quarta-feira, 14 de maio de 2014

PÉROLAS DA SABEDORIA

 
Professor Gelcimar da Silva Pereira Nunes          

INTRODUÇÃO

Na sublimidade do silêncio, busco a inspiração para compor a poesia no ritmo das batidas do coração. Sou convidado a adentrar no mundo das ideias e colher os favos de sabedoria plantados no átrio espiritual do Eterno. Claro, do silêncio busco a renovação das forças cujas energias foram empregadas no serviço ao próximo. Essa renovação é fugaz e expressa a própria necessidade do ser de drenar sua ansiedade quanto as expectativas de ser o próximo alvo da solidariedade orgânica. Então a reciprocidade dá-nos a sensação de que seremos recompensados em toda boa obra; que nossas virtudes serão louvadas e os nossos defeitos esquecidos.

EXPECTATIVAS
O desenho da realidade é belo no universo dos nossos sonhos e gostaríamos de vivê-la na integralidade da realidade. Mas, as pessoas que nos cercam confrontam em nós as expectativas de um mundo perfeito. O mundo ideal é reclamado no universo dos direitos e nem todos não aceitam as agruras como estágio de aperfeiçoamento do ser humano. Reclamam por atalhos e pelo produto pronto sem defeitos. A realidade fast foot expôs as tragédias da velocidade da rotina dos indivíduos, plastificada, mecânica e fetichizada. Não há tempo para pensar, para ler e refletir, pois o mais importante é o resultado e não o processo.
 
Creio que a beleza das palavras está decorada na sublimidade da verdade. Não quero presentear a beleza com ingredientes da falsa consciência. A ilusão do elogio está na fragilidade da segurança que ele traduz. A fé da boa qualidade da índole e das intenções não introduz ninguém no universo das mudanças. A expectativa é que faz as coisas melhorarem, embora nem sempre mudar signifique que as coisas melhorem.
 
Nossas expectativas são sonhos desenhados com sentimentos carregados de otimismo. Essas pérolas de esperança fazem da verdade a tábula da certeza de que o universo se revestiu da perfeição para atender as nossas preces. Então percebemos que estamos adentrando em uma seara perigosa. E se as nossas expectativas de perfeição forem frustradas? Então só nos restarão a ira, o desânimo e a autocomiseração?
 
Folgo na verdade pela convicção do seu conteúdo ético não apenas como arma de defesa da insegurança. A verdade não pode ser falsificada pelo medo para ser uma arma nas mãos dos iníquos. Sei, porém, que cada um busca justificar suas posições políticas-racionais com o argumento de verdade. Essa sanha egocêntrica cria polos de divergência, imprime dúvidas e falsifica as certezas. Claro, as pessoas anseiam que suas posições individualistas prevaleçam sobre as demais para o bem estar de suas convicções e para reafirmar supremacia. Não gosto desse conceito de supremacia embrulhado com requintes de competição. Essa ilusão de liderança que estabelece diferenças entre fracos e os mais adaptados. Creio que a liderança deve estar enlaçada no compromisso de inspirar pessoas sem a conotação de domínio. Assim, a luz da verdade das ações das pessoas excelentes são marcas rochosas que não podem ser apagadas com o silêncio da morte. São vozes reproduzidas no legado das gerações.
 
O silêncio dos puros sonega, às vezes, atitudes de altruísmo contra as injustiças. A verdade roga por arautos humanos assim como a terra seca anseia pela chuva. Isto mesmo, a verdade quando chega planta a semente da justiça e, ao mesmo tempo, sangra as contradições do engano para estabelecer-se de forma triunfante. Quando a verdade se estabelece pela contradição, vejo na melodia do pranto abrir as oportunidades de um arrependimento sincero.
MEU ENTUSIASMO
Meu entusiasmo, foca em todas as possibilidades de transformação do ser humano pelo resgate da sensibilidade que foi perdida pela ilusão do ego e do materialismo. Inevitavelmente, somos vítimas do ego ferido porque deixamos a ilusória satisfação do individualismo e do materialismo nos corromper. Creio que as nossas virtudes nos fazem mais excelentes do que os demais homens e até mesmo a pretensa humildade entra na cota elementar da nossa satisfação. Mas, a nossa importância está no mesmo limite da nossa insignificância, pois todos os homens foram colocados no mesmo centro do universo. Então, as motivações das injustiças estão plantadas no coração humano que foi corrompido pelo materialismo das relações pessoais, com requintes de individualismo dominador e orgulhoso.
 
Agora sei que a minha defesa de fé está nas convicções de que a vida não é um produto pessoal, mas um usufruto coletivo. Fomos plantados na história a partir de um propósito de utilidade. A vida não foi um acidente que nos introduziu na existência. Aliás, existe uma diferença entre viver e existir. Alguém pode viver a vida do seu jeito sem entender nada. Viver como se fosse um animal dentro de um ciclo biológico ou simplesmente pensando em experimentar até a última gota de prazer antes que chegue a tragédia da morte. A existência convida a desfrutar a vida com significado. É introduzir-se na consciência espiritual que nos faz vigorosos na fé e na esperança, apesar das conflituosas relações humanas existentes na sociedade. A existência faz as pessoas serem sócias de outros homens e mulheres nesse imenso ecossistema. Claro, a existência pressupõe uma solidariedade orgânica entre pessoas e isso vai além de uma simples especulação filosófica. A existência revela o ser na sua integralidade com a sua essência espiritual: sentimento, inteligência e vontade. É o homem revestido da sua consciência moral e de sua origem gregária. Ou seja, uma vida atrelada a uma consciência social de promoção do bem-estar dos demais seres humanos.
 
Minha vivência traz as expectações das alegrias e frustrações da convivência humanas. Aliás, a convivência social é carregada de emoções. Assim, partilhamos as fraquezas da carne que extravasam nas palavras não calculadas, traídas pela impulsividade do espírito. Não poderemos reclamar a perfeição como algo absoluto, mas poderemos experimentar o aperfeiçoamento progressivo que nos faz homens e mulheres maduros, em desenvolvimento pleno enquanto pessoa. Sou forjado a partir dessas experiências que humanizam e me revestem de sensibilidade para olhar o outro com o sentimento da própria carne. Essa vazão do sentimento é capaz de produzir uma gota ardente no olhar: a lágrima. A lágrima é a prova mais evidente das emoções que explodem nos momentos irremediáveis dos infortúnios. Ela revela a nossa mais nobre fraqueza; faz o coração de carne se romper e força os mais corajosos a retroceder o seu espírito belicoso. Se bem que a lágrima, às vezes, é traiçoeira como laço de trapaça a espera dos incautos. Porém, a palavra da sabedoria adorna com a verdade a sala de estar do coração e descortina todo o engano e até o mesmo o fetiche da lágrima.
 
A verdade está tão perto e distante de mim. Ela se revestiu das virtudes divinas e anseia por ser desejada, buscada. Mas por que ela não se corrompe pela tutela das definições científicas? Existe alguém que disse que a verdade deve experimentada, provada, experimentada e percebida pelos órgãos dos sentidos. Seria o resultado da experiência e tão simples a ponto de ser materializada?  Hoje, a verdade está sendo lançada na arena do contraditório, perdida no julgamento de teses, por um método racional pelo qual o julgamento moral está força dos argumentos do que na sublimidade dos princípios. No duelo de palavras, há quem fragmente a verdade, aprisionando-a nos pressupostos da subjetividade. Agora, fala-se em verdades, extraindo a objetividade e sua singularidade. Parece ser a aposta mais conveniente para o individualismo no qual todos estão certos e, ao mesmo tempo, todos estão errados.  Assim, cada um carrega debaixo do braço sua verdade e a arma de defesa mais usada é: “cada cabeça, uma sentença”.
 
A renúncia da objetividade faz que os valores sejam relativos e suscita o questionamento ao modelo de sociedade objetivo e conservador. A diversidade desprovida de unidade de consenso faz com que até mesmo o crime seja repensado pela subjetividade. Isso leva a relativização da culpa e a marginalização passa ser considerada, por determinadas bandeiras sociais, uma consequência e não uma causa em si mesma. Colocar o criminoso como vítima de um sistema social desigual é o argumento mais estúpido da corrente pós-modernista que abraça a subjetividade até as últimas consequências. Por isso, a reversão dos direitos humanos vê no meliante uma vítima a ser protegida do Estado opressor. A marginalização do Estado é a teoria mais insana de determinados militantes políticos. A inversão de valores é pressuposto da injustiça social que sufoca a ousadia dos homens piedosos, temerosos da criminalização de suas posições contra o erro e o engano.
 
Então quero estar adornado com pérolas da sabedoria. Não quero ser o inteligente, o culto, o mestre ou doutor em ciências e até mesmo perito em teorias sociais. O mundo está cheio de mestres e doutores e, ao mesmo tempo, carente de sábios. O saber acadêmico é vital para o modelo econômico capitalista e faz diferença em um mundo competitivo.
 
Para alguns peritos em teorias, a brutalidade e a delinquência é produto da ignorância; que a educação é o caminho para a formação de gerações conscientes e mais humanas. Seus argumentos consideram que a desigualdade social é o reflexo das injustiças históricas que embrutece a nossa sociedade.
 
Creio que a pobreza não exime ninguém da cultura moral mais excelente que cultuavam os nossos avós. Eles cumprimentavam as pessoas no trânsito diário com a simplicidade da amizade e do respeito. Sabiam o tempo e as estações, julgavam as pessoas pelo caráter e não pela aparência. Cultuavam a hospitalidade e a misericórdia como bondade praticada a um parente mais próximo. Eles produziam no presente a esperança como semente de um fruto saboroso a ser colhido na posteridade. Detestavam a velocidade dos compromissos e o tempo para o trabalho estava marcado para o nascer e o pôr-do-sol.  Assim tinham conhecimento da mais nobre de todas as Leis: a “Lei da Natureza”, também conhecida como a “Lei da Semeadura”, cuja máxima é: “tudo tem o seu próprio tempo”.
CONCLUSÃO

Por isto gosto da sabedoria por que ela enleva o espírito e enobrece o caráter. Ela está presente nas palavras de conselho que nos ajudam a evitar o mal e a praticar o bem. Protege-nos dos modismos, mesmo que ampla maioria siga princípios contraditórios como se fosse a última verdade do universo. A sabedoria nos ajuda a fortalecer as nossas convicções de justiça, de respeito ao próximo e a amar a verdade acima de todas as coisas. Sobretudo, ajuda a compreender a vida como uma dádiva recebida do Eterno e compartilhada com todos na Terra dos Viventes.

REFERÊNCIAS
Vou apenas recomendar a leitura de alguns livros:
 
BRIZOTTI, Alan. Identidade Cristã: resgatando a verdadeira identidade cristã. Goiânia: Primícias, 2012.
 
CURY. Augusto. Os segredos do Pai-Nosso. A solidão de Deus: um estudo psicológico da oração mais conhecida no mundo. Rio de Janeiro: Sextante, 2006.
CHALITA, Gabriel. Educação: A solução está no afeto. Rio de Janeiro: Editora da Gente, 2001.