terça-feira, 10 de janeiro de 2012

EM TODA CAMINHADA

Professor Gelcimar da Silva Pereira Nunes
INTRODUCÃO
Estamos iniciando mais um ano. Quantas coisas aconteceram e pensávamos que não chegaríamos a tanto! Nessas lembranças, chegamos a ter um flashback de muitos eventos que aconteceram no ano e ao longo da vida para ter uma conclusão que sobrevivemos quando a angústia e a morte passaram por cima da nossa alma. Alguns diriam que o destino foi muito caprichoso e fomos alcançados pela sorte no momento oportuno. Mas outros, como eu, acreditam em designo – havia um propósito no decreto divino que inaugurou a nossa existência. Por isto, não acredito na crença em uma criação abandonada no universo a mercê do acaso ou da programação da natureza e da história, vivendo inclinada ao desejo dos seus pensamentos e à coerção das leis.
TODOS BUSCAM UMA DIREÇÃO
Acredito que a existência é vestida de um propósito superior às nossas aspirações e projetos. Nenhuma pessoa veio ao mundo apenas para cumprir um ciclo de vida animal: nascer, crescer, reproduzir, envelhecer e morrer. Alguns tentam ignorar a imaterialidade como se vida humana fosse terminativa e para justificar um estilo de vida hedonista. Creem que a matéria se desfaz com a morte e, com ela, a existência.
A existência é algo tão complexo de se entender que os textos canônicos, utilizam várias alegorias como: caminho, carta, livro, embarcação, viagem, etc. Por exemplo:  conhecemos o caminho da serpente entre as rochas, o voo da águia no céu, o trajeto do navio em alto mar, mas desconhecemos o caminho de um homem e, inclusive, o nosso próximo passo apesar dos programas que fizemos com a devida prontidão e precisão. Parece que estamos prestes a ser surpreendidos pelo acaso e o destino.
Todas as alegorias dão a ideia de que a vida é uma construção gradual, imprecisa e dependente de decisões que cada um toma no seu dia-a-dia como também das circunstâncias que se apresentam alheias a nossa vontade. Não sabemos quando o inesperado virá visitar a nossa vida. Por isto, tememos a doença, o desemprego, a fatalidade e à morte. Ainda, aprendemos que não devemos ficar prostrados diante das situações inesperadas, pois nela descobrimos a energia para voltarmos para a nossa essência espiritual. Isto mesmo, na adversidade, nós aprendemos até mesmo a orar com súplicas incendiadas pela fé isenta de dúvida. Por isto, a decisão de crer é uma opção pela vida integral: espírito, alma e corpo. É ter a vida banhada no oceano das virtudes mais excelentes do cristianismo.
As decisões que tomamos na vida têm seus resultados cumulativos e estão relacionadas ao caráter e a personalidade de cada pessoa. Ouvi certa vez, alguém citar um pensamento anônimo:
“Cuidado com seus pensamentos, eles se transformam em palavras; cuidado com suas palavras, elas se transformam em ações; cuidado com suas ações, elas se transformam em hábitos; cuidado com seus hábitos, eles moldam o seu caráter; cuidado com seu caráter, ele controla o seu destino”.
Todos têm um centro decisório sobre as opções que a vida apresenta no tocante ao bem e ao mal. São essas decisões que vão determinar a escalada da vida e a decadência da morte ou em uma linguagem teológica: a bênção e a maldição.
Uma das alegorias que absorvi recentemente é que a nossa personalidade é semelhante a uma cidade com seus muros, torres e portas. Por isto, assim diz o sábio canônico: “Como uma cidade sem muros é o homem que não consegue controlar o seu temperamento”. Se guardarmos os muros dos bons valores, da ética, da moral e do decoro que aprendemos com os pais e pastores iremos resistir o ataque ao nosso bom nome. Contudo, é necessário estarmos vigilantes nas torres quando as ciladas do mal vierem em nossa direção. Também devemos ter como portas da alma as decisões que devemos tomar: abrir a porta para receber aquilo que é bom, de boa fama e agradável e eliminar o lixo das posturas inadequadas.
Cada pessoa é uma individualidade, não há duas pessoas iguais nem os irmãos gêmeos univitelinos. Às vezes, há pessoas de uma mesma família com a mesma formação e educação que tomam orientações de vida diferentes, revelando personalidade diferente dos demais membros de sua família. São chamados comumente de “ovelha negra” pelo caráter transgressor e agressivo aos padrões culturais da família. Isto mostra que a liberdade que nos foi concedida implica em responsabilidades sobre as decisões tomadas, gerando conseqüências.
Tenho por excelente a ilustração da lei da semeadura: “o que a pessoa semear, isso ceifará”. Ou seja, cada decisão boa trará bons resultados para a vida e a opção pelo mal trará consequências danosas. Por isto, há um abismo entre as pessoas nadam nos rios da felicidade e as que sofrem nos desertos das consciências atormentadas pela culpa.
Em toda caminhada, somos açoitados pela dúvida de qual decisão tomar. Qual é a alternativa correta? E se estivermos enganados? Claro, uma decisão equivocada pode provocar uma situação inesperada, trazer sofrimentos, destruição de sonhos e fazer desmoronar uma carreira, um casamento, uma família, um projeto de vida. Geralmente, para muitos a vida concede uma segunda chance de restaurar o que se perdeu, mas para outros há apenas alternativa para recomeçar.
Em função das incertezas do hoje e do amanhã não queremos cometer erros que venham comprometer o que edificamos com sacrifícios e lágrimas. Parece que somos visionários nos desertos enxergando miragens ou a nossa visão está turva a ponto de não enxergarmos com clareza a realidade dos fatos. Claro, algumas vezes a vida nos apresenta enigmas a serem desvendados, desafiando a nossa inteligência e a fé. Por causa dos órgãos dos sentidos somos iludidos a acreditar na aparência e a duvidar da fé. Acreditamos naquilo que vemos e tocamos como algo real e verdadeiro semelhante à mágica de um ilusionista competente. Isto porque queremos respostas objetivas curtas e diretas para os nossos questionamentos e problemas como o sim e o não. Ou seja, somos focados no imediato e somos apressados em busca das soluções com o argumento de que o sofrimento é necessidade básica. Mas, para mim, o sofrimento é uma contradição da vida no seu duelo com a morte – o inimigo que nos atormenta com os aguilhões.
Nem todas as respostas estão disponíveis no momento. Há aquelas que encontraremos caminhando com paciência o caminho que nos foi proposto. No caminho e no caminhar encontraremos respostas tal como aluno aprende as matérias do currículo da sua academia. Claro, a superação dos erros mais primitivos acontece no exercício da autodisciplina e na aprendizagem da coexistência com o próximo com dignidade estão as respostas sobre as decisões mais propícias e verdadeiras. Nesse caso, devemos aceitar a correção que a nós é apresentada como oportunidade propícia para nós revermos nossas posições e tirarmos a venda da credulidade da razão. A razão já foi louvada pelos filósofos como a alma do verdadeiro conhecimento, mas é contraditória, pois até mesmo os loucos têm sua razão para cometer as maiores arbitrariedades com o seu séquito ensandecido. Claro, a razão apresenta nos confrontos sua face egocêntrica, no intuito de prevalecer em determinada situação. Por isto, devemos ter como tutora a verdade eterna para se submeter ao julgamento das nossas atitudes isento da vaidade da razão.
Tendo dito exaustivamente que a vida é uma via de mão dupla: eu e o próximo. Não sou o único ser no mundo. Estou rodeado de pessoas e com elas me relaciono em todo tempo com as palavras e ações compartilhadas. Nesse compartilhamento de existência, temos a família, amigos, conhecidos e desconhecidos que proporciona a felicidade e a solidariedade orgânica – esse preceito positivista de Émile Durkheim (1858 – 1917). Aliás, tudo que fazemos de bem se reverterá em benefícios não somente para nós, mas também para o nosso próximo, pois as virtudes mais excelentes existem para serem repartidas e traz a verdade, a paz e solidariedade de geração em geração.
As ações individualizadas e individualistas são egocêntricas e se inserem na ideia de supremacia: há alguém importante, uma classe superior diferente das demais. Essa ideia de hegemonia gera conflitos e disputas entre classes pela sensação de injustiça social. O individualismo fomentado pela acumulação de capital tem suas conseqüências que alcançam outras pessoas. Alguns se iludem com os benefícios do individualismo pela incapacidade de repartir as benesses do lucro, do conforto, da fama e de ser servido por outros. Não entendem que a vida é feita de reciprocidades e esse vai-e-vem de relações pessoais sadias ou opressoras trazem conseqüências para a convivência social.
Quando alguém aumenta sua fazenda maior será o número daqueles que dela comem. Ninguém é feliz sozinho e sempre haverá motivo para repartir, pois o mundo é injusto, privilegiando na lógica da competição os melhores adaptados.
CONCLUSÃO
Acredito que o nosso caminho deve ser é iluminado pela provisão da verdade para não sermos devorados pela cultura calamitosa da porfia. Não somos gladiadores da existência no confronto com o próximo, mas no duelo com a morte. Nesse caso, não se morre quando há separação da alma do corpo e jaz um cadáver. Cada decisão errada é uma opção de morte que abrevia a programação da vida.
REFERÊNCIAS
Recomendo a leitura do livro
BOTTON, Alain. Arquitetura da Felicidade. Tradução de Talita M. Rodrigues. Rio de Janeiro: Rocco, 2007.
HART, Stuart L. O capitalismo na encruzilhada: as inúmeras oportunidades de negócios na solução dos problemas mais difíceis do mundo. Tradução de Luciana de Oliveira Rocha. Porto Alegre: Bookman, 2006.

Nenhum comentário:

Postar um comentário