Professor
Gelcimar da Silva Pereira Nunes
INTRODUÇÃO
Diante das
circunstâncias, encontro renovação do espírito na esperança, considerando que
adversidades foram vencidas com fé e perseverança. Apesar de todas as
implicações psicológicas, percebo que o caráter é forjado nos momentos de
pressão e adversidade.
O ECOSSISTEMA DOS SONHOS
Acordar bem
cedo é como desfrutar da experiência da ressurreição do corpo que se entrega a
fraqueza do cansaço para desfrutar da renovação da vida no amanhecer. Quando o
corpo repousa das energias gastas no dia-a-dia, temos a sensação de que a alma
caminha em direção ao universo fantástico dos sonhos à procura da fonte da
vitalidade no afã de encontrar a imortalidade.
A partir daí
surgiu a parábola do sono para ilustrar a morte e o renascer da esperança de
uma nova vida. Isto porque o homem se recusa a aceitar a morte como capítulo
final da vida e reconhece que a essência imaterial do ser humano está revestida
da imortalidade. Essa essência imaterial é entendida como alma.
Também,
acredito que a mente encontra no ecossistema dos sonhos: ideias, vitalidade e
esperança. O ecossistema dos sonhos é tão fantástico que, na maioria das vezes,
esquecemos as imagens dada a liberdade de encontrar o verdadeiro EU isento de
mecanismos de qualquer repressão. É como se o homem interior viajasse na
exploração do mundo espiritual e não comunicasse a nossa consciência sua
dimensão e significados devido a imaturidade da nossa mente para entender
tamanha grandeza.
Alguém
porventura argumentará que o sono tranquilo é a evidência de paz interior e de
uma consciência livre. Dirá que o sonho é o jardim de delícias para aqueles que
desfrutam da paz como companheira inseparável inclusive nos momentos mais
difíceis da vida. Enquanto outros enfrentam o açoite dos pesadelos que vão de
encontro dos seus medos e temores diante da culpa e do ressentimento de uma
mente debilitada.
O sonho tem
a razoabilidade na mente dos cientistas que a tratam como atividade mecânica do
cérebro por meio reações químicas produzidas pelo organismo humano. Pensam que
a emoção, a sensibilidade e múltiplas informações da memória encontram campos
férteis no universo dos sonhos. Consideram as imagens dessa aventura mensagens
do cérebro diante do bombardeio de informações recebidas cotidianamente que se
manifestam em resposta ao temor ou ao desejo.
Algumas
teorias tendem equivocar o impacto do espiritual para remeter todas as
informações esquecidas ao termo mental inconsciente como se o sonho fosse
resultado de reações químicas do cérebro impactados pela multiplicidade de
informações que não conseguiu absorver empurrando-as para a despensa da alma. Invocam
a influência dos desejos, dos medos e da culpa despertados no momento do sono
por meio de cenas fantásticas.
Para o
médico psiquiatra e psicanalista Augusto Cury, a memória não é seletiva quanto
ao registro das informações que recebemos no dia-a-dia. Cada pensamento e
emoção é registrado na memória automaticamente e não é descartado com o
tempo. O problema não é a informação boa ou ruim que recebemos, mas a forma
como a interpretamos e dela iremos utilizar para o proveito ou destruição da
autoestima. Essa é a razão porque devemos cultivar pensamentos e emoções
saudáveis para termos boas influências na autoestima, inteligência e tomada de
decisão.
Especialistas
no estudo da mente acreditam que no depósito da memória estão guardadas muitas
informações não processadas pelo cérebro que retomam a consciência em forma de
lembrança nos sonhos. Contudo, a relação da memória com a mente continua
envolta em mistério, suscitando várias especulações e teorias.
A COMPLEXIDADE DA ALMA E A NATUREZA DA
FÉ
Algumas
vezes, somos impactados pela lembrança do sonho a ponto de entendê-la como uma
comunicação divina de propósito e de acontecimentos futuros. Amparados na
crença, buscamos explicação para os significados dos códigos e das imagens que
nos foram apresentadas. Cremos na conexão divina, da revelação do desconhecido
no sentido de entender o propósito das circunstâncias que nos serão
apresentadas.
Embora o
sono seja uma atividade mecânica, os sonhos trazem enigmas a serem desvendados
com relação da dualidade do corpo e alma/espirito. A crença que o corpo é o
tabernáculo da alma se mostra com nitidez quando a matéria repousa e o espírito
apresenta sua condição de imaterialidade complexa.
Alguns
pesquisadores ao dissertarem sobre a dualidade corpo e espírito, concluíram que
a psique humana tem uma afinidade com Deus e está além dos limites da consciência.
Aliás, a consciência é incapaz de conceber a dimensão da alma, pois o
transcurso da alma quando o corpo está inerte será sempre desconhecido
inclusive para as mentes mais brilhantes. Diante desse mistério, amparamos a
crença de que a resposta se encontra no fundamento divino da existência da
vida. Portanto, alma é a chama ou combustível da vida, pois sem ela o corpo
seria um cadáver. Essa essência espiritual da alma abre janelas na mente para
abrigar a fé com resposta à vida.
Nesse
aspecto surge a teologia de que os olhos da alma são a fé e a esperança. A fé é
a firme convicção da verdade que temos sem a exigência absoluta da prova de que
seja verdade. A fé ocupa os espaços que a evidente existência da matéria não
consegue preencher nem a sensorial lógica empirista pode explicar. Surge como
alternativa para superar os limites estabelecidos pela lei da natureza e a superação
da lógica racionalista.
Por
contrariar a ética das possibilidades, a fé flerta com o impossível,
proporcionando acontecimentos fora do comum que não reúnam argumentos para
explicá-los.Então, acusamos o milagre amparados na crença do sobrenatural.
Acreditamos que o milagre deixa de se apresentar nas circunstâncias do acaso e,
pela perseverança da fé deixamo-nos envolver pela esperança.
A abstração
da fé só consegue ser tocada pela necessidade da alma de se conectar com o
divino. Ela apela para a natureza sobrenatural da alma para expressar a sede de
imortalidade que nenhum ser humano conseguiu satisfazer com sua concepção
carnal. Por isto, a fé testemunha a existência do favor divino antes da sua
materialidade, amparada no fundamento da graça irresistível. Então a fé
enfrenta no plano da consciência uma batalha intrépida para esmagar a dúvida e
faz resplandecer a esperança no meio do caos.
Há de se
conceber que a fé está amparada no conhecimento da verdade, isenta das
comprovações sensoriais empiristas. As riquezas da tradição oral das concepções
de fé dos antepassados foram reunidas no livro sagrado para transmitir o
conhecimento, a verdade e a justiça de geração em geração. Não há como negar
que as concepções moral e ética foram construídas no universo da fé no sentido de
estabelecer valores humanos nas relações interpessoais. Faz-se a escola da vida
na seara dos pensamentos, palavras e ações, apresentando doutrina moral na qual
há consequência em cada decisão tomada à margem da sua crença.
Por ser uma
virtude excelente atinge as faculdades da alma: emoções, inteligência e
vontade. A fé é uma experiência repleta de fervor da emoção e mexe com as
sensações humanas: ansiedade, tristeza, alegria. A fé é uma arma contra o medo,
pois, apesar das adversidades que conspiram em favor das dúvidas, ela fortalece
cada vez mais as convicções.
A fé é
inteligente porque está amparada no sistema de pensamentos que existe desde os
primórdios da humanidade: a religião. Alguns ideólogos quiseram desqualificar a
fé ao conceituá-la como meio de fuga das pessoas ignorantes para se alienar
diante dos problemas sociais e políticos que enfrentavam. Por isso, alguns
agentes políticos, no afã de querer prevalecer sua ideologia marxista,
impuseram estratégias para anular qualquer forma de teísmo e de crença.
Contudo, vacilaram pois não conseguiram anular a necessidade do ser humano que
de se conectar com o divino – anseio primitivo da alma que reclama por
imortalidade.
A
imortalidade surge da esperança por que a alternativa biológica dos seres de
perpetuar-se por meio dos seus descendentes não satisfaz a sede de eternidade
que reclama o espirito humano. O ciclo de vida comum a todas as pessoas é
finito, realça a brevidade da vida com a seguinte reflexão:
- Nossa existência humana é breve.
Nossos dias passam rapidamente como um conto ligeiro. Rubem Alves destacou que
na percepção das crianças um dia inteiro é longo, mas para os adultos, as horas
passam num momento, frustrando nossas expectativas. Logo, lamentamos como a
idade avançou sem que antes pudéssemos realizar aquilo que havíamos intentado
fazer e sentirmos satisfeitos.
- Nossa estrutura humana é frágil, por
isto nos debilitamos física e mentalmente diante de circunstância adversas no
ambiente e relacionamento, estando sujeitos a doenças e acidentes que provocam
dor e debilidade.
- Estamos rodeados de inúmeros perigos e
nossa existência pode ser interrompida a qualquer momento. A convivência humana é
marcada por conflitos pela qual a presença do Estado tem sido insuficiente para
pacificar as tensões. As contendas, pelejas e inimizades tem gerado mais
vítimas do que a pior das epidemias conhecidas no mundo.
Diante da
brevidade da vida, a esperança surge como flecha atirada em direção a
eternidade, sustentada na fé de que a existência humana não se esgota com a
morte. É o balsamo da consolação para aqueles encontram-se na fragilidade da
carne e buscam a robustez da alma no plano espiritual onde encontram convicções
além da eternidade.
CONCLUSÃO
É possível
perceber que a história tem eventos coincidentes presentes em todas eras. A
religião está sempre presente na história das civilizações, mostrando como era
a vida das pessoas em comunhão com a sua fé, como herança cultural dos
antepassados e meio de firmar a sua identidade enquanto nação. Inclusive as
civilizações mais simples construíram o seu conhecimento sociocultural a partir
da doutrina da sua crença.
REFERÊNCIAS
Indico a
leitura dos seguintes livros:
BOTTON, Alain
de. Desejo de Status. Tradução de Ryta Vinagre. Rio de Janeiro: Rocco, 2005.
______. As
consolações da Filosofia. Tradução de Eneida Santos. Rio de Janeiro: Rocco,
2012.
BRIZOTTI,
Alan. Quando a vida dói: Reflexões
bíblicas para tratar dores da alma. 1ª Edição – Goiânia: Estação da Fé, 2013.
CURY. Augusto.
O Semeador de Ideias: que atitudes tomaria se o mundo desabasse sobre você? São
Paulo: Editora Academia de Inteligência, 2010.
GALLAGHER, Steve.
O Poder da Humildade: Deus resiste
aos orgulhosos mas dá graças aos humildes. Brasília: Editora Propósito Eterno,
2006.