domingo, 24 de agosto de 2014

O UNIVERSO DOS SONHOS

INTRODUÇÃO

Viajante neste mundo vivo a cada dia os questionamentos da segurança de cada passo a ser dado em direção ao aperfeiçoamento progressivo da virtude. Sei que a virtude está no encanto da inspiração de um mundo perfeito onde os homens experimentam a elevação de sua essência espiritual. A virtude não é uma faculdade interiorizada como uma caixa preta que não pode ser desvendada nas relações entre seres humanos. Ela é a luz que reflete a beleza da alma com todas as suas cores e detalhes. Dá os contornos mais brilhantes a personalidade humana, atenuante os defeitos. Por isto, a virtude é a companheira inseparável da sabedoria e conduz os homens para o incomensurável mundo das ideias.
A CAIXA-PRETA DA ALMA

Lembro-me das lições aprendidas com os mestres sobre os filósofos socráticos que exaltavam a virtude como a elevação espiritual a ser buscada por todos os homens. Contudo, reconheciam sua aquisição como uma joia rara, devido ao conflito interior contra os impulsos materiais, próprios da dualidade corpo e alma. Sabiam que a busca até a última gota do prazer, pensada como a plenitude da alegria, incorreria na mais irracional das pulsões conflitando com a prática da virtude. Uma das reflexões mais produtiva foi à recomendação à administração equilibrada das palavras e uso moderado da ira.

Como tenho percebido, as palavras tem sido a conexão entre os pensamentos e as ações. As palavras trazem consigo enigmas do universo conflituoso da alma, filtradas pela censura moral que abraçamos por meio das nossas crenças e ideologias. A disciplina moral nos humaniza e nos resguarda da escravidão dos impulsos que nos rodeia à espreita dos enganos da razão. Tudo isso porque nos vimos envolvido em conflitos interiores cujas motivações, por vezes, desconhecemos.

É muito difícil colocar-se no lugar do outro porque implicaria na renúncia da satisfação das nossas primeiras vontades. Teríamos que refletir sobre a culpa de se alimentar da fraqueza dos outros por querer disputar a solidão do primeiro lugar. Para alguns, a trapaça é legítima para que realização dos impulsos egocêntricos e compulsivos seja a expressão de um grito de liberdade e de poder. Claro, a sensação é que as regras são escravizantes e transgredi-las acrescenta a biônica sensação de prazer e perigo para incluir-se no rol dos privilegiados a desafiar as normas de um grupo de indivíduos. 

Fico pensando como a transgressão está inserida na disputa de poder e no desafio a toda e qualquer ordem. Há quem acredite na falibilidade dos projetos e da justiça humanos para estabelecer-se como exceção à regra. A busca da exceção acena para os privilégios dos atalhos, pois existe sempre alguém quem desconfia que as normas sejam realmente justas ou se a vigilância é eficiente. Essa é razão porque nos impressionamos como alguém declaradamente valente, quando confrontado pelo rigor da justiça, busca a fuga das consequências dos seus atos.

O homem como ser moral traz a conjugação dos seus sentimentos que são interpretados por pensamentos e materializados por meio de atos. É difícil decifrar a natureza dos sentimentos que, por vezes, nos induz a cometer equívocos. Essa é a clara evidência de que desconhecemos a nossa própria interioridade ou enigmas da nossa própria alma. Acreditamos piamente nos órgãos dos sentidos: a visão, a audição, o olfato, a gustação e o tato, pois nos entrega às impressões materiais do universo que nos cerca. A partir das sensações apreendidas se faz a leitura da realidade que são organizadas em forma de pensamentos. Talvez, a ilusória leitura da realidade gere em alguns pensamentos contraditórios e a falsa consciência seja a motivação para muitos conflitos.

A pressão psicológica traz uma carga de sensações físicas tão opressoras que os pensamentos se desorganizam como um exército de soldados que procura desesperadamente se defender em várias frentes. Procuramos inundar com lágrimas nossos medos, insegurança e amargura. Ficamos a mercê da autocomiseração e julgamo-nos o mais insignificante de todos os seres humanos. Isto explica como a mente organiza nossas crenças no otimismo ou nos empurra para o pântano do pessimismo após termos nossas expectativas frustradas. Tal empreendimento mostra a falibilidade das verdades que construímos a partir das impressões pessoais.

Nos sonhos, libertamos a nossa alma para viajar no universo das ideias e materializamos nossos medos e motivações sem a natural repressão que disciplina as nossas ações. No mundo dos sonhos há liberdade de criação e da imaginação. Em outras vezes, nos assusta agigantando os nossos medos e culpas. Por isto, muitos têm pesadelos por se julgarem insignificantes e impotentes diante dos seus temores. Tendemos a temer aquilo que desconhecemos. Para superar o medo, o homem buscar a explicação do mundo pelo conhecimento.
AS EXPECTAÇÕES DO CONHECIMENTO

Conta-se uma lenda que o conhecimento fora enviado ao mundo na forma de um grande espelho. Porém, antes de chegar a Terra, o espelho teria se partido em vários pedaços e se espalhado por diferentes partes do mundo. As pessoas ficaram impressionadas com o pedaço do espelho, pois viam o reflexo da sua própria imagem e personalidade. Pensaram que a verdade refletiam os seus próprios pensamentos e tornaram-se individualistas e arrogantes. Desde então, por defesa de pontos de vistas acentuaram os conflitos e pelejas. Os cientistas conseguiram reunir outras partes do espelho e pensaram que tinham descoberto a verdade por inteiro e transformaram o conhecimento em atividade lucrativa e um instrumento de poder. No afã de semear sua doutrina sobre o universo e os fenômenos naturais pensaram que eram deuses.

Muitos intelectuais gostaram tanto do conhecimento que o transformaram em um brinquedo ordinário. Para tanto, recriaram o mundo a partir de suas concepções na lente de aumento do saber sistematizado. Debocharam da fé e do senso comum para definir o status da verdade segundo a ciência. Desde então, as pessoas são classificadas entre os inteligentes e os ignorantes. Assim, disseminaram a ideia de que o conhecimento é o presente dos deuses aos nobres escolhidos e que a todos enriquecidos por essa dádiva foram-lhe dados poder e autoridade sobre os demais homens.

O conhecimento é mais poderoso que o uso da força, visto que a inteligência é a arma dos fracos e corajosos. Em determinado momento da história, o homem precisou usar o pensamento para entender a natureza, superar os seus medos e usar estratégias para superar as feras e adversários que eram mais poderosos que ele. Era necessário empregar algo que valorizasse seus pontos fortes e atacasse as fraquezas do adversário.  

Aprendi que o conhecimento vence o medo e ensina o homem a pensar a estratégia. A inteligência possibilita ter domínio sobre o problema para que ele seja ferramenta de trabalho e não um empecilho na realização dos sonhos. A inteligência é resultante do processo mental que organiza nossos problemas em fórmula de cálculo. Os cálculos nos proporcionam o desafio que nos levará aos passos para a solução dos problemas.

Cito a parábola do leão e do elefante. O leão não é forte, nem o mais inteligente, ágil e alto. Contudo, compensa suas limitações pela atitude e assim valoriza a estratégia para apanhar as suas presas. Por outro lado, o elefante é o mais forte, mais alto e sucumbe diante da ousadia do leão. Explico que o leão vive em função daquilo que acredita e valoriza a estratégia, mas o elefante vive em função daquilo que vê e ouve e aprendeu a ter medo do rugido do leão.  Por isto, a fé alimenta as nossas atitudes por mais ilógicas que possam parecer, superando a visão limitada da razão que coloca termos para as nossas possibilidades.

Ainda hoje, o conhecimento é apregoado como o néctar dos deuses. Alguns acreditam que ao nascer foram premiados pela inteligência para que tivessem relevância dentre os homens. Assim, impõem reverência para que sejam reconhecidos como notáveis e admirados como excelência pelos demais indivíduos.

Creio que a sabedoria é alma da mais excelente das virtudes: o amor. A sabedoria tem uma essência espiritual que tem conexão com a fé. A sabedoria se submete a necessidade dos homens para iluminar o caminho em direção da virtude. O homem sem a virtude está moralmente morto. É escravo das suas paixões e se submete aos seus impulsos mais sórdidos. A sabedoria conduz o homem ao domínio dos impulsos de sua natureza, distinguindo-os dos demais seres viventes. Por isto, a sabedoria mais importante que o conhecimento e mais vigorosa que a inteligência.

Gosto muito da opinião do educador, filósofo, teólogo e psicólogo Rubem Alves. Ele que expressa que é preciso entender que “nossas ideias não passam de passam de palpites”. Traduzem uma opinião sobre determinado assunto em determinado momento, mas, conversando mansamente com outras pessoas, extraímos outros pontos de vista que irão enriquecer o nosso entendimento e compreensão da realidade que é dinâmica e sofre constantes mutações.  Não se trata da aniquilação do pensamento individual – extrato da consciência e da personalidade. O pensamento é a propriedade imaterial do ser humano que se revela por meio do diálogo. Apesar de divergente é salutar nas relações humanas.

Acredito que os pensamentos podem evoluir e se transformar em ideias. As ideias tem comprometimento com a posteridade. Não basta apenas pensar. É preciso conversar para extrairmos as contribuições dessa arena do debate divergente. Pela conversa dividimos pensamentos e pelo calor da divergência tornamos mais brilhantes nossas ideias.

Por vezes, somos egoístas, egocêntricos e os nossos pensamentos refletem a nossa postura defensiva no trato com os nossos semelhantes. É o meio que temos ao tomar como referência o nosso próprio corpo para orientar a visão de mundo. Assim, cada um tem a verdade particular como tacape no seu grito de guerra quando se sentir ameaçado. Parece que o homem ama no íntimo a liberdade que, como medida extrema, é capaz de abominar as regras. Ledo engano. Prevalece o medo de não querer ser controlado por outro ser humano. Os construtos mentais denunciam a nossa individualidade que clama por liberdade – é a inscrição primordial da nossa alma. Por outro lado, a mesma liberdade amedronta e ele reclama por limites por meio da rebeldia.

Concordo com o Dr. Myles Munroe que o homem nasceu líder e não admite a opressão em sua forma mais banal. Como obra prima na coroa da criação, temos o comando instintivo da dominação sobre a natureza e o desejo ardente de controlá-la, de modo que o desconhecido nos inquieta. O problema que esse domínio se revela opressor ao longo da história tanto em relação à natureza e os demais seres animais e humanos.
CONCLUSÃO

Por vezes fico perplexo como a cultura traz elementos do patriarcado com requintes de machismo, sexismos e preconceitos. Acreditava-se que a agressividade era causada por pessoas ignorantes, analfabetos ou com pouca formação acadêmica. Agora fico impressionado com a brutalidade dos intelectuais que, também, não renunciam as fraquezas dos seus instintos mais primitivos: a raiva, a inveja, o orgulho, a traição, etc. A diferença é que o enredo da agressão é mais elaborado e sórdido. Eu entendo que o saber não liberta o homem dos seus instintos primitivos. Apenas sofistica os argumentos da injustiça.  Creio que é possível ser líder no universo dos sonhos para projetar sua realização por meio de ações concretas.
REFERÊNCIAS

BOTTON, Alain. Arquitetura da Felicidade. Tradução de Talita M. Rodrigues. Rio de Janeiro: Rocco, 2007.

________. Desejo de Status. Tradução de Ryta Vinagre. Rio de Janeiro: Rocco, 2005.

BRIZOTTI, Alan. Identidade Cristã: resgatando a verdadeira identidade cristã. Goiânia: Primícias, 2012.


CHALITA, Gabriel. Educação: A solução está no afeto. Rio de Janeiro: Editora da Gente, 2001.

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