sexta-feira, 24 de outubro de 2014

O ENCANTO E O DESENCANTO DA EDUCAÇÃO


Professor Gelcimar da Silva Pereira Nunes
INTRODUÇÃO

Faço da experiência na educação uma reminiscência dos encantos dos primeiros anos da vida em que a beleza da fantasia estava presente na minha leitura do mundo. O encanto do sonho fazia com que a educação fosse a última gota de esperança para melhoria de vida de uma geração acostumada com a vida repleta de dificuldades. A realização do sonho dos pais era sentir a felicidade dos filhos na contramão das dificuldades que eles tiveram. Por isto o maior investimento era a educação que davam aos filhos mesmo desconhecendo a grandiosidade dos valores que eles transmitiam na simplicidade das palavras.
A SIMPLICIDADE DO ENSINO 

Por isto, invisto na memória com uma saudação nostálgica à inocência dos meus primeiros anos. Eram momentos em que o sonho era complacente com a imaginação fértil da infância. Nesse universo colorido, até a lágrima tinha o sabor da fantasia cujo enredo se renovava a cada vivência. O expecto da felicidade estava na simplicidade de ver o mundo na pureza do olhar, sem a rudeza adulta que nos cercava. Em cada brincadeira estávamos construindo o nosso mundo a partir da música de Deus que escutávamos na natureza. Essa era a nossa leitura de mundo com a sua beleza e cores. Os dias eram longos, intermináveis, como a história sem fim e fazíamos da brincadeira o sonho da realidade que desejávamos viver. Na pureza do encanto, vivíamos a beleza da liberdade mesmo alardeada pelo desencanto do não. A simplicidade da existência estava no fato de bebermos a pureza da inocência sem a culpa e a igualdade da convivência sem medo e constrangimentos. Estávamos aprendendo a viver a vida pela emoção da novidade com o mundo que se apresentava sem as contradições no horizonte. Assim enxergávamos o mundo e fazia sua leitura e escrevíamos as imagens com as penas da imaginação nas páginas do coração.

Lembro-me das noites a conversar sob a luz da candeia em que as histórias rimavam com a sabedoria popular aprendida de geração em geração. Era a tradição oral com os seus rituais nas rodas de conversas sobre a experiência vivida pelos ancestrais, trazendo à memória sua origem e feitos. Devido à curiosidade, os contos eram mais vigorosos que a literatura que hoje conhecemos. Livros eram raridade, mas os preceitos essenciais da vida estavam sendo impressos nas tábuas do coração. Não tínhamos a sistematização complexa de hierarquia. Isto não bastava. O exemplo dos mais velhos nos empurrava para a vocação de querer imitá-los pelo simples prazer de ser ensinados pelos “deuses”. A aura da verdade estava na palavra empenhada, na fé de um simples aperto de mãos, dispensando quaisquer laudas cartoriais. Portanto, o senso de justiça era regulado pela crença de considerar reciprocamente o próximo superior em relação a si mesmo. Essa concepção de serviço ao próximo era o retrato humanitário dos mais humildes. Pessoas desprovidas da instrução acadêmica, mas que aprenderam a reconstruir o mundo a partir de suas experiências de vida. Não eram perfeitas, mas não viviam prostradas diante de repetições de erros que haviam sepultado em passado pregresso. Suas experiências eram lições morais que inspiravam os mais jovens a serem iluminados no processo de tornar-se pessoa. A dignidade moral era a virtude mais excelente que indicava a prontidão do jovem para a vida adulta, propício a tomar suas próprias decisões, inaugurando sua autonomia intelectual e social.

O universo do sonho era atravessado na esperança de superação da dureza da vida pela instrução escolar. Apesar da funcionalidade, ler e escrever eram apenas o divisor entre o analfabetismo e a escolarização. Buscava-se a facilidade do trânsito diário na condução das soluções simples para a vida social. A ambição de cada pessoa estava na humildade de perpetuar seu nome por gerações à essência espiritual aprendida pelos genitores. Portanto, grau acadêmico seria apenas um adorno a toda herança cultural rica em valores e representações sociais marcantes de um povo. Isto tornava a vida simples por que o conhecimento eram pinturas desenhadas na alma e na intensidade da vida de forma natural e intuitiva.

Passo a lembrar dos relatos do filósofo Carlos Eduardo Brandão sobre os primórdios da educação. Ele mostra que a roda de conversa propicia a abertura de alguém ensinável, abraçado a genial humildade de ser um aprendiz. A beleza do diálogo está na prontidão de alguém buscar se alimentar da sabedoria com vigor de suas forças mentais e com alegria de saciar-se nos banquetes do conhecimento. Isto pode ser visualizado nas comunidades simples onde a aprendizagem da criança parte do reconhecimento da sua identidade cultural no meio em que vive. A exploração dos órgãos dos sentidos reveste a aprendizagem da emoção do patrimônio imaterial que é experimentado a cada dia, criando expectativas de vivenciar experiências significativas na plenitude da idade adulta.

Lembro-me da deidade da sabedoria dos anciãos que apregoavam o caminho da dignidade por meio das histórias de suas experiências de vida. O mundo das ideias adentrava nas mentes por meio da imaginação dos seus atos heroicos. A cada conversa uma lição de vida que nos convidava a imitá-los. Eram humanos, mas na nossa imaginação eram deuses que nos abençoavam por meio de palavras. Essas palavras eram vigorosas e proporcionavam a ação educativa de viver a dignidade acima de qualquer bem material.

A novidade do mundo do trabalho era introduzida aos infantes com a arte de mostrar a predestinação de se construir uma vida adulta autônoma. Construía-se o ciclo a partir da infância com a doçura do olhar, perplexo com intento de se aventurar ao mundo da responsabilidade. Gozava-se a infância de forma vagarosa, sem a exigência da velocidade no aprendizado. Respeitava-se a lei da natureza de crescer na estação própria para colher os frutos da maturidade com a qualidade da vida.

Nessa aprendizagem da vida, destacava-se o senso de preservação das crianças para que elas não adentrassem prematuramente nas contradições do mundo adulto. Estavam propositalmente excluídas das informações e debates acalorados promovidos nas rodas das pessoas crescidas. Importava que elas vivessem a infância, respeitando o seu universo de ludicidade e encanto.

Então, as crianças deveriam captar o conhecimento do mundo pela beleza do olhar, pela naturalidade das palavras e pelo encanto dos gestos. Nada de conhecimento prematuro, apressado e impositivo. Tudo aconteceria no momento certo, seguindo a lógica da curiosidade e da descoberta. Contudo, não era custoso mostrar o caminho a ser percorrido com segurança em situações do cotidiano. Aprender fazendo e questionando seus próprios erros era a forma de produzir maturidade psicológica e emocional. O sentimento de culpa era usufruído com uma tristeza causada por um arrependimento e traria gozo em momento oportuno. O gesto amoroso da correção levava a reflexão sobre as oportunidades de praticar a virtude como o espelho do homem ideal a ser formado. Mas, o homem ideal não estava carregado da áurea da santidade, isento de todos os defeitos e protegido de todos os sentimentos indesejáveis. Era tão próximo e tão marcante como nossa própria carne. Por isto, cultuávamos em nossos pais o respeito dos deuses.

A experiência religiosa era introduzida no caminho, no caminhar e suas ondulações eram conhecidas com o brilho no olhar. No sonho era plantada a esperança que estava presente na existência dando-lhe beleza nas cores. Educar para a esperança era mostrar que as dificuldades da vida era um processo dinâmico a ser superado com o tempo para olhar mais adiante pelo retrovisor da experiência.
AS MARCAS DO ENSINO NO CORAÇÃO

Assim, as palavras eram tintas que nos marcavam e grudavam em nós, dando forma aos nossos pensamentos e ajudando-nos a estruturar ideias. As palavras tinham o valor de ouro e não causavam enfado aos ouvidos. Isto por que tínhamos o orgulho de ter a ignorância como a nossa nobre fraqueza. O reconhecimento da ignorância era o pensamento que embasava a nossa humildade. Ao praticar a virtude da humildade, o mais importante era ouvir para apreender a exposição oral, deixando a imaginação construir as imagens das informações. Não importava tanto fotografias e filmes. Todo o ensino quando chegava ao nosso entendimento se transformava em um conteúdo autobiográfico. Inevitavelmente entrávamos na história, vivendo ao lado dos personagens como se estivesse presenciando suas aventuras. Assim, construíamos os significados, dando cores e imagens às palavras, mesmo que elas fossem instruções e advertências.

Por consequência, algumas palavras nos marcaram como vergões. Nem mesmo adultos nos esquecemos delas. Eram bem diferentes desses jargões que martelam a nossa mente com suas exaustivas repetições. Os jargões não passam de uma celebração à ignorância e uma violência contra a educação, pois transforma pessoas em receptores passivos e repetidores involuntários de palavras ou frases. O que me refiro é o encanto de receber as palavras como pérolas para adornar a experiência de vida. É lembrar-se das palavras e relacioná-las a pessoas e acontecimentos de vida, bem como a experiência marcante da história. Nessas lembranças, às vezes, temos a experiência do flashback, imaginando as vozes e as imagens do passado. Aliás, a memória nos faz viajar para trazer a lembrança dos aprendizados que precisamos usar como ferramentas em momento oportuno.

Agora lembro que, certa vez, a poetisa Adélia Prado refletiu que o nosso corpo é feito de palavras. É impressionante como as imagens, que vimos, interiorizam a leitura do mundo. As palavras têm uma conexão simbólica com a leitura de mundo com suas imagens e cores. Fazemos-nos participantes da história nos construtos da mente. É o modo solene pelo qual adentramos no mundo das ideias onde o pensamento se materializa com o jogo simbólico das imagens que criamos.

A mesma coisa disse Rubem Alves, explicando que as palavras grudam em nosso corpo como uma tinta ou tatuagem. O que ouvimos não poderá ser removido e que novas palavras são inseridas no conhecimento que já temos como a nossa própria vivência. Isso faz parte da experiência com seus casos e percalços.
A CORRUPÇÃO DO SONHO PELA TEORIZAÇÃO DA REALIDADE

Agora cito Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844 -1900) para falar do sofrimento. Para Nietzche, o sofrimento é algo vantajoso na vida. Sem sofrimento não há vitória, não há sucesso. Alguém pode imaginar que o sucesso é algo fácil e natural, mas não existe um caminho reto até o topo. Ele escreveu.

"Não falem de dons ou talentos inatos. Podemos listar muitas figuras importantes que não tinham talento, mas conquistaram seu mérito e transformaram-se em gênios. Elas fizeram isso superando dificuldades."

O sofrimento e as dificuldades enfrentadas por muitos em sua infância e juventude ajudou a valorizar a educação familiar e escolar como a essência da própria virtude. Para alguns, o chão da escola estava no quintal da casa e nos afazeres domésticos. As aprendizagens fluíam com a naturalidade do crescimento físico com a mesma graça e verdade. A cada momento era plantada a semente da esperança doada pela experiência dos mais velhos. Cada palavra plantava o sonho da imitação da virtude dos pais. O orgulho de pertencimento à família dava-se em função da proximidade do respeito e do reconhecimento.

Atualmente a renúncia ao sofrimento tem corrompido à criança. Prega-se uma realidade ausente de fraquezas, tristezas e frustrações. A criança é o centro do universo com suas queixas e direitos, precursor da formação de um adulto servo do paternalismo exacerbado. Como consequência, temos a imaturidade e a rebeldia do adolescente e do jovem. O enfraquecimento do pátrio poder é uma realidade evidente nos nossos dias com pais inseguros e impotentes diante da desobediência de seus filhos. A intervenção do Estado nas famílias decorre dessa insegurança e desespero.

Todos esses problemas deságuam na escola como se fosse um espaço para cobrir a ociosidade das crianças que reclamam por curtição e irresponsabilidade. A tragédia da educação inaugura-se na sala de aula pelo enfraquecimento da capacidade da escola de resolver conflitos com origem familiar. O desrespeito aos profissionais da educação inaugura a época da violência simbólica, verbal e física. Os pequenos ditadores ameaçam, constrangem e agridem, fazendo com que os atos infracionais sejam uma rotina no ambiente escolar. As famílias incentivam o desrespeito ao professor quando os tratam como empregados dos seus filhos. A obsessão pela aprovação faz com a educação seja uma mercadoria muito barata em detrimento do conhecimento real. Agora esperemos o tiro de misericórdia na educação com a promoção automática dos alunos, inclusive daqueles que não moveram sequer um dedo para apreender uma gota de conhecimento.

Espera-se com a educação progressista e libertadora (que nunca se entendeu o que era) venha tornar a educação uma mercadoria por meio de barganha política do poder público com o lobby dos intelectuais. A posição secundária imputada aos educadores faz com o aluno e suas famílias estejam no centro da razão e excluídos de responsabilidades com relação ao fracasso escolar.

CONCLUSÃO

A reflexão nostálgica não se encerra nessas linhas. A imaginação inaugura reticências com as indagações e explicações a serem buscadas. Sou apenas um especulador teórico usando a nossa vã filosofia para entender os mistérios que existem no céu e na terra. Estou limitado para compreender a evolução do pensamento humano e as inúmeras contradições que surgem no duelo de palavras inúteis, onde cada um deles busca convencer-se da verdade. Portanto, a ideologia se alimenta do ego em relação ao próprio conhecimento. Quanto a mim, voltarei a dormir na simplicidade do humilde conhecimento aprendido pelos antigos, dialogando com os saberes que me são apresentados.

REFERÊNCIAS


ALVES, Rubem. Um Céu Numa Flor Silvestre: a Beleza Em Todas as Coisas. Campinas: Verus, 2009.

BOTTON, Alain. Desejo de Status. Tradução de Ryta Vinagre. Rio de Janeiro: Rocco, 2005.

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O Que é Educação. São Paulo: Editora Brasiliense, 1981.

CHALITA, Gabriel. Educação: A solução está no afeto. Rio de Janeiro: Editora da Gente, 2001.

CURY. Augusto. Os segredos do Pai-Nosso. A solidão de Deus: um estudo psicológico da oração mais conhecida no mundo. Rio de Janeiro: Sextante, 2006.

NIETZSCHE. Coleção Os Pensadores. Vol. 1. São Paulo: Nova Cultural, 1987.

domingo, 24 de agosto de 2014

O UNIVERSO DOS SONHOS

INTRODUÇÃO

Viajante neste mundo vivo a cada dia os questionamentos da segurança de cada passo a ser dado em direção ao aperfeiçoamento progressivo da virtude. Sei que a virtude está no encanto da inspiração de um mundo perfeito onde os homens experimentam a elevação de sua essência espiritual. A virtude não é uma faculdade interiorizada como uma caixa preta que não pode ser desvendada nas relações entre seres humanos. Ela é a luz que reflete a beleza da alma com todas as suas cores e detalhes. Dá os contornos mais brilhantes a personalidade humana, atenuante os defeitos. Por isto, a virtude é a companheira inseparável da sabedoria e conduz os homens para o incomensurável mundo das ideias.
A CAIXA-PRETA DA ALMA

Lembro-me das lições aprendidas com os mestres sobre os filósofos socráticos que exaltavam a virtude como a elevação espiritual a ser buscada por todos os homens. Contudo, reconheciam sua aquisição como uma joia rara, devido ao conflito interior contra os impulsos materiais, próprios da dualidade corpo e alma. Sabiam que a busca até a última gota do prazer, pensada como a plenitude da alegria, incorreria na mais irracional das pulsões conflitando com a prática da virtude. Uma das reflexões mais produtiva foi à recomendação à administração equilibrada das palavras e uso moderado da ira.

Como tenho percebido, as palavras tem sido a conexão entre os pensamentos e as ações. As palavras trazem consigo enigmas do universo conflituoso da alma, filtradas pela censura moral que abraçamos por meio das nossas crenças e ideologias. A disciplina moral nos humaniza e nos resguarda da escravidão dos impulsos que nos rodeia à espreita dos enganos da razão. Tudo isso porque nos vimos envolvido em conflitos interiores cujas motivações, por vezes, desconhecemos.

É muito difícil colocar-se no lugar do outro porque implicaria na renúncia da satisfação das nossas primeiras vontades. Teríamos que refletir sobre a culpa de se alimentar da fraqueza dos outros por querer disputar a solidão do primeiro lugar. Para alguns, a trapaça é legítima para que realização dos impulsos egocêntricos e compulsivos seja a expressão de um grito de liberdade e de poder. Claro, a sensação é que as regras são escravizantes e transgredi-las acrescenta a biônica sensação de prazer e perigo para incluir-se no rol dos privilegiados a desafiar as normas de um grupo de indivíduos. 

Fico pensando como a transgressão está inserida na disputa de poder e no desafio a toda e qualquer ordem. Há quem acredite na falibilidade dos projetos e da justiça humanos para estabelecer-se como exceção à regra. A busca da exceção acena para os privilégios dos atalhos, pois existe sempre alguém quem desconfia que as normas sejam realmente justas ou se a vigilância é eficiente. Essa é razão porque nos impressionamos como alguém declaradamente valente, quando confrontado pelo rigor da justiça, busca a fuga das consequências dos seus atos.

O homem como ser moral traz a conjugação dos seus sentimentos que são interpretados por pensamentos e materializados por meio de atos. É difícil decifrar a natureza dos sentimentos que, por vezes, nos induz a cometer equívocos. Essa é a clara evidência de que desconhecemos a nossa própria interioridade ou enigmas da nossa própria alma. Acreditamos piamente nos órgãos dos sentidos: a visão, a audição, o olfato, a gustação e o tato, pois nos entrega às impressões materiais do universo que nos cerca. A partir das sensações apreendidas se faz a leitura da realidade que são organizadas em forma de pensamentos. Talvez, a ilusória leitura da realidade gere em alguns pensamentos contraditórios e a falsa consciência seja a motivação para muitos conflitos.

A pressão psicológica traz uma carga de sensações físicas tão opressoras que os pensamentos se desorganizam como um exército de soldados que procura desesperadamente se defender em várias frentes. Procuramos inundar com lágrimas nossos medos, insegurança e amargura. Ficamos a mercê da autocomiseração e julgamo-nos o mais insignificante de todos os seres humanos. Isto explica como a mente organiza nossas crenças no otimismo ou nos empurra para o pântano do pessimismo após termos nossas expectativas frustradas. Tal empreendimento mostra a falibilidade das verdades que construímos a partir das impressões pessoais.

Nos sonhos, libertamos a nossa alma para viajar no universo das ideias e materializamos nossos medos e motivações sem a natural repressão que disciplina as nossas ações. No mundo dos sonhos há liberdade de criação e da imaginação. Em outras vezes, nos assusta agigantando os nossos medos e culpas. Por isto, muitos têm pesadelos por se julgarem insignificantes e impotentes diante dos seus temores. Tendemos a temer aquilo que desconhecemos. Para superar o medo, o homem buscar a explicação do mundo pelo conhecimento.
AS EXPECTAÇÕES DO CONHECIMENTO

Conta-se uma lenda que o conhecimento fora enviado ao mundo na forma de um grande espelho. Porém, antes de chegar a Terra, o espelho teria se partido em vários pedaços e se espalhado por diferentes partes do mundo. As pessoas ficaram impressionadas com o pedaço do espelho, pois viam o reflexo da sua própria imagem e personalidade. Pensaram que a verdade refletiam os seus próprios pensamentos e tornaram-se individualistas e arrogantes. Desde então, por defesa de pontos de vistas acentuaram os conflitos e pelejas. Os cientistas conseguiram reunir outras partes do espelho e pensaram que tinham descoberto a verdade por inteiro e transformaram o conhecimento em atividade lucrativa e um instrumento de poder. No afã de semear sua doutrina sobre o universo e os fenômenos naturais pensaram que eram deuses.

Muitos intelectuais gostaram tanto do conhecimento que o transformaram em um brinquedo ordinário. Para tanto, recriaram o mundo a partir de suas concepções na lente de aumento do saber sistematizado. Debocharam da fé e do senso comum para definir o status da verdade segundo a ciência. Desde então, as pessoas são classificadas entre os inteligentes e os ignorantes. Assim, disseminaram a ideia de que o conhecimento é o presente dos deuses aos nobres escolhidos e que a todos enriquecidos por essa dádiva foram-lhe dados poder e autoridade sobre os demais homens.

O conhecimento é mais poderoso que o uso da força, visto que a inteligência é a arma dos fracos e corajosos. Em determinado momento da história, o homem precisou usar o pensamento para entender a natureza, superar os seus medos e usar estratégias para superar as feras e adversários que eram mais poderosos que ele. Era necessário empregar algo que valorizasse seus pontos fortes e atacasse as fraquezas do adversário.  

Aprendi que o conhecimento vence o medo e ensina o homem a pensar a estratégia. A inteligência possibilita ter domínio sobre o problema para que ele seja ferramenta de trabalho e não um empecilho na realização dos sonhos. A inteligência é resultante do processo mental que organiza nossos problemas em fórmula de cálculo. Os cálculos nos proporcionam o desafio que nos levará aos passos para a solução dos problemas.

Cito a parábola do leão e do elefante. O leão não é forte, nem o mais inteligente, ágil e alto. Contudo, compensa suas limitações pela atitude e assim valoriza a estratégia para apanhar as suas presas. Por outro lado, o elefante é o mais forte, mais alto e sucumbe diante da ousadia do leão. Explico que o leão vive em função daquilo que acredita e valoriza a estratégia, mas o elefante vive em função daquilo que vê e ouve e aprendeu a ter medo do rugido do leão.  Por isto, a fé alimenta as nossas atitudes por mais ilógicas que possam parecer, superando a visão limitada da razão que coloca termos para as nossas possibilidades.

Ainda hoje, o conhecimento é apregoado como o néctar dos deuses. Alguns acreditam que ao nascer foram premiados pela inteligência para que tivessem relevância dentre os homens. Assim, impõem reverência para que sejam reconhecidos como notáveis e admirados como excelência pelos demais indivíduos.

Creio que a sabedoria é alma da mais excelente das virtudes: o amor. A sabedoria tem uma essência espiritual que tem conexão com a fé. A sabedoria se submete a necessidade dos homens para iluminar o caminho em direção da virtude. O homem sem a virtude está moralmente morto. É escravo das suas paixões e se submete aos seus impulsos mais sórdidos. A sabedoria conduz o homem ao domínio dos impulsos de sua natureza, distinguindo-os dos demais seres viventes. Por isto, a sabedoria mais importante que o conhecimento e mais vigorosa que a inteligência.

Gosto muito da opinião do educador, filósofo, teólogo e psicólogo Rubem Alves. Ele que expressa que é preciso entender que “nossas ideias não passam de passam de palpites”. Traduzem uma opinião sobre determinado assunto em determinado momento, mas, conversando mansamente com outras pessoas, extraímos outros pontos de vista que irão enriquecer o nosso entendimento e compreensão da realidade que é dinâmica e sofre constantes mutações.  Não se trata da aniquilação do pensamento individual – extrato da consciência e da personalidade. O pensamento é a propriedade imaterial do ser humano que se revela por meio do diálogo. Apesar de divergente é salutar nas relações humanas.

Acredito que os pensamentos podem evoluir e se transformar em ideias. As ideias tem comprometimento com a posteridade. Não basta apenas pensar. É preciso conversar para extrairmos as contribuições dessa arena do debate divergente. Pela conversa dividimos pensamentos e pelo calor da divergência tornamos mais brilhantes nossas ideias.

Por vezes, somos egoístas, egocêntricos e os nossos pensamentos refletem a nossa postura defensiva no trato com os nossos semelhantes. É o meio que temos ao tomar como referência o nosso próprio corpo para orientar a visão de mundo. Assim, cada um tem a verdade particular como tacape no seu grito de guerra quando se sentir ameaçado. Parece que o homem ama no íntimo a liberdade que, como medida extrema, é capaz de abominar as regras. Ledo engano. Prevalece o medo de não querer ser controlado por outro ser humano. Os construtos mentais denunciam a nossa individualidade que clama por liberdade – é a inscrição primordial da nossa alma. Por outro lado, a mesma liberdade amedronta e ele reclama por limites por meio da rebeldia.

Concordo com o Dr. Myles Munroe que o homem nasceu líder e não admite a opressão em sua forma mais banal. Como obra prima na coroa da criação, temos o comando instintivo da dominação sobre a natureza e o desejo ardente de controlá-la, de modo que o desconhecido nos inquieta. O problema que esse domínio se revela opressor ao longo da história tanto em relação à natureza e os demais seres animais e humanos.
CONCLUSÃO

Por vezes fico perplexo como a cultura traz elementos do patriarcado com requintes de machismo, sexismos e preconceitos. Acreditava-se que a agressividade era causada por pessoas ignorantes, analfabetos ou com pouca formação acadêmica. Agora fico impressionado com a brutalidade dos intelectuais que, também, não renunciam as fraquezas dos seus instintos mais primitivos: a raiva, a inveja, o orgulho, a traição, etc. A diferença é que o enredo da agressão é mais elaborado e sórdido. Eu entendo que o saber não liberta o homem dos seus instintos primitivos. Apenas sofistica os argumentos da injustiça.  Creio que é possível ser líder no universo dos sonhos para projetar sua realização por meio de ações concretas.
REFERÊNCIAS

BOTTON, Alain. Arquitetura da Felicidade. Tradução de Talita M. Rodrigues. Rio de Janeiro: Rocco, 2007.

________. Desejo de Status. Tradução de Ryta Vinagre. Rio de Janeiro: Rocco, 2005.

BRIZOTTI, Alan. Identidade Cristã: resgatando a verdadeira identidade cristã. Goiânia: Primícias, 2012.


CHALITA, Gabriel. Educação: A solução está no afeto. Rio de Janeiro: Editora da Gente, 2001.

quarta-feira, 14 de maio de 2014

PÉROLAS DA SABEDORIA

 
Professor Gelcimar da Silva Pereira Nunes          

INTRODUÇÃO

Na sublimidade do silêncio, busco a inspiração para compor a poesia no ritmo das batidas do coração. Sou convidado a adentrar no mundo das ideias e colher os favos de sabedoria plantados no átrio espiritual do Eterno. Claro, do silêncio busco a renovação das forças cujas energias foram empregadas no serviço ao próximo. Essa renovação é fugaz e expressa a própria necessidade do ser de drenar sua ansiedade quanto as expectativas de ser o próximo alvo da solidariedade orgânica. Então a reciprocidade dá-nos a sensação de que seremos recompensados em toda boa obra; que nossas virtudes serão louvadas e os nossos defeitos esquecidos.

EXPECTATIVAS
O desenho da realidade é belo no universo dos nossos sonhos e gostaríamos de vivê-la na integralidade da realidade. Mas, as pessoas que nos cercam confrontam em nós as expectativas de um mundo perfeito. O mundo ideal é reclamado no universo dos direitos e nem todos não aceitam as agruras como estágio de aperfeiçoamento do ser humano. Reclamam por atalhos e pelo produto pronto sem defeitos. A realidade fast foot expôs as tragédias da velocidade da rotina dos indivíduos, plastificada, mecânica e fetichizada. Não há tempo para pensar, para ler e refletir, pois o mais importante é o resultado e não o processo.
 
Creio que a beleza das palavras está decorada na sublimidade da verdade. Não quero presentear a beleza com ingredientes da falsa consciência. A ilusão do elogio está na fragilidade da segurança que ele traduz. A fé da boa qualidade da índole e das intenções não introduz ninguém no universo das mudanças. A expectativa é que faz as coisas melhorarem, embora nem sempre mudar signifique que as coisas melhorem.
 
Nossas expectativas são sonhos desenhados com sentimentos carregados de otimismo. Essas pérolas de esperança fazem da verdade a tábula da certeza de que o universo se revestiu da perfeição para atender as nossas preces. Então percebemos que estamos adentrando em uma seara perigosa. E se as nossas expectativas de perfeição forem frustradas? Então só nos restarão a ira, o desânimo e a autocomiseração?
 
Folgo na verdade pela convicção do seu conteúdo ético não apenas como arma de defesa da insegurança. A verdade não pode ser falsificada pelo medo para ser uma arma nas mãos dos iníquos. Sei, porém, que cada um busca justificar suas posições políticas-racionais com o argumento de verdade. Essa sanha egocêntrica cria polos de divergência, imprime dúvidas e falsifica as certezas. Claro, as pessoas anseiam que suas posições individualistas prevaleçam sobre as demais para o bem estar de suas convicções e para reafirmar supremacia. Não gosto desse conceito de supremacia embrulhado com requintes de competição. Essa ilusão de liderança que estabelece diferenças entre fracos e os mais adaptados. Creio que a liderança deve estar enlaçada no compromisso de inspirar pessoas sem a conotação de domínio. Assim, a luz da verdade das ações das pessoas excelentes são marcas rochosas que não podem ser apagadas com o silêncio da morte. São vozes reproduzidas no legado das gerações.
 
O silêncio dos puros sonega, às vezes, atitudes de altruísmo contra as injustiças. A verdade roga por arautos humanos assim como a terra seca anseia pela chuva. Isto mesmo, a verdade quando chega planta a semente da justiça e, ao mesmo tempo, sangra as contradições do engano para estabelecer-se de forma triunfante. Quando a verdade se estabelece pela contradição, vejo na melodia do pranto abrir as oportunidades de um arrependimento sincero.
MEU ENTUSIASMO
Meu entusiasmo, foca em todas as possibilidades de transformação do ser humano pelo resgate da sensibilidade que foi perdida pela ilusão do ego e do materialismo. Inevitavelmente, somos vítimas do ego ferido porque deixamos a ilusória satisfação do individualismo e do materialismo nos corromper. Creio que as nossas virtudes nos fazem mais excelentes do que os demais homens e até mesmo a pretensa humildade entra na cota elementar da nossa satisfação. Mas, a nossa importância está no mesmo limite da nossa insignificância, pois todos os homens foram colocados no mesmo centro do universo. Então, as motivações das injustiças estão plantadas no coração humano que foi corrompido pelo materialismo das relações pessoais, com requintes de individualismo dominador e orgulhoso.
 
Agora sei que a minha defesa de fé está nas convicções de que a vida não é um produto pessoal, mas um usufruto coletivo. Fomos plantados na história a partir de um propósito de utilidade. A vida não foi um acidente que nos introduziu na existência. Aliás, existe uma diferença entre viver e existir. Alguém pode viver a vida do seu jeito sem entender nada. Viver como se fosse um animal dentro de um ciclo biológico ou simplesmente pensando em experimentar até a última gota de prazer antes que chegue a tragédia da morte. A existência convida a desfrutar a vida com significado. É introduzir-se na consciência espiritual que nos faz vigorosos na fé e na esperança, apesar das conflituosas relações humanas existentes na sociedade. A existência faz as pessoas serem sócias de outros homens e mulheres nesse imenso ecossistema. Claro, a existência pressupõe uma solidariedade orgânica entre pessoas e isso vai além de uma simples especulação filosófica. A existência revela o ser na sua integralidade com a sua essência espiritual: sentimento, inteligência e vontade. É o homem revestido da sua consciência moral e de sua origem gregária. Ou seja, uma vida atrelada a uma consciência social de promoção do bem-estar dos demais seres humanos.
 
Minha vivência traz as expectações das alegrias e frustrações da convivência humanas. Aliás, a convivência social é carregada de emoções. Assim, partilhamos as fraquezas da carne que extravasam nas palavras não calculadas, traídas pela impulsividade do espírito. Não poderemos reclamar a perfeição como algo absoluto, mas poderemos experimentar o aperfeiçoamento progressivo que nos faz homens e mulheres maduros, em desenvolvimento pleno enquanto pessoa. Sou forjado a partir dessas experiências que humanizam e me revestem de sensibilidade para olhar o outro com o sentimento da própria carne. Essa vazão do sentimento é capaz de produzir uma gota ardente no olhar: a lágrima. A lágrima é a prova mais evidente das emoções que explodem nos momentos irremediáveis dos infortúnios. Ela revela a nossa mais nobre fraqueza; faz o coração de carne se romper e força os mais corajosos a retroceder o seu espírito belicoso. Se bem que a lágrima, às vezes, é traiçoeira como laço de trapaça a espera dos incautos. Porém, a palavra da sabedoria adorna com a verdade a sala de estar do coração e descortina todo o engano e até o mesmo o fetiche da lágrima.
 
A verdade está tão perto e distante de mim. Ela se revestiu das virtudes divinas e anseia por ser desejada, buscada. Mas por que ela não se corrompe pela tutela das definições científicas? Existe alguém que disse que a verdade deve experimentada, provada, experimentada e percebida pelos órgãos dos sentidos. Seria o resultado da experiência e tão simples a ponto de ser materializada?  Hoje, a verdade está sendo lançada na arena do contraditório, perdida no julgamento de teses, por um método racional pelo qual o julgamento moral está força dos argumentos do que na sublimidade dos princípios. No duelo de palavras, há quem fragmente a verdade, aprisionando-a nos pressupostos da subjetividade. Agora, fala-se em verdades, extraindo a objetividade e sua singularidade. Parece ser a aposta mais conveniente para o individualismo no qual todos estão certos e, ao mesmo tempo, todos estão errados.  Assim, cada um carrega debaixo do braço sua verdade e a arma de defesa mais usada é: “cada cabeça, uma sentença”.
 
A renúncia da objetividade faz que os valores sejam relativos e suscita o questionamento ao modelo de sociedade objetivo e conservador. A diversidade desprovida de unidade de consenso faz com que até mesmo o crime seja repensado pela subjetividade. Isso leva a relativização da culpa e a marginalização passa ser considerada, por determinadas bandeiras sociais, uma consequência e não uma causa em si mesma. Colocar o criminoso como vítima de um sistema social desigual é o argumento mais estúpido da corrente pós-modernista que abraça a subjetividade até as últimas consequências. Por isso, a reversão dos direitos humanos vê no meliante uma vítima a ser protegida do Estado opressor. A marginalização do Estado é a teoria mais insana de determinados militantes políticos. A inversão de valores é pressuposto da injustiça social que sufoca a ousadia dos homens piedosos, temerosos da criminalização de suas posições contra o erro e o engano.
 
Então quero estar adornado com pérolas da sabedoria. Não quero ser o inteligente, o culto, o mestre ou doutor em ciências e até mesmo perito em teorias sociais. O mundo está cheio de mestres e doutores e, ao mesmo tempo, carente de sábios. O saber acadêmico é vital para o modelo econômico capitalista e faz diferença em um mundo competitivo.
 
Para alguns peritos em teorias, a brutalidade e a delinquência é produto da ignorância; que a educação é o caminho para a formação de gerações conscientes e mais humanas. Seus argumentos consideram que a desigualdade social é o reflexo das injustiças históricas que embrutece a nossa sociedade.
 
Creio que a pobreza não exime ninguém da cultura moral mais excelente que cultuavam os nossos avós. Eles cumprimentavam as pessoas no trânsito diário com a simplicidade da amizade e do respeito. Sabiam o tempo e as estações, julgavam as pessoas pelo caráter e não pela aparência. Cultuavam a hospitalidade e a misericórdia como bondade praticada a um parente mais próximo. Eles produziam no presente a esperança como semente de um fruto saboroso a ser colhido na posteridade. Detestavam a velocidade dos compromissos e o tempo para o trabalho estava marcado para o nascer e o pôr-do-sol.  Assim tinham conhecimento da mais nobre de todas as Leis: a “Lei da Natureza”, também conhecida como a “Lei da Semeadura”, cuja máxima é: “tudo tem o seu próprio tempo”.
CONCLUSÃO

Por isto gosto da sabedoria por que ela enleva o espírito e enobrece o caráter. Ela está presente nas palavras de conselho que nos ajudam a evitar o mal e a praticar o bem. Protege-nos dos modismos, mesmo que ampla maioria siga princípios contraditórios como se fosse a última verdade do universo. A sabedoria nos ajuda a fortalecer as nossas convicções de justiça, de respeito ao próximo e a amar a verdade acima de todas as coisas. Sobretudo, ajuda a compreender a vida como uma dádiva recebida do Eterno e compartilhada com todos na Terra dos Viventes.

REFERÊNCIAS
Vou apenas recomendar a leitura de alguns livros:
 
BRIZOTTI, Alan. Identidade Cristã: resgatando a verdadeira identidade cristã. Goiânia: Primícias, 2012.
 
CURY. Augusto. Os segredos do Pai-Nosso. A solidão de Deus: um estudo psicológico da oração mais conhecida no mundo. Rio de Janeiro: Sextante, 2006.
CHALITA, Gabriel. Educação: A solução está no afeto. Rio de Janeiro: Editora da Gente, 2001.