quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

CONTRATO SOCIAL

Professor Gelcimar da Silva Pereira Nunes
INTRODUCÃO
A liberdade está sempre sendo abordada em meus escritos como algo inerente a natureza humana. Tal abordagem encontra consistência na crença de que nenhum indivíduo nasceu para ser oprimido, pois de outro modo o espírito humano reclamará. Nesse caso, a opressão e escravidão são incompatíveis com a essência e a existência do homem.
Com relação a liberdade prevalece a discussão sobre os seus limites: o homem é livre, logo pode fazer tudo? O homem é ser livre ou determinado? Nas discussões das premissas do existencialismo, surge o entendimento que o homem é livre, mas também é determinado, pois se insere em um contexto sobre o qual lhe é imposto condições, regras.. Ou seja, é um “ser no mundo” que está vinculado a uma macroconsciência que instituiu no decorrer da história os conceitos morais, religiosos, culturais e legais. A macroconsciência estabeleceu um senso comum sobre as contradições da sociedade e tem um caráter axiológico (i.e. de valores em todos os sentidos morais, espirituais, culturais, etc.). O exemplo mais evidente desse fator axiológico são as convenções sociais que se impõe sem exigência de um código expresso e as pessoas se submetem voluntariamente a determinadas condições como a forma de vestir, o modo de falar e até o entusiasmo.
Ainda, há comportamentos que se impõem por meio da imitação de personalidades. Aliás, isto é uma condição para criar um exército de imitadores, sendo alguns sem noção do que fazem. A palavra “inspiração” traduz o desejo de viver, mesmo que de modo simbólico, qualidades e status de pessoas influentes. Contudo, que inspira pessoa deveria ter o senso de responsabilidade social. Por isto, há de se lamentar as más influências de certas personalidades.
Vivemos em uma sociedade em crise em todas as estratificações, sendo que, alguns casos, se enquadram na definição de anomia dada por Émile Durkeime (1858 - 1917). A sociedade reclama por limites que devem começar na família que é a célula mater da sociedade. O problema é que existem regras em demasia e pouco cumprimento, pois a transgressão é celebrada como uma virtude ao olhar cego das pessoas idôneas. As pequenas infrações perderam ao olhar de ampla maioria a conotação de crime, popularizando-se o jeitinho, a esperteza e a omissão. Há quem julgue que esta geração já está perdida e é preciso investir na educação da geração seguinte para eliminar o mau costume vigente. 
1. O CONTRATO SOCIAL É UM PRINCÍPIO
O princípio é superior à norma e está relacionado às impressões mentais fincadas no indivíduo. Tudo começa com a assimilação das idéias apresentadas de modo devocional; isto é, como uma crença a ser seguida. As pessoas seguem aquilo que crêem, pois as idéias impressas na mente passam a constituir uma filosofia de vida, determinando um estilo de vida. Assim, a obediência é produto de uma crença em valores éticos e morais considerados altruístas. Uma pessoa justa não se abala por causa de sua crença, apesar da opinião lesiva de ampla maioria.
Nada acontece sem liderança. Por isto, qualquer coordenador de um grupo ou de uma instituição deve instigar a curiosidade de seus companheiros a pensar os problemas de sua comunidade, saindo do fascínio da murmuração solitária e estéril. A problematização da realidade deve ser a manifestação livre do pensamento e da identidade com o grupo, expondo todas as contradições e firmando vias de consenso por intensa negociação.
Na abordagem centrada no estudante é apresentado o contrato social como um pacto estabelecido entre o professor e os estudantes, mediante negociação de condições e o compromisso de co-responsabilidade para a ministração do ensino. O contrato social teve também suas definições dadas Jacques Rousseau que desenhou o ideal de uma sociedade sem vícios da exploração, que prima pelo bem comum.
Carls Roger (1902 – 1987) influenciou uma pedagogia humanista que visa à autonomia do sujeito. Isto significa o enfoque na liberdade e na renúncia a qualquer forma de autoritarismo. Aliás, há uma diferença entre autoridade e autoritarismo. A autoridade refere-se à competência ou à capacidade de alguém em orientar, em influenciar ou inspirar pessoas, incultando-lhes a crença ou um ideal que proporcione uma obediência voluntária, fincada em um propósito. A obediência, produto de um contrato social, é fincada em um propósito altruísta é originária de um consenso e implica em uma mudança profunda em todos os sentidos da vida da pessoa. Claro, a norma deixa de ter um caráter imperativo e passa a constituir uma filosofia de vida, uma abordagem, um jeito de ser. Nessa concepção, as pessoas devem enxergar-se como sujeito da própria história e não como reprodutoras de um sistema ou de uma cultura.
O autoritarismo aponta para a coerção e outros mecanismos de força, chantagem, ameaças, mesmo usando um instrumento impessoal que é o regulamento. O Dr. Myles Munroe expõe que o homem é um ser com características para dominar. Logo por natureza não aceita se submeter a algo que lhe é imposto por outra pessoa por mais importante que seja. Por isto, em sua palestra sobre liderança ressalta que os líderes inspiram e convencem as pessoas e não as manipula, pois o autoritarismo é produto da insegurança de que não possui a devida autoridade.
A educação é fundamental para o estabelecimento dessa nova conduta. Por isto, acho interessante a critica de que a comoção social por causa dos agravantes casos de corrupção é inútil e não contribui para erradicar essa mazela, apesar da exploração excessiva da mídia. Há quem diga que é preciso erradicar os maus políticos e substituí-los por outros de ilibada reputação. Contudo, a corrupção não é só um crime é uma cultura instituída historicamente que se notabiliza pela celebração à esperteza, à preguiça, ao jeitinho, ao levar vantagem sobre outra pessoa, ganhar dinheiro fácil, etc. Por hipocrisia, as pessoas não enxergam essa gênese da corrupção presente em todos os estratos sociais.
2. O CONTRATO SOCIAL É UMA ALTERNATIVA POSSÍVEL
Acostumei a ouvir que as regras negociadas são mais eficazes daquelas que são impostas, por que ninguém docilmente aceita ser subjugado por normas que no seu entendimento são arbitrárias. A obediência a contragosto se encobre na rebelião dos murmúrios do pensamento. Também, o homem não se envolve afetivamente com regras impostas, que lhe são alheias porque não contaram com a sua participação. Muitas escolas entenderam e elaboram suas normas a partir da discussão coletiva com a comunidade escolar e local, para que as regras sejam entendidas para ser obedecidas por todos e por cada um.
O contrato social se notabiliza pela aproximação das pessoas. A comunicação é fundamental sem o pressuposto do status de lideres e seguidores, pois todos são iguais e nivelados pela horizontalidade do diálogo despido das disputas pelo predomínio da verdade individual e das tentativas de vencer o outro pelo cansaço. Contanto é necessário que a discussão dos problemas seja conduzida de forma honesta e sem constrangimentos. A censura é um obstáculo para esse diálogo franco e até a raiva e a repulsa de determinadas situações devem ser um meio para o exercício da escuta dos sentimentos do outro, sem o revide e a retaliação das palavras ou ações. Aliás, é preciso entender os sentimentos do outro, pois a paixão permeia todos os atos da humanidade. Nesse caso, o olhar compreensivo refere-se a tentativa de colocar-se no lugar do outro, saindo da esfera do próprio corpo e da consciência individual. Por isto, a renúncia ao individualismo passa pela forma como consideramos as necessidades do próximo e como nos envolvemos pela busca da solução dos seus problemas.
Assim, o contrato social tem seus fundamentos no direito à pessoa ao respeito. Ou seja, a pessoa deve participar das decisões coletivas que interferem na sua vida. Isto vai além das concepções vigentes de democracia que são muitas limitadas no sentido prática, confundindo-se com o voto. O contrato social é firmado por um diálogo no qual não as informações são apresentadas de forma transparente. Elas não são sonegadas para privilegiar determinado grupo hegemônico que quer se perpetuar no poder, a exemplo dos reinos absolutistas e das capitanias hereditárias. O conhecimento é um meio de entendimento da igualdade entre as pessoas e fortalece o entendimento do contrato celebrado.
A idéia do contrato social deve começar em grupos e instituições menores. Por isto, tem relevante sucesso nas comunidades terapêuticas que investem em valores humanos, tendo como premissa o respeito e a fraternidade. Nesse entendimento não há pessoas com privilégios, pois todos compartilham o compromisso pelo bem estar do grupo. A idéia de grupo conduz a unidade de pessoas, inclusive em relação ao sofrimento e a alegria. Até, o entendimento de liderança passa a ter nova significação: um serviço a ser prestado em benefício da coletividade. O líder é um coordenador de debates e atividades, identificando qualidades e talentos de cada pessoa para que a diversidade dons seja utilizada em benefício da unidade do grupo. A liderança de uma pessoa não produz dependência ao grupo, mas ajuda a potencializar as qualidades de cada um e ensina a administrar a autonomia com respeito à ética e ao bom senso. Por isto, o contrato social é um processo de diálogo constante em direção ao equilíbrio das relações sociais, mediado pelo bom senso.
A concepção de justiça passa pelo que é entendido por todos. Aliás, grandes conflitos são resultados de mal entendido. Se uma regra não é construída coletivamente e socializada com todos, ela é arbitrária, pois foi outorgada. Também, uma instituição sem regras é uma bomba relógio pronto para explodir uma fatalidade a qualquer momento. Aliás, o ser humano tem impressões em sua consciência sobre o bem e o mal, mas as pretensões belicosas, egoístas de cada um cauterizam o respeito ao próximo, tornando-se necessário as regras. Nesse caso, o problema é a forma que as normas são instituídas, pois a obediência conquistada é mais eficaz do que a obediência imposta.  
CONCLUSÃO
As contradições da sociedade refletem as diferenças entre cada indivíduo. A liberdade impõe responsabilidades, pois segundo o pensamento paulino “todas as coisas me são lícitas, nas nem todas me convém; todas as coisas me são possíveis, mas me deixarei me dominar por elas” (I Coríntios 10: 23). Ou seja, a liberdade é uma faculdade humana de deliberar sobre as opções que lhe são oferecidas quer seja para o bem ou para o mal.
O problema é que o homem não é um ser só no mundo como se suas ações tivessem implicações individuais, sem conseqüências a outras pessoas. Por isto, a vida é celebrada da qualquer pessoa é celebrada por sua família, seus amigos e até gente alheia e, igualmente, o sofrimento causa a aflição de espírito aos seus semelhantes. Assim, sendo todas as ações devem ser disciplinadas para produz a solidariedade, igualdade e a fraternidade entre os homens.
REFERÊNCIAS
Recomendo a leitura dos textos relacionados a abordagem Centrada no Estudante. Também é importante a leitura dos DVD’s do Dr. Myles Munroe sobre a liderança servidora, Central Gospel, 2009.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

O MUNDO DAS IDEIAS

O MUNDO DAS IDEIAS
Professor Gelcimar da Silva Pereira Nunes
INTRODUÇÃO
Para ingressar no universo das palavras, busco a inspiração na transcendência dos sentimentos cujos mistérios são como o murmuro da alma adormecida. Assim, invoco a onipotência de pensamentos e logo vêm os sonhos de olhos abertos que revelam os desenhos e as palavras diante de uma folha em branco. É a visão do projeto acabado antes de ser iniciado. Por consequência, o escritor suspira na ansiedade de materializar a visão e socializá-la ao maior número de pessoas. Deste modo, saem os pensamentos e. na beleza da graça, nascem as idéias.
Os pensamentos surgem da apreciação do mundo de forma apaixonante, extraindo a beleza das coisas e interpretando-as de forma lógica. A autocensura torna-se um elemento disciplinador que faz a pessoa reavaliar constantemente os seus pensamentos, buscando as possíveis incoerências. Sanadas às dúvidas, vêm a convicção e a pessoa passa a amar os seus pensamentos e a exprimi-los por meios de palavras. Por isto, o pensamento só se torna ideia quando é divulgado. Porém é necessária a identificação de um propósito, pois toda ideia se constitui para uma finalidade.
Apaixonado pela beleza, decidi entrar no mundo das idéias por meio da sensibilidade, pois os sentimentos afloram no momento da imaginação, do exercício do senso lógico como se fosse uma atividade extática. Por isto, os poetas e escritores buscam a solidão para poderem dialogar com os seus pensamentos e como se fossem malucos conversam consigo mesmos, fazendo perguntas e ao mesmo tempo respondendo a si mesmos. Quando não estão satisfeitos, fazem perguntas a outras pessoas e se divertem com as respostas, confundindo-as com sua ironia.
A partir dessa realidade, fiz algumas observações relacionadas ao mundo das ideias tão apregoado por Platão como algo transcendente, divino como dádiva dos deuses. Porém, quero fugir de concepções metafísicas e dirigir o foco para o universo dos sonhos e da imaginação que se assemelham por princípio ao mundo das ideias.
A IMPORTANCIA DA SENSIBILIDADE
Para o filósofo italiano Domenico di Masi, a paixão está presente em todas as atividades humanas e cita eventos ao longo da história de determinados atos passionais. Ou seja, todos os atos humanos estão providos de sentimentos de ansiedade, tristeza, alegria, raiva, etc. Portanto, escrever ou realizar qualquer arte é uma atividade passional, pois está repleta de diferentes sentimentos.
Os sentimentos levam a desejar uma realidade factível ao universo dos sonhos. Daí surge a imaginação como algo real aos olhos do poeta que se expressa por meio de metáforas. Para aquilo que se vê no universo da imaginação não há palavras suficientes para traduzir, por isto se recorre às metáforas. Aliás, as metáforas são tão divinas que foram utilizadas por Jesus Cristo, pelos filósofos e pelos poetas.
Contudo, escrever é um ato solitário e extático, pois adentrar no mundo das idéias é experiência individual, dependente da concentração para que a pessoa possa dialogar com si mesma. Nesse momento, o escritor se desliga do mundo e fica sozinho com os seus pensamentos. Por isto, alguns não ouvem nem percebem quando alguém chega a seu redor.
A associação intelecto e imaginação é parecida com o universo dos sonhos onde o ser humano se liberta da censura e extravasa os seus desejos. Claro, nem tudo que se pensa é colocado no papel, devido aos mecanismos de repressão das convenções sociais impressas na alma do ser humano - Rubem Alves chama essas impressões de tatuagens de palavras que grudam na mente e no corpo. Contudo, o escritor quando se orienta pela sua imaginação tende a se tornar um transgressor dos conceitos estabelecidos socialmente.

É NECESSÁRIO LIBERDADE PARA VER A BELEZA
A libertação dos mecanismos de repressão tem por objetivo produzir condições para o nascimento das idéias. Sempre recomendo que as pessoas procurem a posição mais relaxada para se libertar de quaisquer estresse. Se bem que alguns têm nos momentos de tristeza o seu momento mais criativo. Eles conseguem traduzir a beleza da tristeza com metáforas férteis que descrevem o enlutamento da alma, como fez o poeta Fernando Pessoa (1888 – 1935).
Sobre a beleza, o filósofo e educador Rubem Alves opinou que a beleza não se encontra somente nas coisas alegres, mas também nas tristezas. As cores das árvores, os sons das águas e o cheiro das flores são a beleza bonita, inspiradora do romantismo; mas a tristeza da solidão pode ser traduzida por meio de metáforas, conduzindo as pessoas à reflexão sobre a perenidade da vida.
Por isto, a beleza está presente em toda a natureza, não somente naquelas definidas pelas convenções. Aliás, o que é belo deve ser desfrutado particularmente como um manjar por meio dos olhos da alma e, nessa experiência individual, não espaço para os intrusos carrancudos com os seus problemas.
O mundo das idéias é o mundo da beleza do pronto, do acabado, apesar da crueza da realidade, com as injustiças e desamor. As idéias podem não mudar o mundo, mas podem mudar o homem. Claro, todos nós somos frutos de um sistema de crenças, oriundas de um encadeamento de ideias, que orientam uma filosofia de vida e definem um estilo de vida, comportamentos e atitudes.
Assim, concordo com Myles Munroe de que as idéias são mais poderosas que o homem, pois elas têm existência quase eterna e determinam o destino dos homens. Ou seja, idéias equivocadas conduzem as grandes tragédias como o nazismo, o terrorismo, etc. Porém, ninguém consegue matar uma idéia. É mais fácil matar um homem do que uma idéia. Por isto, quando se persegue uma idéia, ela se multiplica e torna-se incontrolável como o terrorismo. A solução é combater uma idéia apresentando uma outra melhor, pois as ideias se incorporam as estruturas mentais dos homens como suas células e neurônios.
Logo, no mundo das idéias se visualiza uma realidade de beleza e de perfeição. Claro, que essa perfeição é ilusória tal como a fantasia, mas é ponto de partida para desejar e atuar por um mundo melhor.
CONCLUSÃO
A frieza da racionalidade do mundo as vezes não permite as pessoas a perceberem os detalhes do mundo ao redor e os seus significados. Tal situação é provocada pela velocidade de se buscar os resultados de forma imediata. Por isto, pensar é uma forma de buscar a solução de problemas e não uma busca de resposta as questões existenciais.
Ingressar no mundo das idéias é pensar a razão de ser das coisas e sobre elas emitir julgamento moral, social, estético e cultural. É tentar ver-se não como reprodutor de condutas e de um sistema de pensamentos, buscar construir suas próprias conclusões.
REFERÊNCIAS
ALVES, Rubem, O céu numa flor silvestre: a beleza em todas as coisas. São Paulo: Versus Editora, 2008.