segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

MEU SILÊNCIO

Professor Gelcimar da Silva Pereira Nunes
INTRODUÇÃO
Passado algum tempo, retomo a recreação de escrever as simples expectações do meu pensamento, na beleza da nossa estimada língua portuguesa. Há tempos, estive refugiado no trabalho, nas tentativas incessantes de buscar respostas para a ansiedade que invadem o coração. Bem sabia que a ansiedade era amiga inseparável do medo do universo incerto do futuro que nos avizinha. Nesse caso, somos presas fáceis da nossa insegurança e ficamos a mercê das imaginações dos pensamentos que buscam antecipar sucessos e fracassos.

MINHAS VIVÊNCIAS

É verdade que, nós seres humanos, gostamos de estar sempre no controle de tudo e até do resultado das nossas ações. Gostamos de antever o futuro e essa é a razão da nossa insegurança. Mas, depois, parece que a ansiedade vai diminuindo à medida que somos envolvidos na atmosfera da ação. Percebemos que os erros e acertos são inevitáveis e que a nossa sorte está lançada. Não podemos retroceder. Ainda bem que temos a confiança de que nos cerca uma força extra que impulsiona a lutar contra as adversidades. Daí, nós tiramos a motivação para buscar as alternativas em todas as tentativas mal sucedidas e não fazer da frustração a nossa perene morada.

Nesse momento, percebemos que não estamos sozinhos, que existem pessoas certas no nosso caminho por mais que pareça incerta a nossa caminhada. Logo, não poderemos reivindicar a exclusividade nos louros das vitórias, pois o nosso trabalho é solidário. E como disse um ilustre professor: “Ninguém é feliz sozinho!” Temos sempre alguém no nosso caminho, no nosso caminhar. E é nessa certeza que revigoro as esperanças, sabendo de antemão que as dificuldades nos exercitam a paciência e nos protegem do pântano alagadiço do desespero. Tal esperança enobrece o desafio quando percebemos que somos capazes de superá-lo com inteligência, abraçando todas as oportunidades que encontrarmos no caminho.

Aprendi a não ser demasiadamente otimista e fiz do pressuposto do filósofo estoico Lucius Aneus Sêneca (4 a.C. – 65 d.C.) uma porta de segurança para as possíveis frustrações. Porém, estou precavido contra o exacerbado pessimismo que fecha os olhos da alma e impedem enxergar todas as possibilidades inauguradas no universo da esperança.
Assim, quero despoluir meu coração da dúvida, pois à tarde e pela manhã terei de adentrar no labor diário da convivência humana. Então, percebo que o desafio é resultado dos temores dessa convivência, dos enfrentamentos das contradições de cada indivíduo. Nesse jogo de egos dependemos de um diálogo cognoscente para a saúde vital do nosso entendimento. Da compreensão do outro, passamos a amar as motivações de parceria e do senso de prestação de serviço ao próximo. Logo, não estamos para sermos servidos, mas para inclinarmos a necessidade do outro com as pérolas divinas da sabedoria. O caráter da assistência é recíproco. Pelo menos deveria ser. Mas, o vírus do egocentrismo tem contaminado a alma até dos infantes e o duelo de palavras é próprio de quem quer ter razão até para as atitudes mais mesquinhas.

Vejo que até os lábios mais puros não escapam do escárnio das contradições da vida. Não temos como zombar das nossas fraquezas e defeitos! Bem, quem não gosta de encobri-los? É mais fácil fiscalizar as fraquezas dos outros e sobre elas tecer teses e fazer mídia, tudo isso para produzir um sarcasmo ou uma recreação gratuita. Nesse fetiche materialista é fácil transformar pessoas em coisas, em brinquedos, provocá-las, dar nomes e sobrenomes a partir do rótulo da perfeição imposta socialmente por uma minoria pensante e influente.

Tenho visto debaixo do sol, que a ansiedade tem relação para resposta de aceitação por um grupo social. O medo de fracassar nos rodeia como feras esfomeadas prontas para roubar a nossa estima e reputação. Por vezes, esquecemos que a virtude nos ajudou a lograr êxitos incalculáveis na história de vida. Aquilo que julgamos ser obra do acaso, da sorte, foram resultados da condescendência divina na nossa história. Cremos, então, na intervenção do Criador e em uma vida estruturada a partir de um propósito. Então as pedras não foram lançadas a esmo, mas colocadas caprichosamente no nosso caminho para entendermos a direção e administrarmos com paciência a carreira que nos está proposta.

Também, é possível enxergar positivamente o medo, desnudo da irracionalidade. É possível entendê-lo como o receio do erro e com os ingredientes ricos da respeitabilidade humana. Aprendi que sem o medo das consequências ninguém entenderá os limites da liberdade. Claro, a liberdade tem sabor quando se tem consciência que o direito do outro é o limite da minha liberdade. A ausência do medo faz fronteira com a arrogância, o desejo de status e o esnobismo. A soberba cavalga na autoconfiança dos estúpidos que se julgam mais importantes que a própria sombra. Por isso, a humilhação do próximo é a atividade recreativa de quem se julga superior, que desafia a ordem e procura alguém para parar a sua arte patética, colocando em sua frente o medo que tanto procura. É loucura fugir das consequências dos seus atos, razão por que há pessoas que só cumprem regras quando se sentem vigiadas ou quando ameaçadas de punição do mal feito. Pena que a cultura da obediência sob a vigilância está institucionalizada nos decretos do coração das pessoas insolentes e atinge até a incompletude da alma infantil.

MINHAS PERCEPÇÕES

Outra percepção imediata debaixo do sol é que quando estamos junto com a multidão, ficamos desesperados para sermos ouvidos e carentes da atenção, sob pena de sermos ignorados, embora haja pessoas que não se incomodam em ser anônimas em um grupo, mesmo que seja pequeno. Claro, o sujeito repleto de virtudes está condicionado ao anonimato a não ser que exerçam certa influência em seu grupo. Por outro lado, na maioria das vezes, a punição dá fama aquele que descumpre regras e está em confronto com a lei. As boas ações não são louváveis, mas espetacularização do crime tem a mais abominável mídia que encanta até o olhar dos inocentes. Então, como não reconhecer que o ser humano quer atenção? O mundo está carente da candura das palavras e do conforto do abraço. Tenho visto muita gritaria e cada um querendo passar na frente do outro na disputa da atenção. É a disputa de quem quer falar primeiro, de que tem razão, que precisa mais, de quem manda ou quer ter prioridade. É difícil perceber quem está disposto a ceder a vez ou abandonar seus impulsos mesquinhos em prol da necessidade do próximo. Parece que a nossa necessidade é mais importante do que a necessidade do outro e entramos no campeonato imaginário do nosso ego.

Aprendi que devemos ter cuidado com o uso recreativo das nossas palavras por mais inocente que seja a nossa imaginação. Agora estou mais crédulo de que toda brincadeira tem um lado sério; que nem sempre dizemos o que pensamos. Então, lembro-me do filme “O carteiro e o poeta” no qual o ator que representa o poeta Pablo Neruda afirma que “as palavras não passam de metáforas”. Ou seja, os sentimentos são tão profundos que os gestos são insuficientes para traduzi-los; precisamos, então, das palavras que também não comportam tamanha grandeza. Aí, que mora o perigo. As palavras passam a ter um sentido particular para cada pessoa e o raciocínio traditivo (entendimento pessoal, particular) faz que um elogio seja entendido como uma ofensa e uma brincadeira torna-se uma provocação. Por consequência, os maus entendidos são males que destroem até as mais sólidas amizades, pois suas desculpas não curam as feridas da alma do ofendido. As palavras são insuficientes para conquistar a cidadela forte da amargura de coração. Quem sabe o tempo traga consigo a reflexão sobre a virtude, o entendimento das contradições da vida e vento da restauração da amizade perdida?

Gosto então de contemplar a beleza do perdão, de exaltar o poder da comunicação entre pessoas. Por isso, quero estar em todos os momentos de celebração da amizade e de ser participante de todos os eventos que unem pessoas. Gosto da alegria das brincadeiras desses momentos que nos levam a retrospectiva da gloriosa infância.
Entendo que o medo de ser sincero está ligado ao receio de melindrar pessoas e de não se portar com a elegância das palavras. Alguém teme que a sinceridade seja uma lâmina que fere o orgulho das pessoas, que coloca em xeque todas as certezas e tira a venda da realidade que não queria enxergar. Por outro lado, há pessoas que no salto alto da arrogância se julgam no direito de dizer o que bem entender, usando palavras como arma, sob o pretexto da verdade e da sinceridade.  

Gosto muito do conselho de Rubem Alves de que as nossas palavras não passam de palpites e de que, dessa forma, é possível conversar amigavelmente sobre todos os assuntos e até sobre aquilo que nos incomoda sem a perspectiva do confronto.
Sinto-me feliz diante de pessoas de coração aberto para celebrar a amizade como o néctar dos deuses. São essas pessoas que florescem o diálogo na floresta de possibilidades da elevação da dignidade do ser humano. Quando o diálogo flui com humildade, torna-se possível conhecer o outro, valorizar suas virtudes e compreender suas fraquezas. Assim, o julgamento cínico dá lugar a parceria beneficente que faz pessoas trocar o individualismo pelo espírito de grupo. Portanto, não há protagonistas. Todos são importantes como uma orquestra em que cada músico com o seu instrumento diferente produz coletivamente uma uniformidade sonora. Logo, a minha diferença se encaixa na diversidade do grupo para produção da eficiência do resultado. Acredito que as diferenças não são motivos de confrontos, mas de oportunidade de diálogo e de parceria.

Agora caminho na reflexão de Fernando Pessoa (1888 – 1935) de “que tudo vale a pena se a alma não for pequena”. Portanto, a ansiedade produziu motivações para superar os obstáculos. Fiz da ansiedade um senso de responsabilidade e de respeito às pessoas. Pude perceber que a competência será cobrada em todas as atividades de prestação de serviço. As pessoas não gostam de ser cobradas nem criticadas e esses fantasmas atormentam antes de começar qualquer empreendimento.  
CONCLUSÃO
Chega-se ao fim do ano e conclui-se que o labor proporcionou crescimento relacional e espiritual. Banhamos nas águas do rio da existência e fomos transformados pela convivência com outras pessoas. Pessoas que encontramos no caminho e nos enriqueceram com suas experiências. Aprendemos a ter segurança no enfrentamento das adversidades e abraçar a esperança como companheira inseparável.

REFERÊNCIAS

Recomendo a leitura dos livros:
BOTTON, Alain. Arquitetura da Felicidade. Tradução de Talita M. Rodrigues. Rio de Janeiro: Rocco, 2007.

_______. Desejo de Status. Tradução de Ryta Vinagre. Rio de Janeiro: Rocco, 2005.

CHALITA, Gabriel. Educação: A solução está no afeto. Rio de Janeiro: Editora da Gente, 2001.

sexta-feira, 29 de março de 2013

O QUE OS OLHOS VÊEM

Professor Gelcimar da Silva Pereira Nunes
INTRODUCÃO
Na beleza do silêncio busco a minha inspiração para as linhas que imprimem o meu pensamento. As ideias são gotas ardentes de um pensamento às vezes irregular, confuso e envolvido no contraditório. Outras vezes, o pensamento flui naturalmente e as palavras são desenhadas no universo da fantasia e da criatividade.
No exercício da criatividade, fecho os meus olhos e caminho em direção ao mundo das ideias que os filósofos gregos tanto profetizaram em suas crônicas. Esse mundo em que a imaginação aflora com a naturalidade da chuva nas regiões tropicais. Assim, alcanço a libertação dos sentimentos de repressão e do medo em descumprir as normas da nossa gloriosa língua portuguesa. 
O QUE VEJO NO MUNDO DA IMAGINAÇÃO
Acredito que a imaginação aflora quando desenhamos com cores diferentes a realidade que vivemos. O extremo realismo é um obstáculo tamanho para a pretensão de qualquer escritor. É preciso apelar para a sensibilidade que nos aproxima da criatividade. Nesse caso, o olhar passa a ser subjetivo e abstrato, fugindo da crueldade das relações concretas da nossa realidade. O olhar subjetivo desenha aquilo que desejamos com o som da batida do coração e flerta com o mundo dos sonhos.
Há pessoas que acreditam que a realidade determina o potencial dos nossos sonhos e onde queremos chegar. Para elas, o realismo não é uma vertente teórica da Filosofia, mas um determinismo da natureza, produzida por fatos sociais historicamente construídos. A realidade se prende a um relógio dinâmico da história onde o enredo já está escrito e é repetido cotidianamente, diferenciando-se o tempo, a cultura, o conhecimento e tecnologia. Então, competiria ao ser humano atenuar as consequências danosas do crescente individualismo e combater as situações gritantes de desajuste social.
Ainda bem que há pessoas acreditando no potencial das ideias. Apregoam que as ideias podem mudar o mundo por meio da ação consciente das pessoas. As ideias libertam pessoas da escura ignorância, retirando-as da visão iludida da realidade em que vivem. Na ignorância prevalece a ilusão de ótica do que é real e verdadeiro. São presas frágeis do engano e da manipulação. As pessoas aprenderam a acreditar naquilo que veem e pode ser tocado e observado. Por isto, elas constroem totem para adorar que pode ser um político, uma liderança carismática ou até uma imagem. Claro, a ignorância produz dependência, prática supersticiosa e medo.
Gosto do idealismo por que vai além da demarcação de território. Não há limites para o sonho nem convenções teóricas e sociais. Basta liberar a imaginação que as cores brotam no mundo das ideias. Não há visão turba ou pensamentos vagos e confusos, pois, no mundo das ideias, a organização é natural e flui sem se prender a enredos e contextos.
Houve alguém que tentou explicar a diferença entre sentimentos e pensamentos. Mas, não há definição precisa do que é sentimento. O conceito mais usual revela serem informações ou reações biológicas dos seres vivos quando se deparam com alguma situação como, por exemplo: medo, raiva, alegria, tristeza, etc. Por exemplo: o medo é uma reação imediata a uma situação de perigo. Isto envolve liberação de hormônios no sangue como a adrenalina. Por consequência, esses sentimentos se expressam por meio de pensamentos. Os pensamentos são produtos do intelecto ou reação à resolução de problemas. Os problemas ou obstáculos suscitam a elaboração de teses no aprendizado do ensaio: tentativa x erro x acerto.  Para tanto, a Epistemologia emergiu da Filosofia para explicar como acontece a construção do pensamento no ser humano.
Quando os pensamentos se estruturam de forma lógica e em estruturas psíquicas, eles se transformam em ideias. Para tanto, é preciso amar os seus pensamentos e rever analiticamente tudo por meio da observação ou contemplação da realidade. Os filósofos adoravam observar a rotina das pessoas e verificar todas as coincidências para refletirem sobre o cotidiano. A palavra “Reflexão” significa “voltar para dentro de si mesmo”. Ou seja, os filósofos empreenderam uma viagem dentro do seu EU para construírem pontes entre o ideal e a realidade. Eles buscaram inspiração em um mundo onde o espírito humano vaga em busca com total liberdade: o mundo da imaginação. Então, eles colheram as palavras e plantaram as suas ideias.
As palavras somente são conhecidas como ideias quando revestidas de propósito. É preciso saber qual o valor de cada palavra ou linha escrita. Do contrário é perda de perda tempo e não produz significado na vida das pessoas. Claro, o propósito precede a existência de cada coisa; ou seja, a finalidade determina o começo da existência. É preciso ter uma ideia para determinar o fim e depois começar. É preciso saber aonde quer chegar para escolher o caminho.
As pessoas são abraçadas pelas ideias ou o contrário as ideias caminham em direção às pessoas. Isto norteará a filosofia de vida de cada um. Ninguém conseguirá viver à parte de uma ideologia, visto que cada ação é determinada por uma forma de pensar. Por exemplo: a violência contra mulher é determinada pelo pensamento da supremacia masculina. Mesmo sendo pensamento odioso, não é possível banir de imediato essa ideologia, pois é uma estrutura cultural instituída ao longo dos anos. Podemos suplantá-la por uma ideia melhor propagada por uma persistente educação moral e igualitária.
AS IDEIAS SE REVELAM NO CONTRADITÓRIO
Aparentemente, a frase “ideias podem mudar o mundo” é ilusória. Ninguém sozinho conseguirá mudar o mundo por meio de palavras. É preciso ter seguidores, pessoas que acreditam nessa ideia melhor e superar a ideologia da supremacia escravizadora, preconceituosa e desigual. O mundo está repleto de pessoas que conseguiram mudar o mundo por meio de suas ideias. Apresento alguns nomes.
Jesus Cristo foi o personagem mais importante da história por conseguir transformar vidas por meio de suas palavras. Ele não escreveu nenhum livro, mas suas ideias foram transmitidas ao mundo por meio dos seus discípulos. Também, mostrou que as ideias são maiores do que a vida. Pode matar um homem, mas não suas ideias. Ou seja, as ideias são mais fortes que a morte. Tem existência espiritual, produzem crença que determinam filosofia de vida e prática cotidiana.
Madre Tereza de Calcutá mostrou que as ideias tornam-se mais vívidas por meio do exemplo. Podemos não saber cada frase proferida pela honrosa freira, mas temos a impressão mental de todos os gestos de solidariedade humana por ela praticados. Assim, mostra que a prática de vida vale mais do que a beleza das palavras ou a riqueza da oratória. Claro, as palavras penetram no intelecto, porém o exemplo inspira pessoas. Quero dizer que haverá sempre alguém a desejar ser igual ou parecido com as pessoas dotadas de virtudes excelentes. Portanto, o exemplo apresenta o lado prático das ideias com o argumento do convencimento junto as diferentes opiniões. As pessoas podem discordar das ideias; contudo, são constrangidas a reconhecer a sua pertinência e coerência.
Posso citar o exemplo do pastor batista Martin Luther King Junior que realizou manifestações pacíficas contra a segregação racial nos Estados Unidos da América. As suas ideias eram carregadas de sentimentos de fé e de esperança. Gosto muito do discurso “Eu tenho um sonho” (em inglês: I Have a Dream), proferido no dia 28 de agosto de 1963 nos degraus do Memorial Lincoln, em Washington. Nesse discusso, ele defendia a união e coexistência harmoniosa entre negros e brancos no futuro. Mesmo, depois de morto, as suas ideias revelam que o seu martírio foi à semente na luta dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos e em todo mundo.
Poderia de outros exemplos como Mohandas Karamchand Gandhi (1869 a 1948), grande líder indiano, e Nelson Rolihlahla Mandela, heroi na luta contra o aparteid na Africa do Sul. Esses exemplos mostram que a fé nos ideais é maior que as adversidades e a dor. Quem acredita no seu sonho não teme a morte, pois acredita na perenidade da verdade impressa nas tábuas do coração. É essa convicção que move as pessoas a serem participantes do mesmo ideal.
Há quem reclame que os idealistas são alienados que perdem tempo com ilações sobre a transformação da sociedade. Outros, porém, acreditam que tanto a ideias podem determinar a realidade como a realidade pode produzir sínteses das ideias anteriormente produzidas. Apresentam a contradição como elemento novo e realidade em constante conflito. Acreditam que as palavras devem ser impostas por um exercito de mobilização pública e o convencimento por decreto das palavras de ordem. Logo, para eles, a serenidade da exortação é um recurso espúrio adotado pelos idealistas.
Eu, porém, acredito que são as ideias inspiram pessoas, porém são constituídas de valor pelo exemplo dos líderes. Os líderes são agentes transitórios na propagação das ideias, algumas delas milenares como a religião cristã. As ideias não são apenas palavras. São estruturas culturais e se transformam em doutrinas. Uma doutrina é uma crença partilhada, não imposta e está além dos sabores de humor ou vontade de seguidores. Aliás, a doutrina é anterior à existência do seguidor; ou seja, ela estruturada e reproduzida historicamente. Logo é um bem moral pacífico e revestido de fé.
Como Rubem Alves, acredito que as palavras como uma tinta grudam no nosso corpo e passam a fazer parte da história da nossa existência. A partir delas são moldados o nosso caráter e personalidade. Contudo, vale ressalvar que as palavras são instrumentos do ensino e fazem parte das nossas impressões sobre o mundo em que vivemos. Um bom ensino é instrumento de transformação e libertação, mas a má educação são algemas que escravizam o homem no seu narcisismo e o conduzem a práticas abomináveis.
Logo, não fico a espreita das boas palavras, mas do ensino que me conduz a transformação todos os dias e que me liberta dos resquícios do egocentrismo tão marcantes pelo humanismo em voga na literatura e academias. Não busco ideias novas. Procuro apenas a reedificação de um corpo e mente rodeado de inúmeros perigos. 
Assim, sou obstinado a olhar o mundo com os olhos da fé e da esperança mesmo diante das intempéries constantes. Sou moldado a vivenciar desafios e acreditar no potencial dos meus sonhos.
CONCLUSÃO
O poder da palavra está relacionado à vivência e a necessidade do coração das pessoas. Digo que o principal problema não é dinheiro e conforto, mas preencher o vazio existencial e atender o clamor de liberdade plena que anseiam. Não me refiro a essa libertinagem de alguém pensar que pode falar ou fazer tudo que desejar, sem impedimento algum. Refiro-me a libertação por meio da verdade na qual a pessoa passa a conhecer a resposta para todos os seus dilemas. Essa libertação conduz disciplina sobre os impulsos e o homem passa a determinar suas ações por meio da consciência e não da vontade. Deste modo, alcança satisfação em ser livre pelo que é e não pelo que tem.
REFERÊNCIAS
Recomendo a leitura do livro
ALVES, Rubem, O céu numa flor silvestre: a beleza em todas as coisas. São Paulo: Versus Editora, 2008.
LOPES, Hernandes Dias. Voar nas Alturas. São Paulo: LPC Comunicações, 2011.
LUCADO, Max. Viver sem Medo: redescobrindo uma vida de tranquilidade e paz interior. Tradução de Bárbara Coutinho e Leonardo Barroso. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2009.

domingo, 27 de janeiro de 2013

AS INSTITUIÇÕES SÃO DURADOURAS

Professor Gelcimar da Silva Pereira Nunes
INTRODUCÃO
A Catedral de Notre-Dame de Paris completou 850 anos de existência em 15 de dezembro de 2012. Trata-se de uma construção medieval de arquitetura gótica, inaugurada no ano de 1345, localizada às margens do Rio Sena, conhecida na ficção e pela sua resistência nos eventos mais sombrios da história da Humanidade como a Revolução Francesa e a 1ª e 2ª Guerra Mundial. Também, fico pensando quantas pessoas que por ali passaram: administradores, subordinados e visitantes. Enfim, a gama de relações humanas que se estabeleceu ao longo dos anos. Muitas pessoas se foram, mas a Catedral se manteve de pé, devido a estrutura, organização e maturidade firmadas pelo aprendizado das adversidades.
A PERENIDADE DAS INSTITUIÇÕES
Percebo que há outras instituições centenárias e até milenares que também atravessaram os períodos mais sombrios da história. Isso me leva a entender que podemos apegar afetivamente a uma organização, mas ela é anterior a nós e a sua perenidade é atestada por aquilo que ela construiu desde a sua história. Não a nada que podemos fazer além do que foi estabelecido. Podemos mudar rituais, mas não a sua estrutura. Logo, estamos de passagem e ocupamos o lugar na história e participamos de organizações humanas por causa do universo cultural em que estamos envolvidos. Contudo, ninguém é obrigado a permanecer em uma organização à parte do seu sistema de crenças e motivações pessoais. Do contrário perde-se o significado que move a paixão de participar do empreendimento.
Cada instituição é norteada por uma filosofia que determina a sua organização e vivência. A filosofia é construída por pessoas e vai se aperfeiçoando ao longo do tempo. Contudo, sua estrutura lógica mantém-se inalterada, pois, de outro modo, a descaracterização dos objetivos e finalidades iniciais seria uma séria ameaça a sua sobrevivência. Por exemplo, a catedral é um lugar litúrgico e orienta-se por princípios sacros e, mesmo com o advento do modernismo, sua estrutura doutrinária é maior do que as motivações humanas, incutindo a obediência à fé apregoada. Logo, a ideologia presente nas organizações é mais poderosa do que qualquer arma, razão porque as guerras não conseguiram destruir as grandes catedrais.
Agora sabemos que as instituições têm existência indeterminada, mas não são eternas. Elas trazem em si marcas da história que nos induzem a pensar como sobrepõem à vida temporal dos seres humanos. É fato que as organizações foram criadas pelos homens para estabelecer o vínculo na busca de um objetivo comum. Surgiram de uma necessidade humana de agregação e de benefícios recíprocos. Mas, elas foram ganhando a impessoalidade e força coercitiva, determinando valores e moldando a cultura pelo sistema de crenças que estabelece. Aliás, não há alguém que consiga viver a parte de um sistema crenças, pois essa é a ideologia que vai determinar o seu estilo de vida e o seu destino.
As instituições foram criadas pelo homem à medida que as sociedades foram se desenvolvendo e se tornando complexas. São demandas das relações humanas, escopo de regras e padrões sociais baseadas em crenças, ideologias ou experiência de um ou vários grupos sociais. Dentre as instituições podemos citar a família, o serviço público, a igreja, a escola e os partidos políticos.
O que marca uma instituição é a forma como ela consegue estabelecer as sínteses entre as contradições existentes entre indivíduos e grupos sociais. Esse sistema de relações é recorrente. A forma como é administrada e são compartilhadas certas características é que vai determinar a sua durabilidade. Claro, as pessoas são diferentes, movidas pelo pensar e ambições. Logo, torna-se necessário estabelecer nessa rede de interações: direitos e obrigações a serem respeitados a fim de garantir a boa ordem e disciplina. Aliás, não existem instituições sem regras ou princípios que regem a sua existência. Assim, o ingresso e a permanência de alguém nela vão depender dos princípios que a pessoa se identificou e prometeu seguir.
É evidente que a sociedade é composta de pessoas e de grupos sociais, sendo a família a instituição mais antiga. Tornou-se senso comum que a família é a célula máter da sociedade. Assim, a sociedade é o reflexo de todas as contradições existentes na família e nos demais grupos sociais. Claro, a sociedade é o agregado de famílias e de outros grupos sociais e toda educação e mores dependem das informações que recebemos. Daí a importância da valorização da família, porque todos os desajustes são desaguados na sociedade, tais como: vícios, crimes e ilicitudes. Portanto, a família é o reflexo das virtudes e defeitos de cada um, resultante do aprendizado da convivência entre o ambiente cultural que nos cerca.
Gosto de falar da família, pois é o berço de toda a humanidade. O texto canônico declara enfaticamente a importância do casamento para a constituição da família. Inclusive evidencia que a árvore genealógica de todos passa pelo primeiro casal. Para quem acredita na verdade absoluta não há razão para ficar refém dos pressupostos da ciência sobre a origem do universo que é remoto e sua história fleta com a eternidade. Da eternidade temos um imenso silêncio e escuridão tanto para a investigação e a compreensão dos fatos.
Assim, falar da família como primeira instituição traz uma clareza cultural da sua importância em todos os lugares e momentos históricos. Por ela foi-se constituindo o patriarcado, as tribos e a formação dos povos. As nações que marcam o berço da histórica surgem de grupos étnicos bem definidos e algumas delas sobreviveram ao risco da extinção, devido à cultura que não deixaram desaparecer mesmo estando espalhados ou exilados em outros países. Logo, a cultura é o patrimônio imaterial de um povo a ser valorizado como instrumento de integração nacional, tal como fizeram os judeus até se estabelecerem como Estado nacional e, também, os curdos e outros povos que ainda não tem pátria.
Contudo, há de se lamentar que os ventos da pós-modernidade tenha trazido novas percepções e ideais de família, entrando em confronto com os valores estabelecidos anteriormente. Temos uma sociedade desajustada, repleta de problemas de exclusão e desajustes de toda ordem, bem como conflitos de limites e de autoridade, emergindo no seio da família. Daí, vimos ausência de referências morais sólidas por parte da infância e da juventude transviada, mergulhada nas drogas e outras ilicitudes.
Anteriormente tínhamos a escola como a segunda família e a continuidade dos valores iniciados na família. Mas, agora, a escola reflete de forma muito evidente as contradições da nossa sociedade. Nela desagua todos os conflitos familiares, expectativas e desilusões. A escola deixou de ser a universidade do sonho, da brincadeira e da amizade para se tornar uma agência de serviços de educação. Deixou de lado a relação interpessoal do afeto para priorizar a perspectiva dos direitos e dos deveres. Com isso, os pais e os alunos deixaram de lado o aprendizado e passaram a valorizar a nota, a cobrar capacidade para passar nas universidades. Ou seja, prevaleceu a lógica da competição. Como prestadora de serviços, a escola passou a ser a mediadora de conflitos de educandos irascíveis. Por consequência a indisciplina converteu-se em ato infracional quando a delinquência adentrou em seus espaços. Lamentalmente, temos como principais vítimas da violência: o professor e o aluno.
Também, vivemos uma época de crises nas instituições, a começar pela família. O ambiente é de insatisfação geral. Reclamamos do governo, da escola, da igreja, do clube... Todos estão errados e não atendem conforme as nossas expectativas. Às vezes acreditamos que as instituições mudarão quando mudarmos as pessoas e desconsideramos como fator preponderante a questão cultural. É possível mudar pessoas no comando e não mudar a cultura da corrupção, da ineficiência e do autoritarismo. O cenário já tem suas peças e o enredo já pronto e a resistência em alterar os moldes gera conflito institucional. É quase impossível realizar mudança sem conflitos, sem a reação do exército dos insatisfeitos e inclusive com a ameaça da desordem e a sobrevivência da organização. Não se faz mudança sem considerar os círculos de influência e de poder, daqueles que mandam e exercem fascínio sobre o seu grupo social. A eminência de rebelião ou oposição sempre existirá em um processo de mudança na perspectiva cultural. A mudança é necessária para a sobrevivência da instituição para que ela possa oxigenar suas estruturas e se fortalecer nos momentos de crises.  
Creio que nenhuma organização humana se mantém por muito tempo sem o aprendizado dos reveses. As constantes adversidades produzem certo desequilíbrio emocional das pessoas dirigentes e a ameaça de cessar tudo o que foi construído até então. Suscita o desafio do ajuste interno e a reengenharia da organização para que a instituição continue sobrevivendo. Então surge a virtude da persistência como o elemento mais eficiente para produzir experiência, a solução dos conflitos e a certeza que os obstáculos serão removidos. Ou seja, a vivência das adversidades é o motivo da sobrevivência histórica de muitas instituições.
CONCLUSÃO
Como foi dito, as instituições podem ter o momento de crise como uma oportunidade para se fortalecerem. Há o risco de se enfraquecerem e desaparecem se mergulharem na crise a procura de culpados e não se ocuparem com a causa e solução dos problemas. Procurar culpados pode ser uma forma de encobrir incompetência e transferência de responsabilidade aos outros. A instituição se fortalece quando a crise proporciona firmar compromisso de grupo, distribuir competência e sacrifícios pelo bem comum. Aliás, não há instituição que não viva sem o momento de crises, pois a realidade é dinâmica e o sistema capitalista está constantemente envolvido em crises que afeta todo o mundo.
Agora entendo que não devo ser demasiadamente otimista e pessimista em relação ao futuro. Sou apenas um entusiasta na medida do possível, crendo que decisões são marcadas por pessoas com poder temporal, que estão de passagem como eu. Não são eternas, são movidas pela vontade de fazer história na história que foi iniciada e produzida por outros. Por reflito como William Shakespeare: O mundo inteiro é um palco. E todos os homens e mulheres não passam de meros atores. Eles entram e saem de cena E cada um no seu tempo representa diversos papéis.
REFERÊNCIAS
Recomendo a leitura do livro
BOTTON, Alain. Arquitetura da Felicidade. Tradução de Talita M. Rodrigues. Rio de Janeiro: Rocco, 2007.
CHALITA, Gabriel. Educação: A solução está no afeto. Rio de Janeiro: Editora da Gente, 2001.