domingo, 25 de novembro de 2012

AS RESOLUÇÕES DA VIDA



Professor Gelcimar da Silva Pereira Nunes
INTRODUCÃO
Acredito que a nossa vida é marcada por resoluções. Simplesmente, por que ela é feita de escolhas e situações que colocam à prova a nossa integridade e indicam como passaremos o resto da existência. Considero que sempre nos depararemos com situações desafiadoras do ponto de vista moral, social e cultural. Por vezes, o nosso centro de decisão está defronte da bifurcação do bem e do mal. Interessante como somos tentados de acordo com os nossos desejos mais sórdidos e como é posta à prova a nossa capacidade de racionalidade e decisão. Portanto, devemos ter resoluções para exercitar a renúncia e a disciplina constante dos nossos impulsos.
NOSSAS REFERÊNCIAS PARA VIDA
Periodicamente, releio as 70 Resoluções do filósofo, pastor e missionário Jonathan Edwards (1703-1758) como inspiração para uma análise de natureza moral. Considero essas Resoluções válidas no plano das virtudes excelentes do Cristianismo que o ser humano deve almejar e empenhar-se para vivê-las cotidianamente.
O reverendo Jonathan Edwards foi um homem a frente da sua época. Ele confrontou a hipocrisia e a superficialidade da vida, chamando a atenção para a coerência acerca da crença, da prática e da transparência que deve marcar a vida cotidiana. Um dos argumentos que utilizou é que devemos não apenas crer na verdade, mas examiná-la no íntimo em busca das imperfeições, verificando os resquícios do ciclo da influência perversa que nos envolve com o seu egocentrismo, vaidade e vingança. Por outro lado, convida-nos a encetar a prática do bem, da reflexão diária, do arrependimento e da disciplina no falar e agir.
O ilustre reverendo traz uma reflexão sobre as consequências de nossas ações para nós mesmos e para os outros. Suas reflexões têm uma intenção profilática, desnudando os planos mais intensos da alma humana: sentimentos, inteligência e vontade. 
Gosto do conceito das palavras embora algumas tenham definições imprecisas. Por exemplo: não podemos definir explicitamente o que são sentimentos. Apenas podemos identificá-los pelas reações físicas e emocionais do corpo em determinadas situações e dizemos que temos: alegria, tristeza, raiva, etc. Por isto, desconhecemos o encoberto no coração (sede desses sentimentos) e, às vezes, negamos sentirmos o que os outros insistentemente veem nítido em nós. Então, cito a sinceridade do apóstolo Paulo que disse: “se nós examinássemos a nós mesmos, não seríamos julgados...”
Considero a leitura dessas resoluções um recurso adicional para a reflexão. Gosto muito da definição do professor e filósofo Anacleto Rodrigues da Silva, da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES): “Reflexão é voltar para dentro de si mesmo”. Imagino que se o homem fosse um ecossistema e se alguém caminhasse dentro de si mesmo, iria perceber a necessidade permanente de mudança. Ficaria incomodado ao ver, no seu interior, os sonhos mais sombrios do inconsciente e as imagens distorcidas produzidas pelo pensamento nos momentos de raiva e tristeza. Também, ficaria decepcionado com os talentos e dons armazenados que poderiam ser utilizados em benefício do próximo, mas foram desperdiçados para a satisfação dos impulsos mais mesquinhos, para a glorificação do ego e o esnobismo.
Para alguns pensar a vida é perda de tempo. Dizem que alguém se julga acima do bem e do mal ou mais excelente do que os demais seres humanos. Porém, acredito que a reflexão, a prática do bem e da verdade deve ser o compromisso de todos os homens e não daqueles ditos religiosos. Costumo dizer que não preciso invocar o rótulo de cristão para provar que sou honesto e verdadeiro. Aliás, não preciso de rótulos e protocolos para afirmar minha natureza moral, minha personalidade. Reporto a palavra de um homem simples e iletrado, mais sábio em seu íntimo: “o homem que perdeu sua moral, perdeu tudo e não sente mais vergonha do seu erro”.
A integridade é uma riqueza inestimável e está acima de qualquer bem material ou fama, pois o caráter está acima da reputação. O caráter é o que a pessoa realmente é; a reputação é o que as pessoas dizem. Logo, podem existir pessoas de má índole, mas de boa reputação até que um dia a máscara caia de seu rosto.
Considero as Resoluções de Jonathan Edwards um convite ao exercício diário do domínio próprio. Ou seja, é um recurso didático que ajuda estabelecer limites sobre os impulsos da natureza humana. No domínio próprio, a razão analisa as virtudes e as consequências de cada ato pensado, assessorando a vontade a determinar o que é mais conveniente no plano moral e espiritual, mesmo que o corpo venha padecer com manha dos desejos não atendidos. Para quem anseia as virtudes mais excelentes do Cristianismo, o domínio próprio coroa uma vida com moderação, proporcionando equilíbrio no pensar, no falar e no agir com segurança.
Reafirmo que a satisfação dos desejos isenta de julgamento moral do que é lícito, agradável e de boa fama, poderá representar prejuízos para si e para o próximo.  Quando jovem, o homem se dá o luxo de ser traído pelos arroubos da paixão e cometer muitos erros, sendo alguns considerados infantis. Tais equívocos podem ser explicados pelo espírito aventureiro e afoito do jovem, mas é um ingrediente natural válido para a sua maturidade. Depois, ele percebe que as coisas poderiam ser feitas de outra maneira e passa a refletir os prejuízos causados à sua vida. Isso é determinante para a resolução de não cometer os mesmos erros e não ser apressado em tomar decisões. Mesmo assim, nem todos se tocam que precisam mudar e continuam cometendo os mesmo erros dos tempos da juventude.
Agora percebo que a observância de regras não me faz herói nem mártir. Por outro lado, não me considero um homem à frente nem atrás do meu tempo. Quero apenas ser autêntico. Procuro não tomar decisões em busca de louvor de uma plateia frenética. Ainda que fosse o único homem na terra a pensar o bem não furtaria os meus dias em viver segundo as minhas convicções. A verdade, a justiça e a moralidade nem sempre está com a maioria.
A ARTE DE MENTOREAR PESSOAS
Reconheço a referência e a influência de muitas pessoas que ajudaram a moldar o meu caráter e a minha personalidade. Pessoas dentro da minha família e outras que me enriqueceram com os seus conhecimentos e experiências. Alguns, mesmo sem saber, foram os meus mentores com suas noções de liderança e autonomia. Agora dada a capacidade de ser influenciado e de buscar as melhores referências, no que me compete influenciarei outras pessoas.
Acredito que a nobre vocação de mentorear pessoas é iluminada por preceitos elevados de consciência moral. Dentre várias definições, apresento o mentor como àquele que transmite bagagem de conhecimentos e experiências a pupilos, no sentido de orientá-los, facilitar seu autodescobrimento e o aperfeiçoamento de suas potencialidades de liderança. Os mentores são marcados pelas suas convicções e na forma como é percebida nitidamente a sua filosofia de vida que o torna distinto dos demais. Via-de-regra, o ser humano busca inspirar-se em pessoas mais excelentes que lhe possa ensinar alguma coisa.  Apresento Jesus como o melhor mentor de todos os tempos: instruiu doze pupilos e os fez fundamento da doutrina do Cristianismo que explodiu no mundo.
Fico impressionado com a desonestidade intelectual do politicamente correto, ditada por uma onda de formadores de opinião que usam a mídia para propalar seu estilo de vida incongruente, parcial e relativista. Pergunto como pessoas com estilo de vida dissoluto querem ser mentoras de ampla maioria da população como se fossem arautos da verdade. A desonestidade é marcada pela imposição ideológica repetitiva de uma ideia de felicidade como ostentação e poder. O clima festivo das propagandas com modelos bem vestidas, com carros e bebidas mostram um estilo de vida inacessível à maioria da população. Traduzem a universalidade do sonho como máxima do capitalismo juntamente com a deturpação dos valores.
Pergunto como pessoas neófitas e de má índole passam a serem mentoras de gente imatura e passional? Agora imagine o problema de muitos pais que perderam a capacidade de serem mentores de seus filhos, por falta de autoridade e exemplo. Tenho a reconhecer que o ser humano é egocêntrico por natureza. Basta observar como uma criança faz manha e diz insistentemente: “eu quero!” Para os psicólogos, o egocentrismo da criança se justifica pela sua imaturidade física, biológica, moral, intelectual e emocional, que a leva a pensar como centro das atenções e a exigir o atendimento das vontades até as últimas consequências. Sem a disciplina imposta pelos adultos, as crianças se tornaram pequenas ditadoras e um problema enorme para os pais e a sociedade.
Após ler alguns livros e textos sobre a educação das crianças, percebo que não há receita mágica, além do ensino pelo exemplo. As crianças não são “ratinhos de laboratório” que podem ser manipuladas ao bel prazer. A expressão “criar filhos” não se aplica mais ao contexto atual, mesmo repleta de boas intenções. A educação das crianças concorre com os valores invertidos dos diversos grupos sociais, da mídia e de algumas instituições. Claro, já foi o tempo em que escola era o refúgio das crianças contra a ignorância e uma porta de esperança para o sucesso pessoal e profissional. Hoje, a escola é a fronteira entre todas as expectativas de formação integral do homem e a sedução das drogas, promiscuidade e outras ilicitudes. Digo fronteira porque é o local em que trava as batalhas e a maior delas ocorre no plano da consciência, no julgamento moral do certo e do errado. Lamentavelmente, muitos lares não são mais fronteiras, mas verdadeiros campos de guerra entre marido, esposa e filhos.
CONCLUSÃO
A virtude é cultivada no silêncio do coração e na solidão do compromisso individual que cada um faz com a sua própria consciência. É uma questão de convicção própria daquilo que é moral, lícito, honesto, íntegro. Gosto da palavra integridade que traduz a ideia de inteiro, sem trincas, irrepreensível. Quando alguém se torna repreensível é porque deu legalidade aos observadores morais para julgarem segundo as convenções sociais da ordem e dos bons costumes. Por outro lado, quem é integro não se vende por situações momentâneas, infrigindo as normas e leis, prejudicando alguém por um motivo fútil e incoerente. A moral de uma pessoa não tem preço e é indiscutível.
REFERÊNCIAS
Recomendo a leitura do livro
BOTTON, Alain. Desejo de Status. Tradução de Ryta Vinagre. Rio de Janeiro: Rocco, 2005.
AS RESOLUÇÕES DE JONATHAN EDWARDS (1722-1723) disponível em: http://www.ebdonline.com.br/resolucoes.htm acesso em 25/11/2012.