quarta-feira, 19 de julho de 2023

A GERAÇÃO DE TAGARELAS

 

Professor Gelcimar da Silva Pereira Nunes

 INTRODUÇÃO

            Há tempos, estou envolvido em nuvens de pensamentos que me levam a refletir sobre o bombardeio de palavras, apreendidas pelos ouvidos, que se perdem ao ar como bolinhas de sabão. São tantas palavras ditas nesta babel social. Parece que as pessoas falam a esmo como se estivessem esvaziando o acúmulo de informações recebidas pelo cérebro. Parece terapêutico, extravasam e falam sem parar uma as outras. Quando parece que estão terminando... estão começando outro assunto. Trata-se da inquietude do falatório de uma história sem fim, de um enredo raso, repleto de futilidade e espetacularização da vida alheia.

            Na busca da lucidez, enveredo no silêncio das palavras, no refúgio da paz de espírito, tendo como instrumento a meditação e a reflexão solitária. Nesse momento, percebo que todos nós estamos sendo contaminados pela ansiedade e animosidade. Parece que as pessoas estão desesperadamente buscando um sentido para a vida nesse mundo, marcado pela velocidade e pela tecnologia. Desligar da pressão das demandas diárias e da tecnologia se apresenta como uma missão impossível, mas necessária para desfrutar da essência da nossa natureza humana, mesmo que seja por alguns momentos. Como disse Charles Chaplin: “Não sois máquina! Homens é que sois!”

A FABRICA DE CULTURA INÚTIL

Vivemos na época da mundialização da cultura e da globalização. Isso é corroborado pela multiplicação da ciência e do avanço da tecnologia. Com a presença da televisão e internet, a comunicação adquiriu uma dinâmica acelerada, marcada por imagens e sons nunca vistos. Entretanto, há de se considerar que toda gama de informações atende a uma visão de mundo, de homem e de sociedade que se pretende formar. Logo, deve-se pensar que não se trata de uma diversão ingênua, pura, isenta de valores. Alguns produtos e atrações são laboratórios de verificação da tolerância social a determinados comportamentos considerados reprováveis. Essas pautas são propostas por intelectuais e grupos ideológicos como forma de firmar bandeira perante a sociedade. Por isto, a imprensa vende entretenimento, cultura e informação. Isto, não significa jornalismo independente, neutro de ideologias ou concepções políticas. Então, é necessário verificar várias fontes e diferentes versões para analisar, criticar e fazer julgamento de valor. Mas quem tem tempo para isso?

Os meios de comunicação e outras mídias investem no apelo popularesco, que satisfazem a essa acomodação intelectual. Como resultado temos o empobrecimento da linguagem oral e escrita como padrão de comunicação nas redes sociais. Os emojis, abreviações e frases desconexas com erros gritantes de ortografia revelam o baixíssimo nível cultural dos adolescentes, jovens e até mesmo adultos. As frivolidades e a especulação da vida alheia tomam espaço nos debates das rodinhas e redes sociais. Não se discutem ideias ou fatos. O interesse pelo fuxico, o voyeur e o culto as celebridades nas redes sociais, influencia comportamentos das pessoas e o conteúdo das notícias nos jornalismos online.  Neste espetáculo dantesco se perde a noção do público e do privado, do real e da fantasia. O que importa é que as pessoas acreditam, comentam e ingressam como seguidores em rede social. O que as (sub) celebridades apresentam a serem consumidos são conteúdos que exploram a sensualidade, comentários rasos de relevância insipida, discussões por futilidades e o obscuro detalhe de suas intimidades e com outros ditos famosos. Atualmente, essas personalidades celebram a ode ao amor livre de quaisquer amarras morais, em que a experiência é mais importante do que qualquer relacionamento afetivo. Aliás, o conceito de amor e relacionamento é ressignificado para atender aos preceitos do hedonismo: o prazer a qualquer custo e sem amarras morais.

O baixíssimo nível cultural se reflete nos programas de televisão, nos filmes, nas notícias e na música. Parece um enredo de emburrecimento coletivo produzido para uma plateia domesticada e que há tempos se privou da reflexão e do julgamento moral. Aliás, o relativismo em voga na sociedade criou a máxima de que “cada cabeça é uma sentença”. Perdeu-se a concepção de ética, de estética e conhecimento. Isto porque a ética e a estética estão relacionadas ao exercício da disciplina, de regras e da relevância do próximo. Não existe disciplina sem ensino; não há ensino sem conhecimento. Sem a herança cultural historicamente construída não há conhecimento. A disciplina nos protege dos vícios e regula as relações saudáveis com o próximo. Portanto, a ignorância e a falta de educação resultam da indisciplina ou quebra de regras.

O conceito de qualidade se nivela para baixo quando é abolido o conceito absoluto de certo e errado, bom e ruim. Hoje, qualquer porcaria é considerada uma obra de arte. Atualmente, a preferência por determinado tipo de música revela o baixo nível cultural da população. Também, demonstra porque parcela da população não gosta de ler e engrossa um exército de tagarelas. São repetidores de informações daquilo que veem e ouvem, como forma de ocupar o tempo da ociosidade do seu estilo de vida medíocre.

O problema da ociosidade tende a ser resolvido pelo vício tecnológico. Há pessoas que não conseguem se desligar do celular e da internet em nenhum momento. Hoje, já se fala da monofobia: o vício no celular. Os principais sintomas da abstinência do celular são: angustia, vazio existencial, desespero, estresse, irritabilidade, náuseas, taquicardia, sudorese, tensão muscular, pânico, dentre outras manifestações.

No relacionamento virtual com as redes sociais, a amizade é traduzida pelo número de seguidores. O diálogo pelo confronto direto das opiniões similares ou divergentes, que gera o aprendizado pela troca de ideias e experiências, é trocado pela cultura do exibicionismo gratuito. Essa forma de expor a privacidade a desconhecidos como satisfação pessoal, ignora até mesmo os riscos como a própria segurança.

A FALTA DE DISCERNIMENTO CULTURAL

Um dos exemplos mais gritantes da falta de discernimento cultural é a música preferida pelos jovens e parte dos adultos. É a música com ritmo frenético e alucinante, desprovido de poesia, sem conceitos melódicos e harmônicos. É uma peça feita principalmente para dançar, calcada nos refrãos que são repetidos exaustivamente como um chiclete grudento na mente, inclusive daqueles que involuntariamente ouvem. O lixo cultural tem letras cruas, apelativas ao hedonismo como: sexo, baladas e até mesmo drogas. Algumas músicas são proibidonas devido ao conteúdo explicito de suas letras. E essa informação seduz os incautos adolescentes e jovens na iniciação lasciva ao culto da liberdade sexual.

As músicas seculares mais executadas na mídia são uma exaltação ao vício como forma de alienação e fuga da realidade com todas as contradições e conflitos. O tema balada e pegação são recorrentes no processo de alienação social. Por isto, a música popular e de boa qualidade é sufocada por atrações popularescas, desprovidas de pudor e bom senso. Há música que irresponsavelmente cita o consumo de álcool à psicodélicos ou ansiolíticos como coisa corriqueira, normal. Deve-se considerar que um dos desafios das políticas públicas é lidar com o crescimento da população de rua, marcado principalmente por usuários de drogas lícitas e ilícitas. Contudo, o processo de inicialização nos vícios é contínuo nos festins licenciosos. Os vícios variam do abuso de comidas e bebidas a dependências comportamentais como jogos, internet, sexo, compras, etc. Tudo reflexo da busca desenfreada pelo prazer e fuga dos problemas imediatos.

Deve-se considerar que a música não é apenas distração. É ensino doutrinador de um “modus vivendi” de um grupo social, abalizado por intelectuais e influenciadores. Também é um produto a ser consumido por uma massa acéfala, desprovida de julgamento moral. O ambiente de licenciosidade apregoado nas letras, não é refletido quanto as suas consequências no mundo real. Claro, é mais fácil controlar pessoas por meio dos vícios. As pessoas viciadas são impulsivas, hiperativas, vorazes, imediatistas, não desenvolvem limites e autocontrole, não contêm seus desejos nem adiam o prazer. Elas constituem um mercado consumidor ascendente e alimentam um sistema corrupto e inapto para atender as demandas sociais. Logo, um sistema político opressor e corrupto se apropria da ignorância da população e de seus vícios para manter a massa sobre controle e se perpetuar no poder. Claro, a sobriedade gera autonomia e permite a reflexão, a crítica e a ponderação. Doutro modo, nenhum político deseja se desfazer do seu “curral eleitoral” que tem sob sua tutela.

O fastio do bombardeio diário de informações, de entretenimento e a busca desesperada pelo prazer é o dano colateral do antropocentrismo cultuado na sociedade. As palavras mais usuais na mídia são: direitos humanos, tolerância, amor, respeito, etc. Tudo repetido exaustivamente como uma pauta, uma narrativa dentro de uma política de correção de comportamentos considerados inadequados pelos mentores da informação. Inclusive, com know haw dos influenciadores digitais, surge a cartilha da linguagem politicamente correta: palavras que se deve falar e evitar, sob a ótica do patrulhamento ideológico e a política de cancelamento. Porém, o excesso de informação e doutrinação ideológica não está produzindo a equidade social. Está atiçando a confusão, o conflito pois tenta unificar o padrão ético e estético da sociedade. Não resolve o problema do individualismo. Como consequência temos o aumento da intolerância, do egoísmo e da fragilidade emocional. Está gerando receptores passivos de cultura inútil, de material vil e de deleites ilusórios. Por isto, o excesso de informação, sem o devido discernimento, não está produzindo pessoas inteligentes.

Convém citar um estudo do neurocientista francês Michel Desmurget, replicado pelo site www.bbc.com/portuguese/geral-5473651 em 30 de outubro de 2020, o qual revela que, pela 1ª vez, os filhos tem o QI inferior à dos seus pais. Esse estudo revela com “dados concretos e de forma conclusiva, como os dispositivos digitais estão afetando seriamente – e para o mal - o desenvolvimento neural de crianças e jovens”. Isso demonstra que a geração digital é menos inteligente que as anteriores. Por quê? Porque está perdendo a capacidade de pensar, de parar e solucionar problemas simples para procurar soluções prontas que não requerem esforço mental. Portanto, é a explicação mais plausível porque as crianças não gostam de ler e escrever. Não conseguem entender uma sentença ou localizar as informações básicas de um texto. Nem conseguem desenvolver uma ideia na forma de texto. Pior, acostumaram-se com naturalidade a essa situação, sem ambição para aprender. Sempre haverá alguém para sustentar a “lei da acomodação e do mínimo esforço” no sistema educacional. Para os estudantes, ler causa a incômoda dor de cabeça e ouvir uma preleção causa o desconforto orgânico que afeta o sistema excretor e os estudantes costumam pedir para ir ao banheiro no momento da explicação do conteúdo.

CONCLUSÃO

Vivemos os tempos trabalhosos em que a fragilidade mental do indivíduo se revela pelo culto ao ego, sob o pretexto do amor e da tolerância. Aliás, o amor parece ser o passaporte para alguém viver sua vida isenta de mores, e não aceitar o conselho ou a repreensão ao seu estilo de vida destrutivo. No amor sem disciplina prevalece o individualismo e o egocentrismo. É um engodo pensar que, por causa do amor, deve-se aceitar tudo.  

A religião dos tempos modernos é o amor erotizado, sem amarras morais e em que prevalecem as vontades pessoais. Isto já ensinado na infância quando as crianças são tratadas como reizinhos em formação, tendo os pais como súditos para satisfazerem suas vontades. São seres superprotegidos pelos pais em uma redonda de amor acovardado, que proíbe seus filhos de experimentar o confronto, a indiferença, a decepção e outras formas de frustrações, tão presentes no mundo real.

REFERÊNCIAS:

Vou citar algumas fontes de consultas a quem interessar:

BOTTON, Alain de. Desejo de Status. Tradução de Ryta Vinagre. São Paulo: L&PM Editores,2013.

CAMPOS, Helder Carlos de. O Pluralismo do Pós-Modernismo. Fides Reformata, 1997.

CHALITA, Gabriel. Educação: A solução está no afeto. Rio de Janeiro: Editora da Gente, 2001.

PONDÉ, Luiz. Geração Mimimi. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=Q8mvcEAYCHo

TADEU, Regis. Péssimo ensino gera músicas ruins. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=fQJfxZRiVRM


quinta-feira, 30 de junho de 2022

A DESUMANIZAÇÃO DA CULPA

 Professor Gelcimar da Silva Pereira Nunes
Fonte: google.com.br/imagens acesso em 30/06/2022.

Introdução

            Trabalhar em um ambiente escolar, traz um experimento muito interessante sobre as relações humanas e como elas acontecem no cotidiano. É na escola que temos a real percepção das virtudes e dos vícios presentes na sociedade, inclusive, na alma mais pura que é da criança.

Na escola, todos os estudantes apresentam a sua oferta diária perante o altar do conhecimento. Os professores recebem essa oferta e dizem: “É essa a educação que você traz de casa?” Claro, na escola se materializa todas as virtudes e vícios da sociedade, trazidos por meio dos comportamentos das crianças. Tal natureza se manifesta de forma automática e espontânea, isenta de culpa e reprimenda. Quando confrontadas, dizem: “Mas eu não fiz nada!” Ou seja, na consciência infantil aquilo que julgamos ser moralmente mau é normal em sua vivência diária. Daí, surge o choque cultural e conflito moral no ambiente escolar.

A VIRTUDE E A TRADIÇÃO

As crianças retratam sua cultura familiar, suas convicções religiosas, seu código moral, seus traumas e, até mesmo, seus preconceitos. Tudo isso, revela o aprendizado no lar e no meio em que vive. A escola reúne essa diversidade de culturas, de aprendizados e de conflitos.

Os conflitos familiares resvalam na escola por meio de comportamentos inapropriados da criança. Por vezes, observa-se que as crianças reproduzem linguagens e comportamentos apreendidos do mundo dos adultos. Isto porque a ansiedade, o desequilíbrio emocional, a dificuldade em lidar com conflitos, latente no seio familiar, são reproduzidos pela criança no ambiente educacional. O interessante é que alguns genitores vivem no seu nicho familiar um ambiente de intrigas e pelejas. Depois, trazem seus filhos para a escola com todas as suas expectativas e frustrações, delegando a instituição pública a tarefa lidar com eficiência com essas contradições e conflitos.

Em meio a conflitos diversos, parece que a escola tem estado entre várias decisões opostas, com a perspectiva de ser vítima de cada uma delas. A escola enfrenta o dilema moral de ser uma agência ética e responsável por quem está sob seus cuidados. Por outro lado, enfrenta a questão legal e confronta com diferentes situações em que a força da lei não lhe é favorável devido ao excessivo expediente burocrático. A lei impõe obrigações à escola e aos educadores, mas não protege o agente público no exercício de suas funções. Isto vitimiza o professor que passa a enxergar o problema do conhecimento como um dilema moral entre cumprir suas obrigações ou pôr em risco sua integridade.

Hoje, os educadores percebem que não basta ensinar apenas os conteúdos das disciplinas, é preciso instruir os alunos quanto aos valores, a cultura do respeito e da paz. O que se observa é um grande número de crianças com dificuldade de entender e obedecer regras. Os conflitos na escola surgem pelo descumprimento das regras instituídas e pela falta de reverência a pessoa que detém a autoridade de comando imediato, no caso, o professor.

            Há de se considerar que a virtude é uma qualidade moral a ser aprendida. Segundo o filósofo estoico Lucius Anaeus Sêneca (4 a.C. – 65 d.C.) “A virtude é difícil de se manifestar, precisa de alguém para orientá-la e dirigi-la. Mas os vícios são aprendidos sem mestre.” Segundo definição do dicionário Priberan (https://dicionario.priberam.org/virtude), “a virtude é a disposição do indivíduo a praticar o bem e evitar o mal; não é apenas uma característica, trata-se de uma verdadeira inclinação. Virtudes são todos os hábitos constantes que levam o homem para o caminho do bem. Se a virtude é uma disposição aprendida, logo o mal é uma inclinação natural do indivíduo, despido de qualquer orientação ou regra.

          É interessante a abordagem do professor Howard Hendrick de que o ensino deve ter por finalidade “transformar vidas”. Por sua vez, Mahatma Gandhi declarou:

“O que destrói a humanidade?

Política sem princípios;

Prazer sem compromisso;

Riqueza sem trabalho;

Sabedoria sem caráter;

Negócios sem moral;

Ciência sem humanidade;

Oração sem caridade.”

Reportando a cultura judaico-cristã, observamos que a Lei do Amor, citada por Howard Hendrick, deve permear toda aprendizagem, ensinando para gerar atração, motivação comunicação e colher um investimento de vida transformada. O diálogo incessante, cognoscente é uma ferramenta poderosa para incutir comportamentos que traduzem as virtudes da bondade, da empatia, do respeito, da tolerância, da solidariedade, etc.

Por isto, o ensino deve ter por objetivo o desenvolvimento da virtude na pessoa. Qualquer escolarização por mais qualificada que possa aparentar é incapaz por si só de tornar uma pessoa ética. O conhecimento pelo conhecimento jamais tornará alguém moralmente bom. Por vezes, o conhecimento cria uma ilusão de poder. Aliás, uma das mercadorias mais valiosas é a informação e o conhecimento, pois permite controle situações e pessoas. Dessa forma, o conhecimento corrompe muitas pessoas que ficam engabeladas pela ideia de supremacia trazidas pela lógica, pela racionalidade e cria separação entre os esclarecidos e os ignorantes.

           A qualidade da formação acadêmica de um ser humano não garante uma boa educação a alguém. Ademais, existe uma diferença entre conhecimento e educação. Conhecimento não é sinônimo de caráter. O universo nos ilustra de pessoas bonitas, ricas, famosas e desprovidas de qualquer pudor. Pior. Há muita gente que admira e se inspira em celebridades pavorosas. Há brilhantes personalidades com total desprezo pelos semelhantes.

         Cultuar a virtude nasce de uma crença oriunda no seio familiar, embarcada nas tradições do respeito e da disciplina. É no lar que recebemos a bênção da posteridade, pela maturidade dos idosos, aprendemos a crer no poder da oração e praticar a fé em Deus em memória do exemplo dos pais.  A crença está enraizada no seio familiar em que a hierarquia das relações de poder é respeitada por amor, temor e zelo. Alguns confundem temor como medo. Temor aqui tem o significado de reverência, cultuar o respeito a quem tem autoridade moral e espiritual, por mais fragilizado que esteja o seu corpo. Por isto, as crianças devem respeitar os maus velhos. Diante da maturidade do ancião, cala-se todas as vozes infantis e adultas para que seja revelada a sabedoria. Esse preceito recebido por tradição dos antepassados, vem sendo negligenciado por esta geração. Lamentavelmente hoje, as vozes dos adultos e idosos estão sendo abafadas pelo falatório fútil das crianças e adolescentes, silenciando a manifestação da sabedoria.

ESSA GERAÇÃO É MARCADA PELOS VÍCIOS

Por outro lado, quando a virtude se ausenta surge em seu lugar os vícios que se, não forem controlados, levam qualquer pessoa ao mais baixo nível de degradação moral. No original, a palavra vício, originada do latim “vitium”, significa falha, defeito. É um hábito repetitivo que degenera ou causa algum prejuízo ao viciado e aos que com ele convivem. Geralmente, no imaginário popular, ao falar de vício, lembra-se de álcool, do cigarro, das drogas, da pornografia, etc. Porém, há vícios aceitáveis socialmente como a linguagem inadequada, a indecência, a grosseria, a desídia, a irresponsabilidade, a fofoca, a mentira, etc.

Os vícios surgem pela ausência do ensino adequado da virtude. Ou seja, a bondade é uma virtude a ser ensinada desde a infância por meio de um diálogo constante: acordando, assentando, caminhando e ao deitar; pelo exemplo dos mais velhos e pela vivência diária. Sem a educação adequada persistente que começa no chão de cada lar, gerações inteiras tem se corrompido.

           Contudo, urge vozes que se levantam contra a tradição dos costumes antigos para denunciar os abusos e a violência na inculcação de valores. Criticam algumas situações de brutalidade da punição aos transgressores, para manutenção do status quo familiar. Argumentam que as nódoas da educação tradicional trouxeram consequências traumáticas severas, reproduzindo o machismo, a homofobia, a misoginia, dentre outros preconceitos. Assim, tentam transformar a virtude em dissolução para instruir uma nova ordem social.

            A inversão de valores presente na sociedade foi chancelada pelo advento do pluralismo e do modernismo que trouxeram questionamentos do berço moral dos nossos antepassados. Então, os intelectuais trazem uma nova agenda que inaugura uma era de direitos para todos. Propõe uma nova sociedade em que a inclusão flexibiliza todo entendimento e relativa toda forma de crença. Ou seja, cada um na sua cabana com o seu jeito de ser e de pensar, mesmo que isto signifique romper valores familiares e sociais. Então, se cada um tem a sua verdade, não existe certo ou errado. Depende do ponto de vista de cada um, desde que não seja ilegal...

            A divinização do homem consiste em torna-lo a medida de todas as coisas. É o marco do direito para definir o que é certo ou errado, apesar das vozes discordantes. É a anulação do transcendente, espiritual para inaugurar a era da matéria. Se o homem é o centro de todas as coisas, tudo é permitido. O certo ou errado é questão de opinião.

            Pior. Vivemos o momento de anestesiamento de consciências. É de se lamentar a perda da comoção pelo erro cometido. Observamos que a primeira providência tem sido justificar o erro como um direito pessoal. Então, surge o argumento do revide para justificar a agressão, a emulação para justificar o furto (“todo mundo está fazendo”) e a tese da vitimização. Às vezes, tentam atenuar o erro, reduzindo o indivíduo a circunstância de causa e efeito. Então, usam o ambiente de risco social para justificar a escolha de alguém pelo desinteresse pelos estudos e a preferência pelo crime.

         Estamos na época da multiplicidade dos transtornos mentais, produtos da insegurança e do esgotamento moral. A ética está sendo sufocada por reclamações e reivindicações obtusas por meio de um individualismo míope de direitos e cego de responsabilidades. Isto gera expectativas não atendidas que produzem frustrações e mais transtornos. Por sua vez, os transtornos tem sido utilizados como justificativa para atenuar diversos erros e infrações.

            Com isto, assistimos passivamente o desaparecimento da culpa. As pessoas não sentem mais tristeza pelo erro cometido. Aliás, temem as consequências. Isto porque perderam a capacidade de refletir sobre aquilo que é mal e perderam a disposição para o arrependimento. Quando há pedido de desculpas é porque a pessoa teme o prejuízo, não porque se arrependeu. Isto está muito em voga no mundo das celebridades por causa da indústria do cancelamento.

            Também, na escola, as crianças estão perdendo a disposição para o arrependimento. Não sentem a tristeza da culpa. Temem apenas a aplicação da disciplina escolar. O pedido espontâneo de desculpas está desaparecendo do ambiente escolar.

            Na música “Há tempos”, o músico Renato Russo diz que “Herdeiros são agora da virtude que perdemos”. Apesar do turbilhão emocional que músico passava por ocasião da composição, inclusive tentando o suicídio, ele via a sociedade em estado de degeneração das virtudes. Segundo a música, essa perda gera tristeza, cansaço e solidão, apesar de toda euforia pelo prazer que alguém ousa buscar. Lamentavelmente, nossa geração está sendo celebrada em função dos vícios que cultuam do que pelas virtudes que deveriam abarcar.

           Com a perda dos valores éticos e morais temos mais intolerância, agressividade, impaciência e outras mazelas, fruto do individualismo, materialismo e egocentrismo existente na sociedade. O materialismo desumaniza o indivíduo para valorizar aquilo que é matéria, temporário e efêmero, como: bens, fama, posição. Com isso, o ser humano passa a se considerar a medida de todas as coisas. O que ele pensa, o que julga certo passa a ser a medida de todas as coisas. É um perigo que estamos nos encaminhando se não houver um freio moral para essa ideologia subliminar.

            Inclusive o materialismo e o individualismo têm interferência na liberdade das pessoas. As pessoas se tornaram reféns de suas próprias ambições e caprichos pessoais. Isso revela uma contradição: se o homem não é eterno, sua vida é transitória e toda acumulação é fútil e ilusória. Também, toda glória e satisfação que a fortuna proporciona é vaidade. Dessa forma, a alegria momentânea e o prazer eufórico trazem a sensação de felicidade, no seu sentido incompleto, transitório e vazio. Toda a euforia é uma forma de remediar a tristeza, o cansaço e a solidão. A felicidade se apresenta como um estágio distante, inalcançável e até mesmo impossível, e muitos procuram a satisfação carnal, para experimentar por um pouco de tempo, a paz, a alegria e autoafirmação do seu próprio ego.

            Vivemos numa civilização enferma de amor, carente de misericórdia e indiferente as suas próprias mazelas. A objetificação do ser humano não se restringe ao apelo sensual-erótico da mulher como fetiche de uma mercadoria da prateleira da mídia. Essa objetificação surge da natureza das pessoas arrogantes que tratam os demais como de “alma inferior”, domesticados, ignorantes e, portanto, descartáveis.

Toda a má-educação tão evidente na sociedade tem a eficácia da trilha sonora, das cores das imagens, do toque imediato e, sobretudo, a vívida interação sem censura. A apreensão das informações acontece sem filtros e possível reflexão. O cérebro torna-se involuntariamente um depositário de informações e instruções. Então, a má-educação percebida em infantes que frequentam as escolas surge do consumo de cultura inútil que está disponível nos meios de comunicação e nas redes sociais.

CONCLUSÃO

A escola mantém a tradição e não quer remover os marcos antigos. Tomara. A tradição reafirma a permanência da identidade da cultura de uma civilização. Com a perda da tradição, a identidade de muitas tribos indígenas e quilombolas desapareceu. A escola tem por marco antigo a instrução por meio da oralidade, da leitura e da escrita. O problema é que ninguém tem paciência para ouvir, para ler e para escrever. Hoje é comum falar para uma plateia alheia, desinteressada, com pessoas de costas, conversando... Isso se observa na escola, em diversos eventos. Ouvir por educação é um clamor com perspectivas temporárias, pois pedir silêncio é lutar contra a cultura do desrespeito enraizado nas entranhas dos indivíduos.

Estamos imersos numa geração de tagarelas, que gargalham por piadas débeis, importam-se mais com a vida dos outros do que com si mesmos. É uma geração que fala muito, sem parar, mas não sabe dialogar. Por isto, armam-se com estereótipos, preconceitos e visões de mundo equivocadas. Por consequência, vivem na ilusão do seu próprio ego.

O vicio audiovisual prioriza o entretenimento e o prazer em detrimento do conhecimento. Qualquer esforço mental é um fardo para a criança que se acostumou a receber informações prontas diretamente do aparelho celular. As crianças e os jovens consideram a leitura uma atividade exaustiva, improdutiva e desnecessária. Isto porque assistir vídeos e jogar online exige um esforço mental mínimo. Desconhecem eles que a leitura silenciosa e solitária tem conexões com o mundo espiritual. Produz reflexões, desenvolve a imaginação, ativa o aprendizado e a memória.

REFERÊNCIAS:

BOTTON, Alain de. As consolações da Filosofia. São Paulo: Saraiva, 2012.

CAMPOS, Helder Carlos de. O Pluralismo do Pós-Modernismo. Fides Reformata, 1997.

CURY. Augusto. O Semeador de Ideias: que atitudes tomaria se o mundo desabasse sobre você? São Paulo: Editora Academia de Inteligência, 2010.

HENDRICKS, Howard. Ensinando para Transformar Vidas. Campinas (SP): Betânia, 1987.

terça-feira, 7 de setembro de 2021

NOSSA VIDA

 

Professor Gelcimar da Silva Pereira Nunes




 

Imagem: greenne.com.br acesso em 07/09/2021

INTRODUÇÃO

            A caminhada pode ser um bom momento para a meditação e a oração. É um momento em que você pode dialogar com Deus, consigo e fluir ideias em brasa. Então, o mover dos pensamentos atinge os estágios mais remotos da história para expô-los de forma didática. Nisto, consiste a reflexão sobre a vida e todas as suas nuances.

            Sempre cito a frase do escritor Igor Oliveira Ferreira: Para a criança a vida é uma descoberta; para o jovem, uma aventura. Para o adulto a vida é uma missão, e para o idoso, uma dádiva”.

            Apesar dessa sábia reflexão, a vida se apresenta de forma cíclica com raras variações. Às vezes, pesam os sacrifícios e as responsabilidades e surge a percepção de um fardo a carregar diariamente. Para alguns a vida é “matar um leão todos os dias”. Isto porque a realidade apresenta a dificuldade e a injustiça como sua face mais ardil para aqueles que perseguem os seus objetivos.

Por outro lado, não há como ficar indiferente a todas intempéries, anestesiar a consciência e ignorar a dor. Somos todos parte de um ecossistema e nossa individualidade não exclui a socialização. Somos seres sociais e nossa vida depende dessa convivência e, mesmo em momentos de conflito, podemos extrair um rico aprendizado.

I – A VIDA É UM BEM COMPARTILHADO

Há tempos acreditava que a vida era só minha e sobre ela teria total controle e responsabilidade. Mas, com o tempo, aprendi que, na maioria das vezes, “a minha vontade é a vontade dos outros”. Isto porque estamos sempre debaixo de autoridade: do patrão, das regras dos ambientes que frequentamos, etc. Há uma coerção social que delimita o alcance da liberdade e nos impõe responsabilidades. Então, a liberdade consiste em fazer tudo que é permitido, honrar a ética e os costumes. A escolha surge porque não estamos presos a um determinismo de fazer o que é moralmente bom e, por isto, muitos preferem o mal no afã da satisfação pessoal. A liberdade é uma questão ética e implica valores moralmente aceitáveis perante a sociedade ou um grupo social. Pensar a liberdade como um fator individual sem conexão com a vida social nos leva a transgressão, aos excessos, à libertinagem. Então, pensar a vida como bem exclusivo (“a vida é minha, faço o que quero”) nos conduz ao individualismo e a busca desenfreada da satisfação pessoal, baseada na razão.

Todos nós estamos entrelaçados pela história, pela política, pela cultura e pelas relações sociais. Pela história que nos concedeu a língua e a cultura e é o berço do conhecimento dos antepassados que nos é transmitido pela família, pela sociedade e pela instrução escolar. Também, não podemos negar que a nossa vida é atingida por decisões políticas que interferem em coisas tão simples como preços de alimentos. Portanto, como ser social, o homem é dependente de relacionamentos para sua sobrevivência como espécie.

Compreender a vida como um bem compartilhado é complicado. Ninguém aceita dividir sua vida com alguém que não seja de sua confiança. Seria aplicar-se em um investimento de risco de tê-la exposta por alguém moralmente suspeito. Aliás, queremos expor em varais as nossas virtudes e esconder nossos vícios em vasos. Isto justifica o amor aos elogios, a cortesia e aos afagos acima de qualquer crítica ou repreensão de um comportamento impróprio ou vícios. Quando me refiro a vícios, cito tudo que não é virtude, que nos prejudica ou aos outros, de alguma forma.

Em uma multidão, selecionamos um grupo de pessoas conhecidas. Dentre pessoas conhecidas, elegemos nossos amigos e dentre eles, adentramos poucos para o nosso círculo íntimo. Dentre várias definições de amizade, considero esta citação muito interessante: “a amizade é uma forma de expressarmos o amor, a lealdade e a confiança”. Observe, que a citação não focaliza a perfeição, a excelência das virtudes ou ausência de vícios, mas o altruísmo da lealdade e da confiança mesmo nos momentos mais difíceis. É isto que faz a diferença entre amigos e conhecidos. Às vezes, alguns conhecidos advogam o direito de declararem-se amigo de alguém para usufruto próprio ou retribuição. Isto é ilusão. Amizade implica na arte da convivência e do conhecimento recíproco e está acima dos próprios interesses.

A vida é uma via de mão dupla com o próximo. Na primeira via estão as nossas ações e na via oposta estão as consequências. Andar na via é honrar a ética e os bons costumes, por meio de boas escolhas com uma consciência livre e limpa. Tudo começa com a boa consciência, ilustrada pela correta orientação do caminho, do caminhar. Por conseguinte, outras pessoas são beneficiadas quando honramos a ética e os bons costumes e se deleitam com os seus resultados.

Isto implica em responsabilidade, pois nossas decisões podem impactar a vida de muitas pessoas com quem relacionamos e até desconhecidos. Então, principalmente nos momentos de ódio e dor, devemos vigiar as nossas palavras e atitudes, pois podem impactar negativamente a vida do próximo. Alguns arrependimentos são tardios e incapazes de reparar o mal provocado.

Logo, deve ser pensada as consequências antes de pensar: “a vida é minha e faço o que quero!” pois todas as ações geram consequências. Como exemplo: todos nós sofremos as decorrências das fatalidades da história: as guerras, a escravidão, a exclusão social, etc. O argumento do estudo da história se justifica pelas consequências dos fatos históricos e como impactaram a cultura, a política, a vida em sociedade... Enfim, a vida de todos os brasileiros.

II – A VIDA É BEM DADO AO MUNDO

Quando pensamos a vida como algo revestido de propósito, chegamos ao ponto crucial da existência. Certa vez, o conferencista Miles Munroe (1954 – 2014) disse que toda a humanidade e a ciência buscam respostas para as seguintes perguntas: “De onde vim?”; “O que posso fazer?”; “Por que existo?”; “Para onde vou?”

A primeira pergunta exige resposta sobre a origem; a segunda, sobre a capacidade; a terceira, sobre a finalidade e a quarta, sobre o destino de cada pessoa. Parece que os cientistas, contaminados pela concepção sensual empirista, não admitem respostas que não envolvam dados mensuráveis ou manipuláveis. Logo, para eles, os registros canônicos não podem ser fonte de pesquisa. Então, ficarão à mercê de hipóteses e teorias sobre o universo a partir das subjetividades de exíguos fósseis e fragmentos antigos.

Quanto a segunda e terceira pergunta, temos a seguinte resposta: “ninguém foi criado para ocupar inutilmente a Terra”. Nós temos habilidades porque a nossa vida é revestida de um propósito. Esse designo inclui habilidades e vai além dos interesses pessoais. Nada nos foi concedido para usufruto próprio ou para enobrecer o ego. Ou seja, nossas habilidades são dirigidas para comunicar a grandeza da solidariedade orgânica a pessoas conhecidas e desconhecidas. Por isto, o nosso propósito é praticar a virtude e servir ao próximo.

Nos evangelhos canônicos, Jesus disse aos discípulos: “vos nomeei, para que vades (ao mundo) e deis fruto, e o vosso fruto permaneça...” (João 15.16). Entendemos, nessa citação, que nossa vida é uma dádiva dada ao mundo para inspirar pessoas por meio da prática das virtudes mais excelentes do cristianismo. Isto implica na missão de ir ao mundo para apresentar a verdade como uma personalidade eficaz.

Quando se fala em verdade já se pensa em algo banalizado, subjetivo e de valor relativo. Hoje se fala em verdades, palpites e diferentes pontos de vista. Porém me recuso a patinar no terreno da subjetividade científica e da relatividade da razão humana. A subjetividade e a relatividade nos conduzem a insegurança, ao individualismo, corrompe a razão e leva a justificar vícios e absurdos. Eu acredito na objetividade da verdade como valor agregado a virtude, a tudo que é justo, amável, puro, e de boa fama. Logo, a verdade atende em essência a esse propósito. A verdade inspira, liberta e abre as janelas da alma e os ouvidos para ouvir a música de Deus.

Refletindo sobre os textos canônicos entendi porque o maligno pressupostamente utiliza a verdade, se apropria de textos sagrados e faz milagres. Ele utiliza a verdade como arma para constranger, ameaçar, expor, envergonhar e semear contendas. Prega para enganar e falsificar o propósito da verdade; e faz milagres para iludir as pessoas e mantê-las enganadas. Ou seja, a verdade sem ética se converte em dissolução e mentira.

Eu acredito na verdade que confronta, mas liberta, une e restaura laços. A verdade revestida de bondade e empatia pelas pessoas. A verdade que vai além das conveniências pessoais, como produto nas mãos de mercenários. A verdade é cara e precisa estar nua, porque as mentiras estão bem vestidas. Mesmo que a mentira prospere, mas ao final a verdade prevalecerá.

Logo, o propósito da criação é semear a verdade e a justiça de geração em geração. Temos consciência que o Eterno quem deu essa ética impressa na consciência humana para tribunal moral para antever as consequências de cada passo dado e levar-nos a tomar as melhores decisões. Se a nossa capacidade de julgar falha, temos a consciência alheia para nos orientar a melhor decisão. A consciência moral não cansa de julgar após o mal feito, porque nos quer levar a reflexão e reorientar nossas decisões. Contudo, no decorrer da história, o homem tem silenciado a voz da sua consciência moral para satisfação dos prazeres mais primitivos, mesmo que custe ferir o próximo.

Cada um de nós temos habilidades naturais que podem ser aprimoradas ao longo do tempo. Alguns se destacam pela liderança, outros pelo senso de organização, outros pela amplitude das ideias. Contudo, todas essas ferramentas ganham utilidade no serviço ao próximo. Por exemplo: que dá visibilidade a atividade do médico é o seu trabalho de curar pessoas, doutro modo um título acadêmico não tem relevância se o portador tiver o ofício.

III – A VIDA É COMO ÁRVORE PLANTADA

A árvore plantada às margens do rio é uma das ilustrações mais relevantes sobre a vida com propósito. A brevidade da vida é comparada à flor da erva que tem sua existência consumida em poucas horas. Nossa vida se consome ao longo do tempo, por isto deve ser administrada com cuidado. Doutro modo, teremos a desculpa de que tudo é vaidade e aflição de espírito.

Nós como árvore precisamos criar raízes, vínculos, maturidade. As raízes crescem com o tempo e resultado de um aprendizado contínuo. Criar raízes resultam em experiência de vida acumulada ao longo do tempo. A experiência nos leva a olhar para o retrovisor da história para celebrar as vitórias e lamentar os fracassos. A reflexão sobre o passado é a verificação do aprendizado de vida e nos induz a cautela, a ponderação e ao receio de cometer os mesmos erros. Com a experiência criamos um código de orientação para si e para os mais jovens. A diferença entre o jovem e o idoso é que o mancebo faz sua história e o ancião conta a história que já fez.

Gosto da ilustração da semente como o conhecimento. O conhecimento é semeado a esmo, não é plantado. Desta forma, vai alcançar diferente tipos de pessoas e o que vai determinar o sucesso da semente é a disposição em abraçar o conhecimento. Aí que está o problema: os indivíduos são seletivos e consumidores. Buscam aquilo que atendam suas conveniências.

Hoje, temos a expectativa de surgimento de árvores inúteis, sem fruto. Isto, porque vivemos na era do conhecimento..., mas quanta gente ignorante! A geração atual tem confundido informações inúteis com conhecimento. Tem se deleitado com futilidades e tem se entediado com coisas que exigem um esforço mental mais apurado como a leitura de um livro ou aplicar-se em atividades escolares. Por outro, temos genitores superprotetores e refém da satisfação dos caprichos de seus infantes. Desde a infância aprendem que não devem ser confrontados com firmeza; qualquer crítica dos mestres deve ter o eufemismo das palavras bem colocadas, sob pena da reprovação dos pais.  

A alienação surge da lei do mínimo esforço e da acomodação. Via de regra, os jovens têm preferência por um lazer plastificado e desidratado de conteúdos significativos como as redes sociais e a internet. São poucos que labutam pelas sementes sagradas do conhecimento com expectativa de fruto.

Se houver uma reorientação, surgirá uma geração de alienados, incapazes de lidar com as frustrações, ansiosos e deprimidos, incapazes de tomar as próprias decisões. Então, não discutem ideias, mas brigam por opiniões tuteladas por mentores ideólogos e maus intencionados. São repetidores de chavões, jargões acadêmicos e rótulos, sem profundidade da reflexão de significados. Aliás, título acadêmico, por si só, não sanitariza a ignorância, antes a estabelece se a ideologia for abraçada como um sistema de crenças. Isto explica a policiamento nas redes sociais e a políticas de cancelamento por pessoas e grupos militantes. Qualquer opinião contrária ao politicamente correto é alvo de massacre na internet.

Com a ignorância é impossível cultivar virtudes e ser árvore frutífera. A sabedoria está na prudência, na moderação e no bom senso. Como o filósofo Luiz Pondé acredito que a igreja evangélica tem contribuído com “uma política de contenção” a via de excessos existente na sociedade. Os excessos levam ao sexo e gravidez precoce. Uma menina com 14 e 15 anos já é mãe e se não houver uma política de contenção, vai ter filho aos 17 e aos 20 anos. Por isto, o filósofo destaca que o papel social da Igreja é muito importante. Além disso, a ignorância leva a outras mazelas sociais como as drogas e a violência.

A sociedade clama por bons exemplos porque a mídia está repleta de futilidades de celebridades e há pessoas entediadas com tantas banalidades. Os bons exemplos estão do nosso lado, com as pessoas simples, humildes e, até mesmo, sem muita instrução acadêmica. Essas pessoas simples exalam sabedoria nas palavras e atos, mas são tratadas com indiferença. Exatamente, porque a sabedoria é discreta e silenciosa, sem a eloquência das palavras, mas com simplicidade e firmeza. Logo, a sabedoria não é graça barata é o resultado de uma vida de renúncia as futilidades e excessos. A sabedoria habita em quem que sabe que a felicidade é o estado de satisfação, de se sentir completo, na abundância e na escassez e aprendeu a valorizar cada vitória diária.

A árvore é o nosso caráter, aquilo que somos. Não basta ter apenas amplitude, beleza e folhas. É preciso ter fruto. É preciso cultivar as virtudes como fruto, mas antes é preciso criar raízes que são os vínculos com as pessoas, constituir uma identidade. A expectativa das pessoas é deleitar-se nos frutos das nossas virtudes e abrigar-se na sombra da nossa reputação.

CONCLUSÃO

             Cristo nos dá o maior exemplo ao “dar sua vida como único resgate por muitos” (Mateus 20.28). A nossa vida é maior instrumento de serviço à humanidade. A sensação de utilidade nos dá significado de vida com propósito. Como garçons devemos atender as demandas da comunicação e da solidariedade, com verdade e justiça.

            A liberdade não está relacionada ao salvo conduto para fazer o que desejar. A busca desenfreada pelo prazer, gera descontrole e escravidão viciosa. A liberdade está no plano da consciência moral, da capacidade de fazer as melhores escolhas, desprezando a opção pelo mal. Aliás, a opção pelo mal gera escravidão, pois um abismo chama outro abismo.

REFERÊNCIAS

BOTTON, Alain. Desejo de Status. Tradução de Ryta Vinagre. Rio de Janeiro: Rocco, 2005.

CURY. Augusto. Os segredos do Pai-Nosso. A solidão de Deus: um estudo psicológico da oração mais conhecida no mundo. Rio de Janeiro: Sextante, 2006.

KOYZIS, David T. Visões e ilusões políticas: uma análise e crítica cristã das ideologias contemporâneas. São Paulo: Editora Vida Nova, 2014.

LOPES, Hernandes Dias. Voando nas alturas. São Paulo: Hagnos, 2015.

LUCADO, Max. Viver sem Medo: redescobrindo uma vida de tranquilidade e paz interior. Tradução de Bárbara Coutinho e Leonardo Barroso. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2009.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

ALGUMAS IMPRESSÕES SOBRE O RETORNO ÀS AULAS PRESENCIAIS, MEDIDAS SANITÁRIAS E O PLANEJAMENTO PEDAGÓGICO

 Professor Gelcimar da Silva Pereira Nunes 

INTRODUÇÃO

            O ano de 2021 trouxe consigo um farol de esperança às perspectivas de superação do caos advindo com as restrições da pandemia do novo coronavírus. A angústia da clausura e das incertezas contaminou todos os ambientes e tornou todos os seres humanos um exército de vulneráveis. Colocou todo o conhecimento dos entendidos prostrado diante um inimigo comum desconhecido: o vírus Sars-CoV-2 (Covid-19). Então, toda a voz se levantou clamando por uma solução plausível para o lastro da dor que acometeu todas as famílias, que choraram seus mortos (algo parecido com a morte dos primogênitos, relatado nos escritos bíblicos). Então, como uma flecha lançada, a esperança acerta o seu alvo com a notícia da vacina e da vacinação, mesmo em caráter experimental e emergencial. Mas, no momento, não há vacinação para todos. Apenas para os grupos prioritários e o professor não está incluso.

            Há de se considerar que a cautela e os cuidados devem ser redobrados. No momento, a morte espreita a presa desprevenida como ocorreu no momento mais agravante da pandemia do coronavírus em 2020. Diariamente são contabilizadas mais de mil mortes e novas cepas são descobertas como obstáculo a erradicação da doença. Isto indica que a praga não cessou e é aventura desprezar todos os cuidados preventivos relacionados ao contágio e sua disseminação.

            Diferente dos momentos iniciais da pandemia, as medidas de isolamento social foram afrouxadas e as pessoas se acostumaram a conviver com perigo do contágio a exemplo das comunidades sitiadas pelo tráfico. Indiferentes ao contágio, pessoas se expõem a várias situações de aglomeração e relaxamento das medidas de prevenção. Por isto, há bares cheios de pessoas conversando próximas e sem máscaras; festas em ambientes fechados onde os protocolos sanitários são ignorados, além da superlotação das praias e igrejas.

            No contraditório da indiferença de parcela da população em relação aos cuidados sanitários, surge a proposta de retorno às aulas presenciais, apesar da reclamação da categoria do magistério e parte do segmento de pais de alunos. Tal contradição fragiliza o debate sobre o retorno das aulas presenciais com segurança.

1 – O RETORNO DAS AULAS   

            Desde o ano passado, tanto o governo federal como o governo estadual discutiam propostas para o retorno das aulas presenciais e os critérios a serem observados para o retorno com a devida segurança. Por outro lado, havia divisão no segmento de pais de alunos quanto a retomada das aulas presenciais: um grupo defendia o retorno, o outro defendia o retorno após vacinação. Por sua vez, a categoria do magistério, enfraquecida pelos conflitos das lideranças sindicais, reclamava solitariamente com temor e tremor do retorno das aulas por imposição temerária, sem as devidas garantias de segurança.

            Tal insegurança é motivada pelo fracasso do monitoramento estatal da população adulta quanto aos cuidados preventivos. Quando o Estado e o Município se propuseram a intervir, cercearam liberdades de ir e vir e interromperam atividades da cadeia produtiva penalizando o pequeno empreendedor e o trabalhador de profissões de menor valor agregado em nome do forçado isolamento social.

            O discurso do isolamento social fracassou do alto das mansões da elite dos intelectuais e artistas enquanto a massa populacional se sacrificava diariamente para sobreviver na informalidade, no subemprego e no trabalho assalariado. A história da população da periferia das grandes cidades é marcada pelo sofrimento das condições sociais precárias e do sitiamento do tráfico.  Por isto, é difícil dialogar sobre cuidados profiláticos da COVID-19 com quem flerta com a morte todos os dias, com ameaças, conflitos entre gangues e risco eminente de ser atingido por uma bala perdida.

            Tal situação não é diferente no município da Serra e é a essência do nosso sofrimento diário, anterior a pandemia do coronavírus: a violência e a desigualdade social. A escola torna-se um refúgio para as ansiedades e o desaguadouro das frustrações desse universo de desesperança. Então, o desafio da escola é comunicar a vida em um cenário de expectativas e superações. Talvez, esta seja a razão para as massas em condições de vulnerabilidade não ter a prevenção com a devida prioridade.

            O retorno das aulas impõe diversos protocolos de segurança e controle. Algo inédito na história da Educação Brasileira. O expediente da clínica médica adentra no espaço das unidades de ensino para impor uma rotina a ser assimilada, se possível, com a automação dos cuidados. Inclusive, é criado, em cada unidade de ensino, o Comitê Local para monitoramento dos protocolos de segurança sanitária a exemplo da Comissão de Infecção Hospitalar, existente em instituições de saúde. Tal rotina foi pensada nos detalhes mais melindrosos como o carinho e o toque. A proximidade será substituída pela distância segura e a simplicidade das crianças dará vez a ortodoxia das regras sanitárias. Antes, os estudantes compartilhavam bactérias com as mãos mal lavadas, de materiais e isto era benéfico para as defesas do organismo, para a produção de antígenos e anticorpos. Agora não pode...  

            As adaptações da escola envolvem a estrutura do prédio escolar com a instalação de lavatórios e dispenser de álcool em gel na entrada e em locais estratégicos. Também, a higienização dos ambientes, seus objetos e móveis passam a ser expediente de uma rotina alterada em tempo de pandemia. As restrições de espaços e utilização de objetos afetam diretamente os estudantes, bem como as estratégias de ensino. A interação das crianças em sala não poderá ultrapassar o espaço demarcado na carteira. Logo, o desafio do professor é escolher práticas criativas para demover o tédio da criança sentada quatro horas diárias na cadeira e de máscara.        

            O uso de máscara e o isolamento social é a medida mais propagada nas mídias diversas. Contudo, o cuidado com a higienização é o aspecto mais melindroso da prevenção e do controle. Isto porque requer uma disciplina muito apurada em relação a todos os protocolos de segurança sanitária e, em algum momento, poderemos negligenciar. Sabemos que todos que pegaram COVID têm hipóteses de contágio, mas não têm uma explicação plausível de como e onde pegaram a doença. Pode acontecer de qualquer forma e em qualquer lugar, inclusive na escola. Mas como provar isto? Então, é necessária uma consciência sobre os cuidados que ultrapasse os muros da escola. Claro. É possível testemunhar a saída de estudantes de escolas estaduais aglomerados, se abraçando, beijando e sem máscaras. Parece que os cuidados se restringem apenas ao interior do prédio escolar onde é possível fazer o monitoramento e controle. Então, há um contraditório entre a rigidez do interior da escola e flexibilização das ruas e de outros ambientes.

            A questão do monitoramento da suspeita e dos casos de COVID depende da relação de confiança entre a escola e as famílias. Como exemplo, podemos citar os casos dos trabalhadores que sonegam informações das empresas para não expor sua intimidade e comprometer o emprego. Há situações em que trabalhadores assintomáticos ou com sintomas leves não se afastaram do trabalho, nem comunicaram aos empregadores. Logo, a transparência e fidedignidade dos registros da escola e na plataforma da Secretaria de Saúde dependem dessa relação de confiança da escola e das famílias dos estudantes.

            O efeito “manada” não pode ser desprezado na discussão do retorno das aulas, pois apenas um infectado é suficiente para disseminar o contágio para o grupo inteiro. Por isto, se os cuidados higiênicos não forem eficientes qualquer isolamento tardio após detecção torna-se medida inócua, visto que a condição de assintomático não tem percepção visível. A detecção de febre é uma medida limitada diante da complexidade da pandemia.

            Há possibilidade de suspensão de aulas de alguma sala ou, até mesmo, da escola conforme o agravamento do número de casos. Os reflexos psicológicos dessa medida não estão devidamente calculados. Variavelmente, a indiferença pode se transformar em medo e, por sua vez, o temor pode se tornar histeria.

            Para o monitoramento dos protocolos de segurança, há indicativo da criação do Comitê Local de Prevenção em cada unidade de ensino, com diversas representações. Contudo, a maior responsabilidade recai sobre os gestores escolares por vivenciar a experiência do chão da escola com todos os seus dilemas e contradições. O sucesso do Comitê Local é proporcional à eficiência do Conselho de Escola e seu histórico de atuação na unidade de ensino. Mas, o maior desafio será o monitoramento da obediência irrestrita a todos os protocolos de segurança diante de recursos materiais e humanos limitados. Adiciona-se como ingrediente arrebatador o stress pelo controle de situações e de comportamentos que não foram mecanicamente assimilados. Claro, pessoas não são como as máquinas que seguem uma programação de um software e podem ser reprogramadas por upgrade para obedecerem a comandos indicados em um manual. Então, a reiterada conscientização em diversos espaços e momentos é uma das estratégias coercitivas de natureza pacífica sem a necessidade da imposição punitiva.

2 – O PLANEJAMENTO DO ENSINO

            Devido a pandemia do coronavírus, estados e os municípios do pais decretaram a suspensão das aulas presenciais como medida para conter a contágio e disseminação do vírus Sars-CoV-2 (Covid-19). Como alternativa de ensino à distância, foram oferecidas as Atividades Pedagógicas Não Presenciais – APNPs aos estudantes das escolas públicas. Apesar da boa intencionalidade, as APNPs tem sua limitação, pois não houve a supervisão direta do docente no processo ensino aprendizagem. Aliás, é impossível pensar o processo de alfabetização sem a mediação do professor. Agora, imagine que resultados trouxeram as APNPs para os estudantes das turmas do ciclo de alfabetização (1º ao 3º ano). Também, os estudantes do 4º e 5º ano avançaram sem dominar os conhecimentos básicos para o ano que cursaram como a leitura, a escrita e o cálculo. Aliás, essa é uma deficiência histórica dos estudantes brasileiros do ensino fundamental ao ensino médio. Isto explica porque o Brasil desponta com os piores índices nos ranking mundiais de educação.  

            Pensar nos objetivos de aprendizagem é voltar para o ensino das proficiências relacionadas à alfabetização do 1º ao 5º ano, ampliando, assim, o Ciclo de Alfabetização. Podemos pensar esse Ciclo em duas partes: do 1º ao 3º ano e do 4º ao 5º ano. Então, o ensino deve ter foco na oralidade, na leitura, na escrita e produção de textos e no cálculo. A alfabetização deve estar contextualizada com a realidade da criança para além da decodificação de códigos e signos. A contextualização a partir da realidade da escola e da comunidade pode ser um caminho para um ensino produtivo. Com o retorno das aulas, toda a escola estará sinalizada e com cartazes sobre os protocolos de segurança para a prevenção da COVID-19 e esse material não pode passar despercebido na aprendizagem e na assimilação das regras.

            A Língua Portuguesa a exemplo de outras línguas latinas tem uma estrutura silábica tanto na escrita como na pronúncia. Contudo, no dia a dia, as crianças já convivem com as palavras e reconhecem nomes de produtos e diferentes sinais necessários a convivência social. Esse conhecimento pode ser ponto de partida para a alfabetização das crianças e o ensino contextualizado para além do formalismo acadêmico dos exercícios de fixação.

A leitura do mundo pode acontecer pela contextualização dos textos do prédio escolar (cartazes, sinalização, folders, objetos, etc.). Mas como reunir as crianças no entorno do prédio escolar se elas têm o espaço e os momentos demarcados por imposição do distanciamento social? Também, a proximidade e o toque do professor ferem os protocolos de segurança e expõe as dificuldades da orientação e correção direta no processo ensino aprendizagem. Claro, há diversas situações como a criança que tem dificuldade em pegar no lápis para escrever e àquelas que dependem da supervisão tão próxima para manterem-se concentradas como os estudantes público-alvo da educação especial.

            As estratégias da leitura não devem se descuidar da imaginação da criança que, aliás, pode ser bem explorada nas atividades de interpretação de texto. A imaginação deve ser incentivada para além da imagem presente nos textos. Por exemplo: no texto “Caçador de Borboletas”, podemos perguntar o que não está na história e que requer imaginação: “Como era o caçador de borboletas, era jovem ou velho?” “Ele era alto ou baixo?” “Como ele estava vestido?” “Onde ele morava?” Uma das maiores dificuldades na interpretação do texto reside na imaginação. A criança precisa entrar no mundo da história como expectador por meio da imaginação para entendê-la. 

            Como adulto faço sempre uso da imaginação na leitura dos textos com o argumento da leitura autobiográfica. Tenho cada texto como um diálogo onde me identifico com cada palavra, frase ou situação para analisar, criticar e me posicionar. Se alguém não entende um texto é porque não se reconhece na informação.

            Outro argumento é que o texto não se restringe ao material escrito. Precisamos valorizar a oralidade como uma produção de texto. Em um diálogo sobejam palavras e frases articuladas como um texto oral com todos os ingredientes gramaticais. Toda a organização lógica de uma conversa obedece a uma sequência coesa. Isto pode ser explorado na escrita de palavras e frases sem a pressão ortográfica. As correções acontecem no decorrer do processo de aprendizagem pela mediação do professor. Nenhuma produção será eficiente sem a liberdade da imaginação. Por isto, ao estudante deve ser revelado que os pensamentos são ideias e ideias são palavras, frases, textos.... Portanto, damos vida às ideias por meio da nossa voz e da escrita. A produção de texto é uma forma de dar vida as nossas ideias. Aliás, devemos considerar as respostas às atividades escritas como produção de texto e, inclusive, devem exploradas aquelas que levem as crianças a pensar e expor com liberdade as suas ideias. Por isto, os estudantes travam quando são solicitados a fazer uma produção de texto por não ter esse entendimento.

CONCLUSÃO

O retorno das aulas presenciais requer paciência do professor para não ficar refém de expectativas e frustrações. Não basta ficar lamentando as perdas e dificuldades, mas semear o conhecimento com serenidade, pois os resultados não serão imediatos. Também, o Plano de Ensino deverá ser mais enxuto de acordo com a necessidade da turma, sem pressa de avançar de um conteúdo para outro. Por consequência, o professor terá de elaborar os planejamentos das atividades não presenciais, das atividades presenciais, para os estudantes como necessidade especial, além das situações daqueles em fase de letramento.

Finalmente, expõe-se a dura realidade da sobrecarga do professor no ensino, no cuidado e monitoramento do protocolo de segurança com pitada de ansiedade e stress diante de uma realidade inédita na história da educação brasileira. Estamos diante de uma aposta de uma realidade desenhada para administração de riscos calculados. Mas para quem é leigo, devido as implicações legais e administrativas, é como acondicionar explosivos. Todo cuidado é pouco.

REFERÊNCIAS

ALVES, Rubem. Um céu numa flor silvestre: a beleza em todas as coisas. Campinas (SP): Verus Editora, 2005.

PORTARIA Nº 002-R, DE 09 DE JANEIRO DE 2021. Estabelece e divulga o mapeamento de risco, instituído pelo Decreto nº 4636-R, de 19 de abril de 2020, na forma da Portaria nº 171-R, de 29 de agosto de 2020, e dá outras providências.

SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO. Diretrizes gerais de retorno às atividades letivas presenciais nas Escolas Municipais de Ensino Fundamental da Rede Municipal de Ensino de Serra. Serra, 2020.

_________ Objetivos de Aprendizagem: Ensino Fundamental Educação de Jovens e Adultos. Serra, 2020.