
Professor Gelcimar da Silva Pereira Nunes
INTRODUCÃO
Na
beleza do silêncio busco a minha inspiração para as linhas que imprimem o meu
pensamento. As ideias são gotas ardentes de um pensamento às vezes irregular,
confuso e envolvido no contraditório. Outras vezes, o pensamento flui
naturalmente e as palavras são desenhadas no universo da fantasia e da
criatividade.
No
exercício da criatividade, fecho os meus olhos e caminho em direção ao mundo
das ideias que os filósofos gregos tanto profetizaram em suas crônicas. Esse
mundo em que a imaginação aflora com a naturalidade da chuva nas regiões
tropicais. Assim, alcanço a libertação dos sentimentos de repressão e do medo em
descumprir as normas da nossa gloriosa língua portuguesa.
O QUE VEJO NO MUNDO DA IMAGINAÇÃO
Acredito
que a imaginação aflora quando desenhamos com cores diferentes a realidade que
vivemos. O extremo realismo é um obstáculo tamanho para a pretensão de qualquer
escritor. É preciso apelar para a sensibilidade que nos aproxima da
criatividade. Nesse caso, o olhar passa a ser subjetivo e abstrato, fugindo da
crueldade das relações concretas da nossa realidade. O olhar subjetivo desenha
aquilo que desejamos com o som da batida do coração e flerta com o mundo dos
sonhos.
Há
pessoas que acreditam que a realidade determina o potencial dos nossos sonhos e
onde queremos chegar. Para elas, o realismo não é uma vertente teórica da
Filosofia, mas um determinismo da natureza, produzida por fatos sociais
historicamente construídos. A realidade se prende a um relógio dinâmico da
história onde o enredo já está escrito e é repetido cotidianamente,
diferenciando-se o tempo, a cultura, o conhecimento e tecnologia. Então, competiria
ao ser humano atenuar as consequências danosas do crescente individualismo e
combater as situações gritantes de desajuste social.
Ainda
bem que há pessoas acreditando no potencial das ideias. Apregoam que as ideias
podem mudar o mundo por meio da ação consciente das pessoas. As ideias libertam
pessoas da escura ignorância, retirando-as da visão iludida da realidade em que
vivem. Na ignorância prevalece a ilusão de ótica do que é real e verdadeiro.
São presas frágeis do engano e da manipulação. As pessoas aprenderam a
acreditar naquilo que veem e pode ser tocado e observado. Por isto, elas
constroem totem para adorar que pode ser um político, uma liderança carismática
ou até uma imagem. Claro, a ignorância produz dependência, prática
supersticiosa e medo.
Gosto
do idealismo por que vai além da demarcação de território. Não há limites para
o sonho nem convenções teóricas e sociais. Basta liberar a imaginação que as
cores brotam no mundo das ideias. Não há visão turba ou pensamentos vagos e
confusos, pois, no mundo das ideias, a organização é natural e flui sem se
prender a enredos e contextos.
Houve
alguém que tentou explicar a diferença entre sentimentos e pensamentos. Mas, não
há definição precisa do que é sentimento. O conceito mais usual revela serem
informações ou reações biológicas dos seres vivos quando se deparam com alguma
situação como, por exemplo: medo, raiva, alegria, tristeza, etc. Por exemplo: o
medo é uma reação imediata a uma situação de perigo. Isto envolve liberação de
hormônios no sangue como a adrenalina. Por consequência, esses sentimentos se
expressam por meio de pensamentos. Os pensamentos são produtos do intelecto ou
reação à resolução de problemas. Os problemas ou obstáculos suscitam a
elaboração de teses no aprendizado do ensaio: tentativa x erro x acerto. Para tanto, a Epistemologia emergiu da
Filosofia para explicar como acontece a construção do pensamento no ser humano.
Quando
os pensamentos se estruturam de forma lógica e em estruturas psíquicas, eles se
transformam em ideias. Para tanto, é preciso amar os seus pensamentos e rever
analiticamente tudo por meio da observação ou contemplação da realidade. Os
filósofos adoravam observar a rotina das pessoas e verificar todas as
coincidências para refletirem sobre o cotidiano. A palavra “Reflexão” significa
“voltar para dentro de si mesmo”. Ou seja, os filósofos empreenderam uma viagem
dentro do seu EU para construírem pontes entre o ideal e a realidade. Eles
buscaram inspiração em um mundo onde o espírito humano vaga em busca com total
liberdade: o mundo da imaginação. Então, eles colheram as palavras e plantaram as
suas ideias.
As
palavras somente são conhecidas como ideias quando revestidas de propósito. É
preciso saber qual o valor de cada palavra ou linha escrita. Do contrário é
perda de perda tempo e não produz significado na vida das pessoas. Claro, o
propósito precede a existência de cada coisa; ou seja, a finalidade determina o
começo da existência. É preciso ter uma ideia para determinar o fim e depois
começar. É preciso saber aonde quer chegar para escolher o caminho.
As
pessoas são abraçadas pelas ideias ou o contrário as ideias caminham em direção
às pessoas. Isto norteará a filosofia de vida de cada um. Ninguém conseguirá
viver à parte de uma ideologia, visto que cada ação é determinada por uma forma
de pensar. Por exemplo: a violência contra mulher é determinada pelo pensamento
da supremacia masculina. Mesmo sendo pensamento odioso, não é possível banir de
imediato essa ideologia, pois é uma estrutura cultural instituída ao longo dos
anos. Podemos suplantá-la por uma ideia melhor propagada por uma persistente
educação moral e igualitária.
AS IDEIAS SE REVELAM NO CONTRADITÓRIO
Aparentemente,
a frase “ideias podem mudar o mundo” é ilusória. Ninguém sozinho conseguirá
mudar o mundo por meio de palavras. É preciso ter seguidores, pessoas que
acreditam nessa ideia melhor e superar a ideologia da supremacia escravizadora,
preconceituosa e desigual. O mundo está repleto de pessoas que conseguiram
mudar o mundo por meio de suas ideias. Apresento alguns nomes.
Jesus
Cristo foi o personagem mais importante da história por conseguir transformar
vidas por meio de suas palavras. Ele não escreveu nenhum livro, mas suas ideias
foram transmitidas ao mundo por meio dos seus discípulos. Também, mostrou que
as ideias são maiores do que a vida. Pode matar um homem, mas não suas ideias.
Ou seja, as ideias são mais fortes que a morte. Tem existência espiritual, produzem
crença que determinam filosofia de vida e prática cotidiana.
Madre
Tereza de Calcutá mostrou que as ideias tornam-se mais vívidas por meio do
exemplo. Podemos não saber cada frase proferida pela honrosa freira, mas temos
a impressão mental de todos os gestos de solidariedade humana por ela
praticados. Assim, mostra que a prática de vida vale mais do que a beleza das
palavras ou a riqueza da oratória. Claro, as palavras penetram no intelecto,
porém o exemplo inspira pessoas. Quero dizer que haverá sempre alguém a desejar
ser igual ou parecido com as pessoas dotadas de virtudes excelentes. Portanto,
o exemplo apresenta o lado prático das ideias com o argumento do convencimento
junto as diferentes opiniões. As pessoas podem discordar das ideias; contudo,
são constrangidas a reconhecer a sua pertinência e coerência.
Posso
citar o exemplo do pastor batista Martin Luther King Junior que realizou manifestações
pacíficas contra a segregação racial nos Estados Unidos da América. As suas
ideias eram carregadas de sentimentos de fé e de esperança. Gosto muito do
discurso “Eu tenho um sonho” (em
inglês: I Have a Dream), proferido no dia 28 de agosto de 1963 nos
degraus do Memorial Lincoln, em Washington. Nesse discusso, ele defendia a união e coexistência
harmoniosa entre negros e brancos no futuro. Mesmo, depois de morto, as suas
ideias revelam que o seu martírio foi à semente na luta dos direitos civis dos
negros nos Estados Unidos e em todo mundo.
Poderia de outros exemplos como Mohandas Karamchand Gandhi (1869 a 1948), grande líder indiano, e Nelson
Rolihlahla Mandela, heroi na luta contra o aparteid na Africa do Sul. Esses
exemplos mostram que a fé nos ideais é maior que as adversidades e a dor. Quem
acredita no seu sonho não teme a morte, pois acredita na perenidade da verdade
impressa nas tábuas do coração. É essa convicção que move as pessoas a serem
participantes do mesmo ideal.
Há
quem reclame que os idealistas são alienados que perdem tempo com ilações sobre
a transformação da sociedade. Outros, porém, acreditam que tanto a ideias podem
determinar a realidade como a realidade pode produzir sínteses das ideias
anteriormente produzidas. Apresentam a contradição como elemento novo e
realidade em constante conflito. Acreditam que as palavras devem ser impostas
por um exercito de mobilização pública e o convencimento por decreto das
palavras de ordem. Logo, para eles, a serenidade da exortação é um recurso
espúrio adotado pelos idealistas.
Eu,
porém, acredito que são as ideias inspiram pessoas, porém são constituídas de
valor pelo exemplo dos líderes. Os líderes são agentes transitórios na
propagação das ideias, algumas delas milenares como a religião cristã. As
ideias não são apenas palavras. São estruturas culturais e se transformam em
doutrinas. Uma doutrina é uma crença partilhada, não imposta e está além dos
sabores de humor ou vontade de seguidores. Aliás, a doutrina é anterior à
existência do seguidor; ou seja, ela estruturada e reproduzida historicamente.
Logo é um bem moral pacífico e revestido de fé.
Como
Rubem Alves, acredito que as palavras como uma tinta grudam no nosso corpo e
passam a fazer parte da história da nossa existência. A partir delas são
moldados o nosso caráter e personalidade. Contudo, vale ressalvar que as
palavras são instrumentos do ensino e fazem parte das nossas impressões sobre o
mundo em que vivemos. Um bom ensino é instrumento de transformação e
libertação, mas a má educação são algemas que escravizam o homem no seu
narcisismo e o conduzem a práticas abomináveis.
Logo,
não fico a espreita das boas palavras, mas do ensino que me conduz a
transformação todos os dias e que me liberta dos resquícios do egocentrismo tão
marcantes pelo humanismo em voga na literatura e academias. Não busco ideias
novas. Procuro apenas a reedificação de um corpo e mente rodeado de inúmeros
perigos.
Assim,
sou obstinado a olhar o mundo com os olhos da fé e da esperança mesmo diante
das intempéries constantes. Sou moldado a vivenciar desafios e acreditar no
potencial dos meus sonhos.
CONCLUSÃO
O poder da palavra está
relacionado à vivência e a necessidade do coração das pessoas. Digo que o
principal problema não é dinheiro e conforto, mas preencher o vazio existencial
e atender o clamor de liberdade plena que anseiam. Não me refiro a essa
libertinagem de alguém pensar que pode falar ou fazer tudo que desejar, sem
impedimento algum. Refiro-me a libertação por meio da verdade na qual a pessoa
passa a conhecer a resposta para todos os seus dilemas. Essa libertação conduz
disciplina sobre os impulsos e o homem passa a determinar suas ações por meio
da consciência e não da vontade. Deste modo, alcança satisfação em ser livre
pelo que é e não pelo que tem.
REFERÊNCIAS
Recomendo a
leitura do livro
ALVES, Rubem,
O céu numa flor silvestre: a beleza em todas as coisas. São Paulo: Versus
Editora, 2008.
LOPES,
Hernandes Dias. Voar nas Alturas. São Paulo: LPC Comunicações, 2011.
LUCADO, Max.
Viver
sem Medo: redescobrindo uma vida
de tranquilidade e paz interior. Tradução de Bárbara Coutinho e Leonardo
Barroso. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2009.