segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

PANDEMIA: COMUNICAÇÃO ENTRE ESCOLA E FAMÍLIAS

 

Fonte: google.com.br/imagens

Professor Gelcimar da Silva Pereira Nunes

INTRODUÇÃO

Acredito que cada texto é uma conversa, um diálogo, um relato das experiências apreendidas pelos órgãos dos sentidos. Por isto, meus textos têm esse caráter autobiográfico, fugindo do expediente burocrático da academia, que impõe ao estudante uma compilação de citações e comentários.  Logo, a fonte onde busco as abstrações são as rodas de conversas e a observação do mundo ao redor.

Atualmente, é inevitável a discussão sobre o avanço da pandemia do novo coronavírus no Brasil e no mundo, falar da prevenção e das perdas de pessoas tão próximas. Inda mais no interior da escola e das residências. Então, trago o relato das percepções nas conversas com colegas da área da educação, com pais, alunos e amigos. Isto proporciona uma reflexão sobre acontecimentos atuais e as perspectivas que nos cercam. Acredito que o extrato da realidade está presente entre nós e basta apenas um pouco de abstração para descrevê-la com o poder das palavras.

A ESCOLA E A TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO

            Com a internet, as redes sociais e WhatsApp ganharam impulso de consumo sem precedentes. A comunicação online ganhou vida artificial capaz de tocar nas emoções mais profundas, até mesmo, das pessoas antes insensíveis. O uso da tecnologia ganhou toques de necessidade básica de sobrevivência em meio ao caótico bombardeio de informações.

O mundo moderno é marcado pela tecnologia da informação e a geração atual tem o uso do aparelho celular como essencial para a vida. Até as crianças são moldadas ao consumo do entretenimento digital como distração sedentária para que os pais possam acomodar a sua rotina sem as interrupções no cuidado infantil. Por outro lado, a tecnologia empobreceu a verbalização do afeto entre pessoas, inclusive dentro da própria família. Há muita conversa online e pouco diálogo entre pais e filhos. Hoje, pessoas têm muitos seguidores e poucos amigos. A cultura do exibicionismo da alegria artificial tem sido um subterfúgio para esconder uma vida medíocre e fútil.  

            Infelizmente, esse padrão de comportamento atual, de alguma forma, afeta a escola. Será que casos de inquietação de estudantes na escola que tem relação com a abstinência do vício digital? Será que a dificuldade de memorização de conceitos e informações acadêmicas tem relação com o abusivo consumo de cultura inútil, devoradas pela internet? Claro, é uma hipótese para investigação o porquê de uma criança saber nomes completos de artistas, letras de música, narrar com desenvoltura casos e não conseguir absorver conceitos básicos da gramática, da aritmética e não saber produzir texto oral e escrito.

            Há quem defenda o uso do celular na escola como ferramenta didática. É um debate inconclusivo com opiniões favoráveis e contrárias. Porém, tem-se observado que a utilização dessa estratégia tem prevalecido no ensino médio, no ensino superior e em pouquíssimas escolas de ensino fundamental II. 

No ensino fundamental público, nossa experiência atual mostra transtornos causados por distrações em sala de aula, quando um estudante traz celular para a escola. No caso das crianças em fase de alfabetização, quando alguma delas traz o celular, há curiosidade e constrangimentos entre os estudantes. Por isto, a maioria dos regimentos escolares dos estabelecimentos de ensino público proíbe o uso do aparelho celular na escola.

            As privações da pandemia, trouxe para as escolas a vanguarda da tecnologia com as ferramentas digitais, até então, desconhecidas pela maioria dos educadores. Por consequência, a utilização de aplicativos e estratégias de comunicação online para reunião e planejamento didático foi uma adaptação imposta aos professores pela cruel realidade.

Também, as escolas particulares e universidades tiveram que mudar suas estratégias para oferecer a modalidade de ensino à distância aos estudantes. Sai de cena, o confronto direto da aula expositiva e a aglomeração dos grupos de estudo dirigido e surge a aula online com simultâneas salas de bate-papo entre professor e estudantes. Agora, prostrados diante do computador com cadernos e livros fazem o ritual do sacrifício acadêmico sem a presença física do sacerdote do saber. Antes, o ápice da aferição do aprendizado era o duelo do estudante com o papel da prova. Parecia que as questões queriam derrubar e levar à lona o cérebro alimentado com afinco nas aulas e estudos individuais. Agora, as provas são online com recursos digitais como o Google/Forms e outros.

Parece que esse desafio de se adaptar ao formato de aula e atividades online, instiga a curiosidade e autodisciplina com relação ao tempo e ao próprio aprendizado, principalmente nos estudantes do ensino superior. Mas, a reclamação é de que empobrece os estudos, sem a experiência das aulas práticas e interfere na formação discente. Como um estudante de mecânica vai ter aprendizagem efetiva sem aulas práticas? Outro problema é que os estudantes com mais dificuldade ficam privados do atendimento individualizado, visto que presencialmente o professor não está acessível.

            No entanto, a utilização da internet e das redes sociais pelas escolas públicas é repleta de timidez e cuidados. Por anos, os gestores dessas escolas veem com cautela o uso da tecnologia da informação para interagir com a comunidade escolar e local. Isto porque o caminhar no mundo digital e tecnológico obriga a escola a cercar-se de registros e documentos no tocante ao uso de imagens de pessoas, direitos autorais e possíveis implicações administrativas e jurídicas. Lamentavelmente, muita produção rica de conhecimentos é desperdiçada no ostracismo por mera precaução. A abusiva formalidade privou os profissionais da educação de ousarem na interação online com os estudantes e suas famílias, pois tudo deve ser documentado e arquivado na escola. Inclusive, até um recado a pais, por telefone, deve ter registro de data, horário e de quem atendeu. Para um professor com atividade intensa na escola, isso beira o excesso de zelo.

            Ora, a tecnologia da informação é um fenômeno recente para as escolas públicas bem como a inclusão digital de crianças e adolescentes. Para muitos professores, a informática se restringe ao uso do computador para editar textos e planilhas. Isto confronta com o aprendizado de muitos estudantes que utilizam aplicativos e ferramentas digitais. Para as crianças e adolescentes, baixar músicas, jogos e vídeos é mais cômodo do que comprar CD/DVD ou até mesmo a leitura de um livro. Logo, entender essa demanda é um desafio para os educadores que não são versáteis no mundo digital. Por outro lado, a escola não tem os recursos da tecnologia educacional que vá em direção a essa demanda.

            Na pandemia, a utilização das redes sociais como Facebook, Instagram e outros se restringiu a mensagem de otimismo de professores aos alunos, sem o aspecto de metodologia didática. Outro argumento restritivo, foi a denúncia de que a maioria dos estudantes não dispõe de internet e dos conhecimentos necessários para dominar a tecnologia da informação. Logo, o discurso da equidade soou no horizonte escolar em conformidade com o zelo docente. Seria, então, esse motivo porque parcela ínfima de pais de estudantes solicitou o envio de atividades online para os seus filhos?

Em tempo de pandemia, as escolas ofereceram Atividades Pedagógicas Não Presenciais – APNPs. No início, alguns professores disponibilizaram telefone para contato com as famílias. A orientação era que os pais e alunos dialogariam com os regentes em horário do teletrabalho. Porém, a orientação pedagógica não fluiu como o esperado, causando dúvidas e insatisfação entre os docentes e discentes. Isto, porque o contato inesperado à noite e até final de semana passou a interferir na rotina privada do professor. Então, a partir do relato de colegas, os professores de outras escolas abandonaram essa estratégia, inclusive com o uso do WhatsApp como metodologia de ensino.

Na entrega das Atividades Pedagógicas Não Presenciais – APNPs eram percebíveis a nostalgia e a insegurança no rosto dos pais de estudantes. Para eles, a distância afetiva da escola era maior do que o percurso da locomoção. Era um sentimento de perda, de abandono de propósito ver uma escola vazia, sem vida, em minutos intensos de silêncio. É compreensível os cuidados da frieza da formalidade sanitária, mas é difícil aceitar essa realidade de ruptura da cultura do ensino escolar. Para os pais, a escola se tornara um santuário despido dos rituais do saber para ter um expediente de orientações e instruções.

A ESCOLA E A SUBJETIVIDADE DAS RELAÇÕES HUMANAS 

Quisera expressar com mais fidedignidade toda percepção sensorial quanto rompimento abrupto do contato diário da escola com as famílias. Daquele momento em que pais ou mãe abordavam os professores na entrada das turmas para obter informações sobre seus filhos. Às vezes, o professor queria se desvencilhar daquela abordagem tão incisiva para acompanhar os educandos na fila e adentrá-los na sala de aula. Era o confronto direto da comunicação no qual a dialética da opinião divergente se manifestava espontaneamente. E, nessa troca de informações, os sentimentos de ambos (docentes e família) fluíam reflexivamente em prol do estudante. Mas, o interessante é que a ignorância sobre a nuance da personalidade da criança se manifestava diante da intelectualidade do professor e o senso comum do pais de alunos. Tal complexidade do ser humano desde a tenra infância intriga a todos, pois a educação da criança não obedece ao padrão de fábrica. Envolve sentimentos, intelectualidade e motivação.

            Agora com a suspensão das aulas presenciais nas escolas, percebo a melancolia no rosto dos professores e das famílias quando encontram a escola vazia, sem aquela agitação habitual causada pela aglomeração dos estudantes em diferentes momentos no prédio escolar. Os professores sentem falta daquele pedido insistente de silêncio ou até da repreensão dada àqueles estudantes mais afoitos em sua imaturidade infantil que, por vezes, causavam conflitos na aula e com colegas.

Com nostalgia, os mestres trazem à lembrança a adrenalina aflorada em momento de tensão quando esgotava os esforços de ajustamento de alguns discípulos à escola, bem como o conhecimento do educador e as estratégias do educandário. Então, o professor era desafiado a ser um pesquisador do seu próprio insucesso e do fracasso escolar do educando. Formava-se a rede de informações entre os professores com relatos de experiência, sugestões e solidariedade entre docentes. Também, a conversa com os pais das crianças não era apenas um balcão de reclamações e reivindicações, mas, também, era uma fonte de pesquisa para o educador sobre as metodologias do ensino que não foram contempladas na academia.

Por isto, trago à memória o calor humano presente nas conversas da sala do professor, onde a espontaneidade do riso proporcionava ideias em flor. Não era apenas pela oralidade espontânea, mas pelo companheirismo solidário que confortava uns aos outros em seus conflitos pessoais e no resgaste da autoestima do colega. Logo, a sala do professor rompia aquela formalidade, fria e vazia e trazia aquela conversa amistosa e intimista.

A sala de professores é ambiente de estudo e planejamento que traz a sensação de leveza, equilíbrio e flexibilidade nas relações humanas para celebrar a alegria de ser educador, mesmo nos dias de adversidade. Então, percebo que esse ambiente é o diagnóstico do relacionamento interpessoal no ambiente escolar como todo, pois, se não houver harmonia entre os educadores, isto refletirá na escola como um todo.

Nos tempos de pandemia, foi-se a glória das conversas nas salas da pedagogia e da direção onde o aprendizado da criança era colocado no centro do debate escolar. Nessa sala eram organizadas ideias e esperanças de aprendizado escolar como o desenho de uma paisagem de sucesso. Ali os pais entretecidos pela ansiedade, com cobranças e reclamações aguardavam respostas segundo a natureza do seu coração.

Agora, a aproximação entre escola e famílias tem a máscara da frieza do distanciamento social e das recomendações sanitárias. Como todas as instituições a escola aboliu a liberdade do calor do abraço e a energia do aperto de mãos. A ousadia do encontro e do confronto direto foi substituída pelo temor em receber a visita do intruso bichinho invisível. E, agora refém do medo, todas as pessoas são suspeitas de contaminação como se fossem leprosas: tem de ficar a distância e não pode tocar para não contaminar alguém.

CONCLUSÃO

Então, passo a defender a retirada de todas as máscaras: a máscara do medo, a máscara da indiferença, a máscara da hipocrisia, a máscara da manipulação política, a máscara do preconceito, etc. Claro, a pandemia nos obrigou a usar todos os tipos de máscaras de pano ou cirúrgica, mas deveria ser a oportunidade para arrancar as máscaras invisíveis. Embora, depois de algum tempo, essas máscaras encharquem e caem, revelando o verdadeiro caráter de muitas pessoas. Claro, todos nós usamos máscaras para não revelarmos a nossa verdadeira identidade e nos proteger do massacre do julgamento alheio. A escola não se isenta da regra quanto ao fracasso escolar, mascarado na promoção de estudantes que não dominam as proficiências básica.

 

REFERÊNCIAS:

Vou citar algumas obras que me inspiraram na escrita do texto.

ALVES, Rubem. Um Céu Numa Flor Silvestre: a Beleza Em Todas as Coisas. Campinas: Verus, 2009.

BOTTON, Alain de. Desejo de Status. Tradução de Ryta Vinagre. Rio de Janeiro: Rocco, 2005.

CHALITA, Gabriel. Educação: A solução está no afeto. Rio de Janeiro: Editora da Gente, 2001.

CURY. Augusto. O Semeador de Ideias: que atitudes tomaria se o mundo desabasse sobre você? São Paulo: Editora Academia de Inteligência, 2010.

LUCADO, Max. Viver sem Medo: redescobrindo uma vida de tranquilidade e paz interior. Tradução de Bárbara Coutinho e Leonardo Barroso. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2009.

WOOD, John Keith. Abordagem centrada na pessoa. 3ª ed., Vitória: Edufes, 2008

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

OS IMPACTOS NEGATIVOS DO CORONAVÍRUS PARA A EDUCAÇÃO

 

fonte: https://canpp.com.br/histeria/

Professor Gelcimar da Silva Pereira Nunes

INTRODUÇÃO

            Por força das circunstâncias, fui instado a escrever sobre as consequências da pandemia viral e respiratória do novo coronavírus (COVID-19) para a educação. Esse tema tem sido recorrente em reuniões e lives da educação com extensas repetições de chavões e jargões acadêmicos que beiram o senso comum. A discussão do tema é importante porque é um fenômeno recente tão presente na vida das pessoas e traz uma explosão ardente de sentimentos, de frustração e de esperanças. Logo, uma discussão acadêmica é insuficiente para traduzir esses reflexos interiores de cada pessoa em sua complexidade.

            Esse artigo foge do rigor do padrão acadêmico com o coletivo de enumerações e citações. O texto é um relato de experiência compartilhado com os demais docentes neste momento de pandemia. Então, escolhi alguns aspectos negativos do coronavírus na educação que foram apreendidos nas escutas dos diálogos com colegas professores, pais e estudantes.

1 – OS ASPECTOS EMOCIONAIS

            A pandemia trouxe perdas de saúde e de vidas, com impactos emocionais nunca vistos. Também, acarretou perdas econômicas. Muitos perderam seus empregos e seu padrão de vida antes estabilizado. E a nossa liberdade foi minguando aos limites de um confinamento forçado em nome da ciência, às vezes, comprometendo o direito as liberdades individuais e coletivas previstas na Constituição. Passamos a viver uma realidade de guerra em todos os aspectos de “Estado de Emergência”.

            Em função da pandemia foram baixados vários atos legais e normativos em âmbito nacional, estadual e municipal que culminaram com a suspensão das aulas. O município da Serra baixou até o momento cerca de 30 atos legais entre decretos, portarias, circulares, normas técnicas e resoluções. Logo, trata-se uma situação excepcional e que exige cuidados específicos.

Li textos e postagens que o confinamento na pandemia trouxe o resgate dos valores familiares: aproximou pais de filhos, marido e esposa, etc. Mostrou o valor da solidariedade, do repartir, do dividir.... Ajudou as pessoas a redescobrirem o amor e a misericórdia.

Discordo. O argumento que resume tudo isto foi apresentado pelo filósofo Luiz Felipe Pondé em entrevista à TV Brasil no dia 31/05/2020: “A pandemia é uma doença social”. Isto porque a pandemia gera um sentimento de insegurança e desespero; um verdadeiro frenesi. As pessoas sentiram que o mundo desabou sobre as suas cabeças da noite para o dia. Ficaram sem chão, sem expectativas. Pensamentos catastróficos aterrissaram sobre suas cabeças: “o apocalipse chegou. Então vamos nos preparar para o fim do mundo”.  Inegavelmente, a histeria e o pânico dos adultos atingiram, também, as crianças. Nesse momento de histeria, pessoas idosas e pertencentes ao grupo de risco foram segregadas a uma quarentena. Os idosos foram privados do convívio com parentes, e as crianças foram consideradas vetores de transmissão do vírus com risco de morte aos avós. Lamentável, mas talvez necessário?... O tempo dirá.

            O fator emocional foi agravado pelo bombardeio de informações na mídia e nas redes sociais dia e noite. O ápice da notícia era contagem de mortos diários por COVID-19. Parece que os jornalistas estavam inculcando a seguinte frase: “A próxima vítima pode ser você! ”  E o consumo indiscriminado de notícias ruins e, até mesmo de fake News, prejudicou a saúde mental de muita gente.

            Nos momentos iniciais da pandemia, percebi o apego a fé como válvula de escape para o enfrentamento do medo e da angústia. As pessoas queriam um fio de esperança nesse universo de incertezas. Confinadas em seus apartamentos e casas, cantavam canções religiosas ou seculares com fervor no intuito de quebrarem as amarras psicológicas da desesperança.

Mas, como explicar para as crianças que um vírus que teve epicentro na China atravessou o Oceano e chegou até nós? Crianças maiores podem até entender alguma coisa. E as crianças pequenas? Como explicar para as crianças que não podem ir para a escola ou brincar na rua? Que não podem beijar e abraçar os seus avós.

            Lembro de uma situação em que uma ex-aluna adolescente me encontrou na rua e no impulso correu e me abraçou. Ela estava sem máscara e a despeito de todas as medidas de proteção correspondi ao seu abraço. Não podia frustrar sua alegria e entusiasmo, principalmente pela gratidão que ela apresentou nesse encontro. Então pensei: “existe um vírus maior que o coronavírus: é o preconceito. Ela não está leprosa. É um ser humano e Jesus tocou em leprosos. A despeito da pandemia não posso tratá-la com indiferença, principalmente por conhecer sua história social”. Outras situações ocorreram e em todas correspondi ao afeto recebido. Depois, ouvi relato de casos de pessoas que foram vítimas de preconceito porque tiveram COVID.

            Contudo, são percebíveis a tristeza e a frustração das crianças porque as escolas estão fechadas. Alguns alunos me perguntaram: “Tio, quando voltam às aulas? ” Apesar de reproduzirem a informação recebidas por pais e a mídia, nunca vivenciaram um momento como esse. Agora todas as emoções estão colocadas à prova e não tem os pais para protege-los como outrora reclamavam da professora e da escola. É algo que está além da força da indignação dos genitores.

            Inda mais, é percebível no olhar a frustração dos professores quando comparecem à escola e sentem nostalgia, um vazio no peito pelo silêncio do prédio outrora cheio de vida pelo barulho, correria e agitação das crianças. Aquela escola cheia de vida, agora é um prédio frio, depositário de documentos, móveis e de expediente burocrático. A pandemia matou a essência da escola que é a comunhão entre estudantes, pais, professores, etc.

2. ASPECTOS SOCIAIS E ECONÔMICOS

            O isolamento social foi uma medida factível para combater o avanço da pandemia e levou os governos a fechar prédios públicos, incluindo as escolas. Então, surgiu a modalidade de trabalho home office ou teletrabalho para que os serviços públicos não fossem totalmente paralisados.

A pandemia trouxe a interrupção abrupta do processo ensino-aprendizagem na escola. Muitos alunos estão em processo de alfabetização e sequer dominam a leitura e escrita. Eles dependem da supervisão direta de um adulto tanto para a motivação como para facilitar a assimilação dos conteúdos. Como esperar que um estudante aprenda a ler sozinho ou que um pai consiga alfabetizar uma criança? É possível, mas não é usual aprender sem a presença de um profissional da educação.

            Consequentemente, os professores tiveram que se adequar ao mundo digital e tecnológico para participar de reuniões online e de lives. As mídias sociais como WhatsApp, Facebook e Youtube se tornaram mais usuais. Contudo, nem todos os profissionais são tão funcionais no mundo digital. A frieza da conversação online substituiu aquelas reuniões repletas de calor humano. Agora, até a orientação e o planejamento didático passam a ser por meio de mídias digitais.

            A pretensão de envolver os alunos nesse universo digital não atingiu as expectativas. As desigualdades sociais entre os estudantes foram apresentadas como o argumento mais pertinente para o insucesso das interfaces entre os discentes e docentes. Aliás, a escola cumpre um papel social muito importante, sendo referência para uma comunidade.

O primeiro aspecto da desigualdade é a vulnerabilidade social de muitas famílias que dependem da escola na alimentação de seus filhos, mais do que a educação em si. Também, muitos pais trabalhadores dependem da escola para cuidar de seus filhos, mesmo que seja em um turno. Portanto, não tem a educação como prioridade e, consequentemente, as crianças não são incentivadas a dar o devido valor ao estudo. Então, distante da mentoria dos mestres e sem o apoio da família, esses estudantes ficarão fadados ao fracasso escolar.

Decorrente desse aspecto, temos a exclusão digital, principalmente nas classes populares situadas nas periferias das grandes cidades. Por isso, as opções de orientação aos estudantes por aula online ou material pela internet não estão acessíveis, embora o celular seja o equipamento usual por adultos, crianças e até moradores de rua. Contudo, a internet não é um recurso universal.

Também, até as escolas não dispõem de recursos suficientes para o contato com as famílias das crianças, tal como telefone celular institucional. Um mesmo celular institucional é utilizado por vários professores e é insuficiente para atender a demanda de contato com as famílias. Logo, a orientação por mídia social é breve, precária e insuficiente. Às vezes, produz mais dúvidas do que certezas.

As atividades pedagógicas não presenciais – APNPs foram apresentadas como estratégia atenuante para a aprendizagem perdida nesse mar de incertezas. Mas cadê o professor? Como avaliar o esforço e o desamino por não dominar as proficiências das questões apresentadas? Claro, as APNPs nivelaram os estudantes ao mesmo patamar meritocrático. Ficaram entregues a sorte de sua aspiração acadêmica, mesmo diante da estrutura prometida que ficou comprometida ao longo do percurso acadêmico.

Por outro lado, professores ficaram receosos até mesmo com a simples manipulação de papéis, mesmo cercando-se de cuidados. Além disso, sucumbiram à angústia quanto ao retorno das aulas sem a devida garantia de segurança sanitária. Um dos fatos que corrobora para esse sofrimento é o bombardeio de notícias na mídia e fake news. Sim, algumas discussões em rede social acusam os professores de leniência ideológica e desinteresse, ignorando suas reais motivações.  Por outro lado, há pais que consideram imprudente enviar seus filhos para escola sem as devidas garantias.

Li vários artigos e algumas lives sobre o tema “A educação na pandemia”. Algumas palestras com argumentos bem repetitivos e repletos de frases genéricas como: “Precisamos nos adequar ao novo normal”. Sim, e daí?

De todas as palestras, quero destacar a exposição do cientista político Daniel Tojeira Cara, na Assembleia Municipal de Educação da Serra – AMED, realizada no 30/09/2020. Em sua palestra disse que a pandemia causou impactos irreversíveis na área da educação, impactando sua qualidade do ensino, estrutura e financiamento. Isto porque a pandemia não representou o incremento de recursos na educação, pois o foco agora dos governos é o investimento na saúde e nos atenuantes da crise econômica.

Concordo com o Daniel Cara, quando ele diz, que a pandemia do coronavírus inevitavelmente compromete ainda mais a qualidade da educação, pois o investimento público vem caindo ao longo dos anos, impactando na formação docente, na estrutura e outros insumos básicos. O investimento é fundamental, pois a educação é cara e o investimento em pessoas demanda tempo e recursos ao longo dos anos. Isto, porque o ser humano não é forjado como ferramenta de fábrica, mas em sua personalidade que é desenvolvida por meio da instrução e das interações sociais durante seu ciclo de vida.

CONCLUSÃO

Tenho opinião é de que o ano de 2020 trouxe resultado inócuo para a aprendizagem das crianças. Tal opinião é corroborada ao saber que alguns pais contrataram aulas particulares para seus filhos. Mas quem não pode, como fica?

Diante da persistência da enfermidade com a 2ª onda, urge necessidade de buscar alternativas para o próximo ano letivo, pois a praga ainda não cessou. Há expectativa de vacina, mas sua aplicação depende da conclusão da fase de testes, como aprovação pela Anvisa e Ministério da Saúde. Então, é precipitado, falar em vacinação em massa, sem existência regular de uma vacina.

A realidade desenhada para educação que todos seriam vacinados antes do início do ano letivo seguinte não se concretizará, porque a aprovação de uma vacina é processo complexo e demorado. Logo, persiste a recomendação da higienização e dos cuidados sanitários, pois estamos rodeados de uma circunstância inevitável e imprevisível que é a pandemia do novo coronavírus. Contudo, ainda há uma esperança para essa geração se incumbirmos da responsabilidade de superar o problema com disciplina e fé.

REFERÊNCIAS

BOTTON, Alain de. As consolações da Filosofia. São Paulo: Saraiva, 2012.

CARA, Daniel Tojeira. Palestra proferida no dia 31/09/2020. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=5AtJ7wrzAy0

CURY. Augusto. O Semeador de Ideias: que atitudes tomaria se o mundo desabasse sobre você? São Paulo: Editora Academia de Inteligência, 2010.

PONDÉ, Luiz Felipe. Entrevista na TV Brasil no dia 31/05/2020. Disponível em https://tvbrasil.ebc.com.br/impressoes/2020/05/epidemia-e-uma-doenca-social-diz-o-filosofo-luiz-felipe-ponde acesso em 18/11/2020.

SERRA, Secretaria Municipal de. Documento de Orientações às Escolas Municipais de Ensino Fundamental para fins de Teletrabalho, 2020.

________ Portaria nº 008/2020. Autoriza a realização e distribuição (impressas ou online) de atividades pedagógicas não presenciais – APNP nas unidades de ensino por meio do regime de teletrabalho e dá outras providências em razão da epidemia de doença infecciosa viral e respiratória – COVID 19 (novo coronavírus).