sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

SÃO APENAS PALAVRAS

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Professor Gelcimar da Silva Pereira Nunes
INTRODUÇÃO
Há tempos, busco a inspiração para falar sobre a sensibilidade que aflora da voz do coração. Falar da expressão de louvor da natureza na sua forma mais singela. Isto despido da automação da vida moderna que suga nossas energias mentais. Por vivermos na era da velocidade, ficamos cegos com o pragmatismo da máquina e da rotina burocrática. É preciso desacelerar para descansar os olhos e ouvidos da poluição visual e sonoro que nos acomete.
1.    A MÚSICA DE DEUS
Gosto muito de ouvir os diferentes sons e perceber a variedade de tons que existem na natureza. A beleza da criação se revela na orquestra dos pássaros e no sussurrar das folhas das árvores ao som do vento. São sons maravilhosos que não agridem os ouvidos e enlevam a alma. Por isto, gosto da música de Deus executada pela orquestra sinfônica da natureza.
Esse louvor divino da natureza se apresenta no decorrer do dia de forma espontânea sem cobrar aplausos. É o testemunho de que a natureza dada aos filhos dos homens é perfeita e harmônica. A beleza natural da paisagem traz o aprendizado para os sentidos, resgatando o sabor da existência. As vezes parece que o homem é parte distinta da natureza sem comunhão com os demais elementos.
A sensibilidade parece inédita quando há comunhão com a natureza. Ocorre a restauração da acuidade que se perdeu no decorrer da aceleração do movimento humano. Trata-se de fechar os olhos e ouvir as batidas do coração para sentir o brilho do sol aquecer o corpo e alma. Então, nota-se que existe uma cegueira de entendimento para compreender a vida com sua singeleza. Há uma perda da sensibilidade de viver o prazer da contemplação do belo e ouvir o encanto dos sons inaudíveis da natureza.
Só ouvimos a música de Deus quando temos o silêncio como pausa para a meditação e a reflexão. Nossa vida reclama por essa pausa para descansarmos os órgãos do sentido da agitação diária. Não é preciso tirar férias e viajar para contemplar os ecossistemas naturais. Basta olhar em redor e ver a maior natureza de Deus que é o ser humano. Essa natureza são imagem e semelhança que resvala no divino e reclama no seu íntimo por interação espiritual. Pena que muitos destroem a sua vida por desconhecer essa verdade. Por desconhecer seu valor não veem a grandeza da alma e julgam ser a mais insignificante das criaturas.
O silêncio parece monótono e invoca percepções de tédio, confundindo com a própria solidão. Mas o silêncio dá a oportunidade para ouvirmos a voz da alma e seus ensejos mais profundos. Pena que muitos têm medo estar sozinho em silêncio para ouvir sua alma reclamar por paz e padecer com a sensação de vazio existencial. Logo, acham que a tristeza e a frustração são males a serem evitados.
Mas quero estar a sós em silêncio para falar com Deus. Desligar da matéria e dirigir aos céus a minha súplica. Dar voz ao pensamento e contar os segredos guardados no íntimo até brotar a lágrima. Assim, junto ao jardim de delícias da oração alimentar a fé e a esperança.
O silêncio é a ferramenta para a reflexão dos poetas, escritores e filósofos. É o caminho mais sublime para adentrar no mundo das ideias para colher os frutos saborosos da imaginação e do pensamento. No mundo das ideias, os pensadores estabelecem visões de mundo ou reflexões sobre a realidade. Fogem por um instante da realidade para adentrar na aventura imaginária de um mundo perfeito. Ali desenham nas palavras histórias e lições de vida, tiradas das experiências banhadas de paixões comuns a qualquer mortal. Deixam fluir a sensibilidade, a percepção e a imaginação floreada de sonhos fantásticos.
Aliás o conhecimento produzido pela humanidade fala por meio do silêncio da escrita. Isto porque os pensadores estão ausentes ou são homens mortos. A base de todo o pensamento atual está sustentada em cima de homens mortos. Ou seja, morrem-se os homens mais permanecem suas ideias.
Essas ideias existem para serem apresentadas como pérolas nas nossas rodas de conversas, tal como deleite de um jogo de cartas. As opiniões divergentes são palpites que saboreamos com divertidas risadas ou como quadro pintado a várias mãos. Ficamos entretidos pelas ideias para autoconhecer-se, mas nunca para duelarmos pela razão até alcançarmos a solidão vencedora dos argumentos.
O silêncio se opõe a agressividade da gritaria, o palavrório da multidão e dos sons das máquinas. O silêncio pode ser a resposta mais prudente para a estupidez humana. Bem diferente dos estridentes sons que causam irritação e gradativas perdas da audição.
2.    A INTENSIDADE DA VIDA MODERNA
A intensidade da vida moderna faz-nos desacostumar do silêncio. Então o barulho passa a ser reclamado para uma emoção mais intensa nessa rotina alucinante. Busca-se mais adrenalina, pois o estado de êxtase ilude a própria alegria.
Então, diante dos barulhos, perdemos a capacidade de ouvir a simplicidade da música de Deus, produzida por sua obra criadora. É uma voz que soa no momento do silêncio, da calma e na serenidade do espírito.
O tempo moderno tem levado como folha ao vento a suavidade do sussurro. O contraditório do diálogo transforma-se em uma arena de enfrentamento de opiniões divergentes. Aumenta-se a intensidade da voz no calor do debate, podendo evoluir para ofensas até mesmo em questões triviais.
Acostumamo-nos com a velocidade da automação tecnológica presente no nosso cotidiano como se vivêssemos no universo da fantasia. O fetiche trazido pela revolução industrial faz com que o tempo seja absorvida pela eficiência e a padronização. Logo cremos que as maravilhas do conhecimento humano são indispensáveis para termos sensação de bem-estar físico e mental. Ninguém conseguirá sobreviver sem as benesses da tecnologia.
Isto percebemos quando as trevas nos surpreendem, devido aos acidentes da engenharia elétrica. Acontece nos momentos inesperados e a vela ou candeia está escondida no fundo das gavetas por acreditarmos na perenidade da eletricidade. É o mundo perfeito da ciência e da tecnologia que desmorona diante dos nossos olhos. Vem a lembrança do século pretérito marcada pela interação do homem e a natureza para usufruir dos recursos naturais para sua manutenção e sobrevivência. Julgamos que essa experiência representa o atraso da civilização que não foram abençoadas pela produção científica.
Sem os recursos da tecnologia, ficamos como presas frágeis, indefesas diante da eminente ociosidade. Parece que não sabemos o que fazer sem os recursos da mídia para nos entreter. O que diríamos para os nossos infantes acostumados com os recursos online, se forem privados de suas redes sociais?
Isto mostra como a tecnologia criou o engodo da autossuficiência da automação, tornando o homem mero coadjuvante das atividades sociais e econômicas. A inteligência artificial da máquina ganha personalidade própria e submete a rotina humana à sua programação.
Então, descobrimos que não temos segurança para olhar para o retrovisor da nossa história. Parece difícil apanhar as pérolas sagradas na nossa experiência e rirmos dos casos e cacos como algo tão particular e, ao mesmo tempo, sublime.
CONCLUSÃO
Essa perda da sensibilidade é reflexo da ignorância voluntária trazida pelo progresso. Trata-se da mecanização do homem que faz o seu trato diário uma subserviência à lógica do capital. Até mesmo o prazer torna-se uma mercadoria ao sabor das emoções em mundo individualista. Então, as coisas mais sublimes como o amor torna-se coisificado como se fosse possível materializar os sentimentos.
REFERÊNCIAS
BOTTON, Alain de. As consolações da Filosofia. São Paulo: Saraiva, 2012.
______. Desejo de Status. São Paulo: Saraiva, 2013.
CURY. Augusto. Os segredos do Pai-Nosso. A solidão de Deus: um estudo psicológico da oração mais conhecida no mundo. Rio de Janeiro: Sextante, 2006.

LOPES, Hernandes Dias Lopes. Voando nas alturas: dez princípios para uma vida bem sucedida. São Paulo Editora Candeia, 1996.

sexta-feira, 24 de março de 2017

QUANDO AS EXPECTATIVAS FALHAM

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Professor Gelcimar da Silva Pereira Nunes
INTRODUÇÃO
Falar de expectativas é refletir sobre as motivações e convicções que movem os nossos olhos para o lugar onde gostaríamos de estar. Geralmente nossa imaginação faz uma viagem em direção ao sonho como se estivéssemos no oásis da felicidade. Devido a beleza do sonho, nos empenhamos no caminho e no caminhar. Contudo, o caminho do sonho é construído a partir de decisões sábias. Tal como o patriarca hebreu José, não estamos isentos de frustrações e das lições que esses momentos têm para nos ensinar.
O ENCANTO DA EXPECTATIVA
Ao olhar o horizonte, captamos a beleza da montanha que, mesmo diante da sua grandiosidade, não pode ser escondida pela engenharia das construções que povoam o solo do nosso habitat. Percebemos que o encanto da expectativa que temos não pode ser encoberto por maior que seja o obstáculo para alcançá-la. Porém, quanto mais descemos à intimidade do solo, ladeados de obstáculos, mais distante ficamos da possibilidade de contemplar os montes. Na frieza do piso terrestre, temos a materialidade das limitações de que qualquer expectativa se perde em meio ao caos. Doutro modo, precisaremos de força extra para enxergar socorro e refúgio.
Então me lembro que os hebreus, ao entoarem os cânticos das subidas, expressavam o calor da fé inabalável acima das circunstâncias. Eles olhavam para as montanhas para contemplar a esperança do socorro divino. Eles tiveram a grandeza de perceber que a montanha não era apenas obstáculo a ser superado. Podia ser refúgio e esconderijo contra as tempestades mentais e as flechas da autocomiseração. Da montanha, podiam organizar as estratégias com as armas da fé, ter supremacia sobre o medo e alcançar a vitória.
A montanha fala do tamanho da nossa dificuldade e da forma como enxergamos os problemas. Às vezes, o problema é pequeno, mas o medo nos faz perceber como anões lutando contra gigantes. A força do desespero suga as energias físicas e mentais e impõe o seguinte dilema: ter uma postura acovardada ou render-se ao milagre da fé? Desistir ou continuar lutando até triunfar?
Nisto nos ensina o pastor e ativista Martin Luther King (1929 - 1968 a lutar pelos ideais, contrariando as próprias expectativas. Ele lutou com convicção de modo a inspirar pessoas a acreditarem que sua luta era verdadeira e traria equidade social. Logo, mesmo que a batalha seja renhida, não lutamos contra seres humanos, pois eles erram por causa da ignorância. A nossa luta primordial é contra a própria incredulidade em relação ao nosso potencial. Também, lutamos para adquirir conhecimento e nos libertar das algemas da ignorância. Assim, com o conhecimento, poderemos ter convicções sublimes capazes de inspirar outras pessoas. Aliás, verdadeiros líderes não buscam seguidores como se fossem mercadores de ideias. Pelo contrário, atraem seguidores pela riqueza das suas convicções e experiências.
A RELAÇÃO FRACASSO E SUCESSO
O sucesso não é um fenômeno herdado, mas a coroação de um trabalho árduo construído com as pérolas da inteligência, utilizando as oportunidades que surgem no decorrer da existência. Ele é escrito diariamente nas páginas da vida com as tintas preparadas com a lágrima, o suor do cansaço e o calor da ansiedade, com entusiasmo e alegria. Requer sacrifício diário no altar do comprometimento e da obstinação com a causa que nos empenhamos.
O fracasso que experimentamos em nossos empreendimentos não representa o fim da história. Reporta a máxima “de perder para ganhar”, com gota ardente de sacrifício de suor e lágrimas. A tristeza inaugural da derrota nos leva a perguntar: Por quê?  Logo, as perguntas são a fonte para a busca das respostas. O cérebro reúne os elementos racionais para extrair a explicação lógica. Os sentimentos são convocados para imaginar a retrospectivas em flashback de cada ato falho e a desenhar o caminho propício.
Quando as expectativas vão se agigantando a cada dia, ficamos sórdidos na autoconfiança por acreditar no enquadramento da rotina à nossa zona de conforto. Então, descansamos na certeza de que as estratégicas são factíveis para o sucesso dos planos de comodidade no tempo vindouro. Acreditamos que o comprometimento diário se reverterá adiante em um patrimônio moral inesgotável e que o legado será inspirador.
Nossa imaginação flerta com o universo celestial no antegozo do divino. Almejamos a paz sublime repleta da perfeição da natureza e da harmonia fraterna. Nossa ideia máxima é repleta de boas intenções, mas ao celebrar a perfeição no universo fantástico dos sonhos, temos os olhos vendados para os erros inevitáveis.
Na verdade, a infâmia do fracasso é causada pela falta de entendimento da realidade e suas possibilidades. Por isso, pessoas correm de um lado para outro em busca de soluções mágicas e apresentam suas libações no altar das superstições. Muitas dessas superstições se baseiam na onipotência de pensamentos – o meu pensamento tem poder! Então, inconscientemente acreditam na conexão simbólica entre o pensar e o realizar como forma de influenciar os deuses e as forças da natureza. Mas tudo isso, não passa de atalhos ilusórios, paliativos de problemas bem maiores relacionados a autoestima e a incredulidade. Esses atalhos supersticiosos expõem publicamente a crença no panteão da felicidade por meio de escambos espirituais.
A gênese da humanidade é materialista e individualista. Logo o caminho do sucesso tem obstáculos relacionados à corrupção coletiva do gênero humano. A inveja e a trapaça dos outros não devem ser ignoradas nesse empreendimento individual. É possível que alguém te veja como concorrente e não como parceiro da vida. Contudo, não existe voo solitário, dependemos uns dos outros para a consecução dos nossos objetivos.
A bem da verdade, algumas pessoas fizeram a opção de fracassar no projeto existencial e por ignoraram as placas de sinalização da responsabilidade moral. Infelizmente, muitos lançam seu projétil a esmo e, como bala perdida, atingem nossa verdade e confronta a nossa equidade. Aliás, essa é a ilusão de quem utiliza sua liberdade sem consciência da sua responsabilidade moral.
Em cima da tragédia dos fracassados por irresponsabilidade moral e social, surge a ideologia de proteção às vítimas sociais, invertendo os valores da virtude daqueles triunfaram na vida com méritos. Por essa ideologia a culpa pela tragédia dos fracassados é transferida para aqueles que alcançaram o sucesso e a toda a sociedade. Ignoram que o fracasso é consequência da liberdade de consciência e das atitudes erradas como a negligência e a rebeldia.
Há sempre alguém que pensa que a liberdade é salvo conduto para impor seu individualismo e outros adereços do ego até as últimas consequências em busca de satisfação eminentemente carnal. A liberdade tem um valor inigualável, mas impõe limites morais com objetivo de preservar a sociedade da opressão do mais forte sobre o mais fraco. Por isto, o mau uso da liberdade causa separação, violência e degeneração social.
APRENDENDO COM AS ADVERSIDADES
Descobrimos que somos frágeis, como pássaros, diante das tempestades quando são frustrados os planos de voo.  Às vezes, somos induzidos a acreditar que voar é o símbolo maior da liberdade. Contudo, a liberdade real é consequência do autoconhecimento que, por sua vez, pressupõe um aprendizado persistente em dominar os obstáculos. Nossa liberdade de voar nos planos da imaginação depende da força das circunstâncias que, por vezes, se encontra com as adversidades.
Essas adversidades não nos perguntam a oportunidade e intensidade para chegarem a porta da nossa vida. Também, não pedem educadamente licença para entrar nem perguntam se há espaço na nossa agenda e diário de bordo para assumi-la incondicionalmente. Então, a adversidade não aceita suas desculpas de que não está preparado emocionalmente ou que não tem recursos para assumir todas as consequências. Aliás, é impossível prever a dimensão desse oceano de infortuno que tenta nos afogar com suas ondas de ansiedade e stress.
O universo da dor proporciona,, na medida da sua intensidade, a renúncia à autossuficiência e expõe as fragilidades do ser humano mais incauto e arrogante. Nesse momento, busca-se nas trincheiras da alma a arma de defesa mais apropriada para salvar o resquício de egoísmo e individualismo. Aliás, a dor traz a radiografia da fragilidade do bioma humano no confronto direto com a razão.
Claro todos nós somos tentados conforme as nossas convicções e visões de mundo ideal. O universo das ideologias é confrontado quando a nossa expectativa de um mundo perfeito é frustrada por meio de uma fatalidade que vem em nosso encontro.
Então, somos provados quanto a resistência emocional para lidar com os problemas. Somos bombardeados intensamente por questionamentos relacionados à justiça e à equidade do caráter. Além disso, brota sentimento de culpa e de autocomiseração.
CONCLUSÃO
O âmago do ser humano é ter vida estável isenta de frustrações, mesmo consciente dessa impossibilidade. Ensejamos pelos estritos parâmetros da felicidade como se a existência finita se esgotasse nas perspectivas de um mundo perfeito. Por outro, saturamos com a rotina e desejamos que a experiência seja renovada para que nossa história seja coroada de glórias. Contudo, as lutas são elementos desafiadores para os nossos processos mentais e, de forma inequívoca, torneiam a nossa inteligência, dando-nos as estratégias para triunfar.
Entendemos que a história é dinâmica tal como um barco que navega no oceano da existência. Às vezes navegamos nas águas calmas da rotina e da acomodação e ficamos satisfeitos com a liberdade da nossa felicidade. Em outros momentos, as ondas tenebrosas dos acontecimentos nos querem afogar nos sentimentos de desespero e desânimo. Então, percebemos que a reflexão sobre o propósito da adversidade nos levará a um aprendizado.
REFERÊNCIAS
BOTTON, Alain de. As consolações da Filosofia. São Paulo: Saraiva, 2012.
______. Desejo de Status. São Paulo: Saraiva, 2013.
BRIZOTTI, Alan. Identidade Cristã: resgatando a verdadeira identidade. São Paulo: Primícias, 2013
KOYZIS, David T. Visões e ilusões políticas: uma análise e crítica cristã das ideologias contemporâneas. São Paulo: Editora Vida Nova, 2014.

LOPES, Hernandes Dias. Voando nas alturas. São Paulo: Hagnos, 2015