
Negar a si mesmo e seguir a Jesus:
Ev. Gelcimar da Silva Pereira Nunes
Texto base
“Em seguida dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz, e siga-me”. Lucas 9. 23.
Introdução
Na passagem que antecede este texto bíblico, o Senhor Jesus anunciava aos discípulos a sua morte: “É necessário que o Filho do homem padeça muitas coisas, que seja rejeitado pelos anciãos, pelos principais sacerdotes e escribas, que seja morto, e que ao terceiro dia ressuscite” (v. 22).
Jesus testemunhava que sua morte estava anunciada nas profecias e esta vontade do Pai era superior a sua. Ou seja, Cristo já havia declarado que sua comida era fazer a vontade do Pai e completar a sua obra (João 4.34). Mais adiante no Jardim do Getsêmani, Ele orava: “Pai, se queres afasta de mim este cálice; todavia não se faça a minha vontade, mas a tua” (Lucas 22.42).
Percebemos que para atender a vontade do Pai, Jesus aniquilou-se a si mesmo e humilhou-se até a morte da Cruz (Filipenses 2. 5-8). Assim, com o exemplo de Jesus, aprendemos que o significado de negar-se a si mesmo é: colocar a vontade de Deus acima das nossas motivações, vontades, desejos e paixões.
1. Negar a si mesmo
Jesus mostra que negar a si mesmo é um ato voluntário, é uma opção. O exemplo mais evidente do Novo Testamento é a parábola dos dois caminhos (Mateus 7. 13-14). Ou seja, negar a si mesmo é escolher o caminho estreito pelo qual o cristão deverá levar a sua cruz.
Negar a si mesmo não significa negação da vontade, do desejo e do prazer. Por isto, devemos entender que Deus fez o homem e a mulher dotados dos seguintes instintos ou pulsões:
(1) A pulsão da fome;
(2) A pulsão da sexualidade;
(3) A pulsão da autopreservação.
Na dispensação da Inocência, as pulsões do homem não estavam contaminadas pelo pecado; logo, o desejo e o prazer eram sentimentos realçados pela santidade. Com a entrada do pecado no mundo, as pulsões tornaram-se instrumentos de domínio de um ser humano sobre o outro, egoísmo, soberba, narcisismo, homicídios, adultérios, vícios e outros males, descritos em Gálatas 5. 19-21. O apostolo Tiago chama estes desejos pecaminosos incontroláveis de concupiscência (Tiago 1.14). O apostolo Paulo em suas epístolas denomina essa inclinação ao pecado como conseqüência da natureza decaída do homem, miserável e distante da glória de Deus (Efésios 2.1-5). Assim, denomina essa natureza pecaminosa de carne; os que estão na carne não podem agradar a Deus e sobre eles pesa uma condenação de morte (Romanos 6.24; 8. 1-12).
Negar a si mesmo significa a completa repudiação de sua própria bondade. Significa cessar de descansar sobre quaisquer obras nossas, negação do argumento da justiça própria própria, para nos recomendar a Deus. Significa uma aceitação sem reservas do veredicto de Deus que “todas as nossas justiças são como trapo da imundícia” (Isaías 64:6).
Também, “negar a si mesmo” totalmente, significa renunciar completamente sua própria sabedoria, pois ninguém pode entrar no reino dos céus, a menos que tenha se tornado “como uma criança” (Mateus 18:3). “Ai dos que são sábios aos seus próprios olhos e prudentes em seu próprio conceito!” (Isaías 5:21). “Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos” (Romanos 1:22). Quando o Espírito Santo aplica o Evangelho em poder numa alma, é para “destruir os conselhos e toda altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo entendimento à obediência de Cristo” (2 Coríntios 10:5).
Para um homem “negar a si mesmo” totalmente, deverá renunciar completamente sua própria força. Ou seja, “não confiar na carne” (Filipenses 3:3); é o coração se curvando à declaração positiva de Cristo: “Sem mim, nada podeis fazer” (João 15:5). Também, “A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda” (Provérbios 16:18). Quão necessário é, então, que prestemos atenção à 1 Coríntios 10:12: “Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe que não caia”! O segredo da força espiritual reside em reconhecer nossa fraqueza pessoal: (veja Isaías 40:29; 2 Crônicas 12:9). Então, “fortifiquemo-nos na graça que há em Cristo Jesus” (2 Timóteo 2:1).
“Negar a si mesmo” totalmente, implica renunciar completamente sua própria vontade. É dizer com Cristo, “Não seja, porém, o que eu quero, mas o que tu queres” (Marcos 14:36). É viver em função da vontade de Deus
Por fim, o homem que quer “negar a si mesmo” deve renunciar completamente suas luxúrias ou desejos carnais. Os homems carnais são “amantes de si mesmos” (2 Timóteo 3:1); Sobre os impios está escrito, “todos buscam o que é seu e não o que é de Cristo Jesus” (Filipenses 2:21); mas dos santos de Deus está registrado,“eles não amaram a sua vida até à morte” (Apocalipse 12:11). A graça de Deus está “ensinando-nos que, renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria, justa e piamente” (Tito 2:12).
2. Tomar diariamente a sua própria cruz
Depois, Jesus disse que quem deseja segui-Lo deve tomar dia-a-dia a sua cruz. A palavra cruz traz uma significação sofrimento e de morte. Aliás, a morte de cruz era a mais pavorosa nos tempos do Novo Testamento.
A história credita a invenção da cruz aos persas. Porém, esse instrumento de execução de condenados foi copiada dos cartigienses pelos romanos. A morte na cruz era a penalidade máxima aplicada a escravos revoltosos, lideres de motins contra o Império Romano e criminosos da pior espécie.
O processo de execução era iniciado por um ato de flagelamento. O criminoso era amarrado de bruços sobre o tronco para ser açoitado por dois algozes. A ponta do chicote tinha três pontas com pedaços de ferro e ossos da espinha dorsal de carneiros. Nas sessões de flagelamento, o réu tinha suas carnes rasgadas, rompendo veias e nervos, chegando alguns a morrer por hemorragias provocadas pelo acoitamento.
Depois, o condenado era obrigado a levar a cruz ou parte dela, ou a parte de cima: o patíbulo. Uma cruz pesava de 100 a 130 quilos e o patíbulo de 30 a 50 quilos.
A crucificação consistia em amarrar o condenado a cruz, sendo raro fixá-lo a cruz com cravos. O crucificado morria por asfixia e, às vezes, eram quebradas as pernas para agilizar a sua morte.
Convém esclarecer que a crucificação era realizada em lugares altos, com vista privilegiada para a cidade, para que todos vissem o espetáculo dantesco e temessem. O crucificado era uma pessoa tão indigna que, às vezes, não se permitia o seu enterro para que sua carne fosse devorada pelos abutres. Ou seja, o crucificado era uma pessoa vil e não lhe era imputada o direito a um enterro digno.
Na concepção dos homens ímpios, a morte de Cristo foi um assassinato; mas como o ato do próprio Cristo, foi um sacrifício voluntário, oferecendo a Si mesmo a Deus. Foi também um ato de obediência a Deus.
Portanto, Cristo tomava o próprio exemplo quando disse: “Se alguém quiser”. Isto é, a cruz não será colocada sobre os seus ombros forçadamente. Por outro lado, tomar a cruz é o ponto sem negociação para quem quer seguir a Cristo.
Tomar a “cruz” significa uma vida voluntariamente rendida a Deus. É a marca de Cristo que precisa ser vista em seus discípulos. Portanto quem carrega a sua cruz está anunciando a sua morte para a vida de pecado. Aliás, levar a cruz é uma confissão pública da fé que professamos em Cristo e o compromisso com a obediência a sua palavra.
Do ponto de vista humano, só se levava a cruz uma única vez para nela morrer. Mas, Jesus fala em levar a cruz diariamente. Ou seja, todos os dias, nós devemos crucificar a nossa natureza pecaminosa, não dando vazão aos desejos maus do coração, pois “o pecado de perto nos rodeia” (Hebreus 12.2).
Levar a cruz é muito bem explicado no capítulo 6 de Romanos, onde o apóstolo Paulo ressalta que “o nosso homem velho foi crucificado com ele, para que o corpo do pecado fosse desfeito, a fim de não servirmos mais ao pecado” (Romanos 6:6), que nós fomos sepultados juntamente com Cristo e que ressurgimos para uma nova vida com Deus. O apóstolo declara que “os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências” (Gálatas 5. 24). Por isto, pôde afirmar que
“Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé no filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim.” Gálatas 5.20
Tomar a cruz é identificar-se com Cristo buscar ser parecido com Ele. Por isto, levar a cruz implica sacrifício diário. Cristo alertou os seus discípulos que no mundo teriam aflições (João 16.20). Logo, não existe cristianismo autêntico sem cruz e sacrifício. Assim, levar a cruz é aceitar as condições que nos impõe para seguir a Cristo.
Logo, não temos compromisso com o pecado e servir a Cristo implica não se conformar com este mundo e transformar o nosso entendimento. “Conforme” significa literalmente “com a fôrma”. Ou seja, o mundo quer nos enquadrar na sua forma de pensamento, de vivência, que é contrária a vontade de Deus, tais como; desprezo a virgindade, prostituição, impureza, aborto, homossexualismo, drogas. Essas coisas são abominações aos olhos do Senhor. Quem pensa diferente é discriminado na escola, no trabalho, pelos amigos, pois a Igreja anda na contramão do mundo e condena o seu modo de viver.
Assim, a Igreja de Cristo se opõe ao evangelho das facilidades, que não implica em transformação de vida. Não se pode servir a Cristo de mãos dadas com o mundo. A crise de identidade da Igreja contemporânea está relacionada ao fato de os crentes não querem levar diariamente a sua própria cruz.
A vida cristã começa com um ato de auto-renúncia (negue-se a si mesmo), e é continuada pela auto-mortificação – tomar diariamente a cruz (Romanos 8:13).
Conclusão
Jesus está então dizendo a seus discípulos: “Querem me seguir? Então estejam dispostos a abrir mão de seus desejos pessoais”. O caminho da vida significa a crucificação diária da natureza pecaminosa. Dia a dia tome a sua cruz e siga-me.
Então, aceitar a nossa cruz para poder seguir Jesus, não significa ficar impotente perante as adversidades da vida, aceitando ser miserável conformado com a dor e embaraço, mas significa isso sim, aceitar todas as consequências de uma vida vivida ao jeito de Jesus. Significa não vacilar, não recuar, quando nos puserem á prova, não deixar-nos levar pelos caminhos opressores que nos são impostos pelos homens, mas manter sempre bem viva, a Fé na Providência Divina, que nos liberta e ama!
Seguir a Jesus requer uma decisão seguida por ação. A Bíblia diz em Mateus 4:19-20 “Disse-lhes: Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens. Eles, pois, deixando imediatamente as redes, o seguiram.”
Bibliografia
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ALMEIDA, João Ferreira de. Bíblia Sagrada. Ed. Revista e corrigida. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1995.
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