
Professor Gelcimar da Silva Pereira Nunes
INTRODUCÃO
A liberdade está sempre sendo abordada em meus escritos como algo inerente a natureza humana. Tal abordagem encontra consistência na crença de que nenhum indivíduo nasceu para ser oprimido, pois de outro modo o espírito humano reclamará. Nesse caso, a opressão e escravidão são incompatíveis com a essência e a existência do homem.
Com relação a liberdade prevalece a discussão sobre os seus limites: o homem é livre, logo pode fazer tudo? O homem é ser livre ou determinado? Nas discussões das premissas do existencialismo, surge o entendimento que o homem é livre, mas também é determinado, pois se insere em um contexto sobre o qual lhe é imposto condições, regras.. Ou seja, é um “ser no mundo” que está vinculado a uma macroconsciência que instituiu no decorrer da história os conceitos morais, religiosos, culturais e legais. A macroconsciência estabeleceu um senso comum sobre as contradições da sociedade e tem um caráter axiológico (i.e. de valores em todos os sentidos morais, espirituais, culturais, etc.). O exemplo mais evidente desse fator axiológico são as convenções sociais que se impõe sem exigência de um código expresso e as pessoas se submetem voluntariamente a determinadas condições como a forma de vestir, o modo de falar e até o entusiasmo.
Ainda, há comportamentos que se impõem por meio da imitação de personalidades. Aliás, isto é uma condição para criar um exército de imitadores, sendo alguns sem noção do que fazem. A palavra “inspiração” traduz o desejo de viver, mesmo que de modo simbólico, qualidades e status de pessoas influentes. Contudo, que inspira pessoa deveria ter o senso de responsabilidade social. Por isto, há de se lamentar as más influências de certas personalidades.
Vivemos em uma sociedade em crise em todas as estratificações, sendo que, alguns casos, se enquadram na definição de anomia dada por Émile Durkeime (1858 - 1917). A sociedade reclama por limites que devem começar na família que é a célula mater da sociedade. O problema é que existem regras em demasia e pouco cumprimento, pois a transgressão é celebrada como uma virtude ao olhar cego das pessoas idôneas. As pequenas infrações perderam ao olhar de ampla maioria a conotação de crime, popularizando-se o jeitinho, a esperteza e a omissão. Há quem julgue que esta geração já está perdida e é preciso investir na educação da geração seguinte para eliminar o mau costume vigente.
1. O CONTRATO SOCIAL É UM PRINCÍPIO
O princípio é superior à norma e está relacionado às impressões mentais fincadas no indivíduo. Tudo começa com a assimilação das idéias apresentadas de modo devocional; isto é, como uma crença a ser seguida. As pessoas seguem aquilo que crêem, pois as idéias impressas na mente passam a constituir uma filosofia de vida, determinando um estilo de vida. Assim, a obediência é produto de uma crença em valores éticos e morais considerados altruístas. Uma pessoa justa não se abala por causa de sua crença, apesar da opinião lesiva de ampla maioria.
Nada acontece sem liderança. Por isto, qualquer coordenador de um grupo ou de uma instituição deve instigar a curiosidade de seus companheiros a pensar os problemas de sua comunidade, saindo do fascínio da murmuração solitária e estéril. A problematização da realidade deve ser a manifestação livre do pensamento e da identidade com o grupo, expondo todas as contradições e firmando vias de consenso por intensa negociação.
Na abordagem centrada no estudante é apresentado o contrato social como um pacto estabelecido entre o professor e os estudantes, mediante negociação de condições e o compromisso de co-responsabilidade para a ministração do ensino. O contrato social teve também suas definições dadas Jacques Rousseau que desenhou o ideal de uma sociedade sem vícios da exploração, que prima pelo bem comum.
Carls Roger (1902 – 1987) influenciou uma pedagogia humanista que visa à autonomia do sujeito. Isto significa o enfoque na liberdade e na renúncia a qualquer forma de autoritarismo. Aliás, há uma diferença entre autoridade e autoritarismo. A autoridade refere-se à competência ou à capacidade de alguém em orientar, em influenciar ou inspirar pessoas, incultando-lhes a crença ou um ideal que proporcione uma obediência voluntária, fincada em um propósito. A obediência, produto de um contrato social, é fincada em um propósito altruísta é originária de um consenso e implica em uma mudança profunda em todos os sentidos da vida da pessoa. Claro, a norma deixa de ter um caráter imperativo e passa a constituir uma filosofia de vida, uma abordagem, um jeito de ser. Nessa concepção, as pessoas devem enxergar-se como sujeito da própria história e não como reprodutoras de um sistema ou de uma cultura.
O autoritarismo aponta para a coerção e outros mecanismos de força, chantagem, ameaças, mesmo usando um instrumento impessoal que é o regulamento. O Dr. Myles Munroe expõe que o homem é um ser com características para dominar. Logo por natureza não aceita se submeter a algo que lhe é imposto por outra pessoa por mais importante que seja. Por isto, em sua palestra sobre liderança ressalta que os líderes inspiram e convencem as pessoas e não as manipula, pois o autoritarismo é produto da insegurança de que não possui a devida autoridade.
A educação é fundamental para o estabelecimento dessa nova conduta. Por isto, acho interessante a critica de que a comoção social por causa dos agravantes casos de corrupção é inútil e não contribui para erradicar essa mazela, apesar da exploração excessiva da mídia. Há quem diga que é preciso erradicar os maus políticos e substituí-los por outros de ilibada reputação. Contudo, a corrupção não é só um crime é uma cultura instituída historicamente que se notabiliza pela celebração à esperteza, à preguiça, ao jeitinho, ao levar vantagem sobre outra pessoa, ganhar dinheiro fácil, etc. Por hipocrisia, as pessoas não enxergam essa gênese da corrupção presente em todos os estratos sociais.
2. O CONTRATO SOCIAL É UMA ALTERNATIVA POSSÍVEL
Acostumei a ouvir que as regras negociadas são mais eficazes daquelas que são impostas, por que ninguém docilmente aceita ser subjugado por normas que no seu entendimento são arbitrárias. A obediência a contragosto se encobre na rebelião dos murmúrios do pensamento. Também, o homem não se envolve afetivamente com regras impostas, que lhe são alheias porque não contaram com a sua participação. Muitas escolas entenderam e elaboram suas normas a partir da discussão coletiva com a comunidade escolar e local, para que as regras sejam entendidas para ser obedecidas por todos e por cada um.
O contrato social se notabiliza pela aproximação das pessoas. A comunicação é fundamental sem o pressuposto do status de lideres e seguidores, pois todos são iguais e nivelados pela horizontalidade do diálogo despido das disputas pelo predomínio da verdade individual e das tentativas de vencer o outro pelo cansaço. Contanto é necessário que a discussão dos problemas seja conduzida de forma honesta e sem constrangimentos. A censura é um obstáculo para esse diálogo franco e até a raiva e a repulsa de determinadas situações devem ser um meio para o exercício da escuta dos sentimentos do outro, sem o revide e a retaliação das palavras ou ações. Aliás, é preciso entender os sentimentos do outro, pois a paixão permeia todos os atos da humanidade. Nesse caso, o olhar compreensivo refere-se a tentativa de colocar-se no lugar do outro, saindo da esfera do próprio corpo e da consciência individual. Por isto, a renúncia ao individualismo passa pela forma como consideramos as necessidades do próximo e como nos envolvemos pela busca da solução dos seus problemas.
Assim, o contrato social tem seus fundamentos no direito à pessoa ao respeito. Ou seja, a pessoa deve participar das decisões coletivas que interferem na sua vida. Isto vai além das concepções vigentes de democracia que são muitas limitadas no sentido prática, confundindo-se com o voto. O contrato social é firmado por um diálogo no qual não as informações são apresentadas de forma transparente. Elas não são sonegadas para privilegiar determinado grupo hegemônico que quer se perpetuar no poder, a exemplo dos reinos absolutistas e das capitanias hereditárias. O conhecimento é um meio de entendimento da igualdade entre as pessoas e fortalece o entendimento do contrato celebrado.
A idéia do contrato social deve começar em grupos e instituições menores. Por isto, tem relevante sucesso nas comunidades terapêuticas que investem em valores humanos, tendo como premissa o respeito e a fraternidade. Nesse entendimento não há pessoas com privilégios, pois todos compartilham o compromisso pelo bem estar do grupo. A idéia de grupo conduz a unidade de pessoas, inclusive em relação ao sofrimento e a alegria. Até, o entendimento de liderança passa a ter nova significação: um serviço a ser prestado em benefício da coletividade. O líder é um coordenador de debates e atividades, identificando qualidades e talentos de cada pessoa para que a diversidade dons seja utilizada em benefício da unidade do grupo. A liderança de uma pessoa não produz dependência ao grupo, mas ajuda a potencializar as qualidades de cada um e ensina a administrar a autonomia com respeito à ética e ao bom senso. Por isto, o contrato social é um processo de diálogo constante em direção ao equilíbrio das relações sociais, mediado pelo bom senso.
A concepção de justiça passa pelo que é entendido por todos. Aliás, grandes conflitos são resultados de mal entendido. Se uma regra não é construída coletivamente e socializada com todos, ela é arbitrária, pois foi outorgada. Também, uma instituição sem regras é uma bomba relógio pronto para explodir uma fatalidade a qualquer momento. Aliás, o ser humano tem impressões em sua consciência sobre o bem e o mal, mas as pretensões belicosas, egoístas de cada um cauterizam o respeito ao próximo, tornando-se necessário as regras. Nesse caso, o problema é a forma que as normas são instituídas, pois a obediência conquistada é mais eficaz do que a obediência imposta.
CONCLUSÃO
As contradições da sociedade refletem as diferenças entre cada indivíduo. A liberdade impõe responsabilidades, pois segundo o pensamento paulino “todas as coisas me são lícitas, nas nem todas me convém; todas as coisas me são possíveis, mas me deixarei me dominar por elas” (I Coríntios 10: 23). Ou seja, a liberdade é uma faculdade humana de deliberar sobre as opções que lhe são oferecidas quer seja para o bem ou para o mal.
O problema é que o homem não é um ser só no mundo como se suas ações tivessem implicações individuais, sem conseqüências a outras pessoas. Por isto, a vida é celebrada da qualquer pessoa é celebrada por sua família, seus amigos e até gente alheia e, igualmente, o sofrimento causa a aflição de espírito aos seus semelhantes. Assim, sendo todas as ações devem ser disciplinadas para produz a solidariedade, igualdade e a fraternidade entre os homens.
O problema é que o homem não é um ser só no mundo como se suas ações tivessem implicações individuais, sem conseqüências a outras pessoas. Por isto, a vida é celebrada da qualquer pessoa é celebrada por sua família, seus amigos e até gente alheia e, igualmente, o sofrimento causa a aflição de espírito aos seus semelhantes. Assim, sendo todas as ações devem ser disciplinadas para produz a solidariedade, igualdade e a fraternidade entre os homens.
REFERÊNCIAS
Recomendo a leitura dos textos relacionados a abordagem Centrada no Estudante. Também é importante a leitura dos DVD’s do Dr. Myles Munroe sobre a liderança servidora, Central Gospel, 2009.