nos rodeia e provoca dor e destruição.
Para quem não tem esperança, o momento de prazer frenético e alucinante é o caminho mais acessível para se esquivar do vazio existencial da alma. Nesse caso, alguns pensam: “comeremos e beberemos que amanhã morreremos. Basta curtir cada dia como se fosse o último para que seja significativo a cada manhã”. Outros de forma soberba dizem: “eu sou o meu próprio deus”. Acreditam que são capazes de determinar o rumo e a solução para as suas próprias vidas. Por isso, fazem a liberdade e o prazer como o caminho da felicidade e a fuga de todos os seus problemas. Mas não há como fugir da realidade quando se está sozinho no quarto com os seus pensamentos, querendo capturar o sono para o esperado descanso.
Eu, porém, acredito que os nossos caminhos são revestidos de propósito e não estamos no mundo por acidente ou por consequência natural do ciclo biológico-existencial de uma espécie. Essa consciência de ser e estar no mundo com propósito não me desespera a buscar ilações sobre a origem das coisas. Eu estou completo com a resposta simples, monossílaba e de inigualável grandeza que me consola: DEUS.
Sei que as tristezas e as aflições imploram por alívio e consolação, mesmo que seja apenas uma palavra ou o silêncio de um ombro amigo capaz de ouvir as batidas do coração, a respiração do ar viciado e o soluço do choro contido. Sei que a voz do coração é repleta de integridade para definir os sentimentos mais profundos e cativantes a ser compartilhados com amor fraternal. Essa é a razão por que quero estar junto com aqueles que me amam e estão dispostos a me abraçar com os seus braços de amor. São eles que me empurram para a vida com a luz das suas experiências nos embates da vida e vitórias alcançadas com perseverança e fé. O relato das experiências trilhadas por outros com sucesso são caminhos a ser observados por aqueles que compartilham a mesma esperança e buscam força para superar as adversidades. Aliás, quem tem esperança vive como aqueles que sonham e contrariam todas as teses racionalistas. Não se afadigam, tem suas forças renovadas como a águia que voa mais alto e tem o olhar voltado para os montes.
Gosto de ouvir a música de Deus mesmo nos momentos em que a lágrima no olhar brota de forma ardente, quando o peito explode em reação ao mar tumultuoso da vida com todos os seus infortúnios. É o momento que percebo a serenidade da música presente na natureza, no cair da folha no chão, leve, tênue e sem pressa. Gosto de ouvir essa música no gorjear dos pássaros e no sussurro dos ventos, traduzindo o contraste da natureza que trabalha silenciosamente e a agitação da incerteza que move o ser humano. Vejo como a natureza se mostra servil e soberana, harmonizando como uma orquestra todo o ecossistema criado com a música de Deus. Por isso, também aprendi a cantar essa música com fé e esperança e, no murmúrio da alma, dirijo a minha prece com gotas ardentes de poesia.
VIVER COM ESPERANÇA
Fico impressionado como as palavras da sabedoria afugentam as trevas da ignorância que nos prendem nos calabouços do medo. Todos nós temos medo de alguma coisa, mas me refiro ao medo irracional que nos rouba as forças e nos faz ver miragens no deserto. O medo dá lente de aumento aos nossos problemas e faz parecer que somos gafanhotos diante de gigantes. São como as ondas do mar da vida que buscam suas vítimas, sufocando-as em meio às tempestades. Mas podemos ouvir o som da música de Deus que nos convida a dançar sobre águas e desfrutar da paz com o sussurro dos ventos.
O medo nunca esteve presente nas celebrações de alegria e nas comemorações de vitória. Ele é o inimigo mais pernicioso do ser humano, pois busca roubar a alegria de todas as formas e aprisionar suas vítimas no pântano da dúvida e do desespero. Faz a pessoa agir de forma irracional, ver-se cercada de muros de impossibilidades e impotente para vencer a adversidade. Ninguém nunca viveu sem conhecer os fantasmas criados no universo fantástico do medo: da escuridão, da eminente doença, da solidão, da insegurança, de acidentes, etc. A mente cria as imagens que atormenta quem está entrincheirado em suas incertezas. Por isso, é preciso vencer o medo como menino que desafia gigantes com resoluta confiança.
A esperança afasta o temor, alimenta-nos de paz e segurança e aponta para o futuro. A esperança contrasta com essa realidade nua e crua de violência, de doença e catástrofes diversas. Aliás, a esperança é uma das faculdades da alma e comunica com o sobrenatural. São os olhos que se abrem à fé para enxergar para além das possibilidades do corpo e da natureza.
Sei que a nossa história da vida pode ser comparada a uma gangorra com os seus altos e baixos. Há momentos de calmaria quando todas as situações se apresentam de forma administrável: os sentimentos de tristeza, alegria e a ansiedade estão devidamente drenados. Contudo, há momentos que o problema se agrava e a situação não pode ser administrada dentro do curso normal da rotina, além da capacidade de resolução estar permeada de riscos e incertezas.
Nos momentos de aflição e desespero precisamos de uma força extra a ser buscada na fé e em quem está do lado esquerdo do peito, dentro do coração: os amigos. Ainda há amigos que nos amparam com suas palavras, demonstração de carinho e ajudam a renovar o nosso ânimo. Vimos que não estamos sozinhos, que Deus enviou anjos de carne e ossos para nos servir com os seus bálsamos de amor e de solidariedade. São pessoas que nos consolam com a mesma consolação em que foram consoladas em suas adversidades. Percebemos que há pessoas como nós que nos alimentam de esperança a partir das vitórias que alcançaram em seus lidares.
Tenho como riqueza imaterial os verdadeiros amigos que me cercam. São eles que nos conduzem a fonte do amor com as consolações que renovam o nosso ânimo. Assim, vivo com esperança e sou renovado a cada dia pela crença de que as aflições temporárias não se comparam com o esplendor que consumirá a minha esperança e a fará transbordar em alegria e prazer eternos.
CONCLUSÃO
Essa sensação de liberdade que determina as opções que faço na vida. Sou movido pelo senso moral que faz abraçar o que é agradável, de boa fama, lícito e honesto. Viver com transparência dentro das convicções de fé é a chama que me move a negar tudo que aparentemente é bom. Acredito que a reputação é temporária, ilusória e faz bem para o ego, mas o bom caráter indica o destino da alma. Mas a esperança dá sentido à vida e a reveste de propósito como o infinito brilho das estrelas.
REFERÊNCIAS:
LUCADO, Max. Viver sem Medo: redescobrindo uma vida de tranquilidade e paz interior. Tradução de Bárbara Coutinho e Leonardo Barroso. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2009.
LOPES, Hernandes Dias. Voar nas Alturas. São Paulo: LPC Comunicações, 2011.