terça-feira, 11 de janeiro de 2011

O MUNDO DAS IDEIAS

O MUNDO DAS IDEIAS
Professor Gelcimar da Silva Pereira Nunes
INTRODUÇÃO
Para ingressar no universo das palavras, busco a inspiração na transcendência dos sentimentos cujos mistérios são como o murmuro da alma adormecida. Assim, invoco a onipotência de pensamentos e logo vêm os sonhos de olhos abertos que revelam os desenhos e as palavras diante de uma folha em branco. É a visão do projeto acabado antes de ser iniciado. Por consequência, o escritor suspira na ansiedade de materializar a visão e socializá-la ao maior número de pessoas. Deste modo, saem os pensamentos e. na beleza da graça, nascem as idéias.
Os pensamentos surgem da apreciação do mundo de forma apaixonante, extraindo a beleza das coisas e interpretando-as de forma lógica. A autocensura torna-se um elemento disciplinador que faz a pessoa reavaliar constantemente os seus pensamentos, buscando as possíveis incoerências. Sanadas às dúvidas, vêm a convicção e a pessoa passa a amar os seus pensamentos e a exprimi-los por meios de palavras. Por isto, o pensamento só se torna ideia quando é divulgado. Porém é necessária a identificação de um propósito, pois toda ideia se constitui para uma finalidade.
Apaixonado pela beleza, decidi entrar no mundo das idéias por meio da sensibilidade, pois os sentimentos afloram no momento da imaginação, do exercício do senso lógico como se fosse uma atividade extática. Por isto, os poetas e escritores buscam a solidão para poderem dialogar com os seus pensamentos e como se fossem malucos conversam consigo mesmos, fazendo perguntas e ao mesmo tempo respondendo a si mesmos. Quando não estão satisfeitos, fazem perguntas a outras pessoas e se divertem com as respostas, confundindo-as com sua ironia.
A partir dessa realidade, fiz algumas observações relacionadas ao mundo das ideias tão apregoado por Platão como algo transcendente, divino como dádiva dos deuses. Porém, quero fugir de concepções metafísicas e dirigir o foco para o universo dos sonhos e da imaginação que se assemelham por princípio ao mundo das ideias.
A IMPORTANCIA DA SENSIBILIDADE
Para o filósofo italiano Domenico di Masi, a paixão está presente em todas as atividades humanas e cita eventos ao longo da história de determinados atos passionais. Ou seja, todos os atos humanos estão providos de sentimentos de ansiedade, tristeza, alegria, raiva, etc. Portanto, escrever ou realizar qualquer arte é uma atividade passional, pois está repleta de diferentes sentimentos.
Os sentimentos levam a desejar uma realidade factível ao universo dos sonhos. Daí surge a imaginação como algo real aos olhos do poeta que se expressa por meio de metáforas. Para aquilo que se vê no universo da imaginação não há palavras suficientes para traduzir, por isto se recorre às metáforas. Aliás, as metáforas são tão divinas que foram utilizadas por Jesus Cristo, pelos filósofos e pelos poetas.
Contudo, escrever é um ato solitário e extático, pois adentrar no mundo das idéias é experiência individual, dependente da concentração para que a pessoa possa dialogar com si mesma. Nesse momento, o escritor se desliga do mundo e fica sozinho com os seus pensamentos. Por isto, alguns não ouvem nem percebem quando alguém chega a seu redor.
A associação intelecto e imaginação é parecida com o universo dos sonhos onde o ser humano se liberta da censura e extravasa os seus desejos. Claro, nem tudo que se pensa é colocado no papel, devido aos mecanismos de repressão das convenções sociais impressas na alma do ser humano - Rubem Alves chama essas impressões de tatuagens de palavras que grudam na mente e no corpo. Contudo, o escritor quando se orienta pela sua imaginação tende a se tornar um transgressor dos conceitos estabelecidos socialmente.

É NECESSÁRIO LIBERDADE PARA VER A BELEZA
A libertação dos mecanismos de repressão tem por objetivo produzir condições para o nascimento das idéias. Sempre recomendo que as pessoas procurem a posição mais relaxada para se libertar de quaisquer estresse. Se bem que alguns têm nos momentos de tristeza o seu momento mais criativo. Eles conseguem traduzir a beleza da tristeza com metáforas férteis que descrevem o enlutamento da alma, como fez o poeta Fernando Pessoa (1888 – 1935).
Sobre a beleza, o filósofo e educador Rubem Alves opinou que a beleza não se encontra somente nas coisas alegres, mas também nas tristezas. As cores das árvores, os sons das águas e o cheiro das flores são a beleza bonita, inspiradora do romantismo; mas a tristeza da solidão pode ser traduzida por meio de metáforas, conduzindo as pessoas à reflexão sobre a perenidade da vida.
Por isto, a beleza está presente em toda a natureza, não somente naquelas definidas pelas convenções. Aliás, o que é belo deve ser desfrutado particularmente como um manjar por meio dos olhos da alma e, nessa experiência individual, não espaço para os intrusos carrancudos com os seus problemas.
O mundo das idéias é o mundo da beleza do pronto, do acabado, apesar da crueza da realidade, com as injustiças e desamor. As idéias podem não mudar o mundo, mas podem mudar o homem. Claro, todos nós somos frutos de um sistema de crenças, oriundas de um encadeamento de ideias, que orientam uma filosofia de vida e definem um estilo de vida, comportamentos e atitudes.
Assim, concordo com Myles Munroe de que as idéias são mais poderosas que o homem, pois elas têm existência quase eterna e determinam o destino dos homens. Ou seja, idéias equivocadas conduzem as grandes tragédias como o nazismo, o terrorismo, etc. Porém, ninguém consegue matar uma idéia. É mais fácil matar um homem do que uma idéia. Por isto, quando se persegue uma idéia, ela se multiplica e torna-se incontrolável como o terrorismo. A solução é combater uma idéia apresentando uma outra melhor, pois as ideias se incorporam as estruturas mentais dos homens como suas células e neurônios.
Logo, no mundo das idéias se visualiza uma realidade de beleza e de perfeição. Claro, que essa perfeição é ilusória tal como a fantasia, mas é ponto de partida para desejar e atuar por um mundo melhor.
CONCLUSÃO
A frieza da racionalidade do mundo as vezes não permite as pessoas a perceberem os detalhes do mundo ao redor e os seus significados. Tal situação é provocada pela velocidade de se buscar os resultados de forma imediata. Por isto, pensar é uma forma de buscar a solução de problemas e não uma busca de resposta as questões existenciais.
Ingressar no mundo das idéias é pensar a razão de ser das coisas e sobre elas emitir julgamento moral, social, estético e cultural. É tentar ver-se não como reprodutor de condutas e de um sistema de pensamentos, buscar construir suas próprias conclusões.
REFERÊNCIAS
ALVES, Rubem, O céu numa flor silvestre: a beleza em todas as coisas. São Paulo: Versus Editora, 2008.

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