
INTRODUÇÃO
Viajante neste mundo vivo a cada
dia os questionamentos da segurança de cada passo a ser dado em direção ao
aperfeiçoamento progressivo da virtude. Sei que a virtude está no encanto da inspiração
de um mundo perfeito onde os homens experimentam a elevação de sua essência
espiritual. A virtude não é uma faculdade interiorizada como uma caixa preta
que não pode ser desvendada nas relações entre seres humanos. Ela é a luz que
reflete a beleza da alma com todas as suas cores e detalhes. Dá os contornos
mais brilhantes a personalidade humana, atenuante os defeitos. Por isto, a
virtude é a companheira inseparável da sabedoria e conduz os homens para o
incomensurável mundo das ideias.
A CAIXA-PRETA DA ALMA
Lembro-me das lições aprendidas com
os mestres sobre os filósofos socráticos que exaltavam a virtude como a
elevação espiritual a ser buscada por todos os homens. Contudo, reconheciam sua
aquisição como uma joia rara, devido ao conflito interior contra os impulsos
materiais, próprios da dualidade corpo e alma. Sabiam que a busca até a última
gota do prazer, pensada como a plenitude da alegria, incorreria na mais
irracional das pulsões conflitando com a prática da virtude. Uma das reflexões
mais produtiva foi à recomendação à administração equilibrada das palavras e
uso moderado da ira.
Como tenho percebido, as palavras
tem sido a conexão entre os pensamentos e as ações. As palavras trazem consigo
enigmas do universo conflituoso da alma, filtradas pela censura moral que
abraçamos por meio das nossas crenças e ideologias. A disciplina moral nos
humaniza e nos resguarda da escravidão dos impulsos que nos rodeia à espreita
dos enganos da razão. Tudo isso porque nos vimos envolvido em conflitos
interiores cujas motivações, por vezes, desconhecemos.
É muito difícil colocar-se no lugar
do outro porque implicaria na renúncia da satisfação das nossas primeiras
vontades. Teríamos que refletir sobre a culpa de se alimentar da fraqueza dos
outros por querer disputar a solidão do primeiro lugar. Para alguns, a trapaça
é legítima para que realização dos impulsos egocêntricos e compulsivos seja a
expressão de um grito de liberdade e de poder. Claro, a sensação é que as
regras são escravizantes e transgredi-las acrescenta a biônica sensação de
prazer e perigo para incluir-se no rol dos privilegiados a desafiar as normas
de um grupo de indivíduos.
Fico pensando como a transgressão
está inserida na disputa de poder e no desafio a toda e qualquer ordem. Há quem
acredite na falibilidade dos projetos e da justiça humanos para estabelecer-se
como exceção à regra. A busca da exceção acena para os privilégios dos atalhos,
pois existe sempre alguém quem desconfia que as normas sejam realmente justas
ou se a vigilância é eficiente. Essa é razão porque nos impressionamos como
alguém declaradamente valente, quando confrontado pelo rigor da justiça, busca
a fuga das consequências dos seus atos.
O homem como ser moral traz a
conjugação dos seus sentimentos que são interpretados por pensamentos e
materializados por meio de atos. É difícil decifrar a natureza dos sentimentos
que, por vezes, nos induz a cometer equívocos. Essa é a clara evidência de que
desconhecemos a nossa própria interioridade ou enigmas da nossa própria alma. Acreditamos
piamente nos órgãos dos sentidos: a visão, a audição, o olfato, a gustação e o
tato, pois nos entrega às impressões materiais do universo que nos cerca. A
partir das sensações apreendidas se faz a leitura da realidade que são
organizadas em forma de pensamentos. Talvez, a ilusória leitura da realidade
gere em alguns pensamentos contraditórios e a falsa consciência seja a
motivação para muitos conflitos.
A pressão psicológica traz uma
carga de sensações físicas tão opressoras que os pensamentos se desorganizam
como um exército de soldados que procura desesperadamente se defender em várias
frentes. Procuramos inundar com lágrimas nossos medos, insegurança e amargura. Ficamos
a mercê da autocomiseração e julgamo-nos o mais insignificante de todos os
seres humanos. Isto explica como a mente organiza nossas crenças no otimismo ou
nos empurra para o pântano do pessimismo após termos nossas expectativas
frustradas. Tal empreendimento mostra a falibilidade das verdades que
construímos a partir das impressões pessoais.
Nos sonhos, libertamos a nossa alma
para viajar no universo das ideias e materializamos nossos medos e motivações
sem a natural repressão que disciplina as nossas ações. No mundo dos sonhos há
liberdade de criação e da imaginação. Em outras vezes, nos assusta agigantando
os nossos medos e culpas. Por isto, muitos têm pesadelos por se julgarem
insignificantes e impotentes diante dos seus temores. Tendemos a temer aquilo
que desconhecemos. Para superar o medo, o homem buscar a explicação do mundo
pelo conhecimento.
AS EXPECTAÇÕES DO CONHECIMENTO
Conta-se uma lenda que o
conhecimento fora enviado ao mundo na forma de um grande espelho. Porém, antes
de chegar a Terra, o espelho teria se partido em vários pedaços e se espalhado
por diferentes partes do mundo. As pessoas ficaram impressionadas com o pedaço
do espelho, pois viam o reflexo da sua própria imagem e personalidade. Pensaram
que a verdade refletiam os seus próprios pensamentos e tornaram-se
individualistas e arrogantes. Desde então, por defesa de pontos de vistas
acentuaram os conflitos e pelejas. Os cientistas conseguiram reunir outras
partes do espelho e pensaram que tinham descoberto a verdade por inteiro e
transformaram o conhecimento em atividade lucrativa e um instrumento de poder.
No afã de semear sua doutrina sobre o universo e os fenômenos naturais pensaram
que eram deuses.
Muitos intelectuais gostaram tanto
do conhecimento que o transformaram em um brinquedo ordinário. Para tanto,
recriaram o mundo a partir de suas concepções na lente de aumento do saber
sistematizado. Debocharam da fé e do senso comum para definir o status da
verdade segundo a ciência. Desde então, as pessoas são classificadas entre os
inteligentes e os ignorantes. Assim, disseminaram a ideia de que o conhecimento
é o presente dos deuses aos nobres escolhidos e que a todos enriquecidos por
essa dádiva foram-lhe dados poder e autoridade sobre os demais homens.
O conhecimento é mais poderoso que
o uso da força, visto que a inteligência é a arma dos fracos e corajosos. Em
determinado momento da história, o homem precisou usar o pensamento para
entender a natureza, superar os seus medos e usar estratégias para superar as
feras e adversários que eram mais poderosos que ele. Era necessário empregar
algo que valorizasse seus pontos fortes e atacasse as fraquezas do adversário.
Aprendi que o conhecimento vence o
medo e ensina o homem a pensar a estratégia. A inteligência possibilita ter
domínio sobre o problema para que ele seja ferramenta de trabalho e não um empecilho
na realização dos sonhos. A inteligência é resultante do processo mental que
organiza nossos problemas em fórmula de cálculo. Os cálculos nos proporcionam o
desafio que nos levará aos passos para a solução dos problemas.
Cito a parábola do leão e do
elefante. O leão não é forte, nem o mais inteligente, ágil e alto. Contudo,
compensa suas limitações pela atitude e assim valoriza a estratégia para
apanhar as suas presas. Por outro lado, o elefante é o mais forte, mais alto e
sucumbe diante da ousadia do leão. Explico que o leão vive em função daquilo
que acredita e valoriza a estratégia, mas o elefante vive em função daquilo que
vê e ouve e aprendeu a ter medo do rugido do leão. Por isto, a fé alimenta as nossas atitudes
por mais ilógicas que possam parecer, superando a visão limitada da razão que
coloca termos para as nossas possibilidades.
Ainda hoje, o conhecimento é
apregoado como o néctar dos deuses. Alguns acreditam que ao nascer foram
premiados pela inteligência para que tivessem relevância dentre os homens.
Assim, impõem reverência para que sejam reconhecidos como notáveis e admirados como
excelência pelos demais indivíduos.
Creio que a sabedoria é alma da
mais excelente das virtudes: o amor. A sabedoria tem uma essência espiritual
que tem conexão com a fé. A sabedoria se submete a necessidade dos homens para
iluminar o caminho em direção da virtude. O homem sem a virtude está moralmente
morto. É escravo das suas paixões e se submete aos seus impulsos mais sórdidos.
A sabedoria conduz o homem ao domínio dos impulsos de sua natureza,
distinguindo-os dos demais seres viventes. Por isto, a sabedoria mais
importante que o conhecimento e mais vigorosa que a inteligência.
Gosto muito da opinião do educador,
filósofo, teólogo e psicólogo Rubem Alves. Ele que expressa que é preciso
entender que “nossas ideias não passam de
passam de palpites”. Traduzem uma opinião sobre determinado assunto em
determinado momento, mas, conversando mansamente com outras pessoas, extraímos
outros pontos de vista que irão enriquecer o nosso entendimento e compreensão
da realidade que é dinâmica e sofre constantes mutações. Não se trata da aniquilação do pensamento
individual – extrato da consciência e da personalidade. O pensamento é a
propriedade imaterial do ser humano que se revela por meio do diálogo. Apesar
de divergente é salutar nas relações humanas.
Acredito que os pensamentos podem
evoluir e se transformar em ideias. As ideias tem comprometimento com a
posteridade. Não basta apenas pensar. É preciso conversar para extrairmos as
contribuições dessa arena do debate divergente. Pela conversa dividimos
pensamentos e pelo calor da divergência tornamos mais brilhantes nossas ideias.
Por vezes, somos egoístas,
egocêntricos e os nossos pensamentos refletem a nossa postura defensiva no
trato com os nossos semelhantes. É o meio que temos ao tomar como referência o
nosso próprio corpo para orientar a visão de mundo. Assim, cada um tem a
verdade particular como tacape no seu grito de guerra quando se sentir
ameaçado. Parece que o homem ama no íntimo a liberdade que, como medida
extrema, é capaz de abominar as regras. Ledo engano. Prevalece o medo de não
querer ser controlado por outro ser humano. Os construtos mentais denunciam a
nossa individualidade que clama por liberdade – é a inscrição primordial da
nossa alma. Por outro lado, a mesma liberdade amedronta e ele reclama por
limites por meio da rebeldia.
Concordo com o Dr. Myles Munroe que
o homem nasceu líder e não admite a opressão em sua forma mais banal. Como obra
prima na coroa da criação, temos o comando instintivo da dominação sobre a
natureza e o desejo ardente de controlá-la, de modo que o desconhecido nos
inquieta. O problema que esse domínio se revela opressor ao longo da história
tanto em relação à natureza e os demais seres animais e humanos.
CONCLUSÃO
Por vezes fico perplexo como a
cultura traz elementos do patriarcado com requintes de machismo, sexismos e
preconceitos. Acreditava-se que a agressividade era causada por pessoas ignorantes,
analfabetos ou com pouca formação acadêmica. Agora fico impressionado com a
brutalidade dos intelectuais que, também, não renunciam as fraquezas dos seus
instintos mais primitivos: a raiva, a inveja, o orgulho, a traição, etc. A
diferença é que o enredo da agressão é mais elaborado e sórdido. Eu entendo que
o saber não liberta o homem dos seus instintos primitivos. Apenas sofistica os
argumentos da injustiça. Creio que é
possível ser líder no universo dos sonhos para projetar sua realização por meio
de ações concretas.
REFERÊNCIAS
BOTTON, Alain. Arquitetura da Felicidade. Tradução de Talita M. Rodrigues. Rio de
Janeiro: Rocco, 2007.
________. Desejo de Status. Tradução de Ryta
Vinagre. Rio de Janeiro: Rocco, 2005.
BRIZOTTI, Alan. Identidade Cristã:
resgatando a verdadeira identidade cristã. Goiânia: Primícias, 2012.
CHALITA,
Gabriel. Educação: A solução está no
afeto. Rio de Janeiro: Editora da Gente, 2001.
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