sábado, 29 de dezembro de 2012

ALGUMAS RETROSPECTIVAS E EXPECTATIVAS


Professor Gelcimar da Silva Pereira Nunes
INTRODUÇÃO

Agora fico a espreita das novidades que vão surgir como ritual de encerramento do ano. Parte desses rituais, senão a maioria, está revestida da superstição – crendices de natureza duvidosa, lançadas como aposta da expectativa de sucesso e inibidores de frustrações. Não acredito nesses rituais embora leia os jornais em busca uma explicação empírica para tamanha atenção a essa rotina mal fadada de sortilégios. Não sei por que as mídias insistem em dar voz aos enganosos arautos que escondem suas previsões em palavras subordinadas: “pode acontecer”, “há possibilidade de” e não se fixam em informações tácitas. Nada eles afirmam com convicção. É tudo especulação, mas, mesmo assim, a mídia dá voz a esses imbecis apesar dos grotescos erros de previsão.
MINHAS RETROSPECTIVAS
Vejo com indiferença as previsões, publicadas em jornais de grande circulação, que anunciam sorte e desastres para pessoas famosas e até mesmo para o país. Fico impressionado como essas previsões tem tanta credibilidade nos meios de comunicação que advogam a laicidade do Estado nos confrontos diretos com os religiosos cristãos. Parecem-me que praticam a conveniência ou simpatia pelas vertentes religiosas mais liberais a devassidão da sociedade.
Alguns rituais são cultivados no momento do réveillon quando algumas pessoas resolvem pular sete ondas, fazer preces a entidades, vestir lingerie específico e comer determinada comida ensejando sorte no ano vindouro. Essas práticas remetem ao animismo; ou seja, são práticas que intentam influenciar os deuses ou mudar o curso da natureza. Contudo, se acreditamos em Deus, sabemos que nada mudará seus desígnios nem mesmo com todos os rituais do mundo. Também, são nossas ações que apontam o futuro e indicam o resultado que iremos obter.
Em busca de algo mais racional, lembrei-me da retrospectiva idealizada pelo Dr. Mario Sergio Cortella, filósofo, teólogo, mestre e doutor em Educação pela Pontifica Universidade Católica - PUC de São Paulo. Ele propõe relacionar todos os erros e acertos no decorrer do ano e, a partir das enumerações, empenhar-se a modificar hábitos e comportamentos para não repetir os mesmo erros cometidos ao longo do ano. Dificilmente alguém vai pegar uma folha de papel dividi-la ao meio e escrever o que deu certo e o que deu errado e, depois, no seu verso, escrever de um lado “não vou mais fazer...” e, no outro lado, escrever “vou me empenhar para fazer...”, relacionando cada item. Essa prática remete à reflexão e a tomada de decisão, mas nem todos estão propensos a fazer.
A fórmula da perspectiva não tem o caráter alienante, é analista e realista ao mesmo tempo e convida-nos a uma tomada de decisão. Gosto dessa análise por que ela não nos coloca em posição passiva diante do amanhã que descortinará diante dos nossos olhos. Por outro lado, conclama-nos a responsabilidade nas decisões para fazer o próximo ano com as conquistas que almejamos e não ficarmos, simplesmente, ensejando sorte no amor, nas finanças, etc. Como sabemos a vida é marcada por resoluções e é preciso cultivar a coragem para mudar, de cuidar da nossa saúde e empenhar-se para o equilíbrio nas finanças. Portanto, convém evitar a sedução do consumismo, uma vida desregrada e cultivarmos relacionamentos sadios.
Ao final de cada ano, gosto das mensagens de otimismo recebidas onde o ano vindouro se reveste do belo com as áureas bênçãos do Eterno. Tenho armazenado vários slides, inclusive aquele que eu gosto muito: “A partir do próximo amanhecer”.  Fico feliz pelas expectativas de as pessoas fazer diferenças no próximo ano. São iniciativas contagiadas pelo ambiente da fraternidade e dos excessos do Natal. Contudo, nos primeiros meses, rompe-se a realidade dos desafios do ano e, a exemplo do anterior, algumas pessoas ficam apreensivas e dizem: “esse ano vai ser difícil”.
Agora, nesse cenário de crise econômica mundial que persiste há 03 anos, tem pessoas preocupadas com o emprego, com as finanças da empresa e com a manutenção do status quo. Alguns analisam que esse ano foi difícil e o resultado ficou abaixo das expectativas e que o próximo ano está envolto de incertezas. Claro, o futuro imediato e o distante não existem de forma clara diante dos nossos olhos, pois está sendo construído agora.
O que estamos colhendo foi plantado no passado com o conhecimento e a ignorância de gerações anteriores: aquecimento global, crise econômica, guerra, etc. Se persistir a prática dos mesmos erros, como está acontecendo, estaremos caminhando conforme as expectativas pessimistas dos cientistas da natureza. Eles reconhecem que a humanidade tem recebido preço alto por causa da ganância, razão do imenso abismo entre ricos e pobres, guerras, fome, moléstias e calamidades naturais. Consideram que os efeitos são inevitáveis e que a terra será um planeta inabitável se alguma providência não for tomada. Agora, alguns setores perceberam que a questão é séria. Não se trata de uma gritaria infame dos ecologistas e dos críticos dos males do capitalismo e da globalização; que é necessária a utilização racional dos recursos naturais e ter responsabilidade solidária e compromisso com o resgate social das pessoais que vivem realidades de exclusão.
MINHAS EXPECTATIVAS
Apesar de todas as expectativas de infortúnio, sou otimista e determinado a superar desafios. Quero estar de alma lavada e espírito renovado para lidar com as dificuldades e empenhar-se para vencê-las. Considero a disciplina um dos recursos mais eficientes para as grandes conquistas, pois sem planejamento, respeito às regras e às pessoas ficamos a mercê dos nossos impulsos e não tomamos decisões certas. Às vezes uma decisão errada muda o curso da vida e suas consequências acompanham a pessoa até o final dos seus dias. Portanto, fico muito atento às situações que podem comprometer a vida moral e aquelas que atentam contra a família, a vida social e profissional.  Por isso, sempre me lembro de um conselho recebido: “o homem que perdeu a sua moral e a sua dignidade, perdeu tudo”. Essa é a razão por que sou seletivo em fazer amizades. Prefiro ter poucos amigos que sejam verdadeiros do que estar cercado de bajuladores.
Esse é motivo pelo qual acredito que o novo ano será o espelho das minhas alegrias e das minhas frustrações, mas tudo depende das decisões a que vier tomar: certas ou erradas. Claro, sou responsável pelos meus atos e por eles sou cobrado na consciência e pelas pessoas que convivo. Mas, sobretudo, desenho um cenário de realizações, com vigores mental e físico, não se curvando diante das circunstâncias e envolvido de fé e de esperança. Assim, quero acordar no novo dia com a serenidade de um menino com o brilho nos olhos e com essa força para vencer.
CONCLUSÃO
Agora é o momento de encerrar o ano com agradecimentos: a Deus, a família e aos amigos que sempre estiveram do nosso lado em todos os momentos. Aprendi a ser agradecido em tudo e a reconhecer os meus limites. Não conseguiria fazer quase que imaginei sozinho. Precisei da força do Eterno e da solidariedade de pessoas próximas que me iluminaram com o seu afeto e atenção. Enfim que o próximo ano, atenda as nossas expectativas de sucesso e de vitórias.
BIBLIOGRAFIA
Vou recomendar a leitura do livro:
LOPES, Hernandes Dias. Voando nas Alturas: dez princípios para uma vida bem sucedida. São Paulo, Editora Candeia, 1996.

domingo, 25 de novembro de 2012

AS RESOLUÇÕES DA VIDA



Professor Gelcimar da Silva Pereira Nunes
INTRODUCÃO
Acredito que a nossa vida é marcada por resoluções. Simplesmente, por que ela é feita de escolhas e situações que colocam à prova a nossa integridade e indicam como passaremos o resto da existência. Considero que sempre nos depararemos com situações desafiadoras do ponto de vista moral, social e cultural. Por vezes, o nosso centro de decisão está defronte da bifurcação do bem e do mal. Interessante como somos tentados de acordo com os nossos desejos mais sórdidos e como é posta à prova a nossa capacidade de racionalidade e decisão. Portanto, devemos ter resoluções para exercitar a renúncia e a disciplina constante dos nossos impulsos.
NOSSAS REFERÊNCIAS PARA VIDA
Periodicamente, releio as 70 Resoluções do filósofo, pastor e missionário Jonathan Edwards (1703-1758) como inspiração para uma análise de natureza moral. Considero essas Resoluções válidas no plano das virtudes excelentes do Cristianismo que o ser humano deve almejar e empenhar-se para vivê-las cotidianamente.
O reverendo Jonathan Edwards foi um homem a frente da sua época. Ele confrontou a hipocrisia e a superficialidade da vida, chamando a atenção para a coerência acerca da crença, da prática e da transparência que deve marcar a vida cotidiana. Um dos argumentos que utilizou é que devemos não apenas crer na verdade, mas examiná-la no íntimo em busca das imperfeições, verificando os resquícios do ciclo da influência perversa que nos envolve com o seu egocentrismo, vaidade e vingança. Por outro lado, convida-nos a encetar a prática do bem, da reflexão diária, do arrependimento e da disciplina no falar e agir.
O ilustre reverendo traz uma reflexão sobre as consequências de nossas ações para nós mesmos e para os outros. Suas reflexões têm uma intenção profilática, desnudando os planos mais intensos da alma humana: sentimentos, inteligência e vontade. 
Gosto do conceito das palavras embora algumas tenham definições imprecisas. Por exemplo: não podemos definir explicitamente o que são sentimentos. Apenas podemos identificá-los pelas reações físicas e emocionais do corpo em determinadas situações e dizemos que temos: alegria, tristeza, raiva, etc. Por isto, desconhecemos o encoberto no coração (sede desses sentimentos) e, às vezes, negamos sentirmos o que os outros insistentemente veem nítido em nós. Então, cito a sinceridade do apóstolo Paulo que disse: “se nós examinássemos a nós mesmos, não seríamos julgados...”
Considero a leitura dessas resoluções um recurso adicional para a reflexão. Gosto muito da definição do professor e filósofo Anacleto Rodrigues da Silva, da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES): “Reflexão é voltar para dentro de si mesmo”. Imagino que se o homem fosse um ecossistema e se alguém caminhasse dentro de si mesmo, iria perceber a necessidade permanente de mudança. Ficaria incomodado ao ver, no seu interior, os sonhos mais sombrios do inconsciente e as imagens distorcidas produzidas pelo pensamento nos momentos de raiva e tristeza. Também, ficaria decepcionado com os talentos e dons armazenados que poderiam ser utilizados em benefício do próximo, mas foram desperdiçados para a satisfação dos impulsos mais mesquinhos, para a glorificação do ego e o esnobismo.
Para alguns pensar a vida é perda de tempo. Dizem que alguém se julga acima do bem e do mal ou mais excelente do que os demais seres humanos. Porém, acredito que a reflexão, a prática do bem e da verdade deve ser o compromisso de todos os homens e não daqueles ditos religiosos. Costumo dizer que não preciso invocar o rótulo de cristão para provar que sou honesto e verdadeiro. Aliás, não preciso de rótulos e protocolos para afirmar minha natureza moral, minha personalidade. Reporto a palavra de um homem simples e iletrado, mais sábio em seu íntimo: “o homem que perdeu sua moral, perdeu tudo e não sente mais vergonha do seu erro”.
A integridade é uma riqueza inestimável e está acima de qualquer bem material ou fama, pois o caráter está acima da reputação. O caráter é o que a pessoa realmente é; a reputação é o que as pessoas dizem. Logo, podem existir pessoas de má índole, mas de boa reputação até que um dia a máscara caia de seu rosto.
Considero as Resoluções de Jonathan Edwards um convite ao exercício diário do domínio próprio. Ou seja, é um recurso didático que ajuda estabelecer limites sobre os impulsos da natureza humana. No domínio próprio, a razão analisa as virtudes e as consequências de cada ato pensado, assessorando a vontade a determinar o que é mais conveniente no plano moral e espiritual, mesmo que o corpo venha padecer com manha dos desejos não atendidos. Para quem anseia as virtudes mais excelentes do Cristianismo, o domínio próprio coroa uma vida com moderação, proporcionando equilíbrio no pensar, no falar e no agir com segurança.
Reafirmo que a satisfação dos desejos isenta de julgamento moral do que é lícito, agradável e de boa fama, poderá representar prejuízos para si e para o próximo.  Quando jovem, o homem se dá o luxo de ser traído pelos arroubos da paixão e cometer muitos erros, sendo alguns considerados infantis. Tais equívocos podem ser explicados pelo espírito aventureiro e afoito do jovem, mas é um ingrediente natural válido para a sua maturidade. Depois, ele percebe que as coisas poderiam ser feitas de outra maneira e passa a refletir os prejuízos causados à sua vida. Isso é determinante para a resolução de não cometer os mesmos erros e não ser apressado em tomar decisões. Mesmo assim, nem todos se tocam que precisam mudar e continuam cometendo os mesmo erros dos tempos da juventude.
Agora percebo que a observância de regras não me faz herói nem mártir. Por outro lado, não me considero um homem à frente nem atrás do meu tempo. Quero apenas ser autêntico. Procuro não tomar decisões em busca de louvor de uma plateia frenética. Ainda que fosse o único homem na terra a pensar o bem não furtaria os meus dias em viver segundo as minhas convicções. A verdade, a justiça e a moralidade nem sempre está com a maioria.
A ARTE DE MENTOREAR PESSOAS
Reconheço a referência e a influência de muitas pessoas que ajudaram a moldar o meu caráter e a minha personalidade. Pessoas dentro da minha família e outras que me enriqueceram com os seus conhecimentos e experiências. Alguns, mesmo sem saber, foram os meus mentores com suas noções de liderança e autonomia. Agora dada a capacidade de ser influenciado e de buscar as melhores referências, no que me compete influenciarei outras pessoas.
Acredito que a nobre vocação de mentorear pessoas é iluminada por preceitos elevados de consciência moral. Dentre várias definições, apresento o mentor como àquele que transmite bagagem de conhecimentos e experiências a pupilos, no sentido de orientá-los, facilitar seu autodescobrimento e o aperfeiçoamento de suas potencialidades de liderança. Os mentores são marcados pelas suas convicções e na forma como é percebida nitidamente a sua filosofia de vida que o torna distinto dos demais. Via-de-regra, o ser humano busca inspirar-se em pessoas mais excelentes que lhe possa ensinar alguma coisa.  Apresento Jesus como o melhor mentor de todos os tempos: instruiu doze pupilos e os fez fundamento da doutrina do Cristianismo que explodiu no mundo.
Fico impressionado com a desonestidade intelectual do politicamente correto, ditada por uma onda de formadores de opinião que usam a mídia para propalar seu estilo de vida incongruente, parcial e relativista. Pergunto como pessoas com estilo de vida dissoluto querem ser mentoras de ampla maioria da população como se fossem arautos da verdade. A desonestidade é marcada pela imposição ideológica repetitiva de uma ideia de felicidade como ostentação e poder. O clima festivo das propagandas com modelos bem vestidas, com carros e bebidas mostram um estilo de vida inacessível à maioria da população. Traduzem a universalidade do sonho como máxima do capitalismo juntamente com a deturpação dos valores.
Pergunto como pessoas neófitas e de má índole passam a serem mentoras de gente imatura e passional? Agora imagine o problema de muitos pais que perderam a capacidade de serem mentores de seus filhos, por falta de autoridade e exemplo. Tenho a reconhecer que o ser humano é egocêntrico por natureza. Basta observar como uma criança faz manha e diz insistentemente: “eu quero!” Para os psicólogos, o egocentrismo da criança se justifica pela sua imaturidade física, biológica, moral, intelectual e emocional, que a leva a pensar como centro das atenções e a exigir o atendimento das vontades até as últimas consequências. Sem a disciplina imposta pelos adultos, as crianças se tornaram pequenas ditadoras e um problema enorme para os pais e a sociedade.
Após ler alguns livros e textos sobre a educação das crianças, percebo que não há receita mágica, além do ensino pelo exemplo. As crianças não são “ratinhos de laboratório” que podem ser manipuladas ao bel prazer. A expressão “criar filhos” não se aplica mais ao contexto atual, mesmo repleta de boas intenções. A educação das crianças concorre com os valores invertidos dos diversos grupos sociais, da mídia e de algumas instituições. Claro, já foi o tempo em que escola era o refúgio das crianças contra a ignorância e uma porta de esperança para o sucesso pessoal e profissional. Hoje, a escola é a fronteira entre todas as expectativas de formação integral do homem e a sedução das drogas, promiscuidade e outras ilicitudes. Digo fronteira porque é o local em que trava as batalhas e a maior delas ocorre no plano da consciência, no julgamento moral do certo e do errado. Lamentavelmente, muitos lares não são mais fronteiras, mas verdadeiros campos de guerra entre marido, esposa e filhos.
CONCLUSÃO
A virtude é cultivada no silêncio do coração e na solidão do compromisso individual que cada um faz com a sua própria consciência. É uma questão de convicção própria daquilo que é moral, lícito, honesto, íntegro. Gosto da palavra integridade que traduz a ideia de inteiro, sem trincas, irrepreensível. Quando alguém se torna repreensível é porque deu legalidade aos observadores morais para julgarem segundo as convenções sociais da ordem e dos bons costumes. Por outro lado, quem é integro não se vende por situações momentâneas, infrigindo as normas e leis, prejudicando alguém por um motivo fútil e incoerente. A moral de uma pessoa não tem preço e é indiscutível.
REFERÊNCIAS
Recomendo a leitura do livro
BOTTON, Alain. Desejo de Status. Tradução de Ryta Vinagre. Rio de Janeiro: Rocco, 2005.
AS RESOLUÇÕES DE JONATHAN EDWARDS (1722-1723) disponível em: http://www.ebdonline.com.br/resolucoes.htm acesso em 25/11/2012.

domingo, 28 de outubro de 2012

VIVER COM ESPERANÇA

Professor Gelcimar da Silva Pereira Nunes
INTRODUÇÃO
Em outubro do ano passado, escrevi o artigo “Eu tenho esperança”. Naquele texto de natureza teológica, escrevi que, apesar das adversidades e dilemas do presente, eu tenho esperança de que a vida seca como um deserto transbordará em fonte de águas de felicidade. É essa esperança que me faz ver o futuro com o brilho nos olhos como se já participasse da realidade cujo desenho está na tábua do meu coração.
TER ESPERANÇA
Gosto de falar de esperança, pois é a virtude mais excelente que nos convida a enxergar a porta da saída dos muros que nos prendem. Ela nos faz desfrutar a paz em meio às tribulações e nos faz renascer como soldado de um exército que não se entrega e não se rende, mesmo que diante dos decretos humanos de impossibilidades e derrota.
Embora, vez por outra, a tristeza venha açoitar a alma com pensamentos de autocomiseração, convidando o desespero para a sala de estar do coração, creio que a solução se revestiu do sobrenatural para vencer os inimigos do corpo e curar as feridas da alma. Como árvore, estou plantado na crença no Redentor divino que me faz ver horizontes com as cores brilhantes da felicidade.
Recentemente comentei com amigos que foram lançadas sortes sobre a existência humana e, mais do que nunca, a nossa vida frágil está rodeada de inúmeros perigos prontos a interrompê-la a qualquer momento. Isso não me provoca ansiedade e temor quanto à sorte da minha alma. Mas não há razão para se afadigar, pois há uma admoestação do cânon divino de que no mundo teríamos aflições e de que precisariamos de bom ânimo para desfrutar da paz interior em meio à insegurança que nos rodeia e provoca dor e destruição.
Para quem não tem esperança, o momento de prazer frenético e alucinante é o caminho mais acessível para se esquivar do vazio existencial da alma. Nesse caso, alguns pensam: “comeremos e beberemos que amanhã morreremos. Basta curtir cada dia como se fosse o último para que seja significativo a cada manhã”. Outros de forma soberba dizem: “eu sou o meu próprio deus”. Acreditam que são capazes de determinar o rumo e a solução para as suas próprias vidas. Por isso, fazem a liberdade e o prazer como o caminho da felicidade e a fuga de todos os seus problemas. Mas não há como fugir da realidade quando se está sozinho no quarto com os seus pensamentos, querendo capturar o sono para o esperado descanso.
Eu, porém, acredito que os nossos caminhos são revestidos de propósito e não estamos no mundo por acidente ou por consequência natural do ciclo biológico-existencial de uma espécie. Essa consciência de ser e estar no mundo com propósito não me desespera a buscar ilações sobre a origem das coisas. Eu estou completo com a resposta simples, monossílaba e de inigualável grandeza que me consola: DEUS.
Sei que as tristezas e as aflições imploram por alívio e consolação, mesmo que seja apenas uma palavra ou o silêncio de um ombro amigo capaz de ouvir as batidas do coração, a respiração do ar viciado e o soluço do choro contido. Sei que a voz do coração é repleta de integridade para definir os sentimentos mais profundos e cativantes a ser compartilhados com amor fraternal. Essa é a razão por que quero estar junto com aqueles que me amam e estão dispostos a me abraçar com os seus braços de amor. São eles que me empurram para a vida com a luz das suas experiências nos embates da vida e vitórias alcançadas com perseverança e fé. O relato das experiências trilhadas por outros com sucesso são caminhos a ser observados por aqueles que compartilham a mesma esperança e buscam força para superar as adversidades. Aliás, quem tem esperança vive como aqueles que sonham e contrariam todas as teses racionalistas. Não se afadigam, tem suas forças renovadas como a águia que voa mais alto e tem o olhar voltado para os montes.
Gosto de ouvir a música de Deus mesmo nos momentos em que a lágrima no olhar brota de forma ardente, quando o peito explode em reação ao mar tumultuoso da vida com todos os seus infortúnios. É o momento que percebo a serenidade da música presente na natureza, no cair da folha no chão, leve, tênue e sem pressa. Gosto de ouvir essa música no gorjear dos pássaros e no sussurro dos ventos, traduzindo o contraste da natureza que trabalha silenciosamente e a agitação da incerteza que move o ser humano. Vejo como a natureza se mostra servil e soberana, harmonizando como uma orquestra todo o ecossistema criado com a música de Deus. Por isso, também aprendi a cantar essa música com fé e esperança e, no murmúrio da alma, dirijo a minha prece com gotas ardentes de poesia.
VIVER COM ESPERANÇA
Fico impressionado como as palavras da sabedoria afugentam as trevas da ignorância que nos prendem nos calabouços do medo. Todos nós temos medo de alguma coisa, mas me refiro ao medo irracional que nos rouba as forças e nos faz ver miragens no deserto. O medo dá lente de aumento aos nossos problemas e faz parecer que somos gafanhotos diante de gigantes. São como as ondas do mar da vida que buscam suas vítimas, sufocando-as em meio às tempestades. Mas podemos ouvir o som da música de Deus que nos convida a dançar sobre águas e desfrutar da paz com o sussurro dos ventos.
O medo nunca esteve presente nas celebrações de alegria e nas comemorações de vitória. Ele é o inimigo mais pernicioso do ser humano, pois busca roubar a alegria de todas as formas e aprisionar suas vítimas no pântano da dúvida e do desespero. Faz a pessoa agir de forma irracional, ver-se cercada de muros de impossibilidades e impotente para vencer a adversidade. Ninguém nunca viveu sem conhecer os fantasmas criados no universo fantástico do medo: da escuridão, da eminente doença, da solidão, da insegurança, de acidentes, etc. A mente cria as imagens que atormenta quem está entrincheirado em suas incertezas. Por isso, é preciso vencer o medo como menino que desafia gigantes com resoluta confiança.
A esperança afasta o temor, alimenta-nos de paz e segurança e aponta para o futuro. A esperança contrasta com essa realidade nua e crua de violência, de doença e catástrofes diversas. Aliás, a esperança é uma das faculdades da alma e comunica com o sobrenatural. São os olhos que se abrem à fé para enxergar para além das possibilidades do corpo e da natureza.
Sei que a nossa história da vida pode ser comparada a uma gangorra com os seus altos e baixos. Há momentos de calmaria quando todas as situações se apresentam de forma administrável: os sentimentos de tristeza, alegria e a ansiedade estão devidamente drenados. Contudo, há momentos que o problema se agrava e a situação não pode ser administrada dentro do curso normal da rotina, além da capacidade de resolução estar permeada de riscos e incertezas.
Nos momentos de aflição e desespero precisamos de uma força extra a ser buscada na fé e em quem está do lado esquerdo do peito, dentro do coração: os amigos. Ainda há amigos que nos amparam com suas palavras, demonstração de carinho e ajudam a renovar o nosso ânimo. Vimos que não estamos sozinhos, que Deus enviou anjos de carne e ossos para nos servir com os seus bálsamos de amor e de solidariedade. São pessoas que nos consolam com a mesma consolação em que foram consoladas em suas adversidades. Percebemos que há pessoas como nós que nos alimentam de esperança a partir das vitórias que alcançaram em seus lidares.
Tenho como riqueza imaterial os verdadeiros amigos que me cercam. São eles que nos conduzem a fonte do amor com as consolações que renovam o nosso ânimo. Assim, vivo com esperança e sou renovado a cada dia pela crença de que as aflições temporárias não se comparam com o esplendor que consumirá a minha esperança e a fará transbordar em alegria e prazer eternos.
CONCLUSÃO
Essa sensação de liberdade que determina as opções que faço na vida. Sou movido pelo senso moral que faz abraçar o que é agradável, de boa fama, lícito e honesto. Viver com transparência dentro das convicções de fé é a chama que me move a negar tudo que aparentemente é bom. Acredito que a reputação é temporária, ilusória e faz bem para o ego, mas o bom caráter indica o destino da alma.  Mas a esperança dá sentido à vida e a reveste de propósito como o infinito brilho das estrelas.
REFERÊNCIAS:
LUCADO, Max. Viver sem Medo: redescobrindo uma vida de tranquilidade e paz interior. Tradução de Bárbara Coutinho e Leonardo Barroso. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2009.
LOPES, Hernandes Dias. Voar nas Alturas. São Paulo: LPC Comunicações, 2011.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

A IMPORTÂNCIA DO ATO POLÍTICO: DISPUTA ELEITORAL

 
Professor Gelcimar da Silva Pereira Nunes
INTRODUCÃO
Tenho observado muitos candidatos pedindo votos e alguns deles raras vezes me dirigiam palavra antes, mas agora dizem: “você me conhece, somos amigos”. Tal postura é no mínimo curiosa. Se me conhecêssem teriam frequência regular na minha casa, liberdade para conversarmos futilidades, confidências e atividades comuns. Esses candidatos me impressionam com sua abordagem incisiva, constrangedora e até mesmo intimidatória. Partem da lógica que o fato de ser conhecido o habilita para ser votado.
A QUESTÃO DA DISPUTA POLÍTICA
Antigamente, do Brasil Império, passando pela República Velha até a Ditadura Militar prevalecia o monopólio de uma classe dominante formada pelos grandes produtores de café e de leite e grandes industriários. Eles determinavam em linha vertical os rumos do país e a política no governo federal, nos estados e nos municípios. A política era privilégio de poucos e o povo estava excluído dos centros decisórios de poder, visto que era considerado inapto devido aos altos índices de analfabetismo e por estar subjugado pelo controle intimidatório do coronelismo. Nessa relação, a política era entendida como a direção dos aristocratas a um povo ignorante e submisso. Qualquer reação à lógica instituída era uma oposição marginal, sujeita a repressão da classe política dominante.
Com o processo de redemocratização do país, acontece a retomada do pluralismo político, da liberdade de expressão, do pensamento e das manifestações. Contudo, a aristocracia e o coronelismo é um mal enraizado nas estruturas de poder do nosso país, difícil de ser extirpado do nosso convívio devido a grande distorção de renda entre as camadas sociais, principalmente dos mais ricos em relação aos mais pobres.
Desde a época da Ditadura Militar, a exploração da necessidade extrema, principalmente em regiões muito pobres do país, permite que determinados políticos se perpetuem no poder com capacidade de influenciar decisões. Alguns desses políticos são capazes de ressurgir das cinzas apesar dos sucessivos escândalos e, mesmo assim, não deixam de serem cacifes de partidos, influenciando os demais pares no parlamento. Agora, imagine esses políticos, com o aparato do marketing ao culto da imagem e realizações pessoais, despejando sua influência sobre uma população excluída socialmente e sem formação política. Claro, o resultado é desastroso. Por isto, os políticos mais votados nas eleições tiveram campanhas muito caras e contaram com doações de empresas/empresários. As doações são apenas o ensaio das conveniências da troca de favores negociados antes do fechamento das urnas. 
No imaginário popular, a democracia aparece no momento do pleito eleitoral quando o eleitor é disputado, tentado em um escambo moral, repleto de nuanças proféticas. O desenho da realidade é transportado para o futuro onde as carências atuais são supridas, as expectativas são satisfeitas e os problemas resolvidos.
Os candidatos que se apresentam como messias pretendem solucionar o problema da educação, da saúde e da segurança como se os eleitores fossem meros seguidores. Eles procuram ostentar a imagem do pai ou parente próximo que abraçam as criancinhas e o populacho, amparado no ufanismo dos cabos eleitorais.
O messianismo presente em campanhas eleitorais se alimenta das misérias da população, especialmente nos locais de mais incidência da exclusão social. Assim, a seca no Nordeste será plataforma eleitoral para muitos anos, pois sua resolução esgotaria o discurso de muitos políticos paternalistas que alimentam a esperança do povo com soluções espúrias: cestas básicas, material de construção e até mesmo promessa de emprego.
É um equívoco acreditar em candidatos que apresentam soluções mágicas para o problema da segurança, da fome, da educação e da saúde. Para eles, os males historicamente estruturados e marcados pela ausência de planejamento, de políticas públicas e ações duradouras podem ser resolvidos no lapso temporal de apenas quatro ou oito anos. Parece que ignoram a estrutura da própria história brasileira, os encadeamentos das questões legais, os arcabouços das competências e da gestão pública que remetem ao financiamento e à colaboração entre os entes federativos.
Convém alertar que a maioria dos candidatos ao parlamento e ao governo desconhecem a questão legal e o financiamento e prometem ações que extrapolam suas competências. Dente as inconveniências, percebo candidatos a vereador desconectados da realidade do município e do país, desconhecendo custos e a problemática do financiamento, prometendo creches e escolas de tempo integral, construção de postos de saúde, praças e outras obras. Trata-se de uma promessa vazia, demagógica e sem fundamento legal.
Na análise da atuação parlamentar de alguns municípios, tenho percebido ausência de conteúdo relevante. Há uma ideia equivocada de que a ação parlamentar é medida pela quantidade de projetos que apresenta e quantos são aprovados na Casa de Leis. Essa ausência de conteúdo relevante pode ser observada na quantidade de projetos indicativos que são aprovados cuja ação é inócua no cotidiano da administração pública e das pessoas. Explico: os projetos indicativos são aqueles que geram despesas para a administração pública e o prefeito tem a prerrogativa de implantá-los ou não, mas na ampla maioria dos casos tornam-se peças de arquivo nas Câmaras. Na tentativa desesperada de aprovar projetos, parlamentares propõem mudanças de denominação de ruas, praças e escolas mesmo sem o conhecimento da comunidade local, ignorando as consequências para a vida social e temporal das pessoas, como por exemplo: o recebimento de correspondências e documentação escolar. A falta de originalidade é tamanha: uma lei é importada de um município para outro sem a devida atenção à diferença de contextos. O resultado é um festival de leis inúteis que nunca foram implantadas e não são conhecidas pelos cidadãos. Por exemplo: você sabe que existe lei do dia do amigo, do orgasmo, que proíbe pessoas de morrer (aconteceu em um município).
Uma das funções parlamentares é fiscalizar os atos do Poder Executivo, verificando se a execução dos recursos públicos atende aos dispostos legais, ao interesse público, a oferta dos serviços públicos à população, além propor medidas de melhorias para a qualidade desses serviços. Mas o que se observa é o parlamento prostrado diante do Poder Executivo, satisfeito com a política de concessões, reduzindo o papel do Plenário como arena de debates, das opiniões divergentes onde sufraga a negociação e o consenso em benefício do interesse público.
Lamento como alguns parlamentares se reduzem ao papel de despachante no gabinete de prefeito e secretários, iludindo o cidadão com os atalhos na concessão daquilo que já lhe conferido como direito por lei. Pensam que é louvável utilizar influência para pleitear vaga em escola, atendimento médico e outros paliativos para atenuar o sofrimento do próximo. Contudo, é papel do parlamentar pensar esses e outros problemas no contexto amplo para todos os cidadãos, cobrar resolutividade do Executivo e indicar soluções.
A ATUAÇÃO DO PARLAMENTAR E DO GESTOR PÚBLICO
Se compararmos a função do parlamentar com a de um gestor público, veremos algumas diferenças: o prefeito tem mais visibilidade em tempo real junto à sociedade com as inaugurações de obras e tem uma projeção política maior do que o parlamentar. Também, tem uma ação mais objetiva no cotidiano das pessoas, mais visibilidade das obrigações do poder público e é cobrado pelas comunidades sobre obras de calçamento, construção de escolas, postos de saúde e outros serviços em geral. Por outro lado, o papel da Câmara Municipal é esvaziado porque os parlamentares se acostumaram com os vícios da política paternalista e por estarem iludidos em discurso com pobreza ideológica que não convence nem eles mesmos. Eles se distanciam do povo depois de eleitos e não dão retorno do mandato que lhes foi conferido.
Outra desvantagem dos parlamentares é a péssima imagem perante a opinião pública. O parlamento é visto como a casa dos privilégios onde os políticos banqueteiam com os recursos públicos, aumentando os seus próprios salários agregando-lhes vantagens superiores a remuneração do trabalhador assalariado, alheios à reprovação geral da população. Também, a onda crescente de corrupção envolvendo parlamentares, lobistas e empresários, mostra o submundo da política e a contrapartida do financiamento das campanhas eleitorais. Essa defenestração da política produz certa ojeriza das pessoas em ver o programa Horário Eleitoral Gratuito e ouvir o pedido de votos dos candidatos.
A assunção ao cargo de agente político não é visto como privilégio apenas para parlamentares e o chefe do Poder Executivo. Há muitos que aventuram na campanha eleitoral como candidatos nanicos ou cabos eleitorais, buscando tirar proveito no caso de vitória no pleito. Assim, a política é um grande negócio do qual se beneficiam cabos eleitorais, candidatos derrotados e empresários. Por consequência, surge o loteamento político dos cargos comissionados, emendas parlamentares para ONGs de natureza duvidosa e denúncias de corrupção.
Acredito que o mandato conferido ao agente político é o contrato pelo qual a sociedade outorga ao candidato eleito poderes para praticar atos ou atuar em seu nome. Porém, lamento que essa procuração conferida ao governante ou parlamentar acaba se convertendo em um cheque em branco, pelo qual os agentes políticos usufruem do privilégio de satisfazer suas conveniências. Na verdade, essa forma de enxergar o mandato está equivocada. Alguém é detentor de mandato porque a representação lhe foi conferida pelos cidadãos que o elegeu. Aliás, essa representação é que dá legitimidade ao mandato dos agentes políticos, pois de outro modo, o agente político acaba representando a si mesmo como na maioria dos casos. Se a participação popular fosse proativa com acompanhamento real da atuação dos políticos, haveria pressão para que muitos perdessem o mandato por improbidade no exercício das atribuições que lhe foram delegadas. Esta é uma das razões que questiono a legitimidade dos parlamentares de cassar seus colegas ou governantes se o mandato lhes foi conferido pelo povo. Pergunto até quando essa lógica corporativista prevalecerá dando cobertura a políticos desonestos, mesmo que sejam cassados alguns quando o clamor popular exacerba. Teoricamente, o mandato pertence ao povo que exerce o direito de conferir poderes a quem for representá-la embora, no âmbito jurídico, a justiça tenha o poder de arbitrar sobre a pertinência da representação conferida pelo voto.
Atualmente, parlamentares, que se dizem representantes de algum segmento social, ficam sua bandeira única para privilegiar seu grupo em detrimento dos demais. Claro, existe uma explicação que o voto para o mandatário municipal, estadual e federal compreende todos os cidadãos no uso de seus direitos e que o voto para parlamentares se caracteriza pela identificação representativa do segmento social. Contudo, essa segmentação não deve ser prerrogativa para o estabelecimento de privilégios por meio de leis intoleráveis como aquelas que: dão proteção a desmatadores; descriminaliza o consumo de drogas, o aborto, os jogos de azar e a prostituição; ameaça a liberdade de expressão como a criminalização da homofobia e da restrição a atividade da imprensa; taxação de templos religiosos, etc..
Essas propostas de regulamentação legal representam ameaça para a liberdade e a segurança das instituições e da sociedade. Considero pertinente citar o pensamento do escritor indiano, radicado em Londres Salman Rushdie:
“A liberdade é a questão maior de nosso tempo. Não há segurança nem liberdade total. É preciso lutar por elas e conquistá-las. Pode soar paradoxal, mas a liberdade depende da segurança das instituições. Não existe outro caminho, senão regimes de direito que garantam o exercício da liberdade – e aqui entram a liberdade de expressão e a criação artística”. 
Avalio que as bandeiras de determinados grupos não representam a opinião da maioria da população brasileira, ameaçam à segurança, à liberdade e à estabilidade da família. São pessoas que defendem a liberdade, mas ao mesmo tempo, pregam um Estado intervencionista na família, na educação e na sociedade para impor ideologia e crença de uma minoria que se julga discriminada, mesmo sendo influente nos estratos sociais mais elevados, na mídia e mamando dos cofres públicos.
CONCLUSÃO
É obvio que vivemos em um Estado de Direitos onde todos podem expressar livremente suas opiniões, crenças e manifestações. Porém, nenhuma bandeira ideológica deve atentar contra a liberdade dos outros e as expectativas de um país justo e igualitário. A partir da tramitação de alguns projetos polêmicos de interesse de determinados grupos, vejo como está sendo valorizada a segmentação da disputa eleitoral. Se o mandato é uma procuração, deve-se votar em alguém com ideologia e projetos condizente com a sua forma de pensar e que não venha atentar contra sua visão de mundo, de sociedade e de homem.
REFERÊNCIAS
Recomendo as seguintes leituras complementares
Entrevista do Salman Rushdie à revista Época. Versão online disponível http://revistaepoca.globo.com
GADOTTI, Moacir, FREIRE, Paulo & GUIMARÃES, Sérgio. Pedagogia, diálogo e conflito. São Paulo: Paz e Terra, 1995.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

A IMPORTÂNCIA DO ATO POLÍTICO: IDEOLOGIA E INFORMAÇÃO

Professor Gelcimar da Silva Pereira Nunes
INTRODUCÃO
É inegável que a política é marcada pela contradição das relações humanas, na perspectiva de que a existência de cada indivíduo é revestida de uma contextualidade sócio-histórica. Trazemos a experiência social e cultural do meio em que vivemos que sobre nós exerce uma influência pelos hábitos historicamente adquiridos. Por isto, somos moldados pela cultura e pela ideologia que nos alcança com sua doutrinação irresistível.
POLÍTICA E IDEOLOGIA
Nas sociedades simples como as tribos, a cultura e a ideologia se fundem em uma tradição transmitida de geração em geração. A tradição alcança os valores morais, sociais, religiosos e culturais, que definem a visão de gênero, os papéis sociais e a hierarquia de poder dentro da sociedade. Inclusive a ideia de classes é irrelevante diante de uma única liderança moral e carismática. Impressionante como a tradição oral dos anciãos é a tradução nítida da sabedoria, refletindo os valores morais, religiosos, consensualmente aceitos sem imposição ou contestação.
A unidade doutrinária das sociedades simples é o resumo de todo o corpo jurídico que, embora não esteja escrito em códigos multielaborados e complexos, está escrito na “tábula” dos corações. Por isto, a obediência voluntária está amparada em uma crença ensinada desde a tenra infância como uma verdade exclusiva, adequada a civilização e separada das demais concepções adotadas por outras sociedades. Mas, o interessante é que a ideologia faz todos se veem como parte de uma mesma origem, etnia, formando uma rede de relações fraternas. Ou seja, toda a doutrina converge dentro da solidariedade orgânica.
As sociedades complexas convivem com o multiculturalismo e duelam em suas múltiplas ideologias. As individualidades afloram impulsionadas pela competição em todos os níveis e a disputa de poder. Nesse caso, a razão ganha tonalidade de verdade argumentativa com a pretensão de ascendência nos círculos de debates e de conflitos. Aliás, todos querem ter razão até o menos influente dentre os homens. Consequentemente, é por meio da razão que as pessoas defendem seus interesses, de outrem e pressupostamente da sociedade.
Alguns teóricos tendem ignorar a existência da política nas sociedades simples como o argumento de que nelas não existe acentuado embate ideológico e esnobam a simplicidade da resolução de conflitos. Creem que a diversidade é a marca característica das demandas políticas, pois as múltiplas identidades promovem a coexistência de visões de mundo diferentes e disputas ideológicas. Do antagonismo das identidades e das visões de mundo surgem os grupos sociais. Cada grupo está envolto de interesses particulares relacionados à sobrevivência enquanto grupo ou até mesmo a supremacia sobre os demais. Porém a questão ideológica ou de supremacia está limitada a coexistência de grupos e não a ordem de enquadramento de posturas, delimitando o que é saudável daquilo que é nocivo. Portanto, a política é argumento máximo para o surgimento do Estado.
Tenho aprendido por meio dos pressupostos da dialética hegeliana (Georg Wilhelm Friedrich Hegel – 1770 - 1831) que o Estado é a síntese das contradições existentes na sociedade. Ou seja, o Estado consegue reunir os diferentes interesses, por meio do debate e da negociação, visando estabelecer o consenso. Mas como estabelecer a convergência ou a unanimidade diante de tantos interesses divergentes? Então que prevaleça a vontade da maioria. Mas alguém dirá que os argumentos da minoria são coerentes e justos do ponto de vista da equidade e do respeito às diferenças. Também se dirá que os interesses da maioria se corrompem no afã da satisfação das individualidades e luxos pessoais em detrimento da minoria comprometida com valores dos agrupamentos sociais.
A questão da participação e influência da minoria tem suas virtudes e defeitos. Uma minoria barulhenta e influente pode trazer muitos estragos. Hoje, temos visto manipulações de todas as formas, a começar nas informações divulgadas na mídia. São dados maquiados e superlativos como o intuito de enganar e tripudiar a opinião pública. Além disto, a propaganda tendenciosa dos programas de TV mostra que a política não se faz somente nos parlamentos, mas em todos os contextos. Um dos meios mais ardilosos é a guerra da informação.
Devemos observar que a minoria detém a influência nos centros decisórios de poder. O que diferencia essa minoria da maioria é a classe socioeconômica que pertencem. São geralmente pessoas influentes que contam com aparato econômico, com visibilidade pública e podem vender a imagem de líderes. Para tanto, usam a propaganda da imagem pessoal e de suas ideias com técnicas de convencimento, explorando exaustivamente a emoção.
A POLÍTICA E A INFORMAÇÃO
Agora fica evidente que a informação é poder que implica a capacidade de influenciar pessoas no intuito de criar adesão a uma causa ou, pelo menos, um exército de simpatizantes. Figuradamente, quero dizer que: um líder com muitos seguidores é igual a votos que é a moeda de troca nas articulações políticas. A estratégia é influenciar nos parlamentos, nas instituições e no ensino. Claro, a mídia e a educação são formas de incutir maneiras de pensar e padrões de comportamento. Por isto, os aglomerados das grandes mídias estão nas mãos de políticos e de famílias influentes nos centros decisórios de poder. Logo, eles podem determinar o que você deve saber e como o povo deve saber. Como disse certa vez o ex-ministro da Fazenda Rubem Ricúpero: "Eu não tenho escrúpulos: o que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde". O que ele deixar escapar em conversa informal, reflete a realidade da política e do jogo da informação.
Outra forma de influenciar é aproveitar o frenesi do culto exacerbado as celebridades como semideuses capazes de determinar o resultado de uma eleição. O modelo dessa propaganda maldosa visa mexer com os brios do mais simples lavrador ao intelectual da classe média. Fique claro, o papel do intelectual é propagar conhecimento e influenciar. Nessa doutrina alienante embarcam todos aqueles que julgam poder ser beneficiados de alguma forma, relegando ao segundo plano os princípios ideológicos defendidos anteriormente.
Parece que quando se fala da política, estamos nos contextualizando na democracia, na lógica da representação e da participação popular. Contudo, se voltarmos para os primórdios da democracia na Grécia Antiga, verificaremos que a democracia grega permitiu a participação dos cidadãos no processo decisório das Eclésias (assembleias do povo), excluindo as mulheres, os estrangeiros e os escravos que não tinham voz nem direito a voto nas decisões públicas. No Brasil, a concepção da democracia da República Velha considerava todos iguais, mas excluía as mulheres e os analfabetos de participação nos centros decisórios de poder.
Veremos que a democracia traz a ideia de igualdade, mas acentua as desigualdades sociais e reforça de forma inequívoca a realidade de classes. Sei que alguém vai discordar das minhas posições, mas vou arriscar. A democracia ajuda a perpetuar a doutrina de que todas as pessoas são iguais. Claro que essa é uma verdade inequívoca: não existe um ser humano mais ser humano que o outro e a cor da pele, profissão, condição financeira, profissão ideológica ou religiosa e outras características não faz alguém melhor que o outro. O problema é a lógica de que as oportunidades se igualam para todos e, se alguém não conseguiu êxito em seus sonhos, foi incompetente e não se esforçou o bastante.
Nas sociedades complexas banhadas pelo sistema capitalista, a democracia reforça a ideia da igualdade de oportunidades na competição pelos melhores empregos e condição social. Basta somente estudar, estudar muito. Assim, o conhecimento é o diferencial em uma sociedade competitiva. A ideologia da igualdade de direitos de todos e para cada um tem a função de apaziguamento das lutas de classes. Ajuda a banalizar a competição desenfreada pelas melhores oportunidades como ritual de sobrevivência social em que os mais adaptados usufruem das benesses do poder do capital, da fama, da capacidade de influenciar e determinar sobre a vida de outras pessoas.
Quero esclarecer que a democracia pode não ser a forma excelente de governo, mas é a melhor que temos. Na história da humanidade, já foi experimentado a monarquia, a aristocracia, a ditadura e, de todas elas, a mais conveniente foi a democracia. Endosso as palavras do educador Paulo Reglus Neves Freire (1921 – 1997) de que democracia não é um dado, mas, sim, uma conquista. Ele queria dizer que cada pessoa é responsável por construir dia-a-dia a sua própria história e não deve ficar assentado esperando que o ideal da democracia resolva todos os seus problemas. Há pessoas que por comodismo não quer se envolver nas reuniões de associações de moradores, participar de fóruns de discussão política nem se envolver nas questões relacionadas ao seu bairro, sua comunidade e à sociedade.
A política não existe a parte de um sistema econômico e dos valores que ele determina. Por isto, tem sua forma capciosa de envolver as pessoas no discurso do bem estar comum e do direito. Podemos inserir nesse contexto algumas concepções gramscianas (Antonio Gramsci – 1891-1937) sobre hegemonia, superestrutura e infraestrutura.
Podemos afirmar que, na política, alguém quer determinar sua hegemonia sobre os demais e, para tanto, utiliza de um expediente ideológico com a finalidade de fazer as pessoas pensar de forma padronizada e conforme a sua conveniência. Esses expedientes são repassados em forma de ensino e propaganda com exaustivas repetições até serem incorporadas no senso comum como uma verdade isenta de contestações. Essas maquinações hegemônicas que surgem para que o povo acredite como algo verdadeiro, mesmo sendo ilusório, são chamadas de superestrutura.
A tônica da disputa política em uma sociedade de mercado é satisfazer as paixões mais infames do ser humano, trazendo para si poder e influência. Nesse caso, poder não significa capacidade de deliberar sobre situações, agir e mandar sobre pessoas. Passa a caracterizar também uma atividade altamente rendosa. Quem se habilita para a política considera viável o projeto de estar acima do povo comum e ser chamado de excelência.
Podemos considerar a política uma atividade cara, pois vender uma ideia exige capacidade de convencimento. Claro, podemos considerar uma relação de trocas a julgar pela estratégia do financiamento e pelo aparato midiático que se cerca.
Quero esclarecer que existem pessoas bem intencionadas, conscientes de seu papel na sociedade e realmente comprometidas com o social. São pessoas que não se rendem e não vendem as vantagens ilusórias do poder político. Isto que faz diferença entre quem é honesto daqueles que são interesseiros.
Uma coisa importante os políticos refletem de certa forma os valores da sociedade e agem à mercê da ignorância, da passividade e da omissão da maioria honesta, porém silenciosa. Quando falo da passividade, retomo a lembrança a campanha do Ministério Público Estadual: “O que você tem a ver com a corrupção?” Dessa forma, pergunto: até que ponto o jeitinho brasileiro pode ser considerado a microcorrupção do cidadão mais simples, que, incorporado ao senso comum, tornou a prática mais natural do mundo. Isto vai desde jogar papel no chão, pagar ao guarda de trânsito para não ser multado à venda do voto. Depois, esse mesmo cidadão na sua arrogância bate no peito, dizendo que todos os políticos são corruptos. Se a palavra “corrupção” significa “quebra de partículas que gera apodrecimento”; no contexto cotidiano significa quebra de regras e, de alguma forma, estamos quebrando alguma regra no trabalho, na rua, em casa e em outro lugar.
Nossa atuação é política em todo lugar, pois não somos isentos de ideologia. Por ela, justificamos nossas posições, nosso ego e argumentamos nossas demandas. Desde quando nascemos nos tornamos políticos, visto que nos tornamos pessoas dotadas de direitos e deveres; isto é, cidadãos. Por vezes, reclamamos nossos direitos e questionamos porque o Estado não cumpriu o seu dever, quando observamos a precariedade dos serviços de saúde, a qualidade da educação e as condições da nossa cidade. O problema é que todos culpam os políticos, mas o que estamos fazendo para mudar a política?
CONCLUSÃO
Para mudar a política, é preciso mudar a sociedade. Aliás, retomar os valores morais e sociais que foram abandonados algum tempo, sendo trocados pelo individualismo e pelo culto exacerbado à acumulação de capital. A inversão de valores colocou o homem refém do capital e da tecnologia. A coisificação do ser humano é a tragédia do extremo materialismo em que está mergulhado a nossa sociedade. Caminhamos para uma sociedade sem religião ou confusa em um misticismo materialista e hedonista. A atual política é apenas o reflexo de nossas mazelas sociais e da confusão moral em que estamos envolvidos.
Essa confusão entre a liberdade, a diversidade e a defesa irresponsável de direitos em todos os níveis, suscita dúvidas sobre o que é legal, moral, amoral e imoral. Não concordo com a liberdade que permite alguém agredir, chocar e ofender pessoas. Também não concordo com o direito que viola a liberdade do outro de ir e vir e ao inalienável direito à vida. Por isto, defendo que para mudar a política será necessário mudar a sociedade.
REFERÊNCIAS
Recomendo as seguintes leituras complementares
PARO, Vitor Henrique. Administração escolar introdução crítica. São Paulo, Cortez Editora, 1987.
GADOTTI, Moacir, FREIRE, Paulo & GUIMARÃES, Sérgio. Pedagogia, diálogo e conflito. São Paulo: Paz e Terra, 1995.

sábado, 28 de julho de 2012

A IMPORTÂNCIA DO ATO POLÍTICO

Professor Gelcimar da Silva Pereira Nunes
INTRODUCÃO
Há algum tempo assisti a uma palestra do professor Victor Henrique Paro sobre Gestão Democrática e fiquei impressionado como ele esmiuçava o ser humano em suas contradições. Por meio dele, aprendi que a política nasceu como meio de conciliar os diferentes interesses do ser humano.
Por consequência, entendi que o homem como ser histórico, social, político, cultural e religioso traz em si múltiplas identidades que o torna uma espécie única. Não obstante isto, cada pessoa é uma unidade e não há fôrma de igualdade de seres. Também, o homem é produto do meio e traz consigo as diferentes impressões históricas, sociais e ideológicas. Contudo, uma das impressões marcantes é a política.
COMO ENTENDER A POLÍTICA
Para entender política é preciso dissecar o ser humano em seus conceitos essenciais e seus fundamentos. É difícil alcançar o conceito que satisfaça as aspirações da filosofia e da ciência. Por isto, há pelo menos cinco perguntas ainda não respondidas pela Filosofia e a Ciência: quem sou eu; de onde vim; o que eu posso fazer; porque eu existo e para onde eu vou. São essas as perguntas relacionadas à origem, a identidade, as possibilidades, ao propósito e ao destino.
Portanto, o ser humano é complexo por natureza e traz dentro de si contradições diversas. Essas contradições podem ser abstraídas na busca do conceito do que é ser humano.
O conceito de SER ultrapassa a história e os dilemas da própria filosofia. Usualmente, esse conceito assume os seguintes significados: a existência de alguma coisa; a identidade para distinguir algo ou alguém e predicação para exprimir a propriedade de determinado objeto. Logo, SER é algo dotado de existência (verbo) bem como a palavra que o define (substantivo ou predicado).
Alguns pensam que a existência está relacionada à materialização do ser, de forma palpável e visível. Mas, a existência do ser implica na construção de significados e de relações. Por exemplo: não vimos Deus de forma visível, mas cremos na sua existência.
Uma das evidências da existência do ser é a inscrição do nome que confere identidade, distinguindo um ser do outro. Aquilo que não tem nome, mesmo que materializado, não tem identidade em sua existência que o faça ser no mundo.
A identidade evoca qualidades distintas e finalidades. Nada existe por acaso ou por enfeito ou deleite. A natureza das coisas está fundada no propósito e essa predicação (qualidade) que é a questão do ser no mundo.
Nessa distinção percebemos por que a materialidade e a beleza da natureza nos proporcionam uma experiência sensual empírica e nos encanta com seus contornos e cores.
O homem se diferencia dos animais, pois estes vivem segundo a sua programação biológica, guiados pelo instinto, na busca da satisfação de suas necessidades básicas (alimentação e reprodução) em seu habitat. Não têm consciência de si e não podem emitir valores sob si mesmos e outrem.
Um das características marcantes do ser humano é presença do pensamento. O homem não é apenas um ser no mundo com programação biológica: nasce, cresce, reproduz, envelhece e morre. Segundo o cânon sagrado, ele é coroa da criação dada a sua especialidade, tendo em sua formação original: imagem e semelhança do Deus Criador.
Aprendi em meus estudos teológicos que a expressão “imagem e semelhança de Deus” reflete os elementos da racionalidade, da sensibilidade e da vontade, bem como a essência do sobrenatural que lhe confere a sede de eternidade que só pode ser outorgada pelo próprio Deus Criador. Assim, o conceito de ser humano vai além dos significados de existência, identidade e predicação. O homem se distingue dos demais seres porque foi adornado do material e do imaterial e pode expressar conceitos e juízo de valor sobre si mesmo, sobre pessoas e coisas.
A maior fonte de inquietação do homem é a brevidade da vida, além de viver mergulhado em seus conflitos interiores. Por isto, a existência não tem o conceito de apenas viver ou sobreviver. O homem quer viver bem e com qualidade. De outro modo, as necessidades básicas do ser humano seriam suficientes: alimentação, vestuário e habitação. Para ele, não basta apenas viver; o importante é ter satisfação, felicidade e paz.
Observe que o homem não se satisfaz com benesses materiais, mas quer atributos relacionados à faculdade do espírito: paz, alegria, amor, eternidade. Isto faz dele um ser religioso em sua essência. Logo todos têm a sua profissão de fé e creem na existência do divino e no mundo espiritual, eterno e perfeito. Nessa perspectiva se ilude que pensa que os ateus não têm profissão de fé: alguns eles são obsecados em negar toda a forma de theos que leem com o fervor a bíblia no intuito de querer reforçar suas convicções. Às vezes, penso se essa oposição não seja evidência de uma crença interior negada no exterior.
Em seu dilema existencial, o homem percebe que não está sozinho no mundo. Está em comunidade de seres semelhantes com as mesmas necessidades e concepções. Nessa convivência surge a manifestação das individualidades, pois cada pessoa tem o seu caráter e personalidade.
Usualmente, caráter é entendido como índole e firmeza de vontade.  Cada pessoa tem os seus traços que evidenciam sua forma de ser, sua natureza e temperamento. O caráter é inerente do próprio espírito da pessoa, os moldes de educação, adaptação às diferentes condições e fases da vida. Logo, torna-se fundamental a instrução, visto que o caráter começa a ser formado desde a tenra infância.
Por outro lado, a personalidade pode ser entendida como o conjunto de características psicológicas que determinam os padrões de pensar, sentir e agir, ou seja, a individualidade pessoal e social de alguém. Ou seja, é um conjunto de características marcantes de uma pessoa.
Com essas evidências é possível entender como o homem é um ser moral, repleto de caracteristicas psicológicas, presentes em sua composição e identidade. Agora imagine várias pessoas com suas identidades, vontades, percepção e visão de mundo.
Observe que a personalidade engloba virtudes e defeitos de alguém. Segundo o Dr. Myles Munroe, Deus ao criar a humanidade e realçou as diferenças, a individualidade e as habilidades de cada um e pensou o seu conjunto com se fosse uma orquestra a ser regida por Ele. Também, teria pensado uma relação recíproca de atendimento de cada um segundo as suas necessidades ao instituir a família. Seria a família a base da construção do relacionamento pessoal, interpessoal, social e modelo a ser aplicado em toda a sociedade. A fraternidade sanguínea e consanguínea da família seria a lógica da percepção de cada pessoa como participante da mesma origem e essência. Esse princípio perdurou muito tempo, principalmente na época das tribos e na gênese de muitas nações.
Agora percebo que um dos propósitos do livro de Gênesis: é mostrar que todos os seres humanos tem o mesmo fundamento de existência, origem e habitat. Também, percebo que desde os primórdios foram estabelecidas regras de convivência para frear o individualismo humano e sua praga maior: a ideia de supremacia sobre os demais. Claro, não há alguém melhor do que outro: somos apenas diferentes. Existem pessoas diferentes com habilidades, virtudes e defeitos. Além disto, em cada um de nós, há uma sensação de incompletude e buscamos pessoas que nos inspiram e nos ajudem a superar as contradições.
Alguém disse que temos origem gregária. Ou seja, não conseguimos viver sozinhos e precisamos de alguém para se relacionar. A primeira porta dos relacionamentos é a família, depois vêm os amigos e as pessoas que entram na vida pela conveniência ou pela necessidade. Claro, não somos autossuficientes. Somos dependentes um dos outros e, partir disto, formamos a rede da solidariedade orgânica. Então, aprendemos que somos pessoas com capacidade de raciocínio de saber escolher entre o bem e o mal, ser amigo, respeitar os outros e trabalhar em grupo. Também experimentamos na relação com o outro, sentimentos de tristeza, raiva, angústia, paixão, alegria, felicidade, amor, etc.
TODOS NÓS SOMOS POLÍTICOS
Olhamos, agora, e nos vimos em grupo, relacionando com várias pessoas em casa, na igreja, na escola, no trabalho, em um Município, Estado e País. Não somos apenas pessoas; somos cidadãos, temos responsabilidade solidária: direitos e deveres em relação ao nosso Estado municipal, estadual e nacional. Portanto, estamos todos envolvidos na política e dela usufruímos dos benefícios e consequências.
Alguém dirá: não tenho nada a ver com a política e não gosto de me envolver com ela. Para esses, cito o texto do dramaturgo Eugen Berthold Friedrich Brecht (1898 – 1956): o analfabeto político.
“O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio depende das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais”.
Logo, a política é inerente ao homem como ser social, cercado de regras de convivência e amparo em visão de mundo, refletida no exemplo do passado, construída no presente que idealiza um futuro com superação dos males hodiernos. A política está presente no condomínio, na associação de moradores, na igreja, no futebol e em todos os centros decisórios e de poder.
Política deriva da palavra grega “polis” que significa literalmente “cidade”. A cidade, para os gregos, seria um local de conforto, segurança e felicidade; a política seria o meio para alcançar esses objetivos e o político, o gerente desse local, credenciado pelos cidadãos. Para tanto, pensaram a política como vocação e não como profissão. Vocação fala do espírito voluntário, do prazer, da entrega, da abnegação a um serviço como se fosse um sacerdócio a ser cumprido em benefício do próximo. Infelizmente, não é isto que vimos atualmente: há vários políticos profissionais cercados de marqueteiros e gastando milhões de dinheiro em campanha política. Depois, descobre-se a conta da gastança nas denúncias de corrupção deles com empresários inescrupulosos.
Os gregos foram os primeiros a cunhar na política a palavra "democracia", onde os cidadãos participavam das deliberações da cidade-estado. A partir disto, foram-se evoluindo as concepções sobre a participação popular nos centros decisórios de poder que antes eram restritos à aristocracia e à monarquia.
As ideias advindas do liberalismo definiram a separação entre os poderes executivo, legislativo e judiciário. Também, os princípios modernos da alternância de poder e de participação população são oriundos do liberalismo. Essas ideias se opõem ao absolutismo, aristocracia e outras formas de governo caracterizadas pelo poder nas mãos de poucos e por tempo indeterminado; onde predomina as relações de superveniência e privilégio a alguns. Lamentalmente, alguns ainda querem se perpetuar no poder como se fosse sua propriedade de usufruto e direito.
Contudo, o ato político não se restringe ao voto em candidatos em eleições locais e gerais, como se fosse uma assinatura de um cheque em branco em candidatos para ocupar posições nos poderes legislativo e executivo. O ato político está presente em todas as ações inerentes ao cidadão e reflete a ideologia de como se pensa a sociedade e a convivência em diferentes locais e instâncias.
Não existe alguém que não tenha a sua ideologia mesmo que venha alegar neutralidade em quaisquer situações. Todos nós temos as nossas opções políticas e emitimos julgamentos de valor sobre diferentes aspectos. Aliás, a pressuposta neutralidade é também uma opção política bem como a decisão de alguns não querer saber de política.
CONCLUSÃO
A participação política pode começar em uma discussão em um grupo pequeno, mas solidário. Depois, pode evoluir para uma instância mais organizada que defenda interesses comuns como as associações de moradores, avançando para os fóruns, conferências e audiências públicas. Não é necessário ter um cargo eletivo para fazer política. Todos nós somos políticos por vontade própria ou por opção.
REFERÊNCIAS
Recomendo as seguintes leituras complementares
PARO, Vitor Henrique. Administração escolar introdução crítica. São Paulo, Cortez Editora, 1987.
ALVES, Rubem. Explicando política às crianças I e II, disponível no site www.rubemalves.com.br