sexta-feira, 29 de março de 2013

O QUE OS OLHOS VÊEM

Professor Gelcimar da Silva Pereira Nunes
INTRODUCÃO
Na beleza do silêncio busco a minha inspiração para as linhas que imprimem o meu pensamento. As ideias são gotas ardentes de um pensamento às vezes irregular, confuso e envolvido no contraditório. Outras vezes, o pensamento flui naturalmente e as palavras são desenhadas no universo da fantasia e da criatividade.
No exercício da criatividade, fecho os meus olhos e caminho em direção ao mundo das ideias que os filósofos gregos tanto profetizaram em suas crônicas. Esse mundo em que a imaginação aflora com a naturalidade da chuva nas regiões tropicais. Assim, alcanço a libertação dos sentimentos de repressão e do medo em descumprir as normas da nossa gloriosa língua portuguesa. 
O QUE VEJO NO MUNDO DA IMAGINAÇÃO
Acredito que a imaginação aflora quando desenhamos com cores diferentes a realidade que vivemos. O extremo realismo é um obstáculo tamanho para a pretensão de qualquer escritor. É preciso apelar para a sensibilidade que nos aproxima da criatividade. Nesse caso, o olhar passa a ser subjetivo e abstrato, fugindo da crueldade das relações concretas da nossa realidade. O olhar subjetivo desenha aquilo que desejamos com o som da batida do coração e flerta com o mundo dos sonhos.
Há pessoas que acreditam que a realidade determina o potencial dos nossos sonhos e onde queremos chegar. Para elas, o realismo não é uma vertente teórica da Filosofia, mas um determinismo da natureza, produzida por fatos sociais historicamente construídos. A realidade se prende a um relógio dinâmico da história onde o enredo já está escrito e é repetido cotidianamente, diferenciando-se o tempo, a cultura, o conhecimento e tecnologia. Então, competiria ao ser humano atenuar as consequências danosas do crescente individualismo e combater as situações gritantes de desajuste social.
Ainda bem que há pessoas acreditando no potencial das ideias. Apregoam que as ideias podem mudar o mundo por meio da ação consciente das pessoas. As ideias libertam pessoas da escura ignorância, retirando-as da visão iludida da realidade em que vivem. Na ignorância prevalece a ilusão de ótica do que é real e verdadeiro. São presas frágeis do engano e da manipulação. As pessoas aprenderam a acreditar naquilo que veem e pode ser tocado e observado. Por isto, elas constroem totem para adorar que pode ser um político, uma liderança carismática ou até uma imagem. Claro, a ignorância produz dependência, prática supersticiosa e medo.
Gosto do idealismo por que vai além da demarcação de território. Não há limites para o sonho nem convenções teóricas e sociais. Basta liberar a imaginação que as cores brotam no mundo das ideias. Não há visão turba ou pensamentos vagos e confusos, pois, no mundo das ideias, a organização é natural e flui sem se prender a enredos e contextos.
Houve alguém que tentou explicar a diferença entre sentimentos e pensamentos. Mas, não há definição precisa do que é sentimento. O conceito mais usual revela serem informações ou reações biológicas dos seres vivos quando se deparam com alguma situação como, por exemplo: medo, raiva, alegria, tristeza, etc. Por exemplo: o medo é uma reação imediata a uma situação de perigo. Isto envolve liberação de hormônios no sangue como a adrenalina. Por consequência, esses sentimentos se expressam por meio de pensamentos. Os pensamentos são produtos do intelecto ou reação à resolução de problemas. Os problemas ou obstáculos suscitam a elaboração de teses no aprendizado do ensaio: tentativa x erro x acerto.  Para tanto, a Epistemologia emergiu da Filosofia para explicar como acontece a construção do pensamento no ser humano.
Quando os pensamentos se estruturam de forma lógica e em estruturas psíquicas, eles se transformam em ideias. Para tanto, é preciso amar os seus pensamentos e rever analiticamente tudo por meio da observação ou contemplação da realidade. Os filósofos adoravam observar a rotina das pessoas e verificar todas as coincidências para refletirem sobre o cotidiano. A palavra “Reflexão” significa “voltar para dentro de si mesmo”. Ou seja, os filósofos empreenderam uma viagem dentro do seu EU para construírem pontes entre o ideal e a realidade. Eles buscaram inspiração em um mundo onde o espírito humano vaga em busca com total liberdade: o mundo da imaginação. Então, eles colheram as palavras e plantaram as suas ideias.
As palavras somente são conhecidas como ideias quando revestidas de propósito. É preciso saber qual o valor de cada palavra ou linha escrita. Do contrário é perda de perda tempo e não produz significado na vida das pessoas. Claro, o propósito precede a existência de cada coisa; ou seja, a finalidade determina o começo da existência. É preciso ter uma ideia para determinar o fim e depois começar. É preciso saber aonde quer chegar para escolher o caminho.
As pessoas são abraçadas pelas ideias ou o contrário as ideias caminham em direção às pessoas. Isto norteará a filosofia de vida de cada um. Ninguém conseguirá viver à parte de uma ideologia, visto que cada ação é determinada por uma forma de pensar. Por exemplo: a violência contra mulher é determinada pelo pensamento da supremacia masculina. Mesmo sendo pensamento odioso, não é possível banir de imediato essa ideologia, pois é uma estrutura cultural instituída ao longo dos anos. Podemos suplantá-la por uma ideia melhor propagada por uma persistente educação moral e igualitária.
AS IDEIAS SE REVELAM NO CONTRADITÓRIO
Aparentemente, a frase “ideias podem mudar o mundo” é ilusória. Ninguém sozinho conseguirá mudar o mundo por meio de palavras. É preciso ter seguidores, pessoas que acreditam nessa ideia melhor e superar a ideologia da supremacia escravizadora, preconceituosa e desigual. O mundo está repleto de pessoas que conseguiram mudar o mundo por meio de suas ideias. Apresento alguns nomes.
Jesus Cristo foi o personagem mais importante da história por conseguir transformar vidas por meio de suas palavras. Ele não escreveu nenhum livro, mas suas ideias foram transmitidas ao mundo por meio dos seus discípulos. Também, mostrou que as ideias são maiores do que a vida. Pode matar um homem, mas não suas ideias. Ou seja, as ideias são mais fortes que a morte. Tem existência espiritual, produzem crença que determinam filosofia de vida e prática cotidiana.
Madre Tereza de Calcutá mostrou que as ideias tornam-se mais vívidas por meio do exemplo. Podemos não saber cada frase proferida pela honrosa freira, mas temos a impressão mental de todos os gestos de solidariedade humana por ela praticados. Assim, mostra que a prática de vida vale mais do que a beleza das palavras ou a riqueza da oratória. Claro, as palavras penetram no intelecto, porém o exemplo inspira pessoas. Quero dizer que haverá sempre alguém a desejar ser igual ou parecido com as pessoas dotadas de virtudes excelentes. Portanto, o exemplo apresenta o lado prático das ideias com o argumento do convencimento junto as diferentes opiniões. As pessoas podem discordar das ideias; contudo, são constrangidas a reconhecer a sua pertinência e coerência.
Posso citar o exemplo do pastor batista Martin Luther King Junior que realizou manifestações pacíficas contra a segregação racial nos Estados Unidos da América. As suas ideias eram carregadas de sentimentos de fé e de esperança. Gosto muito do discurso “Eu tenho um sonho” (em inglês: I Have a Dream), proferido no dia 28 de agosto de 1963 nos degraus do Memorial Lincoln, em Washington. Nesse discusso, ele defendia a união e coexistência harmoniosa entre negros e brancos no futuro. Mesmo, depois de morto, as suas ideias revelam que o seu martírio foi à semente na luta dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos e em todo mundo.
Poderia de outros exemplos como Mohandas Karamchand Gandhi (1869 a 1948), grande líder indiano, e Nelson Rolihlahla Mandela, heroi na luta contra o aparteid na Africa do Sul. Esses exemplos mostram que a fé nos ideais é maior que as adversidades e a dor. Quem acredita no seu sonho não teme a morte, pois acredita na perenidade da verdade impressa nas tábuas do coração. É essa convicção que move as pessoas a serem participantes do mesmo ideal.
Há quem reclame que os idealistas são alienados que perdem tempo com ilações sobre a transformação da sociedade. Outros, porém, acreditam que tanto a ideias podem determinar a realidade como a realidade pode produzir sínteses das ideias anteriormente produzidas. Apresentam a contradição como elemento novo e realidade em constante conflito. Acreditam que as palavras devem ser impostas por um exercito de mobilização pública e o convencimento por decreto das palavras de ordem. Logo, para eles, a serenidade da exortação é um recurso espúrio adotado pelos idealistas.
Eu, porém, acredito que são as ideias inspiram pessoas, porém são constituídas de valor pelo exemplo dos líderes. Os líderes são agentes transitórios na propagação das ideias, algumas delas milenares como a religião cristã. As ideias não são apenas palavras. São estruturas culturais e se transformam em doutrinas. Uma doutrina é uma crença partilhada, não imposta e está além dos sabores de humor ou vontade de seguidores. Aliás, a doutrina é anterior à existência do seguidor; ou seja, ela estruturada e reproduzida historicamente. Logo é um bem moral pacífico e revestido de fé.
Como Rubem Alves, acredito que as palavras como uma tinta grudam no nosso corpo e passam a fazer parte da história da nossa existência. A partir delas são moldados o nosso caráter e personalidade. Contudo, vale ressalvar que as palavras são instrumentos do ensino e fazem parte das nossas impressões sobre o mundo em que vivemos. Um bom ensino é instrumento de transformação e libertação, mas a má educação são algemas que escravizam o homem no seu narcisismo e o conduzem a práticas abomináveis.
Logo, não fico a espreita das boas palavras, mas do ensino que me conduz a transformação todos os dias e que me liberta dos resquícios do egocentrismo tão marcantes pelo humanismo em voga na literatura e academias. Não busco ideias novas. Procuro apenas a reedificação de um corpo e mente rodeado de inúmeros perigos. 
Assim, sou obstinado a olhar o mundo com os olhos da fé e da esperança mesmo diante das intempéries constantes. Sou moldado a vivenciar desafios e acreditar no potencial dos meus sonhos.
CONCLUSÃO
O poder da palavra está relacionado à vivência e a necessidade do coração das pessoas. Digo que o principal problema não é dinheiro e conforto, mas preencher o vazio existencial e atender o clamor de liberdade plena que anseiam. Não me refiro a essa libertinagem de alguém pensar que pode falar ou fazer tudo que desejar, sem impedimento algum. Refiro-me a libertação por meio da verdade na qual a pessoa passa a conhecer a resposta para todos os seus dilemas. Essa libertação conduz disciplina sobre os impulsos e o homem passa a determinar suas ações por meio da consciência e não da vontade. Deste modo, alcança satisfação em ser livre pelo que é e não pelo que tem.
REFERÊNCIAS
Recomendo a leitura do livro
ALVES, Rubem, O céu numa flor silvestre: a beleza em todas as coisas. São Paulo: Versus Editora, 2008.
LOPES, Hernandes Dias. Voar nas Alturas. São Paulo: LPC Comunicações, 2011.
LUCADO, Max. Viver sem Medo: redescobrindo uma vida de tranquilidade e paz interior. Tradução de Bárbara Coutinho e Leonardo Barroso. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2009.