Professor
Gelcimar da Silva Pereira Nunes
INTRODUÇÃO
Há
tempos, busco a inspiração para falar sobre a sensibilidade que aflora da voz
do coração. Falar da expressão de louvor da natureza na sua forma mais singela.
Isto despido da automação da vida moderna que suga nossas energias mentais. Por
vivermos na era da velocidade, ficamos cegos com o pragmatismo da máquina e da
rotina burocrática. É preciso desacelerar para descansar os olhos e ouvidos da
poluição visual e sonoro que nos acomete.
1.
A
MÚSICA DE DEUS
Gosto muito de ouvir
os diferentes sons e perceber a variedade de tons que existem na natureza. A beleza
da criação se revela na orquestra dos pássaros e no sussurrar das folhas das
árvores ao som do vento. São sons maravilhosos que não agridem os ouvidos e
enlevam a alma. Por isto, gosto da música de Deus executada pela orquestra
sinfônica da natureza.
Esse louvor divino da
natureza se apresenta no decorrer do dia de forma espontânea sem cobrar
aplausos. É o testemunho de que a natureza dada aos filhos dos homens é
perfeita e harmônica. A beleza natural da paisagem traz o aprendizado para os
sentidos, resgatando o sabor da existência. As vezes parece que o homem é parte
distinta da natureza sem comunhão com os demais elementos.
A sensibilidade
parece inédita quando há comunhão com a natureza. Ocorre a restauração da
acuidade que se perdeu no decorrer da aceleração do movimento humano. Trata-se
de fechar os olhos e ouvir as batidas do coração para sentir o brilho do sol
aquecer o corpo e alma. Então, nota-se que existe uma cegueira de entendimento
para compreender a vida com sua singeleza. Há uma perda da sensibilidade de
viver o prazer da contemplação do belo e ouvir o encanto dos sons inaudíveis da
natureza.
Só ouvimos a música de
Deus quando temos o silêncio como pausa para a meditação e a reflexão. Nossa
vida reclama por essa pausa para descansarmos os órgãos do sentido da agitação
diária. Não é preciso tirar férias e viajar para contemplar os ecossistemas
naturais. Basta olhar em redor e ver a maior natureza de Deus que é o ser
humano. Essa natureza são imagem e semelhança que resvala no divino e reclama
no seu íntimo por interação espiritual. Pena que muitos destroem a sua vida por
desconhecer essa verdade. Por desconhecer seu valor não veem a grandeza da alma
e julgam ser a mais insignificante das criaturas.
O silêncio parece
monótono e invoca percepções de tédio, confundindo com a própria solidão. Mas o
silêncio dá a oportunidade para ouvirmos a voz da alma e seus ensejos mais
profundos. Pena que muitos têm medo estar sozinho em silêncio para ouvir sua
alma reclamar por paz e padecer com a sensação de vazio existencial. Logo, acham
que a tristeza e a frustração são males a serem evitados.
Mas quero estar a sós
em silêncio para falar com Deus. Desligar da matéria e dirigir aos céus a minha
súplica. Dar voz ao pensamento e contar os segredos guardados no íntimo até
brotar a lágrima. Assim, junto ao jardim de delícias da oração alimentar a fé e
a esperança.
O silêncio é a
ferramenta para a reflexão dos poetas, escritores e filósofos. É o caminho mais
sublime para adentrar no mundo das ideias para colher os frutos saborosos da
imaginação e do pensamento. No mundo das ideias, os pensadores estabelecem
visões de mundo ou reflexões sobre a realidade. Fogem por um instante da
realidade para adentrar na aventura imaginária de um mundo perfeito. Ali
desenham nas palavras histórias e lições de vida, tiradas das experiências
banhadas de paixões comuns a qualquer mortal. Deixam fluir a sensibilidade, a
percepção e a imaginação floreada de sonhos fantásticos.
Aliás o conhecimento
produzido pela humanidade fala por meio do silêncio da escrita. Isto porque os
pensadores estão ausentes ou são homens mortos. A base de todo o pensamento
atual está sustentada em cima de homens mortos. Ou seja, morrem-se os homens
mais permanecem suas ideias.
Essas ideias existem
para serem apresentadas como pérolas nas nossas rodas de conversas, tal como
deleite de um jogo de cartas. As opiniões divergentes são palpites que
saboreamos com divertidas risadas ou como quadro pintado a várias mãos. Ficamos
entretidos pelas ideias para autoconhecer-se, mas nunca para duelarmos pela
razão até alcançarmos a solidão vencedora dos argumentos.
O silêncio se opõe a
agressividade da gritaria, o palavrório da multidão e dos sons das máquinas. O
silêncio pode ser a resposta mais prudente para a estupidez humana. Bem
diferente dos estridentes sons que causam irritação e gradativas perdas da
audição.
2.
A INTENSIDADE
DA VIDA MODERNA
A intensidade da vida
moderna faz-nos desacostumar do silêncio. Então o barulho passa a ser reclamado
para uma emoção mais intensa nessa rotina alucinante. Busca-se mais adrenalina,
pois o estado de êxtase ilude a própria alegria.
Então, diante dos
barulhos, perdemos a capacidade de ouvir a simplicidade da música de Deus,
produzida por sua obra criadora. É uma voz que soa no momento do silêncio, da
calma e na serenidade do espírito.
O tempo moderno tem
levado como folha ao vento a suavidade do sussurro. O contraditório do diálogo
transforma-se em uma arena de enfrentamento de opiniões divergentes. Aumenta-se
a intensidade da voz no calor do debate, podendo evoluir para ofensas até mesmo
em questões triviais.
Acostumamo-nos com a
velocidade da automação tecnológica presente no nosso cotidiano como se
vivêssemos no universo da fantasia. O fetiche trazido pela revolução industrial
faz com que o tempo seja absorvida pela eficiência e a padronização. Logo
cremos que as maravilhas do conhecimento humano são indispensáveis para termos
sensação de bem-estar físico e mental. Ninguém conseguirá sobreviver sem as
benesses da tecnologia.
Isto percebemos
quando as trevas nos surpreendem, devido aos acidentes da engenharia elétrica.
Acontece nos momentos inesperados e a vela ou candeia está escondida no fundo
das gavetas por acreditarmos na perenidade da eletricidade. É o mundo perfeito
da ciência e da tecnologia que desmorona diante dos nossos olhos. Vem a
lembrança do século pretérito marcada pela interação do homem e a natureza para
usufruir dos recursos naturais para sua manutenção e sobrevivência. Julgamos
que essa experiência representa o atraso da civilização que não foram
abençoadas pela produção científica.
Sem os recursos da
tecnologia, ficamos como presas frágeis, indefesas diante da eminente
ociosidade. Parece que não sabemos o que fazer sem os recursos da mídia para
nos entreter. O que diríamos para os nossos infantes acostumados com os
recursos online, se forem privados de suas redes sociais?
Isto mostra como a
tecnologia criou o engodo da autossuficiência da automação, tornando o homem
mero coadjuvante das atividades sociais e econômicas. A inteligência artificial
da máquina ganha personalidade própria e submete a rotina humana à sua
programação.
Então, descobrimos
que não temos segurança para olhar para o retrovisor da nossa história. Parece
difícil apanhar as pérolas sagradas na nossa experiência e rirmos dos casos e
cacos como algo tão particular e, ao mesmo tempo, sublime.
CONCLUSÃO
Essa perda da
sensibilidade é reflexo da ignorância voluntária trazida pelo progresso.
Trata-se da mecanização do homem que faz o seu trato diário uma subserviência à
lógica do capital. Até mesmo o prazer torna-se uma mercadoria ao sabor das
emoções em mundo individualista. Então, as coisas mais sublimes como o amor
torna-se coisificado como se fosse possível materializar os sentimentos.
REFERÊNCIAS
BOTTON, Alain de. As consolações da Filosofia. São Paulo:
Saraiva, 2012.
______. Desejo de
Status. São Paulo: Saraiva, 2013.
CURY.
Augusto. Os segredos do Pai-Nosso. A solidão de Deus: um estudo psicológico da
oração mais conhecida no mundo. Rio de Janeiro: Sextante, 2006.
LOPES,
Hernandes Dias Lopes. Voando nas alturas: dez princípios para uma vida bem
sucedida. São Paulo Editora Candeia, 1996.