Professor Gelcimar da Silva Pereira
Nunes
INTRODUÇÃO
Falar de expectativas
é refletir sobre as motivações e convicções que movem os nossos olhos para o
lugar onde gostaríamos de estar. Geralmente nossa imaginação faz uma viagem em
direção ao sonho como se estivéssemos no oásis da felicidade. Devido a beleza
do sonho, nos empenhamos no caminho e no caminhar. Contudo, o caminho do sonho é
construído a partir de decisões sábias. Tal como o patriarca hebreu José, não
estamos isentos de frustrações e das lições que esses momentos têm para nos
ensinar.
O
ENCANTO DA EXPECTATIVA
Ao olhar o horizonte, captamos a beleza da montanha que, mesmo diante da sua grandiosidade, não pode
ser escondida pela engenharia das construções que povoam o solo do nosso
habitat. Percebemos que o encanto da expectativa que temos não pode ser
encoberto por maior que seja o obstáculo para alcançá-la. Porém, quanto mais
descemos à intimidade do solo, ladeados de obstáculos, mais distante ficamos da possibilidade
de contemplar os montes. Na frieza do piso
terrestre, temos a materialidade das limitações de que qualquer expectativa se
perde em meio ao caos. Doutro modo, precisaremos de força extra para enxergar
socorro e refúgio.
Então me lembro que
os hebreus, ao entoarem os cânticos das subidas, expressavam o calor da fé
inabalável acima das circunstâncias. Eles olhavam para as montanhas para
contemplar a esperança do socorro divino. Eles tiveram a grandeza de perceber
que a montanha não era apenas obstáculo a ser superado. Podia ser refúgio e
esconderijo contra as tempestades mentais e as flechas da autocomiseração. Da
montanha, podiam organizar as estratégias com as armas da fé, ter supremacia
sobre o medo e alcançar a vitória.
A montanha fala do
tamanho da nossa dificuldade e da forma como enxergamos os problemas. Às vezes,
o problema é pequeno, mas o medo nos faz perceber como anões lutando contra
gigantes. A força do desespero suga as energias físicas e mentais e impõe o
seguinte dilema: ter uma postura acovardada ou render-se ao milagre da fé?
Desistir ou continuar lutando até triunfar?
Nisto nos ensina o
pastor e ativista Martin Luther King (1929 - 1968 a lutar pelos ideais,
contrariando as próprias expectativas. Ele lutou com convicção de modo a
inspirar pessoas a acreditarem que sua luta era verdadeira e traria equidade
social. Logo, mesmo que a batalha seja renhida, não lutamos contra seres
humanos, pois eles erram por causa da ignorância. A nossa luta primordial é
contra a própria incredulidade em relação ao nosso potencial. Também, lutamos
para adquirir conhecimento e nos libertar das algemas da ignorância. Assim, com
o conhecimento, poderemos ter convicções sublimes capazes de inspirar outras pessoas.
Aliás, verdadeiros líderes não buscam seguidores como se fossem mercadores de
ideias. Pelo contrário, atraem seguidores pela riqueza das suas convicções e experiências.
A
RELAÇÃO FRACASSO E SUCESSO
O sucesso não é um
fenômeno herdado, mas a coroação de um trabalho árduo construído com as pérolas
da inteligência, utilizando as oportunidades que surgem no decorrer da
existência. Ele é escrito diariamente nas páginas da vida com as tintas
preparadas com a lágrima, o suor do cansaço e o calor da ansiedade, com entusiasmo e alegria. Requer sacrifício diário no altar do comprometimento e
da obstinação com a causa que nos empenhamos.
O fracasso que
experimentamos em nossos empreendimentos não representa o fim da história. Reporta
a máxima “de perder para ganhar”, com
gota ardente de sacrifício de suor e lágrimas. A tristeza inaugural da derrota
nos leva a perguntar: Por quê? Logo, as perguntas são a fonte para a busca
das respostas. O cérebro reúne os elementos racionais para extrair a explicação
lógica. Os sentimentos são convocados para imaginar a retrospectivas em
flashback de cada ato falho e a desenhar o caminho propício.
Quando as
expectativas vão se agigantando a cada dia, ficamos sórdidos na autoconfiança
por acreditar no enquadramento da rotina à nossa zona de conforto. Então,
descansamos na certeza de que as estratégicas são factíveis para o sucesso dos
planos de comodidade no tempo vindouro. Acreditamos que o comprometimento
diário se reverterá adiante em um patrimônio moral inesgotável e que o legado
será inspirador.
Nossa imaginação
flerta com o universo celestial no antegozo do divino. Almejamos a paz sublime
repleta da perfeição da natureza e da harmonia fraterna. Nossa ideia máxima é
repleta de boas intenções, mas ao celebrar a perfeição no universo fantástico
dos sonhos, temos os olhos vendados para os erros inevitáveis.
Na verdade, a infâmia
do fracasso é causada pela falta de entendimento da realidade e suas
possibilidades. Por isso, pessoas correm de um lado para outro em busca de
soluções mágicas e apresentam suas libações no altar das superstições. Muitas
dessas superstições se baseiam na onipotência de pensamentos – o meu pensamento tem poder! Então,
inconscientemente acreditam na conexão simbólica entre o pensar e o realizar
como forma de influenciar os deuses e as forças da natureza. Mas tudo isso, não
passa de atalhos ilusórios, paliativos de problemas bem maiores relacionados a
autoestima e a incredulidade. Esses atalhos supersticiosos expõem publicamente
a crença no panteão da felicidade por meio de escambos espirituais.
A gênese da
humanidade é materialista e individualista. Logo o caminho do sucesso tem
obstáculos relacionados à corrupção coletiva do gênero humano. A inveja e a
trapaça dos outros não devem ser ignoradas nesse empreendimento individual. É possível
que alguém te veja como concorrente e não como parceiro da vida. Contudo, não existe
voo solitário, dependemos uns dos outros para a consecução dos nossos
objetivos.
A bem da verdade, algumas
pessoas fizeram a opção de fracassar no projeto existencial e por ignoraram as
placas de sinalização da responsabilidade moral. Infelizmente, muitos lançam seu
projétil a esmo e, como bala perdida, atingem nossa verdade e confronta a nossa equidade. Aliás,
essa é a ilusão de quem utiliza sua liberdade sem consciência da sua responsabilidade
moral.
Em cima da tragédia dos
fracassados por irresponsabilidade moral e social, surge a ideologia de
proteção às vítimas sociais, invertendo os valores da virtude daqueles
triunfaram na vida com méritos. Por essa ideologia a culpa pela tragédia dos
fracassados é transferida para aqueles que alcançaram o sucesso e a toda a
sociedade. Ignoram que o fracasso é consequência da liberdade de consciência e
das atitudes erradas como a negligência e a rebeldia.
Há sempre alguém que
pensa que a liberdade é salvo conduto para impor seu individualismo e
outros adereços do ego até as últimas consequências em busca de satisfação
eminentemente carnal. A liberdade tem um valor inigualável, mas impõe limites
morais com objetivo de preservar a sociedade da opressão do mais forte sobre o
mais fraco. Por isto, o mau uso da liberdade causa separação, violência e
degeneração social.
APRENDENDO
COM AS ADVERSIDADES
Descobrimos que somos
frágeis, como pássaros, diante das tempestades quando são frustrados os planos de voo. Às vezes, somos induzidos
a acreditar que voar é o símbolo maior da liberdade. Contudo, a liberdade real é
consequência do autoconhecimento que, por sua vez, pressupõe um aprendizado
persistente em dominar os obstáculos. Nossa liberdade de voar nos planos da
imaginação depende da força das circunstâncias que, por vezes, se encontra com
as adversidades.
Essas adversidades
não nos perguntam a oportunidade e intensidade para chegarem a porta da nossa
vida. Também, não pedem educadamente licença para entrar nem perguntam se há
espaço na nossa agenda e diário de bordo para assumi-la incondicionalmente. Então,
a adversidade não aceita suas desculpas de que não está preparado
emocionalmente ou que não tem recursos para assumir todas as consequências.
Aliás, é impossível prever a dimensão desse oceano de infortuno que tenta nos
afogar com suas ondas de ansiedade e stress.
O universo da dor
proporciona,, na medida da sua intensidade, a renúncia à autossuficiência e
expõe as fragilidades do ser humano mais incauto e arrogante. Nesse momento,
busca-se nas trincheiras da alma a arma de defesa mais apropriada para salvar o
resquício de egoísmo e individualismo. Aliás, a dor traz a radiografia da
fragilidade do bioma humano no confronto direto com a razão.
Claro todos nós somos
tentados conforme as nossas convicções e visões de mundo ideal. O universo das
ideologias é confrontado quando a nossa expectativa de um mundo perfeito é
frustrada por meio de uma fatalidade que vem em nosso encontro.
Então, somos provados
quanto a resistência emocional para lidar com os problemas. Somos bombardeados
intensamente por questionamentos relacionados à justiça e à equidade do
caráter. Além disso, brota sentimento de culpa e de autocomiseração.
CONCLUSÃO
O âmago do ser humano
é ter vida estável isenta de frustrações, mesmo consciente dessa
impossibilidade. Ensejamos pelos estritos parâmetros da felicidade como se a
existência finita se esgotasse nas perspectivas de um mundo perfeito. Por
outro, saturamos com a rotina e desejamos que a experiência seja renovada para
que nossa história seja coroada de glórias. Contudo, as lutas são elementos
desafiadores para os nossos processos mentais e, de forma inequívoca, torneiam
a nossa inteligência, dando-nos as estratégias para triunfar.
Entendemos que a história
é dinâmica tal como um barco que navega no oceano da existência. Às vezes
navegamos nas águas calmas da rotina e da acomodação e ficamos satisfeitos com a
liberdade da nossa felicidade. Em outros momentos, as ondas tenebrosas dos
acontecimentos nos querem afogar nos sentimentos de desespero e desânimo.
Então, percebemos que a reflexão sobre o propósito da adversidade nos levará a
um aprendizado.
REFERÊNCIAS
BOTTON, Alain de. As consolações da Filosofia. São Paulo:
Saraiva, 2012.
______. Desejo de
Status. São Paulo: Saraiva, 2013.
BRIZOTTI, Alan.
Identidade Cristã: resgatando a verdadeira identidade. São Paulo: Primícias,
2013
KOYZIS, David T. Visões e ilusões políticas: uma análise
e crítica cristã das ideologias contemporâneas. São Paulo: Editora Vida Nova,
2014.
LOPES, Hernandes
Dias. Voando nas alturas. São Paulo:
Hagnos, 2015
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